Old-books-feat.jpg Este conteúdo pertence à Projeto de Livros Raros, que visa disponibilizar obras de relevância à Tradição Esotérica Ocidental. Quer sugerir algo? Não hesite daemonos@ocultura.org.br

Final

ITHELL COLQUHOUN
Espada de Sabedoria
MacGregor Mathers
e “A Aurora Dourada”

'...les deux mains appuyées
Sur Pépée de la sagesse
En intimité avec les astres et les pierres
Amoureux des cavernes de Vhomtne
Du ventre de Vunivers?
Du Haut de Montserrat'
(Georges Bataille et André Masson)

...ambas as mãos apoiadas
Na espada da sabedoria
Em intimidade com as estrelas e as pedras
Amante das cavernas do homem
Do ventre do universo?
Do alto de Montserrat
(Georges Bataille e André Masson)




Samuel Liddell MacGregor Mathers.png
Mathers em Traje Mágico, pintado por sua esposa por volta de 1895. (Assinado por Μ. MacGregor Mathers no canto inferior direito.)



Capa.png




UM IMPORTANTE NOVO LIVRO PARA TODOS

OS ESTUDANTES SÉRIOS DE
LITERATURA OCULTA, COM
NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE
A ORDEM HERMÉTICA DA
AURORA DOURADA





DEDICATÓRIA
Em memória da
ORDEM HERMÉTICA DA AURORA DOURADA
(Fundada em 1888)
Die Goldene Dämmerung
L'Aube Dorée
Aurora
'E 'Eos Chryse
Chabrat Zerech Aur Bocher



Primeira Edição Americana 1975
Direitos autorais © 1975 por Ithell Colquhoun





SBN: 899-11534-8
Número do Cartão de Catálogo da Biblioteca do Congresso: 75-21919


Primeira Edição Brasileira 2023
TRADUZIDO NO BRASIL






A AUTORA
Por Alexandre Nascimento, tradutor

Ithell Colquhoun (1906 — 1988) foi uma artista e escritora britânica conhecida principalmente por seu trabalho como pintora surrealista. Além disso, também é lembrada por suas contribuições para a literatura ocultista. Colquhoun nasceu em Shillong, na Índia, mas mudou-se para o Reino Unido ainda jovem. Estudou na Slade School of Fine Art, em Londres, e durante a década de 1930 tornou-se associada ao movimento surrealista. Sua arte é caracterizada por imagens oníricas e simbolismo oculto, muitas vezes explorando temas relacionados à mitologia, ao misticismo e à magia. Paralelamente ao seu trabalho como artista, Colquhoun também escreveu extensivamente sobre o ocultismo. Teve profundo interesse em magia cerimonial, alquimia e a Cabala, e foi iniciada em várias ordens ocultas, incluindo a Ordem Hermética da Aurora Dourada e a O.T.O. (Ordo Templi Orientis). Escreveu vários livros sobre esses tópicos, incluindo este "Sword of Wisdom: MacGregor Mathers and the Golden Dawn". Colquhoun é lembrada hoje tanto por sua arte quanto por suas contribuições para a literatura ocultista. Seu trabalho combina um senso agudo de composição e técnica com um profundo interesse pelo misticismo e o esotérico, tornando-a uma figura única no mundo da arte surrealista e na comunidade ocultista.

Ithell young.png
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AGRADECIMENTOS

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Gostaria de reconhecer com muitos agradecimentos a todos que me forneceram material para este livro, particularmente: Dr. Oliver Edwards, por me mostrar cartas de Srta. Horniman e Sra. Rand; e por informações sobre Max Dauthendey.

Dr. Ian Fletcher e a Biblioteca da Faculdade de Letras e Ciências Sociais (Departamento de Língua e Literatura Inglesa) ― Library of the Faculty of Letters and Social Sciences (Department of English Language and Literature) na Universidade de Reading (Reading University) para informações sobre Florence Farr.

Dr. G. M. Harper da Universidade Estadual da Flórida (Florida State University), EUA, por cartas dos MacGregor Mathers para W. B. Yeats.

Dr. Francis I. Regardie, por muitas informações e incentivo.

Senador Michael B. Yeats e Miss Anne Yeats por me permitir usar material inédito de W. B. Yeats da Biblioteca Nacional da Irlanda (National Library of Ireland); e por permissão para citar 27 linhas de A Vision, 8 linhas de The Double Vision of Michael Robartes, 2 linhas de Hound Voice, 6 linhas de All Souls' Night, 6 linhas de His Memories e 3 linhas de Sailing to Byzantium, todas de The Collected Poems of W. B. Yeats, cortesia de Macmillan de Londres e Basingstoke e Macmillan Co. do Canadá. Também para citar 29 palavras de A Letter from W. B. Yeats to John O'Leary, das cartas de W.B. Yeats, cortesia de Hart-Davis, MacGibbon Ltd.

Sou grata a Antony Borrow (notas sobre Charles Williams), parentes da falecida Sra. Boyd que não desejam ser mais identificados, G. H. Brook e G. Rhodes (The Box on the Beach), Miss Dorothy Emerson (Secretária Geral da Sociedade Teosófica na Irlanda), Tom Greeves e R. S. Colquhoun (Bedford Park), Paul Henderson (diagrama do horóscopo de MacGregor Mathers), as obras de Dr. Serge Hutin sobre alquimia, Gerald Yorke por conselhos ao longo dos anos, vários amigos Maçônicos e Frater X, que prefere permanecer Sub Rosa[1].

Também à equipe das Bibliotecas Públicas de Bournemouth, Penzance e Poole; e ao Warburg Institute, Londres.

[p 6]

Para os seguintes, por permissão para reproduzir fotografias: Sra. MacLellan, R. Ferrão, D. MacGregor, R. A. Martin, Srta. A. Platt, a Galeria Nacional de Retratos da Escócia (Scottish National Portrait Gallery) e a Coleção de Teatro Mander e Mitchenson (Mander and Mitchenson Theatre Collection).

Para Peter e Wendy Owen, Editores de Springtime Two (Peter Owen Ltd.) pela reprodução do meu poema, Elegia sobre a Ordem Hermética da Aurora Dourada, e para Eric Ratcliffe, Editor de Ore, pelo meu poema, Retrato de DEO DUCE COMITE FERRO'.
Minha dívida com meu falecido primo, E. J. L. Garstin, é aparente em todo o livro.

Apesar de toda essa ajuda especializada e meus próprios esforços em precisão, eu mal posso esperar que nenhum erro tenha escapado. Posso dizer que eu receberia com gratidão informações factuais em qualquer um desses casos?



pela mesma autora

THE CRYING OF THE WIND / O CHORO DO VENTO (1955)
THE LIVING STONES / AS PEDRAS VIVAS (1957)
GOOSE OF HERMOGENES / GANSO DE HERMOGENES (1961)
GRIMOIRE OF THE ENTANGLED THICKET / GRIMÓRIO DO MATAGAL EMBARAÇADO (1973)






CONTEÚDO

Agradecimentos 5
Sobre o Retrato de Deo Duce Comite Ferro 12
PARTE I. AUTOBIOGRAFIA
Capítulo I. Ligações 15
II. Chefes (1)

23

III. Chefes (2) 32
IV. Imagens 40
PARTE II. BIOGRAFIA
Capítulo V. Vestígios 49
VI. Uma Espada: Fato (1) 60
VII. Uma Espada: Fato (2) 73
VIII. Uma Espada: Fato (3) 83
IX. Uma Espada: Fato (4) 96
X. Uma Espada: Ficção 108
PARTE III. ORGANISMO
Capítulo XI. Raízes 117
XII. Crescimento Regular 131
XIII. Legítima Prole: 144
Allan Bennett; Dr. Edward W. Berridge; Dr. John W. Brodie-Innes; Mabel Collins; Florence Farr; Maud Gonne; Annie E. F. Horniman; Sir Gerald F. Kelly; William Sharp; Alfred P. Sinnett; Dr. William Wynn Westcott; Dr. William R. Woodman; William B. Yeats
Capítulo XIV. Dispersão Dissidente:
De Ahathoor 179
XV. Dispersão Dissidente:
De Isis-Urania (1) 190
XVI. Dispersão Dissidente:
De Isis-Urania (2) 199
XVII. Questão dos Desvios Sinistros: 209
Algernon Blackwood; Aleister Crowley; Dr. Robert W. Felkin; Violet Μ. Firth; William T. Horton; Arthur Machen; Edith Nesbit; Evelyn Underhill; Arthur E. Waite; Charles W. S. Williams
PARTE IV. LEGADO
Capítulo XVIII. Magia 243
XIX. Enochiana 254
XX. Alquimia 269
XXI. Tantra 285
Elegia à Ordem Hermética da Aurora Dourada (Fundada em 1888) (Poema de Ithell Colquhoun, 1955) 298
Índice 301




Projeto Não Nascidos


Este projeto representa uma obra de amor e dedicação que pretende trazer à materialidade importantes livros não nascidos. Todos os textos reunidos até agora, bem como todos os futuros têm como objetivo expor os estudantes interessados às informações ocultistas. Lançamentos futuros incluirão submissões de usuários como VOCÊ. Para alguns de nós, chegou a hora de mobilizar. Se você tem interesse em auxiliar neste processo — todos nós temos forças para trazer à mesa. Não hesite em enviar um e-mail para daemonos@ocultura.org.br




LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Mathers em trajes mágicos Frontispício
Moïna MacGregor Mathers frente à página página oposta 32
Local de nascimento de Mathers 33
A igreja onde ele foi batizado 33
Vicariato do Rev. W. A. Ayton 64
A casa de Mathers e sua mãe no início dos anos 1880 64
Rob Roy MacGregor 65
Horus — colagem de Moïna 96
Néftis — colagem de Moïna 97
Aleister Crowley e seu filho, Gair, 1938 128
Aleister Crowley com Lady Harris, 1941 128
Florence Farr na estreia de A Sicilian Idyll 129
Annie Horniman 129
Página de A Kabbalah Desvelada 160
Cabeçalho de uma palestra por E. J. L. Garstin 161
Diagrama de Divindades Celtas 192
Diagrama da Árvore da Vida 193
Duas inscrições de Aleister Crowley 241
Os Ritos de Elêusis 243
Certidões de Nascimento e Morte de Mathers 276
Rei James IV da Escócia 277







PARTE I
AUTOBIOGRAFIA





NO RETRATO DE
DEO DUCE COMITE FERRO

[p 12]

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Você vem até mim no solstício de inverno, você vem
Como um barco que atinge o nadir da noite e vira
O leme para o leste, do sul. Por cinquenta anos
Você jaz em um caixão pintado, uma cripta desordenada

Eu levanto a tampa, desenrolo um envoltório de seda
E não encontro um esqueleto humano, mas uma espada
Um cadáver transmutado me lega este sinal
Com granada cintilando sombriamente na cruz

Brumas de nácar nublam o céu egípcio
E logo um escaravelho escuro voará para cima
Como um falcão, o sol escondido dourando suas asas
E, senhor dos dois horizontes, retomará o meio-dia.



CAPITULO UM

[p 15]

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Ligações

(Links)
Eu era uma estudante sentada em um assento de banheiro e me inclinava para frente para ver as profundezas de uma cesta de vime forrada com jornais. As páginas impressas em letra miúda continham um artigo escrito por uma jovem mulher que visitava uma Abadia na Sicília e descrevia as estranhas ocorrências lá. O diretor do local era alguém a quem ela chamava de "O Místico", mas não o identificava de outra forma; e sua Abadia estava longe de ser um estabelecimento monástico comum. Fiquei ali até ter lido as duas ou três grandes páginas, apesar do imperioso barulho na porta.

Quando saí do banheiro, minha mãe tomou meu lugar, e ela também deve ter olhado para dentro da cesta de roupas sujas, pois ela emergiu mais tarde em fúria. Como ousei passar tanto tempo lendo lixo? Qual era o uso de uma boa educação se eu desperdiçava meus talentos em preocupação com o mais baixo dos baixos? E ocupando o banheiro por vinte minutos enquanto outras pessoas esperavam! Ela continuou a falar, embora sem realmente mencionar a história do jornal, muito menos explicar o que ela achava repreensível nela. Ela se sentia culpada por ter lido e talvez gostado? Eu sabia que era melhor não perguntar, mas minha opinião sobre a inteligência dela caiu para um patamar mais baixo.

O que provocou todo esse disparate? A exposição de Betty May sobre a agora famosa Abadia de Thelema, nada menos. O jornal deve ter sido o Sunday Express em alguma data de fevereiro ou março de 1923; Eu entendi pelo que li que o artigo era um de uma série e desde então ouvi dizer que havia três no total. Eu suponho que o nome de Aleister Crowley figurava em alguma manchete, pois eu nunca esqueci isso, embora naquela época eu não soubesse de sua conexão anterior com a Ordem da Aurora Dourada, nem mesmo da existência da Ordem em si.

[p 16]

Tornei-me consciente disso um ou dois anos depois, quando descobri pela primeira vez as obras em prosa de W. B. Yeats. Em seus primeiros ensaios, alguns dos quais foram publicados como Ideias de Bem e Mal, encontrei frases intrigantes como 'Quando estive com alguns Hermetistas' ou 'com alguns Martinistas'; também fascinantes notas de rodapé para poemas e peças, que tanto ocultavam quanto revelavam uma tradição de conhecimento oculto — e acredito que foi em uma dessas que me deparei pela primeira vez com o nome da Ordem. Tentei encontrar mais detalhes, mas sem sucesso. Enquanto isso, estudei todos os textos alquímicos que pude encontrar; meu primeiro trabalho publicado, The Prose of Alchemy, apareceu na revista de G. R. S. Mead, The Quest, enquanto eu ainda estava na escola.

Não foi até que eu estivesse morando em Londres como estudante na Slade School que fiz algum progresso. Através da revista do Sr. Mead, entrei em contato com a Sociedade Quest[2], da qual, quando me juntei, era o membro mais jovem — movimentos esotéricos não estavam então moda entre os jovens. O Sr. Mead era o Presidente e geralmente presidia as reuniões; em aparência, ele era uma versão florida da estátua de Paul Verlaine nos Jardins de Luxemburgo. Os Questers se reuniam em dois grandes estúdios na Clareville Grove, localizada entre as estações de Gloucester Road e South Kensington. Essa rede de estúdios foi bastante revirada durante o bombardeio de Londres e, desde então, foi substituída por um bloco de apartamentos. Naquela época, um dos estúdios da Sociedade servia como sala de palestras, enquanto o outro funcionava como uma biblioteca de empréstimo de livros ocultos. O aluguel era subsidiado por Sra. Charlotte Shaw (esposa de George Bernard Shaw), que era membro, embora visitasse apenas ocasionalmente. Seu marido, pelo que percebi, não tinha interesse.

Comecei a pegar dicas obscuras sobre as atividades de certos membros (não especificados), dos quais outros suspeitavam. Os rumores giravam em torno de um terceiro estúdio, situado além do que era usado como biblioteca, e seu principal disseminador era a bibliotecária, uma senhorita Worthington. Havia sussurros sobre magia negra, uma frase ainda mais emotiva naquela época do que é hoje. Os membros não eram todos do calibre da Srta. Worthington, entretanto; eles incluíam Dr. Moses Gaster, o eminente hebraísta, cuja filha mais nova era minha contemporânea na Slade; Hugh Schonfield, cujas preocupações acadêmicas não impediram que ele fundasse mais tarde A República Mondcivitan; Dr. W. B. Crow, Grão-Mestre da Ordem da Santa Sabedoria e autor e palestrante sobre temas tradicionais;

[p 17]

Margaret L. Woods, a poetisa eduardiana; Gerard Heym, o estudioso e bibliófilo e Edward Langford Garstin, que era secretário da Sociedade, seus tratados alquímicos, Theurgy and The Secret Fire, ainda não publicados.

Desde criança, eu tinha ouvido falar de um primo distante chamado Eddie Garstin, então uma noite eu reuni a coragem para perguntar a ele sobre uma possível parentesco. Descobrimos, assim, cada um, uma relação até então desconhecida e, apesar de uma grande diferença de idade, nos tornamos bons amigos. Edward então dividia um apartamento com sua mãe viúva na 53, Bassett Road, W.10.; O templo dissidente do Dr. Felkin estava localizado em algum lugar nesta rua, talvez nesta mesma casa, e persistiu até o início dos anos 1920 em diferentes endereços — embora eu não soubesse de nada disso na época.

Edward foi muito gentil em me emprestar seus livros e devo o meu primeiro conhecimento Cabalístico à sua elucidação de A Cabala Desvelada, de S. L. MacGregor Mathers. Eu sempre achei sua conversa interessante, embora fosse pontuada pelos comentários não muito inteligentes de sua mãe ao fundo. Sua sala de estar, mobiliada com peças de dias mais prósperos e retratos de família em molduras de ouro, era abafada e mal aquecida. Edward não tinha um emprego regular e dedicava suas energias ao ocultismo — um trabalho que "não é nem remunerado nem elogiado", como Yeats nos lembra. Divorciado de sua primeira esposa, ele se viu responsável, financeira e psicologicamente, por sua mãe. Quando estava saindo de sua casa em uma ocasião, ele fez um comentário que depois lembrei com curiosidade:

"Tenho uma velha amiga em Chelsea: gostaria que você a conhecesse algum dia. Gosto muito dela e ela se interessa muito pelos nossos assuntos." (Falávamos de assuntos ocultos como 'nossos assuntos' para que nos entendêssemos, enquanto deixávamos os profanos — caso houvesse algum por perto — sem iluminação.) Claro, eu respondi que ficaria encantada; mas Edward não voltou ao projeto por algumas semanas.

Comecei a notar certas peculiaridades de temperamento com mais atenção: ele às vezes usava um ar de conhecimento superior, como se tivesse recebido uma herança mental negada aos outros. Ele gostava de um mistério: cuidadoso em insinuar a existência de uma fonte oculta, ele era igualmente cuidadoso em camuflar sua natureza. Ele poderia ser dogmático em pontos que, humanamente falando, pareciam demasiado rebuscados para dogmas; e ele afirmava como verdades o que para mim eram fantasias ou, no melhor

[p 18]

dos casos, especulações. Sua mãe o adorava, tendo fé completa em seu julgamento e habilidade geral. Por fim, eles admitiram que eram membros de uma sociedade secreta, mas me proibiram de divulgar o fato a qualquer pessoa.

Perguntei-lhes se outros que frequentavam a Sociedade Quest também eram membros deste grupo oculto e me disseram que nenhum deles era. (Isso não era estritamente verdade, como descobri muito mais tarde.) Por outro lado, vários deles sabiam da afiliação dos Garstins e desaprovavam silenciosamente.

"Espero que você possa se tornar uma de nós algum dia", lembro-me de Edward dizer. "Veja, nós trabalhamos muito com cores — como artista, você acharia muito interessante."

"Tenho certeza de que sim; estou ansiosa para ouvir mais."

"Esse é o problema: há muito pouco que você pode saber até que seja realmente iniciada."

Referências à sua fraternidade oculta tornaram-se mais frequentes nas conversas dos Garstins: frases como "Sabemos de uma certa fonte—" ou "Há um ensinamento que diz que—" eram recorrentes, assim como a menção de várias personalidades enigmáticas: A.V. era uma, "a Baronesa" era outra; e menos frequentemente, "os Chefes Secretos" fazia uma aparição tímida. Edward desviava das minhas perguntas com "Mais tarde você vai saber".

