O hebraico moderno é uma língua semítica pertencente à família das línguas afro-asiáticas. A Bíblia original, a Torá, que os judeus ortodoxos consideram ter sido escrita na época de Moisés, cerca de 3.300 anos atrás, foi redigida em hebraico clássico. Embora seja uma escrita foneticamente impronunciável e indecifrável, devido à não-existência de vogais no alfabeto hebraico clássico, os judeus têm-na sempre chamado de a לשון הקודש Lashon haKodesh ("A Língua Sagrada") já que muitos acreditam ter sido escolhida para transmitir a mensagem de Deus à humanidade. Por volta da primeira destruição de Jerusalém pelos babilônios em 586 a.C., o hebraico clássico foi substituído no uso diário pelo aramaico, tornando-se primariamente uma lingua franca regional, tanto usada na liturgia, no estudo do Mishná (parte do Talmud) como também no comércio.

O hebraico renasceu como língua falada durante o final do século XIX e começo do século XX como o hebraico moderno, substituindo o árabe, o ladino, o iídiche, e outras línguas da Diáspora Judaica como língua falada pela maioria dos habitantes do Estado de Israel, do qual é a língua oficial primária (o árabe também tem status de língua oficial). O nome hebraico para a língua é עברית, ou ivrit.

História

Enquanto o termo "hebreu", refere-se a uma nacionalidade, ou seja especificamente aos antigos israelitas, a língua hebraica clássica, uma das mais antigas do mundo, pode ser considerada como abrangendo também os idiomas falados por povos vizinhos, como os fenícios e os cananeus. De facto, o hebraico e o moabita são considerados por muitos dialectos da mesma língua.

O hebraico assemelha-se fortemente ao aramaico e, embora menos, ao árabe e seus diversos dialetos, partilhando muitas características linguísticas com eles.

O hebraico também mudou. A diferença entre o hebraico de hoje e o de 3000 anos atrás é que o antigo não possui vogais quando escrito (ou sinais massoréticos), sendo posteriormente inventadas pelos rabinos para facilitar a pronúncia. No entanto, esses sinais vocálicos geralmente não são usados pelos meios de comunicação de Israel hoje.

História antiga

O hebraico é uma língua afro-asiática. Essa família linguística provavelmente se originou no Nordeste da África, e começou a divergir nos meados do oitavo milênio antes de Cristo; de qualquer forma, existe grande debate em relação à data. (A teoria é defendida pela maioria dos linguistas e arqueólogos mas contraria a leitura tradicional da Torá). Os falantes do proto-afro-asiático expandiram-se para norte e acabaram por chegar ao médio oriente.

No fim do terceiro milénio a.C. as línguas ancestrais como o aramaico, o ugarítico e várias outras línguas cananitas eram faladas no Levante ao lado dos influentes dialectos de Ebla e Acádia. À medida que os fundadores do hebraico migravam para o sul, onde receberiam influências do levante, tal como outros povos que empreenderam o mesmo caminho, como os filisteus, adoptaram os dialectos cananeus. A primeira evidência escrita do hebraico, o calendário de Gezer, data do século X a.C., os tempos dos reinados dos reis Davi e Salomão. Apresenta uma lista das estações e de actividades agrícolas com elas relacionadas. O calendário de Gezer (que recebeu o nome da cidade em cujas proximidades foi encontrado) está escrito em um alfabeto semítico antigo, aparentado ao fenício, o qual, passando pelos gregos e pelos etruscos, deu origem ao alfabeto latino usado hoje em quase todas as línguas europeias. O calendário de Gezer é escrito sem nenhuma vogal, e não usa consoantes substitutas de vogais mesmo nos lugares onde uma soletração mais moderna o requer (ver abaixo).

Numerosas tabuletas mais antigas foram encontradas na região com alfabetos similares em outras línguas semíticas, por exemplo o Proto-sinaítico. Acredita-se que as formas originais das letras do alfabeto são mais antigas que os hieróglifos da escrita egípcia, embora os valores fonéticos sejam inspirados no princípio acrofónico. O antepassado comum do hebraico e do fenício é chamado cananeu, e foi o primeiro a usar um alfabeto semítico distinto do egípcio. Um dos documentos cananeus antigos é a famosa pedra Moabita; a inscrição de Siloam, encontrada próximo de Jerusalém, é um exemplo antigo do hebraico. Outros escritos hebraicos menos antigos incluem o óstraca encontrado perto Lachish e que descreve os eventos que precedem a captura final de Jerusalém por Nabucodonosor II e o cativeiro na Babilónia de 586 a.C..

O escrito mais famoso escrito originalmente em hebraico é o Tanakh, apesar de as datas em que teria sido escrito ainda sejam disputadas (Ver datar a bíblia). As cópias existentes mais antigas foram encontradas entre os manuscritos do Mar Morto, escritos entre o século II a.C. e o século I d.C..

A língua formal do império babilónico era o aramaico (cujo nome deriva de "Aram Naharayim", mesopotâmia, ou de "Aram", "terras altas" em cananeu e o antigo nome da Síria. O Império Persa, que conquistou o império babilónico poucas décadas depois do início do exílio judeu, adoptou o aramaico como língua oficial. O aramaico é também uma língua semítica norte-ocidental, bastante semelhamte ao hebraico. O aramaico emprestou muitas palavras e expressões ao hebraico, principalmente devido a ser a língua utilizada no Talmude e noutros escritos religiosos.