Embora costumássemos discutir os livros que tínhamos lido, as palestras que tínhamos ouvido na Quest, as personalidades que conhecemos lá e outras pessoas que os Garstins haviam conhecido no passado ou ainda conheciam, sentia que essa fraternidade não revelada era a base da vida de Edward e, de certo modo, da vida de sua mãe também. Lembro-me dos títulos de vários livros que eram constantemente mencionados — ou até recomendados para minha atenção, conforme me lembro, embora um deles, como vim a descobrir mais tarde, fosse um documento da Ordem. Além de The Kabbalah Unveiled ("A Kabbalah Desvelada"), tinha o The Book of the Concourse of the Forces ("O Livro do Concurso das Forças"), The Book of the Revolutions of Souls ("O Livro das Revoluções das Almas", um tratado zohárico sobre reencarnação) e o alquímico Aesch Metzareph (Fogo Purificador), uma obra Qabalística ainda mais abstrusa. Tais livros eram, eu entendia, o tipo de coisa que os iniciados estudavam, e eu deveria fazer o mesmo se quisesse me preparar para me juntar a eles. The Kabbalah Unveiled ("A Kabbalah Desvelada") pelo menos eu tenho estudado desde aquele tempo, e possuo uma cópia com as notas eruditas de Edward cuidadosamente anotadas nas margens.

Numa noite, quando estávamos nos dispersando após uma palestra, Edward

[p 19]

pressionou um cartão com um endereço rabiscado em minha mão, pedindo-me para manter a próxima quarta-feira livre para encontrar uma amiga sua. Não deixou claro que esta era a grande amiga que ele havia mencionado anteriormente e não houve oportunidade de perguntar mais.

No dia marcado, procurei o endereço na Elm Park Road, S.W.10. Tive alguma dificuldade em encontrar a casa, pois os números pareciam estranhamente dispostos — acho que procurava o número 26. Finalmente, eu estava subindo os degraus de uma fachada Georgiana branca e pressionando uma campainha antiga. Fui atendida imediatamente por um mordomo magro, grisalho e sorridente.

'Posso ver', olhei para o cartão, 'Sra. Evan Weir?'
'Ela está esperando você?'
'Sim.'
'Por aqui, por favor.'

Logo dentro da porta havia uma escada, um tanto escura; enquanto subíamos, o som de uma conversa animada vinha de uma sala acima. Entrei, chamando a atenção por minha chegada tardia, meu nome anunciado pelo mordomo. Os Garstins vieram ao meu encontro e me apresentaram à anfitriã, depois a um homem da idade de Edward e a uma garota de aparência sólida um pouco mais velha que eu. O homem deve ter sido o Major Lewis Hall, mas não tenho ideia de quem era a garota. A conversa era geral e deliberadamente trivial; não houve discussão sobre "nossos assuntos" — para minha surpresa, pois agora adivinhava onde estava. Eu não percebi que este chá da tarde era o equivalente aos fins de semana sociais nos quais os candidatos à promoção nos Serviços (e em algumas empresas) são convidados — com a teoria de que as pessoas se revelam mais completamente quando não precisam "fazer" nada, apenas "ser".

A sala (e, de fato, toda a casa) tinha uma atmosfera peculiar; as cores suaves, até mesmo sombrias, das paredes e tapeçarias contribuíam para isso, embora a disposição fosse de bom gosto e projetada para contrapor de forma espaçosa a sensação opressiva de um teto muito baixo. Percebi que os móveis eram de boa qualidade e notei um ou dois bibelôs orientais requintados. A lareira acesa contrastava agradavelmente com o fogão a gás no apartamento dos Garstins, que estava sempre reduzido à chama azul e não emitia calor; ainda assim, as cortinas fechadas me provocavam uma sensação diferente de segurança. Nas

[p 20]

paredes, pendiam pinturas esmaecidas e nebulosas no estilo de G. F. Watts que estavam prestes de ser reavaliadas, que naquela época não era do meu gosto. Uma delas era um grande retrato de um homem que Edward identificou para mim como o próprio MacGregor Mathers — ele sempre falou com a maior admiração de Mathers e sua esposa Moïna — e acho que havia telas menores representando Adão e Eva, e um anjo. Apesar da porcelana e prata imaculadas da bandeja de chá, sobre as quais o mordomo cuidava, senti a presença de teias de aranha inapreensíveis.

A Sra. Weir — como vou chamá-la — deveria estar perto dos sessenta anos, seu cabelo ondulado sedosamente quase branco, embora sua pele tivesse poucas linhas. Uma figura esguia em tafetá cinza, seus movimentos eram graciosos, mas, em contraste, o timbre de sua voz era áspero, e um brilho súbito surgia em seus olhares habitualmente lentos. Faltava ironia na elegância dignificada de seu comportamento. Em um determinado momento, ela me perguntou: 'Você é médium?' e hesitei diante de uma resposta não comprometedora — eu realmente não sabia se era ou não. Depois de um tempo, o homem e a garota devem ter saído e chegamos ao propósito da minha visita. A Sra. Weir explicou que os ensinamentos da Ordem eram transmitidos principalmente através de rituais — "Lindo, lindo!" interrompeu a Sra. Garstin — e perguntei se era uma ordem Rosacruz. Houve então o que Ronald Firbank chama de 'tensão silenciosa' — ninguém podia responder, pois nenhum Rosacruciano genuíno pode reivindicar ser tal. Eu mencionei Yeats e a Sra. Weir respondeu: 'Ah, ele é um de nossos rebeldes.' Finalmente, ela me passou uma folha de papel impressa à mão que vi ser uma forma de solicitação para ingressar na Loja A∴ O∴ da A.D. na Externa. Garantiu-me que meu O — não conteria nada contrário aos meus deveres civis ou religiosos. Perguntei o que o O — significava e me disseram que representava 'Obrigação', o Voto de Sigilo que eu seria obrigada a prestar. Embora não tenha reconhecido na época, essas abreviações eram resquícios do uso maçônico. Eu não acho que as palavras reais, Golden Dawn, apareceram em qualquer lugar do documento, mas uma ou duas condições de adesão foram estabelecidas, sendo uma delas que os candidatos deveriam ter atingido a idade de vinte e um anos. A mais importante era que eles 'devem acreditar nos Deuses, ou pelo menos em um Ser Supremo'. Pareceu-me que essa formulação dava mais importância ao primeiro do que ao último — como Animista natural, eu não tinha problema com essa ordem de precedência, mas eu não poderia

[p 21]

definitivamente me declarar crente em nenhum dos dois. Disse que estava aberta à convicção e assinei meu nome no espaço fornecido. A Sra. Weir prometeu apresentar minha solicitação aos Chefes Secretos.

Cerca de uma semana depois, recebi uma nota dela contendo apenas uma linha me dizendo que minha candidatura não havia sido aprovada. Mostrei isso ao meu primo na próxima reunião da Quest: ele, claro, já estava informado e parecia não apenas arrependido, mas embaraçado. Ele contava com a minha aceitação e não conseguia dar nenhuma razão para minha rejeição, exceto que eu ainda não estava "pronta" para a Ordem. Ele me disse antes que havia aqueles que, embora desconhecidos para mim, me conheciam melhor do que eu mesma. Fiquei extremamente desapontada que tenham me rejeitado.

Além dos possíveis Chefes Secretos, a explicação óbvia é que a Sra. Weir não simpatizou comigo — sem dúvida, eu era ingênua e minhas tentativas rudes de honestidade intelectual podem ter parecido a ela deslocadas. Uma mulher de sua idade pode achar difícil aceitar alguém muito mais jovem, especialmente outra mulher. Mais tarde, ouvi fofocas de que ela preferia se cercar de homens, embora não possa dizer o quão verdadeiro isso era. Além disso, ela pode ter sentido que eu estava um tanto satisfeita demais comigo mesma: meu talento já era reconhecido como um dos mais originais de minha geração na Slade; e, embora eu evitasse comentários maldosos sobre a pintura vitoriana, certamente achava que sabia o que era arte. No entanto, não acredito que essas explicações abranjam tudo: se ela quisesse me recusar com base em seu próprio julgamento, não haveria necessidade de apresentar o formulário de inscrição. Acredito que ela queria me dar uma chance, mas talvez não estivesse livre para decidir a questão.

Acho que Edward deve ter feito contato com a Loja A∴ O∴ logo depois que foi estabelecida, quando ele foi dispensado do exército após a Guerra de 1914-18. Não sei se o contato foi direto ou através da Sra. Weir ou de outra pessoa, mas sei que o rompimento de seu primeiro casamento, enquanto ele estava ausente no serviço, o deixou quase sem recursos, pois sua esposa era uma gastadora compulsiva. Talvez ele tenha se voltado para o ocultismo em uma recuperação emocional: em um período, acredito que ele esperava casar-se com Enid, a filha adorada da Sra. Weir. Esses três eram, tanto quanto sei, os únicos membros a alcançar o Grau de 7°=4, a menos que Margery Stuart Richardson, sobrinha da Sra. Weir, tenha feito isso mais tarde. Na época em que o conheci, ele havia se tornado um

[p 22]

estudioso meticuloso dos Mistérios, vivendo de maneira modesta, com toda a sua energia dedicada ao trabalho da Ordem e suas próprias pesquisas. Ele e sua mãe seguiram um regime vegetariano sem álcool, combinando ascetismo com economia. No entanto, a mente dele era de natureza cética e ele ganhava a vida (quando o fazia) por vários empreendimentos comerciais: ele também era um excelente chef e tinha sido um dançarino de salão campeão, parceiro da esposa pródiga; ele não era, exteriormente, um tipo 'espiritual' de forma alguma.

Embora eu continuasse a visitar meus primos de vez em quando, uma nuvem ou melhor, uma névoa parecia ter esfriado nosso relacionamento. Uma vez Edward me pressionou a pegar emprestado sua cópia de um raro texto alquímico, uma tradução da Physio-Philosophy of Laurenz Oken de Laurenz Oken, acho eu, ou pode ter sido o inédito Manual Process — que, como ouvi mais tarde, o Dr. Wynn Westcott havia permitido que alguns membros iniciais da Aurora Dourada copiassem. Seja qual for, quando mais tarde pedi por ele, ele negou ter tido tal obra em sua posse, embora meus próprios olhos a tivessem visto em suas prateleiras.

Eu nunca consegui penetrar no estúdio além da biblioteca em Clareville Grove.



CAPITULO DOIS

[p 23]

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Chefes (1)

Chiefs (1)
Hesito em descartar minha rejeição com uma explicação sensata, porque uma noite, logo após minha visita à Sra. Weir, porém antes dela me contar o resultado, senti uma estranha sensação ao adormecer. Muito tempo depois, usei isso como base para uma descrição em meu romance gótico, Goose of Hermogenes (1961), então não posso fazer melhor do que citar a partir disso:

"... como se alguém estivesse me explorando, não fisicamente, mas em algum plano menos palpável; ou tentando me influenciar agindo diretamente sobre minha vontade, sem os meios normais de palavras ou outras sugestões. Uma vez, a impressão de um ataque ou invasão psíquica foi tão forte que precisei de toda a minha força para resistir. No entanto, minha vontade estava instintivamente voltada para a resistência, pois senti que, a menos que eu tivesse sucesso nisso, seria irremediavelmente arrastada. Um tipo de paralisia desceu sobre meus membros enquanto eu lutava; e tanta energia foi drenada da minha forma física que me encontrei por algum tempo incapaz de me mexer."

A única modificação que faria no texto acima seria retirar a palavra 'ataque', embora ache justo manter 'invasão'. Não senti nem medo nem hostilidade em relação à influência, seja lá o que fosse — suponho, por não ser antagônico a mim, apenas investigativa. Parecia impessoal: posso chamar de uma influência cinza? Não tive impressão de uma individualidade por trás dela, embora me lembre de algo como um 'som interior' ou vibração distante. Daqui em diante, vou chamá-la de Poder de Y. Curiosamente, eu não a conectei imediatamente com a A:.0:. ou seus Chefes Secretos: só depois de receber a nota de recusa é que comecei a fazer isso. Antes disso, eu mal levava os Chefes Secretos a sério.

Por que eu não confiei essa experiência ao meu primo e pedi seu conselho? Eu não sei! Talvez eu tivesse medo de me dizerem que

[p 24]

sempre estava imaginando coisas e essa era uma delas; os artistas se familiarizam demais com observações desse tipo, e Edward podia ser secamente sarcástico em ocasiões. Qualquer que seja meu motivo para o silêncio, não disse nada a ninguém.

Não muito tempo depois, para desgosto da Srta. Worthington e de muitos outros membros, o Sr. Mead decidiu desmantelar a Sociedade Quest e dedicar seus dias restantes ao Espiritismo. Estes não foram muitos: ele se mudou para as Ilhas do Canal — seguindo os passos de Victor Hugo? — e morreu lá após um ano ou mais se comunicando com seus supostos sábios chineses. A biblioteca foi vendida e o aluguel dos estúdios foi encerrado; Edward começou um pequeno grupo chamado Sociedade Search (Sociedade da Busca), mas era apenas uma sombra do corpo principal. Fui membro até deixar a Slade, uma vez fiz uma apresentação sobre sobre 'A Conexão entre Blasfêmia e Misticismo'; depois disso, fui para o exterior para estudos adicionais e perdi contato com os Garstins e seus Buscadores.

Foi cerca de seis anos depois, após ter retornado a Londres e estabelecido meu estúdio lá, que novamente encontrei o Poder de Y. O casal que morava ao lado, a quem chamarei de Jack e Margot, falava muito de um professor-curandeiro cujas ministrações achavam úteis: ele tinha o nome um tanto poético de Meredith Starr. Eu não sabia (e talvez eles também não) que esse era o pseudônimo, agora usado para todos os propósitos, de um tal Herbert H. Close que havia sido associado a Aleister Crowley no conselho editorial do The Equinox em 1912; alguns versos dele apareceram em seu N.o VII quando ele devia ser bem jovem. Lembro-me de Jack me dizer que em um livro de poemas de Meredith, as dedicações afetuosas haviam sido riscadas — assim como, sem dúvida, suas amizades de origem. Crowley estava entre os últimos: Superna Sequor era o mote mágico do Sr. Close na Ordem dissidente da Crowley, Argenteum Astrum (Estrela de Prata).

Não descobri se Meredith estava, antes de sua associação com Crowley, conectado com a Aurora Dourada ou qualquer uma de suas outras dissidências. De qualquer forma, meus vizinhos não o apresentaram como um ocultista, mas sim, como um psicoterapeuta autônomo, alguém que poderia 'organizar as coisas', ajudar a 'encontrar a si mesmo' e geralmente desembaraçar os novelos emaranhados da personalidade. Eles me incentivaram a consultá-lo e eu concordei; isso implicava ficar em Frogmore,

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sua casa no campo. Lá ele poderia observar alguém em condições do dia-a-dia; Jack e Margot passavam a maior parte dos fins de semana lá, às vezes também semanas seguidas, juntos ou separadamente.

A fórmula básica para tais estabelecimentos é simples: adquira uma casa grande com jardim, além de uma esposa dócil e trabalhadora e/ou uma seleção de concubinas com qualidades semelhantes; depois, reúna discípulos de ambos os sexos dispostos não apenas a pagar pelo seu sustento, mas também a trabalhar por ele. (Você recomenda trabalho na casa e no jardim por seu valor terapêutico, mas isso também poupa os gastos com a contratação de funcionários.) A fórmula foi usada com sucesso por alguns anos no início deste século por 'Monsieur Gurdjieff' em Fontainebleau; por Crowley (mais brevemente) em sua Abadia de Thelema, em Cefalu, no início dos anos vinte, e por P. D. Ouspensky nos anos 30, quando ele ocupou pelo menos duas propriedades diferentes nos condados próximos a Londres. Expandindo o comentário cínico de que 'atrás de todo professor ocidental há uma pensão ou um bordel', eu classificaria Meredith e Ouspensky na primeira categoria; mas se os relatos dos internos forem precisos, havia pelo menos elementos da segunda nas casas dos Messieurs Gurdjieff e Crowley.

Meredith parecia ter feito um bom começo para colocar sua versão da fórmula em prática. Em um dia frio de novembro, ele e Jack me encontraram com um carro surrado na estação mais próxima de Frogmore. A cabeça de Meredith era maior do que se esperaria de sua estrutura frágil, e careca, exceto por uma borda de cabelo escuro ao nível das orelhas; sua pele era de um tom ceroso, seus olhos grandes e azul-acinzentados. Sem o olhar fixo do pseudo-ocultista, eles ainda eram sua característica mais marcante.

Frogmore revelou-se uma casa com telhado em forma de frontão feita de tijolos vermelhos, situada em terreno inclinado. A atmosfera do domínio imediatamente me pareceu sombria, assim como seu interior. A sala de jantar tinha painéis escuros e estava quase sem iluminação; todos nós nos sentamos em uma longa mesa com Meredith à cabeceira. A dieta, estritamente reformista em relação à comida, estava longe de ser o prato delicioso que a comida vegetariana pode e deve ser: lembro-me de uma sopa insípida com algo parecido com grãos de cevada flutuando, e também folhas inteiras de repolho cozidas, que pareciam linóleo escuro. Não sei por que essas não poderiam ter sido picadas, temperadas e servidas com um molho apetitoso: talvez isso destruísse suas virtudes? O fornecimento de comida e a gestão da casa estavam a cargo da Sra. Starr e sua irmã, almas gentis e trabalhadoras que

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provavelmente tinham que se virar com um orçamento apertado que desafiaria os cozinheiros mais experientes. Imagino que pouco chegava até elas através de Meredith. Havia também vários residentes semi-permanentes, todos mais ou menos neuróticos, que ajudavam e, sem dúvida, eram ajudados em troca.

Os recém-chegados, via de regra, passavam o primeiro dia na cama — para um relaxamento completo, conforme Meredith explicava. Todos os dias, ao amanhecer, ao meio-dia e à noite, uma hora era dedicada à meditação quando todos os membros da casa, na medida do possível, se retiravam para seus quartos e se deitavam em suas camas com tapete e bolsa de água quente. O aquecimento não subia além do térreo, não havia meio algum de aquecer os quartos menores e as velas forneciam sua única iluminação. Jack, como residente de longa data, recebeu um ou dois pequenos sótãos, ainda mais austeros, sobre a antiga casa de carruagens.

Meu quarto era frio, apertado e desgastado; quando mais tarde o descrevi para Margot, ela murmurou "Muito simples", com um olhar distante. Mas é realmente simples quando toda a água precisa ser carregada, o banheiro fica bem distante no fundo de um corredor assustador e a única fonte de calor vem de garrafas de água quente? É mais simples ter um banheiro externo no jardim que precisa ser esvaziado periodicamente do que ter um sistema de esgoto adequado? Ou, em vez disso, a ausência de comodidades modernas não torna a gestão da casa menos simples do que se as coisas fossem organizadas com um pouco de bom senso? Suspeito que hoje algumas garotas hippies, após se integrarem entusiasticamente a uma comunidade, aprendam essa mesma realidade da maneira mais difícil. A vida pode ser simples para seus homens se eles fazem pouco além de discutir o que chamam de filosofia, mas e quanto às mulheres? Manter-se mesmo relativamente aquecido, limpo e alimentado em condições primitivas é mais difícil do que em ambientes mais 'convencionais'. (A propósito, quão ultrapassada é grande parte da ideologia hippie quando se trata de considerar mulheres como seres humanos! Ou ao ignorá-las completamente.)

No entanto, eu tinha vindo apenas para um fim de semana e passei o primeiro dia na cama. Durante as horas de meditação, minha mente previsivelmente vagava, mas como Meredith sugeriu, voltei minha atenção para a ideia de relaxamento. Ele veio ver como eu estava indo, e deu conselhos em seus tons habituais e calmos enquanto se sentava na cama afundando. Eu tinha pouco a relatar. No período da noite, ele não me visitou — não, pelo menos em pessoa; mas quando a breve luz do dia se apagou, senti mais uma vez o início do misterioso Poder do Y. Era reconhecidamente

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a mesma sensação, embora menos intensa, que senti quando fui examinada para a adesão à A:.O:. Eu me afastei mentalmente, observando, mas nada mais aconteceu. A força foi gradualmente retirada ou dispersa e voltei à consciência normal e finalmente adormeci.

No dia seguinte, me foi permitido levantar e me vestir; e quando se aproximava a hora da meditação do meio-dia, eu não tinha vontade de subir novamente para o meu quarto desconfortável. Em vez disso, retirei-me ao estúdio de Meredith, o único quarto agradável da casa. Sofás foram colocados em ambos os lados de uma lareira crepitante e protegidos de correntes de ar por uma tela; aqui eu me instalei, tendo selecionado uma tradução de Axel por Villiers de I'Isle Adam de uma prateleira de livros fascinante. Eu estava procurando pela citação favorita de Yeats e especulando sobre a melhor maneira de declamá-la: 'Quanto a viver, nossos servos farão isso por nós!' ou, 'Quanto a viver, nossos servos farão isso por nós!' quando Meredith entrou na sala.

"Ah, mas por que você não está no seu quarto? Já passou do meio-dia."
"Está frio lá em cima; não posso meditar onde estou?"
"Bem, talvez apenas desta vez até que você se acostume com a nossa rotina. Mas sem livros, receio; apenas relaxe, não faça nada com sua mente, como já disse antes."
"Você disse que eu poderia consultar sua biblioteca."
"Depois!" ele respondeu fechando suavemente Axel e o recolocando na estante antes de sair para suas rondas.

Logo depois, Jack também apareceu e pareceu descontente com a minha presença. A meditação era às vezes conduzida a dois? Caso contrário, por que ele não estava no quarto dele? Eu nunca soube.

Não tenho certeza se, com o período de relaxamento da noite, experimentei a visitação mental mais uma vez; mas se sim, foi com um impacto muito mais fraco. Depois disso, não aconteceu novamente; e não discuti isso com Meredith mais do que havia discutido com Edward — neste caso, suponho, pela boa razão de que eu não confiava no meu mentor. Ele também não se referiu a isso, mas sugeriu um pouco de trabalho no jardim. Eu respondi que me sentia incapaz de fazer isso; afinal, eu tinha vindo para descansar e não tinha trazido roupas adequadas para o trabalho no campo — minhas meias transparentes e sapatos de cidade sendo particularmente inapropriados para os caminhos úmidos e arbustos de Frogmore. No entanto, eu fiz um pequeno tour pela propriedade e achei-a muito deprimente:

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além do descuido, o lugar exalava uma melancolia à la Casa dos Usher. Em um canto remoto havia algum tipo de poço inutilizado ou fossa profunda onde, imaginei, qualquer coisa poderia ter acontecido.

Eu parti depois do final de semana, Meredith me encorajando a voltar para uma estadia mais longa (se essa é a palavra certa). Eu não fiz isso; alguns meses depois ele escreveu me dizendo que eu deveria enfrentar meus problemas e quanto antes, melhor. Embora eu não discordasse disso, não achei que ele poderia me ajudar e ressentia-me do seu tom autoritário, embora não de sua opinião sobre mim, como relatado depois por Margot — que eu era "uma planta de estufa". Eu considerei isso apenas como um vislumbre do óbvio. Ela também me contou como um dia reclamou para ele de uma dor de cabeça excruciante, como uma faixa apertando; sua resposta foi: "Não gosto de usar esses métodos, mas às vezes eles são necessários para fazer você entender um ponto". Agora eu acho que ele me escreveu em um estado de desespero devido à falta de clientes. Mais tarde, até Jack e Margot se desiludiram com ele: Frogmore foi abandonada e ele se instalou em algum lugar sombrio no Norte de Londres, passando todo o seu tempo em apostas de futebol.

Mais tarde, cruzei com o rastro dele em Chipre, onde a polícia estava de olho nele; havia algum escândalo envolvendo uma jovem que o havia consultado como paciente, mas recebeu mais do que esperava. No entanto, nenhuma acusação foi feita contra ele; é justo registrar que algumas pessoas lá ficaram impressionadas com ele e se beneficiaram de seu tratamento. O que aconteceu com ele depois que deixei a ilha (onde não o procurei) eu não faço ideia. Suspeito que Frogmore tenha sido seu ponto alto; e como eu vejo as coisas agora, seu principal interesse para os amadores do esotérico está em sua possível ligação na cadeia de evidências para a atividade dos Chefes Secretos.

Um salto adiante de mais de dez anos me traz para o período pós-guerra e um desejo renovado de entrar em contato com a Golden Dawn. Embora eu tenha me encontrado novamente com Edward Garstin, ele só pôde me dizer que a A:.O:. havia sido dispersada com o surto de hostilidades em 1939 e os móveis de seu templo destruídos por ordem dos Chefes Secretos. A Sra. Weir tinha envelhecido muito e ele não recomendou que eu tentasse vê-la. Como ela não tinha sido muito útil antes, eu não insisti — erradamente, como agora reconheço. Na opinião de Edward (e dela, como transmitido a mim por ele) não havia nenhum grupo iniciático genuíno operando em Londres naquela época.

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Então, comecei a procurar por conta própria e entrei em contato com um jovem casal que então dirigia um ramo britânico da Ordo Templi Orientis relacionado a Crowley. Durante o ano ou dois seguintes, aprendi muito com eles e com o curso de leitura que sugeriram. O ritual em grupo não fazia parte das primeiras etapas; e a configuração chegou ao fim de repente e logo. Ouvi pelo menos três versões sobre a causa de sua encerramento, mas como não sei qual ou se alguma é a correta, não as detalharei aqui.

Então Gerald Yorke sugeriu que eu tentasse a Sociedade da Luz Interior[3]; Edward não tinha uma opinião muito favorável desta sociedade, mas alguns amigos meus, Rupert e Helen Gleadow, eram membros e a achavam satisfatória. Eles mantiveram um acompanhamento do meu progresso, uma vez que eu me candidatei a me juntar. O primeiro passo foi uma entrevista na sede da Sociedade em Bayswater com o Diretor de Estudos, Sr. R. H. Mallock. Com ele, aprendi que a admissão só era concedida aos candidatos que completassem com sucesso um Curso por Correspondência tripartite; então, comecei isso em 1952.

As relações eram estritamente postais: além do Sr. Mallock, eu não conheci nenhum membro, exceto um amigo dos Gleadow, Gerald Gough, que atuava como bibliotecário. A porta da frente às vezes era aberta por um Sr. Creasy ou uma Miss Lathbury, que podem ter sido alguns dos poucos privilegiados permitidos a acomodações na sede. Nunca conheci meu supervisor, Sr. Ernest Bell, que escreveu comentários sobre meus trabalhos quinzenais, meu registro de meditação e o ensaio que eu era obrigada a enviar no final de cada seção. Tudo correu bem até o terceiro ensaio, quando alguma frase minha fez o Sr. Bell consultar o Diretor de Estudos. O Sr. Mallock, por sua vez, passou o trabalho para o Diretor, que me proibiu de continuar trabalhando.

O que eu disse para agitar o pombal ou, alternativamente, mexer no ninho de cobras? Só insinuei discrepâncias entre a visão de mundo da Cabalah (mesmo interpretada por Dion Fortune) e a de seu tratado The Cosmic Doctrine [4], que deve algo a certos aspectos do ensino de Mme Blavatsky. No Curso por Correspondência da Sociedade da Luz Interior, esses dois eram companheiros de cama desconfortáveis, onde frases

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como "o Logos Solar" se chocavam com a terminologia Hebraica. Que havia não apenas um choque nos sinais, mas também nas coisas significadas, me parecia óbvio e era pelo menos uma opinião sustentável, então protestei contra minha demissão sumária. Os Gleadows ficaram chateados e me disseram que o pobre Sr. Bell quase chorou sobre "um dos melhores alunos que ele já havia treinado". Alguém deve ter suavizado as coisas, porque o Sr. Mallock me convocou para uma nova entrevista, mas ele não estava presente nela e fui deixada para enfrentar o Diretor, Sr. A. Chichester, sozinha.

Assim que ele entrou na sala — após os vinte minutos estatutários de espera — as palavras "padre mimado" surgiram na minha consciência: eu quase podia ver as dobras negras de uma sotaina batendo em seus tornozelos. (Com certeza, ele mencionou durante a nossa conversa subsequente que havia estudado em um colégio jesuíta nos arredores de Dublin.) Ele era um homem loiro, pálido, na meia-idade, de algum poder espiritual ou devo dizer psíquico, capaz de obcecar alguém se assim o desejasse. Ele começou a ler em voz alta alguns trechos do meu ensaio ofensivo em um tom de condescendência que pretendia me irritar; eu pacientemente, esclareci o meu significado onde ele parecia ter perdido. Mencionei que meu supervisor só podia responder perguntas rotineiras sobre a Cabala, qualquer coisa técnica tendendo a derrubá-lo.

'Ah, a Cabala é vaga.'

O Sr. Chichester continuou a menosprezar o sistema tanto que eu perguntei por que ele o incluiu no curso de todo, e foi dito que 'Dion Fortune gostava disso'. Fiquei surpresa com essas respostas: se a Cabala não for do seu agrado, você pode razoavelmente atacá-la em vários pontos, mas a vagueza não é um deles. Mais apropriado seria uma acusação de excesso de precisão, uma atenção obsessiva aos detalhes. Eu podia ver que ele entendia pouco do assunto e se importava menos; no entanto, tendo chegado tão longe e sem conhecer nenhuma outra abordagem para o ensino da Aurora Dourada, persisti em minha aplicação.

'Qual é o seu motivo?'
'Iluminação.'
'Por que você quer iluminação?'
'Eu preciso notar essa questão. ‘Nunca me ocorreu questionar o fato de que a iluminação é valiosa por si mesma.'

Finalmente concordamos que eu deveria prosseguir para o Curso do Limiar, administrado pelo Sr. Mallock; e isso eu fiz. Não acho que eu poderia

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ter me saído pior do que o candidato médio, mas no final ele escreveu que, embora o meu trabalho fosse considerado 'adequado [!] no nível mental', não estava no momento adequado para a iniciação. Ele me aconselhou a esperar um ano, prometendo reabrir a questão após o próximo Equinócio Vernal.

Cerca de um mês após aquela data no ano seguinte, comecei a me perguntar se deveria ouvir a Luz Interior (a Sociedade), quando uma noite senti novamente o início do Poder de Y, embora desta vez com menos impacto. Alguns dias depois, o Sr. Mallock escreveu sugerindo que eu repetisse o Curso de Correspondência desde o início: percebi imediatamente a mão sem vida do Guardião que, ao me atribuir uma tarefa de Sísifo, garantiu que a responsabilidade da recusa passasse para mim. Respondi que, tendo completado as primeiras seções para a satisfação do meu supervisor, achei a sugestão nada construtiva. Fim.

Sem dúvida, o Sr. Chichester decidiu em nossa entrevista, cerca de dezoito meses antes, que ele não me queria como membro, e teria barrado minha entrada, não importa o que eu fizesse. O Sr. Mallock não era mais do que um porta-voz para ele; Sr. Bell, nem mesmo isso. No entanto, talvez ele tenha levado a sério minha crítica aos incompatíveis, já que percebo que nos últimos anos a Sociedade abandonou a Cabala; e de sua escolha anterior de três ‘caminhos’ — o Hermetic, o Dionisíaco e o Cristão — agora oferece a seus iniciados apenas o último, alcançando assim pelo menos alguma consistência.


CAPITULO TRÊS

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Chefes (2)

Chiefs (2)
Quem eram (ou são) os Chefes Secretos? Certos membros da A:.O:. afirmavam estar em contato com Eles, como descrevi; por exemplo, se dizia que Eles tornavam conhecidos Seus desejos através da Sra. Weir, Imperatrix da Ordem. Sua autoridade era derivada em linha direta de Mathers — sua predecessora imediata no cargo e elo de ligação sendo a viúva dele, Moïna.

Meredith Starr não falava dos Chefes, tanto quanto eu ouvi; mas ele tinha sido um discípulo de Crowley que estava sempre falando sobre Eles, alegando entre muitas outras coisas que Eles o inspiraram desde 1904 quando um d´Eles ditou para ele o roteiro de Liber AL vel Legis (O Livro da Lei).

A Sociedade da Luz Interior (Inner Light) não os chamava de Chefes Secretos, preferindo o termo Teosófico, Mestres: o Curso de Correspondência fazia alusões frequentes a Eles sob esse nome e os alunos que o seguiam eram exortados a fazer uma saudação a Eles todos os dias ao meio-dia. Outra ramificação dissidente da Aurora Dourada, a Ordem da Stella Matutina (Estrela da Manhã), afirmou em um período de sua história que havia feito contato com alguns 'Mestres-Sol'; pessoalmente, desconfio de tais seres a menos que sejam equilibrados por Mestras-Lua, e digo isso sem intenção de gracejo.

É necessário um conceito como o dos Chefes Secretos para explicar as experiências pelas quais passei? Não seria suficiente postular algum poder psicofísico (eu já o chamei de Poder de Y) ainda não compreendido pelos profanos, mas manipulado por um indivíduo ou grupo instruído na técnica apropriada? Só posso responder que nas ocasiões em que senti sua força, foi posta em movimento por ou através de pessoas que poderiam reivindicar algum vínculo, próximo ou distante, com os Chefes Secretos da Aurora Dourada. No primeiro exemplo que dei, essas pessoas poderiam ser a Sra. Weir ou (menos provável) meu primo ou algum outro




Moina Mathers.png

Moïna MacGregor Mathers, c. 1895.




De Beauvoir Place.png

108 De Beauvoir Road, Londres, N.1 (anteriormente 11 De Beauvoir Place, West Hackney). Mathers nasceu na casa do centro, em 1854.




St Peter church.jpg

Igreja de São Pedro, Rua De Beauvoir, onde Mathers foi batizado.

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membro da A:.O:.; no segundo caso, o próprio Sr. Starr; e Sr. Chichester, talvez com algum associado, no terceiro.

Até que ponto distante, em termos de espaço 'material', o Poder exploratório de Y pode se estender? Não muito longe, pelo que posso dizer: no meu primeiro exemplo, de Chelsea a Bloomsbury; no meu segundo, de um quarto para outro na mesma casa; e no meu terceiro, de Bayswater a Hampstead. Ao mesmo tempo, é discutível que se tal poder pode ser projetado a uma distância de cinco milhas, deveria ser capaz de extensão para cinquenta ou quinhentas, as limitações espaciais não se aplicando na “dimensão” relevante. Só posso dizer que, até onde posso descobrir, não acontece dessa forma; sua virtude tende a diminuir com a distância, como a da luz ou calor.

Exatamente como funcionou nos casos que citei? Claramente, não requeria o elo mágico xamânico entre agente e paciente necessário na maioria dos sistemas primitivos, como cabelo, unhas, sangue, saliva ou pelo menos algo habitualmente usado na pessoa. Nem precisava da 'suspensão voluntária da descrença' do lado do participante passivo que acompanha o trabalho da obsessão fascinante. Eu estive na extremidade receptora deste último pelo menos uma vez e posso testemunhar que os sintomas são muito diferentes daqueles produzidos pelo Poder de Y. Isso também difere de um fenômeno que eu chamo de bombardeio psíquico, uma frase que eu cunho para indicar a sensação sentida pelo receptor. (Não tenho motivo para atribuir qualquer uma dessas trapaças esotéricas à ação dos Chefes Secretos.) Nem o Poder de Y se assemelha ao tipo de projeção astral como geralmente descrito na literatura ocultista, com suas visões concomitantes de figuras vagas ou exóticas e sons de vozes ecoantes — as aparições do Skin Laeka nos romances de Bulwer-Lytton são um exemplo clássico. A principal impressão feita pelo Poder de Y é sua impessoalidade — é essencialmente indramática; e porque não se adequa a nenhuma das categorias anteriores, cunhei um novo termo para identificá-lo.

Em uma carta para Lady Gregory, Yeats contou como 'nossos taumaturgos' — aqueles do Templo Isis-Urania — empregaram uma técnica para convocar uma certa Soror com o propósito de descobrir o que Crowley estava fazendo com ela. Por algum tempo, interpretei isso como se eles tivessem evocado seu 'corpo sutil' para aparecer visivelmente no decorrer de um ritual e depois o questionassem; mais tarde, ocorreu-me que um método mais direto poderia ter sido usado, ou seja, a praxis à qual eu

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mesma fui submetida. Ellie Howe em The Magicians of the Golden Dawn (1972) reforça essa ideia: suas citações de documentos indisponíveis para outros estudantes dão a impressão de que 'exame astral' e 'julgamento astral' eram práticas padrão no auge da Aurora Dourada para avaliar tanto postulantes quanto membros aspirantes à Segunda Ordem. Parece que tais métodos ainda estavam em vigor muito tempo depois e podem ser assim até hoje.

De onde os taumaturgos de Isis-Urania aprenderam a técnica, se não dos verdadeiros Chefes Secretos? E se essa intuição penetrante é capaz de explorar o eu mais íntimo de outro para determinar sua adequação para treinamento ou seu nível de avanço espiritual, são outras noções da Aurora Dourada sobre os Chefes e seus poderes, delegados ou diretos, totalmente fantásticos? Por exemplo, a ideia de "uma corrente de poder, colocada em movimento pelos Guardiões Divinos de nossa Ordem", ou a ameaça disciplinar de uma "Corrente de Vontade ... pela qual eu posso cair morto ou paralisado". O Ritual do Neófito adverte:

"Eles viajam como nos Ventos —
Eles atacam onde nenhum homem ataca —
Eles matam onde nenhum homem mata"

O que teria acontecido se eu não tivesse resistido ao Poder de Y, mas cedesse a ele? Transe? Coma? Obsessão? Inanidade? Morte? E/ou, Luz-em-Extensão? Quem sabe? Só posso dizer que, em momentos de crise, encontra-se a Verdadeira Vontade sem procurar por ela: age-se instantaneamente, a intenção e sua realização fundidas. Não me arrependo da minha postura nas segunda e terceira instâncias, mas na primeira ocasião talvez tenha perdido algo por falta de cooperação. Não se pode culpar os Chefes Secretos por não semear em terreno pedregoso — mas, igualmente, não se pode culpar o terreno por ser pedregoso em uma certa fase geológica. Só se pode esperar que, posteriormente, um solo amadureça a partir dele.

Os grupos ocultistas nunca descrevem seus Chefes Secretos — que são, acima de tudo, secretos. Nem a A:.O:. nem a Sociedade da Luz Interior tentaram qualquer substantivação verbal para a existência deles: as declarações sobre eles eram poucas, e essas eram afirmações, ao invés de fatos atestados ou mesmo especulações. Aleister Crowley, por outro lado, ao comentar o Liber AL, tentou através de longas contorções mentais convencer

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o leitor de que esse texto foi produzido por uma entidade sobrenatural. Até ele não dá detalhes sobre a natureza ou organização deles, e sua explicação dos fenômenos que ele relata está longe de ser a única possível.

A evidência de Mathers sobre seus Chefes, apresentada em seu Manifesto de 1896, tem sido citada tão frequentemente que está quase se tornando banal. Então, além de chamar a atenção para seu desesperado tom de sinceridade — independentemente do que ele estava fazendo, ele não estava deliberadamente inventando e não mostra nenhum vestígio de um desejo de enganar — eu não farei mais do que me referir brevemente ao seu conteúdo. De acordo com este testemunho, Eles são seres humanos com corpos físicos, mas possuem poderes super-humanos e são capazes de funcionar em planos mais sutis que o físico. Eles irradiam vitalidade — mesmo a um grau assustador: enquanto a descrição de Mathers lembra as entidades que Yeats costumava encontrar em visão e cuja tez brilhante fazia até a pele humana mais saudável parecer doente, os Chefes Secretos têm uma carga ainda maior de poder.