Além de numerosas palavras e expressões, o hebraico também recebeu do aramaico o seu alfabeto. Apesar de as letras aramaicas originais terem origem no alfabeto fenício que era usado no antigo Israel, divergiram significativamente, tanto às mãos dos judeus como dos mesopotâmios, assumindo a forma que hoje nos é familiar cerca do século I a.C.. Escritos desse tempo (especialmente notáveis são os manuscritos do Mar Morto encontrados em Qumran) foram redigidos com um alfabeto muito semelhante ao "quadrático" ainda hoje usado.

História recente

Os judeus que viviam no Império Persa adotaram o aramaico, e o hebraico rapidamente caiu em desuso. Foi preservado, contudo, como a língua literária da Bíblia. Pelos seguintes 700 anos, o aramaico tornou-se a língua vernácula da Judeia restaurada. Obras famosas escritas em aramaico incluem o Targum, o Talmude e diversos livros de Flávio Josefo, embora muitos desses últimos não foram preservados em sua forma original. No seguimento da destruição de Jerusalem e do Segundo Templo, no ano 70 D.C., os judeus começaram gradualmente a dispersar-se da Judeia para o resto do mundo conhecido à época. Por muitos séculos o aramaico permaneceu como a língua falada pelos judeus da Mesopotâmia, e o Lishana Deni, conhecido também como "judaico-aramaico", é um moderno descendente que ainda é falado por uns poucos milhares de judeus (e muitos não-judeus) na região conhecida como Curdistão; contudo, essa língua gradualmente cedeu lugar ao árabe, como deu lugar a outros falares locais em países para os quais os judeus emigraram.

O hebraico não foi usado como uma língua falada por aproximadamente 2300 anos, ou seja, foi considerada uma língua morta, assim como o latim. Contudo, os judeus sempre dedicaram muito esforço para manter altos níveis de alfabetização entre eles, com o principal propósito de permitir a todo judeu ler no original a Bíblia hebraica e as obras religiosas que a acompanham. É interessante notar que as línguas que os judeus adotaram em seus países de residência, nomeadamente o ladino e o iídiche não estavam diretamente relacionadas com o hebraico (a primeira baseada no espanhol peninsular com empréstimos árabes, e a última um antigo dialeto do alemão medieval), contudo, ambas foram escritas da direita para a esquerda, utilizando o alfabeto hebraico. O hebraico foi também usado como uma língua de comunicação entre os judeus de diferentes países, particularmente com o propósito de facilitar o comércio internacional.

A mais importante contribuição para a preservação da pronúncia do hebraico tradicional nesse período foi aquelas dos eruditos ("scholars") chamados "massoretas", da palavra "masoret", que significa tradição, que, de cerca do sétimo ao décimo século D.C. criou marcações detalhadas para indicar as vogais, a acentuação tônica e os métodos de recitação. Os textos originais hebraicos usavam apenas as consoantes, e mais tarde algumas consoantes foram usadas para indicar vogais longas. Na época dos massoretas esse texto era considerado muito sagrado para ser alterado, assim todas as marcações foram feitas na forma de diacríticos (pontinhos e pequenos traços) dentro e ao redor das letras.

Vogais

A palavra hebraica para vogal é tnu'ot. A língua hebraica moderna de Israel tem 5 vogais:

  • /a/ (como em "asa")
  • /e/ (como em "seta")
  • /i/ (como em "bico")
  • /o/ (como em "porta")
  • /u/ (como em "uso")

Cada vogal tem três formas: curta, longa e interrompida ((hataf). Não há distinção audível entre as três no hebraico moderno de Israel, e o tipo de uma vogal é determinado inteiramente por sua posição em uma palavra.

O hebraico antigo não tinha ditongos. Embora os ditongos existam no hebraico moderno falado, as regras de gramática desencorajam seu uso. Assim, a raiz Y-Kh-L, segunda pessoa do singular do tempo futuro, será conjugada tuykhal, embora a forma correta seja tukhal.

A fonética hebraica inclui um dispositivo especial chamado schwa. Há dois tipos de schwa: de repouso (nax) e de movimento (na' ). O schwa de repouso é pronunciado como uma breve parada da fala. O schwa de movimento soa muito parecido com o schwa da língua inglesa.

O hebraico também tem o dagesh, um "enfatizador". Há dois tipos de enfatizadores: o brando (qal, conhecido também como dagesh lene) e o forte (xazaq ou dagesh fortis). Há duas subcategorias de dagesh forte: forte estructural (xazaq tavniti) e o forte complementar (xazaq mashlim). O brando afeta os fonemas /v/ /g/ /d/ /kh/ /f/ /t/ no início de uma palavra, ou depois de um schwa de repouso. As ênfases do tipo forte estructural pertencem a certos padrões vocálicos (mishkalim e binyanim; ver a secção sobre gramática, a ser incluída a seguir). O dagesh forte complementar é acrescentado quando ocorre uma assimilação vocálica. Como mencionado antes, a ênfase influencia qual de um par de alófonos é pronunciado. Bastante interessante, evidência histórica indica que /g/, /d/ and /t/ costumavam ter versões de ênfase próprias, contudo elas desapareceram de virtualmente todos os dialetos falados do hebraico. Todas as outras consoantes, exceto as aspiradas, podem receber uma ênfase, mas seus sons não sofrerão mudanças.


Ver também

Ligações externas