De acordo com uma tradição posterior da Aurora Dourada, eles eram um grego, um copta e um hindu — este último menos influente que os outros, presumivelmente. No ritual Adeptus Minor, os nomes dos 'Três Mais Altos Chefes':

'Hugo Alverda, o Frísio... (que soa mais espanhol ou mourisco do que dinamarquês)
Franciscus de Bry, o gaulês...
Elman Zata, o árabe...'

são ditos estar inscritos no pergaminho segurado pelo próprio Christian Rosenkreutz, enquanto ele estava no Pastos. Esses nomes não ocorrem no Fama ou no Confessio, conforme reproduzidos em The Rosicrucian Enlightenment (1972) por Frances A. Yates. A família belga de Bry fundou um negócio de gravação e publicação, mais tarde transferido para a Alemanha, que se especializou em obras de uma tendência rosacruciana ou conexão Palatina: pode ter havido um Franciscus na família em algum momento. Hugo de Alverda (ou Alvarda) figura no Labyrinth of the World (1631) de Comenius como Praepositus para um grupo de sábios, sua idade é dada como 562; o panfleto Fortalitium Scientiae (1617) é atribuído a ele. Não encontrei nenhum vestígio de Alman Zata além do ritual Adeptus Minor. Estes são os nomes mágicos de um grego, um copta e um hindu ou os Chefes de Mathers são tão distintos

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dos da Aurora Dourada quanto estes foram dos Mahatmas de Blavatsky?

No volume II de The Golden Dawn, Israel Regardie aponta que as imensas idades atribuídas aos membros deste trio em sua morte sugerem a posse do Elixir, permitindo-lhes usar seus corpos físicos enquanto precisassem deles. A história das origens da Ordem esboçada no decorrer do mesmo Ritual sugere que eles finalmente abandonaram esses corpos em alguma data antes de Christian Rosenkreutz (nascido em 1378) fundar a Ordem.

Ellie Howe cita o Pergaminho que listava os membros da Segunda Ordem da Aurora Dourada, ou Ordem Interna, a dos Rosae Rubeae et Aureae Crucis (Rosa Vermelha e da Cruz Dourada), começando com as assinaturas, ou melhor, os motes mágicos dos três Chefes: Lux Saeculorum, Lux Benigna e Lux in Coelis (Luz das Eras, Luz Benigna e Luz nos Céus). Quem já assistiu à apresentação completa do Fausto de Goethe lembrará dos três Sábios que aparecem na cena final — Pater Ecstaticus, Pater Profundus e Pater Seraphicus. O Dr. Wynn Westcott, de quem Howe suspeita ter forjado essas assinaturas, pode não ter conhecido o suficiente de alemão para enfrentar Fausto no original, mas ele pode ter estudado a versão de Bayard Taylor publicada em 1871, ou uma das várias traduções anteriores para o inglês por outras mãos. É bem sabido que Goethe passou por algum tipo de iniciação em sua juventude e sua imagem desses sábios, tirada da mesma fonte arquetípica que forneceu aos fundadores da Aurora Dourada, é a mais próxima que a maioria das pessoas chegará de uma representação dos Chefes Secretos. A tríplice Luz de Westcott é uma verdade vista do ponto de vista Místico, distinta do ponto de vista Mágico (ou ocultista) — não foi o fundador do Hermetismo chamado Trismegistus? Se alguém se sentir inclinado a questionar a natureza exclusivamente masculina de tais tríades, a resposta pode ser encontrada mais cedo no drama quando Fausto visita o misterioso reino das Mães — certamente havia três delas? — entidades pelo menos tão poderosas quanto esses Pais, uma Deusa Tripla prenunciando um Deus triplo (ou pelo menos, semi-deus). As Mães são então incorporadas na figura da 'Mater Gloriosa que, resplandecente em escarlate, branco e ouro, domina o quadro final, com o próprio Fausto assumindo seu nome e tornando-se 'Doctor Marianus'.

Alguns consideraram os Chefes Secretos como não mais do que exemplos do Arquétipo — Jungiano, como o Velho Sábio ou Freudiano, como

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a figura do Pai — dado uma proeminência indevida por uma personalidade neurótica ou grupo ativado por neurose. Eles podem estar relacionados a tais arquétipos, mas não consistem apenas nisso: são aceitos como psicologicamente válidos, porque podem, se necessário, se externalizar em entidades perceptíveis para a consciência humana, ou mesmo se manifestar como seres humanos. Assim, a tríade de Imperator, Praemonstrator e Cancellarius que idealmente deve governar cada Templo Aurora Dourada reflete uma tríade de Chefes nos planos internos. Tal tríade de templos humanos pode se reunir em convocação, quando necessário, para examinar e relatar sobre um candidato em potencial e, assumindo seus Chefes Secretos como formas de deus, projetar seu Poder de Y no postulante ausente.

Moïna Mathers afirmou que seu marido foi encarregado por seus Mestres de fundar uma escola oculta por volta da data de sua primeira edição de A Cabala Desvelada (1887). Nessa época, ele estava sob a direção do Dr. Wynn Westcott, então Magus Supremo da Societas Rosicruciana in Anglia, mas dificilmente teria sido Westcott quem em 1891 o ordenou 'transferir seu centro oculto para Paris'. Se fossem os Chefes da Aurora Dourada, Seu comando pode ter sido dado a ele pelo motivo simples de que já que Eles residiam em Paris no sentido físico, a comunicação seria mais fácil para ambas as partes se Mathers se instalasse lá também. Paris teria sido então Seu 'retiro', usando a palavra em seu sentido Teosófico de um local físico escolhido para a habitação por um ser possuído de super poderes físicos. Assim como o Mestre Hilarion (Teosófico) tem reputação de ter seu retiro nas Colinas Nilgiri do Sul da Índia, assim a habitação dos contatos de Mathers estava localizada no Bois de Boulogne. É por isso que ele escolheu uma casa — 87, Rue Mozart — no bairro adjacente de Auteuil, embora este bairro na moda exigisse um aluguel além de seus meios. Mesmo depois de ter trocado por Buttes Montmartre, ele parece ter ansiado por sua antiga morada, pois voltou para a vizinhança no início dos anos 1900, vivendo primeiro em 4, Rue de la Source, Passy, e depois em La Celle-Saint-Cloud (S∴ et O∴). Depois de retornar de sua estadia em Londres, ele viveu por um tempo em Saint-Cloud por volta de 1912, e finalmente se estabeleceu na Rue Ribéra no 16° Arrondissement, novamente perto do Bois de Boulogne.

O Dr. Serge Hutin, em sua edição de Les Noces Chimiques de Christian

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Rosenkreutz (1973), identifica a lendária Damcar, sede dos Chefes Secretos, com uma cidade do Iêmen. Ele não apresenta nenhuma evidência: sua localização pode ter sido (ou ainda ser) entre os Zaiditas de Saada; ou em Zebed, lar da geometria, cuja madrasa[5] é irmã de Al Azhar, a Escola de Sabedoria no Cairo; ou com a pequena comunidade de Ismaelitas em Djebel Harraz, San'aa. Em qualquer caso, a afirmação destaca a afinidade entre muito do saber da Aurora Dourada e as tradições do Islã.

Por que a localização geográfica teria alguma importância em questões independentes de tempo e espaço? Obviamente, ao considerar o Absoluto isso não pode ter nenhum valor, a fonte de tudo está sem qualidades; mas aqui se trata de um mundo intermediário entre a manifestação e o inapreensível; e toda experimentação — para não falar de mitologia e tradição popular — indica que alguns lugares favorecem seus funcionamentos enquanto outros não.

Moïna contou a Yeats que um dos professores de seu marido era um homem de ascendência escocesa residente no continente, que ela só conhecia por seu lema mágico — com as iniciais E.L.S. (E Lux Septentrione, "Luz do Norte"?). Nenhum dos Chefes revelou seus nomes mundanos aos Mathers. Este, que teve algum contato com Kenneth Mackenzie, possivelmente quando este último visitou Eliphas Lévi na Paris do início dos anos 1860, não era um dos Chefes Mais Altos, mas alguém menos augusto, um mensageiro deles, talvez. Mathers em nenhum lugar afirma que seus Chefes eram apenas três, nem que Eles invariavelmente usavam corpos masculinos. Ele implica que havia pelo menos vários deles e que alguns pareciam estar em jovem maturidade e alguns na velhice.

Quando René Guénon escreveu que influências semelhantes estão por trás de todos os movimentos ocultistas dos últimos cem anos na Europa, "dos quais seus líderes nada sabem, sendo eles mesmos as ferramentas inconscientes de um poder superior", ele estava expressando em palavras menos vívidas o que Yeats escreveu em The Double Vision of Michael Robartes ("A Dupla Visão de Michael Robartes") com uma noção clara do caráter formidável de seu tema?

"Constrangidos, acusados, confusos, dobrados e desdobrados
Por essas mandíbulas e membros de madeira articulados,
Eles próprios obedientes,
Desconhecendo o mal e o bem,

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Obedientes a algum sopro mágico oculto.
Eles nem mesmo sentem, tão abstratos são eles,
Tão terríveis além de nossa morte,
Triunfo que obedecemos."

A tradição na Europa dos Superior Incógnito remonta além de Madame Blavatsky e seus Mestres aos fundadores de fraternidades maçônicas como Martinez de Pasqualli (m. 1774) e Louis-Claude de Saint-Martin (1743-1803). Antes mesmo destes, a Estrita Observância de von Hund (1722-76) tinha seus Super-homens Desconhecidos. Talvez todos esses tenham uma relação não causal com os Bodhisattvas do Budismo Mahayana, seres cujo avanço espiritual os prepara para uma vida além do alcance deste mundo, mas que, no entanto, optam por permanecer dentro de sua ambiência, geralmente mais ou menos escondidos, para auxiliar o desenvolvimento da humanidade. Embora tais doutrinas tenham sido popularizadas pela Teosofia de Madame Blavatsky, elas não se originaram com ela: lembre-se que os pais fundadores da Aurora Dourada e muitos de seus primeiros adeptos não eram apenas membros da Sociedade Teosófica, mas também maçons. Não é necessário invocar os Bodhisattvas ou qualquer outro conceito oriental para explicar os Mestres ou os Chefes Secretos, uma vez que Eles eram tradicionalmente pertinentes à Maçonaria, como a própria Madame Blavatsky estava bem ciente.

Supondo, entretanto, que os Chefes Secretos da Aurora Dourada têm uma realidade objetiva (seja lá o que isso signifique) comparável à de um Bodhisattva, isso não significa que Eles sejam idênticos aos Mestres Teosóficos ou aos Superiores Incógnitos Martinistas. Cada fraternidade oculta teria seus próprios 'Guardiões Divinos', alguns mais exaltados que outros, mas todos 'obedientes a algum sopro mágico oculto'.

Em janeiro de 1971, a revista Prediction publicou um artigo meu ilustrado por uma pintura de Moïna de seu marido. Uma carta apreciativa de Doreen Valiente apareceu na revista em março seguinte, na qual ela sugeriu que seria difícil imaginar alguém tão jovem quanto Mathers criando seu elaborado sistema oculto sem a ajuda de contatos de plano interior. Se esses contatos são conhecidos como os Chefes Secretos, uma explicação é sugerida para algo que, de outra forma, seria difícil de explicar.


CAPITULO QUATRO

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Imagens

Images
Em 18 de dezembro de 1967, uma pintura de Mathers feita por sua esposa chegou ao meu chalé vinda da Escócia. Um parente da Sra. Weir encontrou essa pintura enquanto organizava objetos antigos em preparação para uma mudança de casa. Em vez de destruir a pintura em uma fogueira, essa pessoa se ofereceu para enviá-la a mim. É desnecessário dizer que fiquei encantada em aceitar: muito material da Aurora Dourada já pereceu pelo elemento Fogo, ou se perdeu ou foram danificados pelas devastações de outros elementos.

Tendo apenas a lembrança mais nebulosa dos meus dias de estudante do retrato que vi na sala de desenho da Sra. Weir, foi com alguma emoção que agora rasguei suas embalagens! Parecia que eu estava rasgando um Véu, como na Cerimônia do Portal. Das sombras, "o rosto magro e resoluto" das Autobiografias de Yeats olhou para fora. "O rosto de um anjo", foi minha primeira impressão: anjo como mensageiro talvez, ou Arcanjo Michael, líder dos exércitos celestiais. Em uma onda de emoção estranha, beijei os lábios do retrato; então, agachando-me ao lado dele, comecei a chorar. Eu me apaixonei à primeira vista, não apenas por uma imagem, mas pela representação de alguém literalmente fora deste mundo, em vários sentidos diferentes — o que poderia estar mais distante da realidade mundana? A expressão do rosto me surpreendeu intensamente: até então, a partir de relatos de Mathers por pessoas que o entendiam de maneira imperfeita, passei a pensar nele como dominador e "difícil". Ele não parece assim aqui; ele parece alheio ao mundo, compassivo, profundamente compreensivo, um pouco triste, talvez precariamente equilibrado, mas transparentemente sincero, determinado, mas não autocrático. Este é o "místico maquiavélico da Rue Mozart" de Crowley?

Durante os dias seguintes, a figura pintada mudou de anjo para cavaleiro; mais tarde vi nele o rosto de um mártir. Na noite de 22 de dezembro, realizei um ritual do solstício de inverno em sua presença,

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dedicando a Deo Duce Comite Ferro uma espada mágica. Senti uma resposta das esferas sutis enquanto meditava sobre o significado da autorevelação da pintura naquela estação — após anos de ocultação e meio século depois da morte de seu retratado. Se ele desde então alcançou algum dos céus de Dante, certamente deve ser o quinto, lar de heróis cavalheirescos, Cavaleiros Templários e devotos de Mithra. Por uma instância assustadora de sincronicidade — termo de Jung para conexão não-causal — o esqueleto consonantal do nome Mathers é o mesmo que o de Mithras; MTHRS. A redução de uma palavra a este esqueleto é o primeiro passo para calcular o número oculto dentro dela, seja por Gematria, Notariqon ou Temura, os três métodos em que Mathers dividiu a Cabala Literal. Em ambos os nomes, o número resultante é 940, reduzível a 4; os numerologistas podem fazer disso o que puderem.

Da presença viva deste retrato, os olhos seguem o espectador, sua expressão mudando de dia para dia. Às vezes parecem severos, às vezes um sorriso salta deles e brinca ao redor da boca. Mesmo levando em conta o fato de que é obra de uma esposa adoradora, ainda é a semelhança de um personagem notável. Ele irradia algo daquela Unidade de Ser que Yeats, em A Vision, descreve como o objetivo de vidas repetidas; a artista penetrou no âmago da individualidade de seu modelo, resolvendo todas as menores discordâncias de personalidade - como entre o aristocrático e o maltrapilho, o sensível e o truculento, o erudito e o semi-educado. Tais discordâncias atormentaram suas relações com seus adeptos, muitos dos quais tinham vantagem sobre ele em relação a um contexto seguro.

Mathers está vestido com o nêmis listrado de vermelho e verde e o manto vermelho de um Imperator da Aurora Dourada, abaixo do qual uma túnica branca com uma faixa de pescoço vermelho ou camiseta por baixo é apenas visível. Ele está sentado em uma pose hierática, as mãos dobradas sobre o cabo de uma espada ritual incrustada com o que parecem ser esmeraldas e rubis; as linhas referentes a Paracelso de um poema, Do topo de Montserrat, de Georges Bataille e do pintor Andre Masson, que cito na página de título, poderiam ter sido escritas para isso. Eu traduzo:

'... suas duas mãos descansando
Na espada da sabedoria
O íntimo das estrelas e gemas

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Apaixonado pelas profundezas da humanidade
E do ventre universal.’

Um anel de mago no primeiro dedo da mão direita ostenta uma grande pedra transparente que é tanto verde quanto carmesim, talvez uma alexandrita — embora um espécime deste tamanho seria extremamente valioso. Nota-se as mãos grandes — e as orelhas grandes: a direita parece ser o que era chamado de 'orelha de couve-flor', legado frequente do ringue de boxe. Na juventude, Mathers praticou boxe como exercício, assim como Yeats fez esgrima.

Quando publiquei pela primeira vez uma fotografia do retrato (Prediction, Janeiro 1971), um dos vários leitores que escreveu sobre ele para o Editor comentou que "quase fala — como se estivesse tentando impactar alguma mensagem espiritual através dos anos". Outro ficou impressionado com seu "ar de esplendor real combinado com dignidade sacerdotal", enquanto ainda outros notaram uma série daquelas imagens secundárias que formam o conteúdo latente de qualquer imagem, mas variam muito de uma para outra em seu grau de insistência. De acordo com os correspondentes que notaram estes, predominam figuras egípcias — a Esfinge, Isis, Thoth; mas outros veem na aura de Mathers antigos caldeus ou assírios, e cabeças pensadas para serem aquelas de seus Chefes Secretos; "um brilho assustador" sobre sua cabeça aparece para outros novamente, ou sigilos goéticos parecem se aglomerar ao seu redor. Eu seria o última a denegrir a sensibilidade que capta tais imagens secundárias — elas podem ser um meio de entrada nos planos mais sutis da consciência; mas eu sugeriria que o jogo de luz, especialmente em superfícies irregulares, pode trazê-las à tona, e eu já estava ciente das propriedades proliferas do retrato a esse respeito. Ele tem seus próprios humores: o traje do modelo muda, sugerindo épocas e culturas anteriores e insinuando, talvez, as encarnações anteriores do modelo. Às vezes, ao passar perto da parede onde o quadro está pendurado, senti uma sensação de calor emanando dele, que não pode ser explicada pelo senso comum. Muitas vezes evoca curiosidade e admiração de pessoas ignorantes de sua proveniência que, ao vislumbrá-lo, são atingidas por alguma qualidade que não conseguem definir.

O estilo da pintura mostra uma influência dos Pré-Rafaelitas e de G. F. Watts. As dimensões da tela são 65 x 98,5 cm.; se este é (ou foi) um tamanho regular para cavaletes de tela de madeira

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na França, sugere que a pintura é posterior ao ano de 1891, quando artista e modelo se estabeleceram em Paris. A pintura não é datada: meu palpite é meados dos anos 90, mas qualquer época durante a década é possível — ela mostra Mathers com cerca de quarenta anos, idade que ele teria alcançado em 1894. Perto do canto inferior direito, o nome "Μ. MacGregor Mathers" na caligrafia de Moïna pode ser decifrado.

Após anos de negligência é provável que uma pintura a óleo esteja em mau estado e, quando esta chegou até mim, a tela tinha sido rasgada em um ou dois lugares, reparada de maneira inexperta pela parte de trás e repintada. O óleo escurecido tendia a obscurecer a cor original e uma sobre-pintura acastanhada cobria grande parte da superfície, escondendo alguns detalhes da regalia; por exemplo, as listras do nêmis, o anel mágico e a coroa de aço eram pouco distinguíveis. Moïna os sobrepintou antes de sua morte em 1928, sentindo que tais representações poderiam infringir seu voto de sigilo? Ou isso foi feito por alguém motivado por escrúpulos semelhantes, mas muito mais recentemente? Um artesão a quem deleguei a limpeza e a restauração favoreceu a última opinião; tendo passado vários dias eu mesmo removendo a sujeira da superfície, decidi que precisava de atenção profissional e, posteriormente, fiquei satisfeita com o resultado. Acredito que agora pode iluminar qualquer um que deseje visualizar como Mathers deve ter parecido.

Há alguma semelhança rastreável entre a aparência de Mathers e a de qualquer membro do clã MacGregor? Eu acredito que sim: compare o retrato de Moïna de seu marido com a pintura que reproduzo de Rob Roy MacGregor. Embora não assinada e não datada, esta imagem foi transmitida como uma herança por gerações em um ramo do Clã. Considerando que o rosto do Cateran é aqui representado como muito mais carnudo do que o de Mathers, as proporções da estrutura óssea são semelhantes. O queixo longo, os olhos profundos sob sobrancelhas niveladas, o nariz curto e protuberante — todos poderiam ser um protótipo para o próprio Mathers. Por mais fantástico que possa parecer que tal semelhança possa persistir ao longo dos séculos, a endogamia inseparável do sistema de clãs às vezes torna isso possível. Eu sei, pela minha própria família, como características típicas reaparecem em primos tão distantes a ponto de serem quase não relacionados.

Os retratos de Mathers são poucos e o de Moïna é a única

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pintura conhecida dele. Existem duas fotografias: a que foi reproduzida no livro de John Symonds, The Great Beast[6] (1951), vem, imagino, do artigo de Jules Bois, O eco do Maravilhoso, que publicou artigos ilustrados em 1900 sobre o então recente espetáculo oculto de Mathers, os Ritos de Isis. Mostra-o no traje de "Sumo Sacerdote Ramsés" que ele usava para essa performance. A outra fotografia (de um dos tesouros de material da Aurora Dourada de Ellie Howe), que apareceu pela primeira vez em The Scotsman de 21 de agosto de 1971, mostra Mathers vestido como tenente dos Voluntários da Primeira Infantaria de Hampshire.

Fui informada de que uma pintura de três quartos do comprimento de Moïna usando um manto azul (o de Praemonstratrix no Templo de Paris, Ahathoor?) costumava ser exibida na Loja A∴ O∴ que ela estabeleceu em Londres e na qual a Sra. Weir a sucedeu como chefe. Provavelmente era um auto-retrato pintado aproximadamente na mesma época que o do marido — embora onde, ou se, ainda existe, eu não faça ideia. Pelo que posso dizer, não existem representações dela além da pequena cabeça fotografada que publiquei pela primeira vez na edição de Prediction, já mencionada, e agora reproduzo aqui, as fotografias de Echo du Merveilleux e uma impressão muito leve a caneta e tinta dela com Mathers apresentando os Ritos de Isis que ilustravam um artigo em The Sunday Chronicle de 19 de março de 1899. Este artigo também se refere a "desenhos coloridos de Isis, Horus, Nephthys e Anubis" como parte da decoração do palco; fotografias destes painéis, cada um medindo 72 x 114 cm, acompanharam meu artigo sobre Mathers em Man, Myth and Magic, n.o 80. Os nomes deveriam ler Osiris, Horus, Nephthys e Harpócrates a menos que dois deles sejam obras diferentes, mas há pouca dúvida sobre a identidade do conjunto. Embora nenhum deles seja assinado ou datado, Edward me disse quando me deu que eram obras de Moïna e eram pendurados em uma ante-sala do Templo Ahathoor, para construir a atmosfera da tradição egípcia. Uma etiqueta na parte de trás de um deles pertence ao Garde-Meuble Du Colisée, 5, Rue du Colisée, onde sem dúvida eles foram armazenados durante uma das muitas mudanças de casa dos Mathers. Os painéis são pintados em óleo sobre tela, com a regalia dos deuses destacado por tiras de papel colorido coladas. Eles fornecem um exemplo inicial da técnica de Colagem, aclamada como uma descoberta e desenvolvida pelos surrealistas cerca de trinta anos depois, e em voga mais ou menos desde então. Chamei a atenção para o uso desta procedimento por Moïna

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na resenha "Fantasmagie", No. 31 (Bruxelas 1971) em um "Aperçu sur l'origine du Collage" (Visão geral sobre a origem do Colégio). Mathers escreve sobre "a pintura egípcia de G. H. Soror Vestigia!" em uma de suas cartas aos discípulos recalcitrantes em Londres, deixando claro que estava entre as decorações das instalações da Segunda Ordem de Isis-Urania; pode ter sido um daqueles na série anterior.

A figura do Mago no desenho assinado pelas iniciais de Moïna, que serve como folhas de rosto para "O Livro da Magia Sagrada de Abramelin, o Mago", lembra, não surpreendentemente, a aparência do próprio Mathers. A regalia aqui são provavelmente aquelas que ele usava quando realizava rituais do tipo Abramelin, que, sendo derivados de um sistema mágico diferente da Aurora Dourada, requerem seus próprios adereços. (No entanto, a coroa ornamentada com três pentagramas é idêntica à mostrada no retrato de Mathers usando vestes Aurora Dourada.) As joias triangulares nos diademas dos espíritos assistentes os proclamam ser elementais de Ar, Água e Terra; aqueles do quarto tipo usam um octógono em vez do triângulo vertical que se esperaria significar Fogo que se esperaria. Mathers declarou que a forma do baú sendo transportada pelos elementais da Terra foi alterada por alguma agência não humana enquanto sua esposa estava desenhando: talvez isso fosse um exemplo de automatismo no sentido surrealista, uma rendição relaxada a um processo automático — neste caso, Grafomania ou "deixando uma linha ir passear".

Moïna pintou os desenhos elaboradamente coloridos nas superfícies dos móveis do templo necessários para a cerimônia de Adeptus Minor, conforme realizada pela Segunda Ordem de Isis-Urania. Isso inclui uma abóbada com piso, teto e lados com dobradiças, cada um dos últimos medindo 12,7 x 20,32 cm, um sarcófago em tamanho real ou Pastos e um Altar. Até mesmo entrar em tal estrutura com suas paredes internas revelando um sistema intricado de "cores piscantes" deve ter sido uma experiência esotérica — assim como, na verdade, a pintura dela; e quanto mais o seria o ritual ou a meditação dentro dela? Se o Templo Ahathoor em Paris tivesse uma abóbada similar dos Adeptos — e sem uma, não poderia ter avançado seus estudantes para a Segunda Ordem — então, Moïna deve ter pintado isso também, ou pelo menos projetado e supervisionado sua construção. Acessórios semelhantes foram certamente usados ​​mais tarde em sua Loja A∴ O∴ e ela teria sido responsável por fazer também esses, a menos que ela tenha trazido os móveis de Ahathoor da França? Mas

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não acho que ela fez isso, já que Ahathoor ainda estava em operação na época em que conheci a Sra. Weir, e não fechou até 1939. Edward costumava reclamar de como era uma tarefa montar a mise-en-scène necessária, particularmente a Abóbada, para os rituais de Adeptus Minor e desmontá-la depois; membros da A:.O:. tinham que fazer isso em períodos em que não estavam alugando um estúdio no qual podiam deixá-lo em posição mais ou menos permanentemente. Caso contrário, era armazenado em um galpão no jardim da Sra. Weir e transferido quando necessário para a sala do último andar usada como Templo. Esses móveis da A:.O:. foram consignados ao holocausto ordenado pela Sra. Weir, por instruções dos Chefes Secretos, que ocorreu nos terrenos da casa de campo de sua filha em Hertfordshire no final de 1939. A razão dada para essa destruição foi o perigo em tempos de guerra de material secreto cair nas mãos erradas; mas o poder dos Chefes Secretos não se estende para guardar e preservar tal material se assim o desejarem? Ou essas 'instruções' não foram mais um consenso de seu próprio julgamento e intuição que, por mais notáveis que possam ter sido, não eram infalíveis? Se o Cardeal Manning teve dificuldade em distinguir um 'teste' de uma 'condução', não pode ser igualmente complicado distinguir os próprios impulsos dos comandos dos Chefes Secretos? Há também uma possibilidade mais sinistra: alguns Chefes Secretos podem muito bem ter inspirado essa destruição, mas — seriam eles da Aurora Dourada?





PARTE II
BIOGRAFIA





CAPITULO CINCO

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Vestígios

Vestiges
Como era a mulher que desenhou e pintou as obras descritas acima, que poderia ter produzido outras mais geralmente aceitáveis se o exercício de faculdades ocultas não tivesse direcionado seu talento para caminhos diferentes? O lema mágico de um ocultista sempre revela um vislumbre de sua Verdadeira Vontade: o de Moïna era Vestigia Nulla Retrorsum (Eu nunca retraço meus passos). Uma vez embarcada em um curso de ação ou um modo de vida, ela continuaria sem olhar para trás; nem se entregaria a arrependimentos e recriminações.

Ela nasceu em 1865. Annie Horniman, filha do fundador do Museu Horniman, em uma carta do final dos anos 1930 para o Dr. Oliver Edwards recordando seus dias de estudante, diz que Moïna era uma Taurina, portanto, sua data de nascimento deve ter caído entre 21 de abril e 22 de maio. Michael Gabriel e Kate Bergson, seus pais, eram um casal judeu-irlandês que emigrou de Dublin para Paris. Por que Moïna, quando aos quinze anos decidiu estudar arte, escolheu Londres? Sendo bilíngue, ela poderia ter trabalhado facilmente em Paris; foi para fugir de casa? Pode ser significativo que o professor da Slade em Londres durante todo o curso de seus estudos fosse um francês, Alphonse Legros, que ocupou o cargo de 1876 a 1892. Ele costumava aconselhar os alunos a completar sua formação em Paris e era ele próprio um seguidor de Courbet e Delacroix. Ele ajudou a construir a reputação da Escola de desenho como uma base indispensável para todo trabalho artístico. Na época, a influência de Ruskin estava se espalhando e Rossetti ainda estava (apenas) vivo. Moïna, talentosa e entusiasmada, trabalhou na Gower Street de 1880 a 1886, ganhando uma bolsa de estudos muito necessária em 1883 e quatro certificados para desenho em várias ocasiões.

Seus colegas de estudo a chamavam de "Bergie". Quando ela terminou seu curso, ou talvez até antes, ela compartilhou um estúdio com uma Srta. Offor

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na 17, Fitzroy Street. O prédio do século XVIII foi desde então substituído por alguma construção sem caráter de concreto e vidro como as que agora tornam Londres monótona. Nas proximidades, algumas das antigas fileiras ainda permanecem e muitas de suas casas têm uma grande sala no térreo se projetando na parte de trás. Aquele que fica no número 17 foi alugado para alguns dos rituais da Primeira Ordem da Aurora Dourada, mas a iniciação de Yeats e outros ocorreu no estúdio de Bergie em um dos andares superiores. Hoje, a Torre do Correio que ofusca a rua poderia, suponho, ser vista como uma projeção do poder de Hermes, aqui suplantando o de Isis-Urania.

Um dia em 1888, enquanto se imergia na arte egípcia no Museu Britânico, Bergie conheceu MacGregor Mathers e o resultado desse golpe relâmpago selou seu destino. Seu destino, nada menos, como o Mago Zoroastro no poema de Browning, ele havia 'encontrado sua própria imagem': ao longo de sua vida, Moina permaneceu para ele como um Eidolon, possuída e possuidora. Para ela também Mathers incorporou uma imagem ecoante — a de seu irmão mais velho, Henri Louis Bergson (1859-1941). Compare sua pintura de Mathers com a fotografia de retrato de Gerschel que serve como frontispício para Henri Bergson (1914) de Algot Ruhe e Nancy Margaret Paul: entre os dois homens há uma semelhança definitiva em traços e expressão — provavelmente em coloração também, já que ambos eram morenos.

A fotografia de Moïna que reproduzo deve ter sido tirada em seus últimos vinte anos e, portanto, é contemporânea ao seu retrato de Mathers. Os cabelos elásticos, a pele brilhante e a expressão que os olhos azuis profundos ainda transmitem vividamente. Em um corredor da Casa Antony, Torpoint, está pendurada uma pintura de Honoria Butler, mais tarde Duquesa de Ormonde, uma beleza famosa na sociedade de Dublin durante os primeiros anos deste século. Seus cabelos nublados e olhar intenso lembram as belezas da Aurora Dourada.

Minha cópia da fotografia de Moïna era uma posse preciosa da Sra. Weir. Outra cópia sempre ficava no escritório de Edward Garstin ao lado da pequena cruz de ébano cercada por rosas escuras que, acredito, todos os membros de sua Loja recebiam. Lembrando dela, Edward costumava dizer: "Ela era a mulher mais doce" e a maioria das pessoas que a conheciam concordava: Gerard Heym escreveu sobre ela como "encantadora e notável". Yeats dedicou A Vision (1925) a ela — como 'Vestigia': Depois de um longo silêncio, o contato deles foi renovado quando ela escreveu

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para ele no ano anterior sobre certas declarações na primeira edição de The Trembling of the Veil ("O Tremor do Véu", 1922). Outras referências em suas obras reforçam a visão de Edward. Até Crowley, embora mais tarde insinuasse, entre muitas outras coisas, que ela não era legalmente casada, ainda assim precedeu seu Carmen Seculare (1901) com esta inscrição florida:

Eu dedico
na terra meu poema
para a
CONDENSA DE GLENSTRAE
no céu minha visão
para a
Alta Sacerdotisa de Nossa Senhora
ISIS

Quando Moïna encontrou Mathers — seja nas Galerias Egípcias ou, como Annie diz, na famosa Sala de Leitura do Museu Britânico — ele já havia abrigado sonhos jacobitas, além do conhecimento de civilizações antigas que sempre coloriam seu pensamento. Foi ele quem mudou seu nome, até então Mina (ou Minna, como Annie escreve) para Moïna — pronunciado Mo-eena — para dar a ele um som mais das Terras Altas. Por sua vez, ela o chamou de Zan, vendo nele uma semelhança com Zanoni[7], herói do romance homônimo de Sir Edward Bulwer-Lytton (1845). Ela se dedicou a ele como Viola, heroína de Bulwer-Lytton, ao mágico. Até o encontro fatídico do casal, Moïna (ou Bergie) e Annie (ou Tabbie) tinham sido amigas íntimas. A ascendência de Mathers sobre Bergie, que até mesmo foi chamada de obsessão, veio entre elas e um tom ácido é perceptível nas cartas de Tabbie quando elas mencionam ele. Ela dificilmente seria humana se não sentisse nenhum ressentimento, racionalizado como preocupação com a carreira de Bergie na arte. Sem sugerir que Tabbie era lésbica, sinto que o ciúme não reconhecido foi parcialmente responsável por suas disputas subsequentes com Mathers.

Seu casamento com Moïna ocorreu graças ao seu cargo na biblioteca do Museu Horniman, que parece ter vindo com acomodações nas proximidades: em 1959, uma grande vila Vitoriana de tijolos vermelhos

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no terreno do Museu foi apontada para mim como o lugar. Ele havia sido gravemente danificado no bombardeio de Londres e ainda estava sem reparos, com portas e janelas cobertas. Suponho que este seja o Stent Lodge. Dr. MacGregor Reid me disse que quando ele esteve pela última vez na sala usada por Mathers como um Templo, o chão ainda tinha vestígios pintados de um círculo mágico. Eu queria ver este vestígio, ainda que brevemente, porém seria marcante, mas os oficiais do museu recusaram-se a emprestar-me a chave, dizendo que a estrutura estava insegura. Eles estavam com medo de fragmentos caindo ou da aura da Aurora Dourada ainda se agarrando ao seu tecido desgastado?

A própria cerimônia de casamento foi algo de uma ocasião da Aurora Dourada, sendo conduzida pelo Reverendo William A. Ayton, um dos membros mais antigos de Isis-Urania, em ambos os sentidos da palavra. Sua esposa, Anne, e John W. Brettle, ambos também membros, foram as testemunhas. Aconteceu em 16 de junho de 1890, na igreja onde Ayton era vigário em Chacombe, uma pequena vila perto de Banbury na fronteira de Oxfordshire-Northamptonshire. Moïna havia ficado com os Aytons nas semanas anteriores para estabelecer a qualificação residencial necessária para os Votos de Casamento. Ayton era "o clérigo de Oxfordshire" cujos experimentos alquímicos conduzidos na adega da reitoria, Yeats fez piada em sua Autobiografias. A opinião do amigo de Bulwer-Lytton, Kenneth Mackenzie, era diferente — ele considerava Ayton "um profundo ocultista". Na Chacombe Priory, perto da reitoria, uma capela em ruínas fundada no século XII para os Cônegos Regulares Agostinianos dá atmosfera ao lugar; este edifício, mais antigo do que qualquer coisa em Oxford, tem uma das janelas envidraçadas mais antigas do país.

Quando Mathers perdeu seu posto no Museu, ele voltou com Moïna para Londres e alugou quartos (ou um quarto) na Percy Street, fora da Tottenham Court Road. Lembro-me de ouvir um rumor quando estava na Slade sobre um apartamento nesta rua com "diagramas mágicos negros" nas paredes que davam pesadelos a uma sucessão de inquilinos. Poderia ter sido a moradia dos Mathers? Eles logo migraram para a França a pedido dos Chefes Secretos, como Moïna diz em seu Prefácio à segunda edição de A Cabala Desvelada (1926). De 1891 em diante, eles viveram em vários endereços diferentes em Paris até se estabelecerem por alguns anos na Rue Mozart, 87, Auteuil. Eles não parecem ter feito muito contato com os parentes de Moïna; 'Pierre

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Victor' (Victor Barrucand: L'Ordre Hermétique de la Golden Dawn, Nos. 2 & 3, La Tour St. Jacques, 1956) diz que ela estava fria com a família. Além das questões de um casamento "misto", é compreensível que quase qualquer família teria dificuldades em ver em Mathers um "parente" aceitável, já que ele estava sem meios ou emprego regular, e sem interesse em obter qualquer um dos dois. Não se poderia esperar que dessem importância à sua missão oculta: eles só poderiam prever uma existência apertada, com o consequente pedinchar, estendendo-se diante do casal infeliz. Mesmo quando por volta do início do século, o irmão de Moïna, Henri, comprou a grande Villa Montmorency na beira do Bois de Boulogne, a uma curta distância da Rue Mozart, ela viu pouco dele; ele era de certa forma um recluso em qualquer caso, e por volta dessa época ela e Mathers foram obrigados a mudar de casa.

Henri passou parte de sua infância na Inglaterra e falava inglês fluentemente, mas sua educação, que se especializou em Clássicos, foi principalmente francesa depois que a família se estabeleceu em Paris. Somente muito mais tarde ele adotou a nacionalidade francesa. Ele se tornou um Professor na Sorbonne e, como autor de L'Évolution Créatrice(A Evolução Criadora), Le Rire (O Riso) e muitas outras obras filosóficas, o fundador da Escola Vitalista. Embora ele estivesse interessado o suficiente em questões do sobrenatural para experimentar o hipnotismo como um jovem acadêmico em Clermont-Ferrand e para se tornar Presidente (1913) da Society for Psychical Research in London (Sociedade para Pesquisa Psíquica em Londres), a magia praticada na Aurora Dourada não o impressionou. É possível que ele tenha adotado essa atitude pouco simpática, em parte em desaprovação ao casamento de sua irmã: uma pergunta sobre ela dirigida a ele na década de 1930 por Dr. Edwards permaneceu sem resposta.

Embora as premonições de insegurança financeira estivessem justificadas, não há evidências de que Moïna se sentisse vítima de sua vida com Mathers: se sua confiança nos Chefes Secretos era tão firme quanto a dele, ela deve ter acreditado que as necessidades mínimas seriam atendidas. Por outro lado, sua intensa lealdade a "meu marido, amigo e professor", como ela o chama de forma comovente no prefácio já citado, tendia a empobrecer a expressão de sua vida emocional mais ampla, não apenas em relação aos seus parentes, mas para alguns de seus amigos. Essa tendência se tornou um afastamento em relação a alguns membros da Aurora Dourada quando a insatisfação começou a fermentar entre eles.

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Embora Moïna tenha desistido de muito — voluntariamente, sem dúvida — por seu relacionamento com Mathers, ela conseguiu manter algo que valorizava muito — sua virgindade. Pelos sentimentos expressos em uma carta a Tabbie (citada por Ellie Howe) quando ela já estava casada há mais de cinco anos, é óbvio que um casamento sem sexo como o dela deve ter parecido um privilégio. A mera ideia do ato sexual a enchia de repulsa — embora ela admitisse que "uma coisa natural não deveria perturbar tanto". Sem se aprofundar em psicanálise, não se pode deixar de suspeitar que algum incidente fortemente reprimido na primeira infância deve ter sido responsável, provavelmente uma abordagem sexual de um parente masculino mais velho em contravenção aos tabus usuais.

Ela acreditava, talvez corretamente, que Mathers sempre compartilhou esse sentimento e continuou no mesmo estado de inexperiência sexual que ela. Pelo que ela diz, sua associação mútua permaneceu "platônica", apesar de uma vida juntos da intimidade que a pobreza dita; e não havia casos à parte. Não duvido de que ela tenha sido sincera, se considerarmos as noções de hoje, em relação a essas reações, mas me pergunto se essas reações também não foram sempre as de Mathers, independentemente do que ele possa ter dito a ela. Uma esposa frequentemente tem a capacidade de criar ilusões quando se trata das inclinações de seu marido: encarar os fatos pode ser tanto doloroso quanto inconveniente. Como ela poderia ter certeza de que em todos os momentos antes de conhecê-la, a vida sexual dele tinha sido tão inexistente quanto a dela? Ela queria acreditar nisso: mas se pudéssemos ver uma carta franca sobre o assunto (supondo que ele já tenha escrito uma) para um de seus amigos homens como paralelo para a dela para Tabbie — !

Anos antes da chegada da "sociedade permissiva", sua atitude não teria parecido tão anormal como parece hoje. Casamentos celibatários eram defendidos em alguns círculos teosóficos, e casais católicos que levam a sério o ensino de sua Igreja sobre contracepção ainda são instados a praticar em algumas circunstâncias um ascetismo similar. O casamento celibatário pode fazer o pior ou o melhor de dois mundos diferentes, de acordo com o ponto de vista e as capacidades de cada um? Para Mathers, constituía uma das disciplinas impostas pelos Chefes Secretos, selada por seu próprio voto e estendida em certo grau também a sua parceira — uma disciplina que ela estava mais do que pronta para aceitar.

Muitos presumiriam que, para consentir (ou imaginar?)

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tal comando, Mathers deveria ser impotente, pelo menos com mulheres. Eu mesma não penso assim, mas seja como for, o casal concordou com o pacto no início de sua parceria. Se o primeiro contato definitivo de Mathers com seus Chefes Secretos ocorreu aproximadamente na data de seu encontro com Moïna, pode-se dizer com alguma confiança que o período assexual de sua vida também começou então, se não antes. Depois disso, obviamente não havia base para as calúnias no romance de Crowley, Moonchild (1929), onde ele acusa Mathers — como 'Donglas, Conde de Glenlyon' — de forçar sua esposa a fazer um aborto cada vez que ela engravidava.

Se o sexo não significava nada para Moïna e o dinheiro pouco, e quanto à arte? Ela teve que abandonar qualquer ideia de uma carreira independente nessa direção para se manter ocupada não apenas com as técnicas da própria magia, mas com as técnicas da arte a serviço da magia. Móveis do templo para serem decorados tanto em Paris quanto em Londres, todos os tipos de indumentária mágica para serem projetadas e fabricadas, para não falar de diagramas para instrução, ocupavam seu tempo e energia. Em uma carta a Yeats de cerca de 1899, quando ela estava trabalhando em alguns designs celtas, ela permite-se um cri de coeur[8]:

"Estou rezando pelo dia em que posso realmente me concentrar em algum trabalho artístico."

Em algumas das poucas cartas dos Mathers para Yeats que sobrevivem entre os papéis pertencentes à família Yeats e que o Dr. G. M. Harper gentilmente me permitiu ver, Moïna está traduzindo os escritores do Renascimento Celta para o francês. Ela terminou a história de 'Fiona Macleod' Ulad ("Tristeza de Ulad") em 1898; quando foi musicada por um compositor francês — me pergunto quem? — ela projetou uma capa colorida para a partitura. O editor de Paris, Bailly, a encorajou, mas se ele a contratou é outra questão: ela queria traduzir The Land of Heart's Desire (A Terra do Desejo do Coração) e The Countess Kathleen (Condessa Kathleen), também The Awakening of Angus Ogue (O Despertar de Angus Ogue) de 'Fiona'. Yeats havia sugerido algumas ilustrações retratando um tipo 'Turaniano' (cigano?) de beleza feminina; Moïna diz que admira o tipo de Maud Gonne, mas acha que não é estranha o suficiente (muito Clássico?); O tipo de Florence Emery pode ser melhor. Pergunta-se se ela levou algum desses projetos longe o suficiente para lhe trazer satisfação estética ou uma renda.

Mais distração ainda para a sua arte foi o caráter exigente de suas habilidades clarividentes, sem as quais seu marido não teria sido

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capaz de penetrar o Véu. Seu trabalho com ele em rituais, em demonstração aos estudantes e em experimentos ocultos do tipo mais rigoroso, consumia a maior parte de sua energia, de modo que sobrava pouco para seu próprio trabalho criativo. Ela deve verdadeiramente ter acreditado que 'dividiu uma alma' com ele, como Yeats escreveu sobre si mesmo e Maud Gonne.

Reproduzo, sem correção, um manuscrito de Moïna que me foi dado por Sra. Weir. Parece datar do final dos anos 1890, quando ela e Mathers estavam estudando mitologia celta com a intenção de estabelecer uma Ordem lateral na Irlanda, The Castle of Heroes (O Castelo dos Heróis).

DO CAPÍTULO 26 DE CUTHULAIN.
A Árvore Sagrada de Avelã
No jardim encantado no coração da verde Banba, habitam os Tuatha De Danaan. [Banba é uma das três deusas, Fohla, Banba e Eire; veja History, vol. 1, p. 173.][9]

No Jardim há uma fonte que nunca deixa de brotar.
Sete avelãs circundam a fonte (folhas cor de ♍ [Virgo], frutas vermelhas de ♓ [Piscis]). As nozes são as nozes do Conhecimento que revelam o Passado, Presente e Futuro; mas somente os Tuatha Eirenn tinham acesso a esse Jardim, mas não comiam da fruta porque era proibido. A Deusa Sheenan [Sinan] (Shannon), neta de Lear [Lir], o deus marinho, tentou comer da fruta, mas a Fonte se ergueu e a levou embora, e o canal assim formado tornou-se o Rio Shannon.
Diz-se que Cathvah, o arquidruida, comeu das Nozes, então se destacou em Sabedoria.
Na época da Queda das Nozes, o grande Salmão, o Yeo Feasa[10], aparece na Fonte e devora a fruta, mas pelo resto do ano ele vaga pelo vasto oceano e pelos Grandes Rios de Inis Fail [Este Salmão é o maior e mais belo que os outros, cintilando com estrelas carmesim e tons brilhantes.]
Essas sete árvores de avelã, como os ramos da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal — cada Planeta é composto de sete.[11]

Os sigilos zodiacais indicando cor são tirados das escalas de cor da Aurora Dourada, onde verde-amarelo é atribuído a Virgem ♍, e carmesim a Peixes ♓. As notas entre colchetes são da mão de Mathers,

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que obviamente baseou-se na infância em um modelo de letra cursiva com uma pronunciada inclinação para a direita. Em contraste, a escrita de Moïna é naturalmente ereta com uma postura quadrada e floreios angulares tão vigorosos que alargam a ponta da caneta; no entanto, às vezes muda, tornando-se quase indistinguível da do marido.

A virada do século foi fatal para os Mathers, trazendo consigo cisma, escândalo, litígio e dificuldades financeiras ainda mais agudas. Eles tiveram que deixar sua agradável casa na Rue Mozart e, a partir daí, viveram em vários endereços, embora nenhum por muito tempo: teme-se que cada um fosse um pouco menos confortável que o anterior. Em todas as vicissitudes, a coragem de Moïna apoiava seu marido, enquanto sua postura graciosa restaurava a confiança de seus colegas e atraía novos amigos. Juntos, eles continuaram a trabalhar no Templo Ahathoor, nunca abandonando a prática mágica, embora a continuassem com mais ênfase na discrição do que antes.

Quando ela retornou a Londres após a morte de Mathers, viveu no número 266, King's Road, Chelsea, então um terraço da Regência chamado King's Parade com jardins na frente e nos fundos. Este foi demolido no início dos anos 1950 e o local foi usado para um estacionamento de carros até que uma nova estação de bombeiros foi construída lá em 1957. O número 266 pertencia a uma Srta. Adeline Elsie Keen que, evidentemente, alugava pequenos apartamentos para mulheres: as outras inquilinas eram Hylda M. Atkins, Gabrielle Wellesley-Colley e Louisa Woodforde.

Não sei se alguma delas estava associada a Moïna na Aurora Dourada, mas em 1919 ela estabeleceu uma Loja A:.O:. que trabalhou com algum sucesso por nove anos, embora tenha confidenciado a Gerard Heym, que não era membro desta (ou de qualquer) Loja, que sem a direção de seu marido ela se sentia desorientada. Com um ou dois outros amigos, ela se encontraria em Kensington com um certo Frater X., então um jovem com fortes dons mediúnicos, e participaria do que ele chama de "sessões ocultas". Ele me diz que ela não falava de Paris, nem tentava fazer contato com seu falecido marido, acreditando que deveria se concentrar no presente — Vestigia Nulla Retrorsum. Ela ainda temia o ataque oculto, sem dúvida como resultado da tensão que ela e Mathers sofreram ao "trazer" o material da Segunda Ordem. Agora, ela visava a comunicação com forças espirituais emanando do plano da Deidade. Frater X. não era um iniciado da Loja A:.O:. e nunca perguntou sobre ela, embora

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soubesse que seus rituais envolviam transe e o uso das Chamadas Enoquianos.

Moïna teve os problemas habituais com membros que se mostraram inadequados: Dion Fortune foi um deles, e outro episódio é destacado em Ritual Magic in England (1970) de Francis King que, enganado pela versão de Dion Fortune, acusou Moina de matar uma tal Srta. Netta Fornario por magia negra. Como os incidentes que levaram à morte de Srta. Fornario não ocorreram até cerca de dezoito meses após a própria morte de Moina, a acusação mal vale a pena ser refutada. Mesmo que a última estivesse viva, os arranhões encontrados no corpo são menos propensos a terem resultado de um ataque de Moina na forma de um gato-monstro, do que de correr nua no escuro por um terreno irregular, o que Srta. Fornario fez imediatamente antes de seu colapso. Alguns anos antes da época da Sociedade Quest, acredito que Moina deve ter feito as pazes com a Sra. Rand e com Annie Horniman, já que esta última certamente era membro da Sociedade ao mesmo tempo: Tabbie e Bergie finalmente estavam juntas novamente.

Eu me juntei à Sociedade Quest tarde demais para ter visto Moina e não me lembro de Annie Horniman lá; mas outros ex-membros da Quest lembram-se de Moina como uma personalidade maravilhosa: ela parecia "uma bruxa", "uma cigana", "uma sacerdotisa egípcia", "uma Sacerdotisa de Ísis", conforme diversas lembranças. (A única voz discordante a descreve como "uma pequena mulher rechonchuda, não bonita e excêntrica".) Quando ocasionalmente aparecia nas reuniões, falava com uma voz ressonante que dominava a assembleia, dando a sensação de que não havia como contestar seu conhecimento. Pragmática em sua abordagem, ela ainda possuía uma grande calma, que dava a impressão de um poder oculto. Ela parecia mais alta do que realmente era por causa de sua postura ereta; os vestidos art nouveau e os numerosos colares deram lugar a roupas 'boas', apropriadas, mas de forma alguma exóticas. Seu cabelo havia embranquecido.

A Sra. Winifred Rand — presumivelmente a ser identificada com a Sra. Helen Rand, que foi uma membro precoce da Aurora Dourada — relatou em uma carta ao Dr. Edwards que Moïna estava nessa época, mais do que nunca, sem dinheiro. Ela tentou se sustentar fazendo retratos, como havia feito em intervalos em Paris — embora aparentemente não tenha exibido seu trabalho na França: o Dictionnaire (Dicionário) de E. Bénizet é bastante exaustivo e ela não figura lá. Quando chegou a

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Londres, de acordo com a opinião da Sra. Rand, seu talento havia se deteriorado devido a suas preocupações ocultas e seus esforços foram em vão. Se isso fosse verdade, ela era duplamente afortunada em ser auxiliada nas despesas de vida pela Sra. Weir. A menos que as pinturas de um anjo, de Adão e Eva que costumavam ficar na sala de desenho em Chelsea (ouvi dizer que também havia uma representando uma taça e uma adaga — presumo, como implementos mágicos — no mesmo estilo) venham à luz, bem como o autorretrato, então, sua pintura de Mathers é o único exemplo de seu trabalho a óleo que sobreviveu. As decorações egípcias — em contorno, cor plana e colagem — pertencem a uma categoria diferente.

Sua saúde começou a falhar no final de 1927 e logo ela estava recusando toda a comida; seria isso uma extensão exagerada do vegetarianismo de seu marido que evitava causar morte de seres vivos? Sua clarividência percebeu que a vida oculta das plantas, discreta e reservada como é, pode ser tão vívida em seu próprio modo quanto a dos animais? Experimentos recentes na ciência (tanto aceitos quanto 'marginais') tendem a substantivar essa ideia. A Sra. Weir e outros de seu círculo tentaram persuadir Moïna a comer, mas ela piorou e morreu em 25 de julho de 1928, no Hospital St. Mary Abbot, Marloes Road, W.8.

Seu Testamento deixou toda a sua propriedade — dolorosamente pequena em termos financeiros — para seu irmão mais novo Philip que, então tinha um negócio de impressão e venda de livros em Londres, mas depois emigrou com a esposa para os EUA. Seus materiais de Ordem e pinturas já haviam sido transferidos para a guarda da Sra. Weir.

Em uma carta escrita nos anos 1960, Gerard Heym declara Mathers como '... um dos maiores gênios esotéricos que este país já produziu' e acrescenta, 'A esposa de Mathers, a quem conheci superficialmente, foi a maior clarividente do século' — uma apreciação abrangente de uma equipe formidável.


CAPITULO SEIS

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Uma Espada: Fato (1)

Lembro-me de um dia nos anos 1950 em que perguntei a Edward Garstin por que ninguém havia publicado uma biografia de Mathers, nem mesmo um breve ensaio sobre ele. Ele respondeu que escrever isso seria uma tarefa impossível, pois os eventos mais importantes da vida de um ocultista acontecem nos planos internos e, portanto, são inacessíveis a qualquer pessoa, exceto àquela que os está vivenciando, ou no máximo a um iniciado de grau semelhante. Reconheci que ele estava ecoando o que Moïna diz na primeira página de seu prefácio para A Cabala Desvelada. Ele também insinuou que os juramentos de sigilo poderiam impedir a divulgação de eventos, referentes até mesmo à consciência ordinária no nível físico, nos quais tal ser estava envolvido. Tive a impressão de que certos acontecimentos da vida de Mathers foram assim ocultados e que Edward aprovava esse obscurantismo. Percebi que, se ele tivesse alguma pista de que eu pretendia escrever tal biografia, não obteria nenhuma informação direta dele.

No entanto, fiquei cada vez mais convencida de que esse trabalho deveria ser tentado, independentemente das dificuldades. (Afinal, traduzi o A la nue accablante tu[12] de Mallarmé para o verso inglês porque em O que é arte? de Tolstói a tarefa era considerada impossível.) Mathers mesmo queria ser conhecido como importante, queria que seu trabalho continuasse; então, finalmente me propus a coletar quaisquer fatos disponíveis sobre ele. Eu queria apresentar, na medida do possível, uma visão equilibrada do homem e de sua missão oculta — pois era isso que ele acreditava ser sua vida profissional. Achei um reequilíbrio especialmente necessário, pois desde o início do século, uma bola de neve de fabricações rolou de Crowley sobre seu mentor de outrora. Ao mesmo tempo, Crowley é um dos poucos fornecedores de material de fonte de primeira geração, ou seja, relatos publicados por pessoas que conheciam Mathers pessoalmente. Tal material é escasso na melhor das hipóteses, mas pode ser resumido da seguinte maneira:

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MOÏNA MACGREGOR MATHERS. Um prefácio pela viúva de Mathers à Quarta Impressão (1926) de A Cabala Desvelada fornece alguns fatos sobre sua vida, baseados principalmente no que ele contou a ela. Algumas declarações são questionáveis.

ALEISTER CROWLEY. O Templo do Rei Salomão, publicado em The Equinox, apresenta uma descrição tendenciosa de Mathers e da Aurora Dourada. As seções I—IV (1909-10) são nominalmente por J. F. C. Fuller, embora escritas com Crowley ao seu lado; os números V-X (1911-13) são inteiramente de Crowley. Referências esparsas a Mathers ocorrem ao longo da obra de Crowley: seu romance oculto-burlesco, Moonchild (1929), difama vários membros da Aurora Dourada e Sociedade Teosófica, disfarçados de forma tênue, entre eles Mathers. As informações sobre ele em As Confissões de Aleister Crowley (1969) também são mais do que suspeitas. Muitos dos seguidores de Crowley repetiram suas calúnias sem críticas; meu capítulo sobre Mathers, Uma Espada: Ficção, deve dissipar esses equívocos.

W. B. YEATS. Suas Autobiografias (1926 e 1955) e referências a Mathers em algumas de suas outras obras, tendem a contrabalançar as escárnio de Crowley. (As Cartas de W. B. Yeats (1954) de Allan Wade contém uma breve nota sobre Mathers adicional à informação nas próprias cartas, mas a fonte de seus fatos não é fornecida.)

A. E. WAITE. Seu Sombras da Vida e do Pensamento (1938) é factualmente inexato e prejudicado por uma animosidade que ele nem mesmo refreou em um obituário sobre Mathers na revista Occult Review.

Quanto às fontes de segunda geração, que consistem em escritos publicados por pessoas que nunca conheceram Mathers, Minha Aventura Rosacruciana (1936 e 1971) de Israel Regardie e sua introdução a seu livro A Aurora Dourada (1937), mantêm sua fascinação original. O Unicórnio (1954) de Virginia Moore traz muitas coisas de interesse, mas mais sobre a Aurora Dourada do que sobre Mathers. Outros escritores empreenderam pesquisas em resposta a um crescente interesse no ocultismo, sendo o mais erudito The Magicians of the Golden Dawn (Os Magistas da Aurora Dourada, 1972) de Ellie Howe. Mais popular em estilo é Ritual Magic in England (Magia Ritual na Inglaterra, 1970) de Francis X. King que também apresenta novo

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material, assim como seu Projeção Astral, Magia e Alquimia (1971), embora pouco preocupado com o próprio Mathers.

Parece que os Chefes Secretos decidiram divulgar o mínimo possível a biografia de Mathers, independentemente do que seus colegas iniciados pudessem ou não divulgar. Só posso fazer este esboço de sua vida o mais factual possível, dadas as condições. Assim como Arthur Rimbaud, Engelbert Humperdinck — o original — Sir Edward Carson e James George (The Golden Bough) Frazer[13], Mathers nasceu no ano de 1854. O mesmo ano viu o início da Guerra da Crimeia, com as batalhas de Alma, Balaclava e Inkerman — e a obra de Tennyson, The Charge of the Light Brigade. Pio Nono, falando ex cathedra na Carta Apostólica Ineffabilis Devs, definiu a Imaculada Concepção da Virgem como um dogma da Igreja e o Cheltenham Ladies' College foi inaugurado como uma escola pública para meninas. O Römische Gesichte[14] de Mommsen e o primeiro volume do Dicionário Alemão de Grimm apareceram enquanto Mistral[15] estava começando uma sociedade para o renascimento da cultura provençal. Georg F. B. Riemann desenvolveu suas teorias não euclidianas em The Hypo­theses forming the Foundation of Geometry" (As Hipóteses formando a Fundação da Geometria), o Working Men's College[16] foi fundado em Londres e o University College em Dublin. Sir Richard Burton explorou o interior da Somalilândia, Taylor[17] escavou o assentamento sumério em Ur dos Caldeus e o Barão Haussmann começou a eliminação da Paris "atmosférica"[18]. Uma Igreja Apostólica Católica projetada em estilo neo-gótico por J. R. Bradon foi concluída em Gordon Square, Bloomsbury.

Em relação a outras artes, na música foi o ano de Mazeppa de Liszt e a tentativa de suicídio de Schumann. Enquanto Wagner estava trabalhando no Ciclo do Anel[19], na Inglaterra, as primeiras Salas de Música estavam se tornando populares: era o auge da música impressa com capas coloridas representando Champagne Charlie[20] e artistas com bigodes Dundreary[21]. Na pintura, viu-se Bonjour, Monsieur Courbet, Os Ceifeiros de Millet e Ramsgate Sands (A Vida a Beira-mar) de William Frith; uma grande pintura apocalíptica, O Banquete de Belsazar, de John Martin, foi danificada em um acidente ferroviário em um cruzamento de nível. Na literatura, Les Filles du Feu (As Filhas do Fogo) Gérard de Nerval, Walden (A vida nos bosques) de Thoreau, The Angel in the House (O Anjo na Casa) de Coventry Patmore, Westward Ho![22] de Kingsley e Hard Times (Tempos Difíceis) de Charles Dickens foram todos publicados. O exilado político (em 1821), Gabriel Rossetti, pai de Christina e Dante Gabriel, morreu em

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Londres; Eliphas Lévi (Alphonse Louis Constant) em meio a uma evocação cerimonial na casa de Bulwer-Lytton em Londres evocou um fantasma de Apolônio de Tiana. Em um mundo assim não casualmente vinculado, chegou Samuel Liddell Mathers.

Para ambientar suas atividades, agora listo os lugares onde Mathers viveu por períodos mais longos ou mais curtos; localizações duvidosas são indicadas por colocação entre colchetes:

NASCEU, 1854 11, De Beauvoir Place, West Hackney agora 108, De Beauvoir Road, Londres, N.1
1866-70 Bedford Grammar School, Bedford — agora Bedford School (Possível local de estudo)
1870-8 Região de Bournemouth (Possível local de residência)
1878 Yelverton Road, Bournemouth; casa desde então demolida (Possível local de residência)
c. 1878-85 ‘Dunvegan’, Longfleet, Dorsetshire — agora 6, Longfleet Road, Poole
1885-90 Great Percy Street, Kings Cross, Londres
CASAMENTO, 1890 Museum Lodge, London Road, Forest Hill, Kent e Stent Lodge, Forest Hill — agora S.E.23
1891 Percy Street, Tottenham Court Road, Londres, W.i
1892 79, Rue Miromesnil, Paris, 8°
1892 121, Boulevard St. Michel, Paris, 6°
1893 I, Avenue Duquesne, Champ-de-Mars, Paris, 7°
1895 87, Rue Mozart, Auteuil, Paris — agora Avenue Mozart, Paris, 16°
c. 1899 28, Rue St. Vincent, Montmartre, Paris, 18°
c. 1904 4, Rue de la Source, Paris, 16°
1907 Aux Gressets, par La Celle-Saint-Cloud (S. et O.)
c. 1910-12 Londres (provavelmente distrito W.6.)
c. 1913 Saint-Cloud (S. et O.)
c. 1914 Paris (distrito de Montmartre)
MORTE, 1918 43, Rue Ribéra, Paris, 16°

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Dia 8 de Janeiro, o aniversário de Mathers, ocorrendo no segundo decanato (governado por Marte) do signo de Capricórnio (mansão de Saturno), seu mapa astral combinou as influências primárias dos Malefícios Menores e Maiores. Os astrólogos podem encontrar nisso uma indicação de suas futuras lutas com o destino. Reproduzo uma cópia de seu horóscopo por Paul Henderson, o astrólogo esotérico, tomando o tempo do Sol no nascimento como 11°/16". A oposição entre Netuno e Marte do meio-céu imediatamente chama a atenção; também a Lua e outros planetas em Touro, o signo do Sol de Moïna. Em uma carta escrita um ou dois anos antes de sua morte, Annie Horniman disse ao Dr. Edwards que quando ela conheceu Mathers pela primeira vez, ele se dizia um Aquariano do Sol; ela acrescenta que ele 'parecia um aquariano, sendo magro e escuro'. Quando depois ele se tornou obcecado com assuntos marciais (para desaprovação dela), ele se declarou um Ariano do Sol e 'ajustou' o horóscopo de sua esposa neste sentido para combinar com o dele. Annie escreveu até mesmo nesta data tardia com alguma acidez quando Mathers era seu assunto, então suas observações devem ser aceitas com cautela. Crowley comentou astutamente em anos posteriores: 'Os problemas de Mathers foram devido à sua excessiva devoção a Marte', e o próprio Mathers diz de seu próprio Decan: '... simboliza A e Ώ; ele mata tão rápido quanto cria'.

Os pais de Mathers moravam na De Beauvoir Place 11, West Hackney; a casa sobrevive hoje como 108, De Beauvoir Road, Londres, N.1. Sua certidão de nascimento fornece os nomes deles como William Mathers, escriturário mercantil, e Mary Ann Mathers, anteriormente Collins; esses nomes reaparecem na certidão de óbito de Mrs. Mathers de 1885. Nos certificados tanto de casamento de Mathers (1890) quanto de morte (1918), o nome de seu pai é dado como William MacGregor Mathers. Até onde eu posso determinar, Mathers era filho único: em qualquer caso, ele provavelmente foi o filho mais novo de sua mãe, pois ela tinha trinta e nove anos no




Chacombe Vicarage, cenário de experimentos alquímicos pelo Rev. W. A. Ayton, um membro da Golden Dawn que casou Mathers e Moïna em sua igreja em 1890.





A casa de Mathers e sua mãe no início dos anos 1880, Dunvegan, Longfleet (agora 6 Longfleet Road, Poole, Dorset).





Pintura de Rob Roy MacGregor (1671-1734) por um artista desconhecido. (Ele está usando xadrez porque seu tartã foi proscrito?)




THE MAP OF THE HEAVENS..png




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momento de seu nascimento. Ela era inglesa, mas Annie concede que, MacGregor ou não, seu pai era de ascendência escocesa — baixa escocesa, segundo Crowley. Mathers mais tarde reivindicou sangue das Terras Altas, sustentando que seu sobrenome era um dos muitos adotados por diferentes ramos do Clã MacGregor na época de sua dispersão e da proibição de seu nome em 1604. Não aparece em uma ou duas listas de tais nomes que consultei, mas essas podem não ser exaustivas. É estranho que Mathers não fez nenhuma referência ao seu nome do meio, embora a família Liddell seja tão escocesa quanto a dos Mathers e possa até se vangloriar de um ramo armígero.

O general Fuller, em "O Templo do Rei Salomão" (The Temple of Solomon the King, The Equinox), chama Mathers de "um homem de Hampshire" sem aduzir nenhuma evidência, mas presumivelmente por causa de sua residência na área de Bournemouth. Ellie Howe sugere uma origem de Meio-Oeste, em Warwickshire; também há uma conexão com Bedfordshire.

O registro da igreja paroquial de St. Peter, que fica aproximadamente na metade do caminho de De Beauvoir Road e foi construída no estilo gótico vago do final dos anos 1840, registra o batismo de Mathers em 8 de fevereiro de 1854; isso e seu certificado de casamento provam que, qualquer que tenha se tornado mais tarde, ele começou a vida oficialmente como anglicano.

A De Beauvoir Road, que certamente já foi agradavelmente, embora modestamente, residencial, hoje apresenta um ar de decadência. Ela sofreu durante o bombardeio de Londres; desde então, as lacunas foram preenchidas por construções pré-fabricadas e pequenas fábricas, enquanto edifícios altos e sem características distintas invadiram sua extremidade sul. Na extremidade norte, há uma grande escola feia com departamentos marcados como Infantil, Júnior e Educação de Adultos — talvez o primeiro seminário de Mathers? (Pode ser pertinente lembrar que a educação não era obrigatória nos bairros de Londres até 1870 e, mesmo assim, havia muitas brechas na lei). De Beauvoir Town ainda mantém uma atmosfera de respeitabilidade pacífica com casas construídas por volta de 1835 em pares semi-independentes ou pequenas fileiras. A maioria tem apenas dois andares, algumas também têm um semi-porão e em algumas o cômodo do térreo tem portas francesas com vidros coloridos vitorianos, em âmbar ou malva, que dão para o jardim; algumas até têm pórticos ladeados por colunas jônicas. A casa que agora é numerada como 108 é a do meio de uma fileira de três, situada no lado leste, perto da extremidade norte da estrada. Beirais projetados devem escurecer os quartos da frente

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dos andares superiores; acácias crescem em um dos jardins da frente, proféticas das ligações maçônicas de Mathers. O número 108 parece estar espremido entre seus vizinhos que são um pouco maiores e ocupam um terreno maior. Consiste em um semi-subsolo — realmente no nível do solo — então, um primeiro andar acessado por um lance de dez degraus com balaustrada, e um andar de quarto acima. Existem janelas de guilhotina; na frente, um pequeno jardim com um portão e na parte de trás um lote um pouco maior. Esta fileira parece particularmente mal cuidada, as lixeiras que transbordam para os jardins sugerem ocupação múltipla. Uma programação para o re-desenvolvimento explicaria o ar de negligência nesta rua, contrastando com o da Culford Road, a próxima paralela a ela. Aqui, a maioria das casas, embora não mais distintas arquitetonicamente do que aquelas de De Beauvoir, foram reformadas e decoradas por pessoas de bom gosto. Um grupo de preservação de De Beauvoir surgiu e resiste a esquemas de demolição; a área, como uma extensão de Islington, é até procurada por aqueles que precisam de uma casa pequena não muito longe do centro de Londres.

Qualquer autor que mencione a educação de Mathers dirá que ele foi enviado para a Bedford Grammar School, mas não dirá por que, nem como. O pai de Mathers morreu quando ele era muito jovem, e sua mãe viúva o tirou de Londres e se estabeleceu, não em Bedford, mas na área de Bournemouth. Bedford Grammar era então principalmente uma escola diurna projetada para fornecer educação para meninos da região circundante; mesmo agora, como Bedford School, ela tem uma ligeira predominância de alunos diurnos sobre internos. Se Mathers foi para lá como interno, como sua mãe pagou as mensalidades? Alguém mais as pagou e, se sim, quem foi? É pelo menos interessante que na época relevante havia uma família Mathers vivendo em Bedford com vários filhos, incluindo um William e um Samuel, também nascido em 1854 e apenas três meses mais jovem que Samuel Liddell. Foi este o menino que foi educado em sua escola local, Samuel Liddell sendo ensinado em outro lugar? Não na Escola de Bournemouth, que só foi fundada em 1901; também se pode descartar outra escola em Bedford que não existia em 1866 quando Mathers supostamente entrou.

Seria uma estranha coincidência se dois meninos de mesmo nome e idade estivessem sendo educados pela Bedford Grammar ao mesmo tempo e, na verdade, apenas um aparece em suas listas de classe. Esses registros contêm apenas sobrenomes; de acordo com eles, 'Mathers' (qualquer que seja) frequentou

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do Período de Natal de 1866 até o Período de Meio do Verão de 1870 — isto é, quando tinha entre doze e dezesseis anos. Ele deixou a divisão sênior da turma do Segundo Mestre, a próxima abaixo do Diretor, e sua colocação no último ano foi décima oitava de 20 meninos. Ele alcançou a décima sétima na prova de verão e a posição do último ano nas matérias estudadas foi a seguinte:

Divindade e Clássicos 18
Matemática 19
Inglês e Aritmética 14
Francês 12

Isso sugere uma média justa, mas sem brilhantismo: se se aplica a Samuel Liddell, o currículo seguido não indica a "especialização do lado Clássico" do Prefácio de Moïna. Ele deve ter feito alguns estudos concentrados durante os próximos quinze anos para se equipar para o trabalho que então empreendeu, o que exigia um bom conhecimento de francês, latim e grego e pelo menos algum conhecimento de hebraico e copta.

Os Registros Escolares estão incompletos e não cobrem os anos relevantes, o que é uma pena, pois fornecem não apenas a data de nascimento do aluno, mas o nome e o endereço de seus pais. Nenhum registro de educação física foi mantido antes de 1876, então a gente se pergunta onde Joseph Hone (W. B. Yeats, 1865-1939) descobriu que Mathers se destacou no atletismo enquanto era estudante, particularmente em corrida e boxe? Hone seguiu o Prefácio de Moïna ao identificar a escola como Bedford Grammar; escritores posteriores fizeram o mesmo, e com a mesma escassez de evidências. Moïna fez a mesma declaração em uma carta a Yeats de 1924, cerca de dois anos antes do Prefácio ser publicado.

Posso apenas sugerir que o nome Samuel era um favorito no Clã Mathers, que o Samuel de Bedford era primo de Samuel Liddell e que 'S. L.', portanto, teria conhecido alguns dos detalhes educacionais anteriores. Ele os adotou como seus na vida posterior, tanto quanto adotou o nome de MacGregor, supondo que suas declarações seriam difíceis de refutar? Ele até assumiu a personalidade de um primo, seu homônimo cujo horóscopo era mais marcial, tendo o Sol em Áries? Talvez tenha sido o tipo de educação que em algum período ele teria associado a si mesmo; se o

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vemos como uma personalidade ambiciosa com um passado "desfavorecido", a ideia parece plausível. Eu coloco isso em evidência, não para desacreditar Mathers, mas para apontar um problema: ele conseguiu adquirir uma boa educação em algum lugar, mas onde, ainda está longe de ser certo. Mesmo admitindo que, como muitas pessoas de mente independente, ele foi principalmente autodidata e sua única universidade foi a Sala de Leitura do Museu Britânico, ele deve ter se preparado intensivamente ou ter sido tão preparado durante sua adolescência tardia e início da idade adulta, ou a Biblioteca do Museu Britânico teria sido de pouca utilidade para ele.

Depois que Mathers deixou a Escola Bedford Grammar (sempre supondo que ele esteve lá), ele se estabeleceu com sua mãe nos arredores de Bournemouth e seguiu a ocupação mundana de seu pai como escrivão. Moïna diz que ele "levava uma vida de estudante" e sem dúvida ele fazia isso, em seu tempo livre. Mas outros interesses, mais exotéricos, também invadiram, por exemplo, a Maçonaria e o serviço militar. A próxima data definitivamente conhecida em sua vida — na verdade, a única desde seu batismo — é 4 de outubro de 1877, quando ele se tornou um Maçom aos vinte e três anos. Sua iniciação em Bournemouth na Loja de Hengist, No. 195, foi patrocinada por E. W. Rebbeck, um conhecido agente imobiliário local em cujo negócio ele provavelmente estava empregado na época. Ele avançou pelos três Graus Regulares — Aprendiz, Companheiro e Mestre, obtendo seu certificado de Mestre cerca de dezoito meses após a iniciação. Neste documento, seu nome é seguido por "Comte de Glenstrae", seu primeiro uso registrado do título. Detalhes sobre sua entrada na Maçonaria podem ser encontrados em The History of the Lodge of Hengist (A História das Lojas de Hengist, 1897) por C. J. Whitting, que observa que "Mathers desde então se tornou uma luz brilhante nos círculos Rosacruzes" e foi uma notável adição à lista de membros. Como Mathers não renunciou a Hengist até 1882, ele teria, no curso normal de promoção, tido tempo para passar pela Cadeira de Venerável, isto é, para cumprir o papel sucessivamente de todos os Oficiais na Loja e assim se tornar seu Venerável Mestre. No entanto, Dr. William Wynn Westcott, a quem ele conheceu no ano anterior, afirma que ele nunca foi. Ele apenas alcançou o cargo de Segundo Diácono, mas foi (surpreendentemente) nomeado Mestre de Cerimônias. Ele apresentou um pedido para a fundação de uma Loja de Instrução. Ousamos sugerir que ele achou os rituais da Maçonaria decepcionantes ou pelo menos insuficientemente esotéricos para seu propósito, e

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a maioria de seus irmãos chatos? Não há registro de ele ter ingressado em qualquer outra Loja Maçônica.

No entanto, antes de renunciar, ele propôs Frederick Holland, um metalurgista de interesses ocultistas (incluindo alquimia), então residente na área de Bournemouth, que, de acordo com Ellie Howe, "deu a Mathers sua primeira instrução na Cabala... Dr. Wynn Westcott e Dr. William Woodman, ambos maçons de alto escalão residentes em Londres, visitaram Bournemouth para participar das funções da Fraternidade lá. Eles o introduziram na Societas Rosicruciana in Anglia (Sociedade Rosacruz na Inglaterra) — conhecida familiarmente como Soc. Ros. — uma associação erudita e cerimonial aberta apenas para Mestres Maçons. Ao ser eleito na Província Ocidental do S.R.I.A., Mathers tomou como seu nome o lema do Clã MacGregor, ´S Rioghail Mo Dhream ("Minha raça é Real"[23]), outra indicação de suas primeiras reivindicações de ascendência Escocesa. Westcott, uma luz guia no S.R.I.A., foi rápido em notar o potencial de Mathers, incentivar seus estudos reconditos e promover seu progresso nos aspectos transcendentais da Maçonaria. Ele pode muito bem ter dado ao seu protegido um gosto ocasional da vida maçônica de Londres, convidando-o para ficar. Mathers era muito mais feliz na Soc. Ros. do que na Maçonaria; rapidamente subindo sua escada de graus ele logo alcançou o IXo e se juntou ao triângulo governante. Ele permaneceu ativo na associação até meados do século seguinte, pelo menos. Considerando seus gostos, se esperaria que ele também gravitasse para a Loja de pesquisa, Quatuor Coronati, mas embora ele possa ter participado de seu Círculo de Correspondência, ele nunca foi um membro efetivo.

Embora o primeiro certificado de iniciação de Mathers o descrevesse como um escrivão, não há como saber quão foi empregado nessa capacidade. Talvez tenha sido apenas por períodos curtos e em longos intervalos, quando ele estava absolutamente obrigado a ganhar a vida. O fato de que, posteriormente, ele nunca foi continuamente e lucrativamente empregado por mais de alguns meses sugere que o hábito de tal esforço constante não foi estabelecido anteriormente. Não que ele fosse ocioso: ele trabalhava com a dedicação e empenho de um castor nas áreas que lhe interessava, e fica-se a pensar como ele poderia manter um emprego quando, além de seus compromissos maçônicos, sua atenção deve ter sido focada nos estudos e no autodesenvolvimento que ele acreditava serem necessários para seu futuro trabalho oculto.

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Mathers também ingressou na Primeira Infantaria de Voluntários de Hampshire e se empenhou tanto que logo foi capaz de traduzir um manual militar do francês e adaptá-lo às necessidades do Exército Britânico. Os Regimentos da Milícia foram os precursores do Exército Territorial, e seu treinamento ofereceu uma saída muito necessária para a energia física característica de um homem de seu tipo atlético. Mesmo na meia-idade, ele parecia bem em um kilt e gostava de realizar uma dança da espada, como Yeats atesta. Seu organismo psicofísico deve ter sido forte no Centro de Movimento, para usar uma frase de Gurdjeff. As atividades dos Voluntários equilibraram suas ocupações sedentárias e lhe proporcionaram o exercício ao ar livre e o desenvolvimento muscular que os esportes ao ar livre, além de seus meios, teriam proporcionado para aqueles em melhor situação financeira.

Quando Yeats o conheceu na década de 1890, ele reconheceu a paixão dominante da vida de Mathers como "magia e a teoria da guerra". Se, como Crowley amplifica, ele também "tinha o hábito de comandar", ele deve ter adquirido isso como um Oficial Não Comissionado, já que seu nome não aparece na lista de oficiais comissionados de seu regimento. Embora ele esteja usando o uniforme de um tenente na fotografia de c. 1882 descoberta por Ellie Howe, não é, portanto, necessário imputar fraude. Ele pode ter alugado a fantasia para uma festa a fantasia e gostou tanto de si mesmo que fez seu retrato depois. Novamente, ele pode ter estado realizando um desses rituais instintivos desenvolvidos na infância quando ele faria uma imagem do que ele queria para concretizá-la — só que desta vez era uma representação em 3D, drama em vez de desenho; um fantoche vivendo manifestando um sonho: "constrangido, acusado, frustrado, dobrado e desdobrado". Se a vaidade era um elemento em sua vida de fantasia, uma vontade de enganar não era uma. A celebração do poderio militar que persistiu em seus devaneios juvenis nunca o deixou completamente.

Mathers apresenta, nesta época, um exemplo clássico de um jovem fixado na mãe mergulhando em atividades que, sendo totalmente orientadas para o masculino, criariam uma barreira impalpável entre ele e as mulheres de sua própria idade. Sua viúva o descreveu como "um tempo de reclusão no campo" — Bournemouth e seus arredores ainda eram bastante rurais na segunda metade do século passado, então não há necessidade de procurar mais do que a casa de sua mãe para um retiro no campo, com talvez uma visita ocasional à New Forest ou à Isle of Wight (Ilha de Wight).

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Eles ocuparam 'Dunvegan'[24] — certamente ele escolheu o nome! — Longfleet, uma vila vitoriana-gótica de três andares de bom tamanho e alguma pretensão. Sobrevive como 6, Longfleet Road, Poole, na esquina com Elizabeth Road, a vila de Longfleet tendo sido há muito engolida pelo desenvolvimento suburbano. N.o. 6 estava à venda em julho de 1973; embora não tão grande quanto parece na fotografia — compartilhando uma parede de festa na parte de trás com 4, Longfleet Road — parece espaçoso para duas pessoas em circunstâncias apertadas. Poderia se supor que a Sra. Mathers alugou a propriedade de seus então proprietários e sublocou alguns dos quartos como apartamentos, se o nome dela tivesse surgido entre os 'principais residentes' da área no Kelly's Directory de 1885. Mas não surgiu, embora haja um registro de uma Sra. Ann Mathers, que pode ter sido a mesma pessoa, alugando apartamentos em Yelverton Road por um curto período em 1876. Caso contrário, mãe e filho devem ter ocupado um par de quartos em 'Dunvegan', administrada como uma casa de apartamentos por outra pessoa. O "contrato" terminou com a morte da Sra. Mathers aos setenta anos de bronquite e pneumonia em 27 de janeiro de 1885 — 'na presença de seu filho', conforme o certificado afirma. Como não foi registrado nenhum testamento, presumivelmente ela não deixou nenhum ativo: Mathers certamente herdou pouco ou nada dela. Ele se mudou para Londres sem demora, reconhecendo que a primeira fase de sua vida estava encerrada, embora ainda possa ter considerado, de alguma forma, 'Dunvegan' como um tipo de refúgio, já que a segunda edição de seu manual militar é datada de 'Bournemouth, 1889'.



CAPITULO SETE

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Uma Espada: Fato (2)

Foi principalmente ao Dr. Wynn Westcott que Mathers devia a possibilidade de começar sua missão oculta em Londres, embora o homem mais velho não tivesse ideia das responsabilidades que estava assumindo. Devido ao seu encorajamento e ajuda financeira, Mathers fez a primeira tradução inglesa do A Cabala Desvelada de Knorr von Rosenroth. O Dr. Woodman juntou-se a Westcott e encomendaram este trabalho, e juntos eles lhe pagaram um salário, mesmo que pequeno. Eles próprios não eram homens ricos, mas reconhecendo suas habilidades especiais, fizeram o melhor que puderam para subsidiá-lo. Além disso, Westcott providenciou um teto sobre sua cabeça: comentando, em um resumo da vida de Mathers, citado por Ellie Howe, sobre o estado penúrio de seu protegido, diz que ele viveu

'...em modestas hospedagens na Great Percy Street, Kings Cross, onde desfrutou da hospitalidade de Westcott por muitos anos.' Era costume de Westcott escrever sobre si mesmo na terceira pessoa. Em 1885 ele já se tornara o legista do norte de Londres e estava instalado em 369 — de maneira mais grandiosa, Athenaeum Lodge — Camden Road, N., então sua hospitalidade não precisa implicar nada mais íntimo do que pagar o aluguel dos alojamentos de Mathers.

Mathers ainda estava muito pobre quando Yeats o conheceu alguns anos depois: às vezes ele estava tão fraco de desnutrição que não conseguia dar ao seu habitual parceiro de combate uma luta digna. O Dr. Edwards acha que por um tempo ele foi um boxeador profissional: no seu melhor, ele teria sido um adversário formidável e pode muito bem ter ganhado uma taxa ocasional por lutas e demonstrações. O boxe e a esgrima eram um meio mais ou menos inofensivo de extravasar suas tendências agressivas, mas o principal objetivo desses exercícios era se manter em forma. Ele sempre insistiu que um ocultista deveria manter-se

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em boa forma física, mas havia dias em que uma refeição completa teria servido melhor ao propósito do que uma atividade extenuante.

Ele não poderia ter se sustentado com algum emprego regular, dedicando seu tempo livre à pesquisa oculta, como faziam a maioria de seus associados? Talvez — se o tempo não fosse uma questão, mas aparentemente era: o novo impulso oculto tinha que se manifestar antes do declínio do século. Temperamentalmente, ele teria achado quase impossível alternar entre ganhar o pão e o ocultismo, como ele o entendia, e vice-versa. Embora alguns, como Papus, possam "travailler par quart-d’heures"[25], o indivíduo de foco inabalável, seja ele estudioso ou artista, precisa da 'perspectiva de horas' contínuas para fazer jus ao seu tema escolhido. (O caráter desorganizado da escrita de Papus muitas vezes trai essa falta de concentração.) Moïna sugere que seu marido já estava em contato com seus Chefes Secretos, que ele acreditava serem seres humanos com uma existência objetiva além de sua própria consciência e dotados de poderes vastamente superiores. De qualquer forma, ele percebeu que sua Verdadeira Vontade (usando um termo crowleyano) era estabelecer uma escola oculta. A quantidade de erudição necessária para isso não poderia ter sido acumulada apenas com trabalho em tempo livre em poucos anos — o que exigia não apenas estudo no sentido acadêmico, mas horas de meditação, ritual ou outra prática visando estabelecer contato com modos de existência conhecidos. Teria sido muito difícil conciliar um trabalho mundano com tal programa em uma alternância ágil e prolongada.

Uma hospedagem no distrito de King’s Cross era bastante conveniente para as pesquisas de Mathers no Museu Britânico; seu passo longo poderia ter coberto facilmente a distância entre eles em uma caminhada matinal. Isso teria lhe dado exercício ao ar livre, que ele teria perdido na vida da cidade, enquanto economizava nas tarifas. Um pouco mais adiante estava a Great Queen Street e o enclave maçônico com a Grande Loja e as instalações da S.R.I.A. A Mark Mason’s Hall na Euston Road e a moradia de Westcott em Camden Town também eram convenientes.

Quase antes de sua tradução de A Cabalada Desvelada ser publicada em 1887, as primeiras discussões que levaram à fundação da Aurora Dourada já haviam ocorrido. Que a Aurora Dourada se originou nos famosos Manuscritos Cifrados é dificilmente contestado: a grande questão é, de onde vieram esses manuscritos? Se o Rev. A. F. A. Woodford os

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encontrou depositados em um armário maçônico por Frederick Hockley antes de sua morte, ou Dr. Woodman os adquiriu de segunda mão em uma banca de livros na Farringdon Road em 1886, ou Wynn Westcott os fabricou, foi este último que assumiu a tarefa de decifrá-los. Não uma tarefa difícil: segundo Edward Garstin, o código é de uma simplicidade tão infantil que qualquer pessoa acostumada a lidar com tais assuntos poderia rapidamente quebrá-lo. Na verdade, foi desenvolvido pelo Abade do século XV, Trithemius, e, alguns anos atrás, um exemplo dele estava em exibição no Museu Britânico em uma exposição de cifras similares. Westcott, já familiarizado com ele e com rituais do tipo maçônico, percebeu de imediato que o manuscrito transmitia, em inglês, uma série de cinco iniciações de grau resumidas. Entre os papéis, ele também encontrou o nome de uma adepta Rosacruz, Fraülein Sprengel, com um endereço em Stuttgart. Ele incumbiu Mathers de elaborar os rituais em um formato funcional e ele mesmo começou uma correspondência com a adepta.

Esta oportunidade Mathers agarrou com ambas as mãos: deve ter lhe parecido que os Chefes Secretos, cuja influência em sua vida ele tinha consciência obscura há muito tempo, agora haviam jogado em seu colo o plano de uma Escola oculta. Eles lhe ofereceram o esqueleto da sua Estrutura Exterior ou pronaos; ele preencheu as cerimônias, elaborando-as com todo o sentimento poético e erudição que tinha à disposição. Típico de uma atitude generalizada de relutância em reconhecer os feitos de Mathers é o comentário de Yeats de que ele "tinha muito aprendizado, mas pouca erudição, muita imaginação e gosto imperfeito". No entanto, Yeats não hesitou em pegar emprestadas imagens dos rituais compostos por Mathers para incorporar em suas próprias obras; e ele ainda admite: "...em corpo e voz pelo menos ele era perfeito; assim Fausto poderia ter parecido em sua eterna juventude inalterada."

Westcott já havia convidado Mathers para a Tríade governante com o Dr. Woodman, agora Supremo Magus da Soc. Ros.; todos os três possuíam seu IXo e, assim, o mesmo triumvirato que administrava os assuntos da S.R.I.A. também regulava os da nova Estudantes Herméticos da Aurora Dourada. Superficialmente declarado, suas principais preocupações sendo magia ritual, alquimia e Cabala eram assim um aprofundamento e extensão da perspectiva da Soc. Ros.. O próximo passo foi alistar estudantes de ocultismo como membros, e esses não demoraram para se juntar. Os desdobramentos maçônicos não eram o único interesse de Mathers, pois quando se

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estabeleceu em Londres — talvez até antes — ele foi muito atraído pela Dr. Anna Kingsford (1846-88), e a ela e seu colaborador, Edward Maitland, dedicou O Cabala Desvelada. A Dra. Kingsford era uma mulher casada, alguns anos mais velha que Mathers, e, embora frágil de saúde, era tão enérgica quanto bela. Em uma época em que era muito difícil para as mulheres obterem qualificações médicas de qualquer tipo, ela conseguiu um doutorado ao continuar seus estudos em Paris. A partir de então, seu marido, um clérigo, e seu filho tiveram que ficar em segundo plano para Edward Maitland, que foi capaz de reconhecer sua qualidade e identificar seus objetivos com os dela. Ela foi uma das primeiras lutadoras pelo Liberação das Mulheres; sob sua influência, Mathers se tornou um ardente feminista e a ajudou com propaganda. A impressão que ela causou através dele no ethos da Aurora Dourada não foi totalmente avaliada; pode ser devido à sua influência sobre Mathers e Westcott que os Estudantes Herméticos admitiram homens e mulheres em igualdade de condições; também que uma iniciada mulher típica, embora menos incendiária do que Anna, provavelmente compartilharia suas visões.

Anna fez campanha contra a vivissecção de animais e recrutou o apoio de Mathers nisso também; ela era vegetariana, até mesmo vegana, e aqui também Mathers a seguiu. Ele também era não fumante. Se tais gostos parecem fora do caráter com suas tendências marciais, eles podem revelar sua Vontade, distintos de sua Máscara escolhida, para usar os termos psicológicos que Yeats mais tarde empregou em A Vision. Yeats, de fato, via Mathers como essencialmente de bom coração, até mesmo delicado, e é difícil encaixar as alegações de prática de magia negra, muitas vezes lançadas imprudentemente contra ele, nesse retrato. Anna certamente recrutou a ajuda de alguém em uma tentativa de liquidar por meios extra-sensoriais certos médicos da Sorbonne que praticavam a vivissecção. Que seu conselheiro era Mathers não foi estabelecido, mas se fosse ele, sem dúvida ambos teriam se sentido justificados como agentes da Luz.

Na juventude, a Dra. Kingsford se converteu à Igreja de Roma por uma visão; a filiação a um corpo 'Tradicional' pode ter lhe dado a confiança para se aventurar mais além em reinos sutis do que teria sido possível de outra forma. Seus escritos subsequentes, como O Caminho Perfeito e Vestida com o Sol[26], têm pouco em comum com qualquer tipo de ortodoxia, embora ela sempre afirmasse que eram cristãos, Moïna fala da posição dela como Cristianismo Esotérico;

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olhando de forma ampla, pode ser classificado como uma variedade de Gnosticismo Cristão. Pelo que a própria Anna diz, ela sempre pretendeu usar a Igreja como uma plataforma de lançamento para a experiência visionária: não há qualquer indício de submissão à autoridade eclesiástica. Como seus correligionários reagiram a ela é uma questão intrigante, ainda sem resposta. Ela dificilmente os teria consultado antes de se juntar à ST e se tornar a primeira presidente de sua filial em Londres. Ela também fundou sua Loja Hermética, que se desdobrou alguns anos antes da fundação da Aurora Dourada, como a Sociedade Hermética[27] com um grupo irmão em Dublin. Westcott e Mathers se tornaram membros honorários e deram palestras sob seus auspícios.

Foi através de Anna que Mathers conheceu Madame Blavatsky, que pediu sua colaboração para estabelecer a Sociedade Teosófica. Se este pedido foi feito durante sua visita a Londres em 1884, ele deve ter estado fazendo excursões de Bournemouth para lá algum tempo antes da morte de sua mãe; mas ele pode não a ter conhecido antes de seu retorno em 1887. Ele recusou o pedido de Madame, embora tenha se juntado à sua Sociedade, como Westcott já havia feito e como muitos outros iniciados da Aurora Dourada iriam fazer no futuro. Embora inicialmente não houvesse conflito de interesses entre as duas organizações, o esoterismo ocidental foi, como Anna sentiu, inadequadamente representado na Sociedade de Madame Blavatsky; e a relutância de Mathers em empreender uma cooperação mais próxima com ela surgiu de sua aversão a termos orientais, muitas vezes mal traduzidos e mal aplicados. Ele preferia buscar o equivalente mais próximo de casa, na Tradição Egípcia e outros cultos de mistério dos tempos clássicos, no mito celta e acima de tudo na simbologia Rosacruciana. Isso é compreensível se, como Moïna acreditava, seu marido já havia recebido orientações de seus próprios Chefes Secretos.

Durante os anos em que Mathers frequentava a Sala de Leitura, ele deve ter ouvido falar na tradição oral do Museu Britânico de dois famosos excêntricos, os irmãos Sobieski-Stuart[28]. Talvez ele tenha começado a seguir o rastro deles quando, inflamado por seu entusiasmo pela Escócia, retomou o estilo de seus antepassados. É possível, embora improvável, que ele tenha tido um vislumbre do irmão mais novo antes de sua morte em 1880.

A mãe do Jovem Pretendente era Maria Clementina Sobieska, e os irmãos John Sobieski Stolberg, Conde d'Albanie e Charles Edward alegavam ser seus netos. O artigo de

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C. J. Heus no Royal Stuart Viewpoint ("Ponto de Vista da Realeza Stuart", Fevereiro-Março de 1974) fala das "absurdas reivindicações de Sobieski-Stuart", mas sem dúvida é possível defender uma visão diferente.

Os irmãos haviam lutado por Napoleão e viveram muito no continente; também em várias partes da Escócia — Floresta Darnaway, no Rio Findhorn, perto de Elgin e em Edinkillie, Morayshire. Uma cruz celta inscrita em latim e gaélico os comemora na igreja católica de Eskadale — nascidos anglicanos, eles se converteram em algum ponto de suas carreiras. Seus trabalhos literários incluem Vestiarum Scotium ("Vestuário Escocês", 1843) — um estudo sobre os tartãs, Castumes of the Clans ( "Trajes dos Clãs", 1843), Lays of the Deer Forest ("Cantos da Floresta dos Cervos", 1848) e Poems ("Poemas", 1869). Por volta de 1868, eles haviam se estabelecido em Londres, onde Donald Macpherson, autor de Melodies from the Gaelic ("Melodias do Gaélico"), ensinou-lhes esta língua ancestral. Embora não tivessem dinheiro, eles entraram na Sociedade[29] com um grande "S", encontrando ali muitas pessoas de inteligência e linhagem para apoiá-los. As autoridades do Museu Britânico os aceitaram com deferência como descendentes do Bonnie Prince Charlie. Isso foi muito antes dos dias de assentos cobertos com plástico e ruídos de computador na Sala de Leitura, que naquela época era aconchegante e estofada em veludo e dividida em nichos. Um desses foi reservado para os Sobieski-Stuarts e uma mesa especial foi preparada, todas as canetas, limpadores de caneta, abridores de carta e pesos de papel gravados com uma coroa dourada. Aqui, os irmãos realizavam suas audiências, vestidos com as mais coloridas variedades de trajes da Escócia. Será que o rumor sobre suas pretensões bem-sucedidas inspirou Mathers? Ele especulou que se os Sobieski-Stuarts podiam fazer isso, então por que ele não? Pode-se ter certeza de que ele absorveu tudo o que eles haviam escrito, e ele não estava sozinho. O entusiasmo da Rainha Vitória e do Príncipe Consorte fez da Escócia a grande moda no meio do século passado.

Em uma das cartas de Annie Horniman para o Dr. Edwards, ela menciona encontrar um grande amigo de Mathers chamado Stoddart, um homem alguns anos mais jovem — com "um sotaque de Londres", como ela nota — que ensinava em uma escola pública e que, Mathers acreditava, era seu filho em uma encarnação anterior, quando, como o Jovem Pretendente, ele teve um caso com Flora MacDonald. Independentemente de a lembrança de Annie ser confiável ou não, o jovem era evidentemente primo de Mathers, Walter MacGregor Stoddart; e se algum de seus parentes pudesse ser rastreado hoje,

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várias questões poderiam ser respondidas. Ele, influenciado por seu primo mais velho, assumiu o nome de MacGregor porque Mathers o tinha feito ou era seu por nascimento? Como as coisas estão no momento, é impossível dizer quais pesquisas genealógicas Mathers perseguiu e com qual resultado. Minha suposição é que o arquétipo de Bonnie Prince Charlie pertencia a um mundo de fantasia — embora fosse uma ilusão contagiosa, já que a Sra. Weir acolheu um jovem homem que ela acreditava ser não apenas o filho de um duque escocês, mas uma reencarnação do carismático príncipe. No entanto, a ligação MacGregor provavelmente era tradicional na família Mathers e suas conexões. Foi levado adiante pela minuciosa investigação por parte do próprio Mathers, como ele mais tarde seguiu ao traçar a linhagem dos demônios de Abramelin. A tentativa de genocídio dos MacGregors pelo governo inglês, a dispersão de seus clãs restantes e a supressão de seu nome tornaram difícil ter certeza de quem era um MacGregor e quem não era.

E quanto ao título, Conde de Glenstrae? É muito fácil descartá-lo como falso, pois a questão é complicada pelo fato de que tais honras podem ser aceitas como válidas em alguns países, mas não em outros. O Dr. W. B. Crow, cuja Ordem da Santa Sabedoria inclui um departamento especializado em Heráldica, me informa que existem certos títulos não registrados pelo Lyon King of Arms em Edimburgo que ainda são genuínos. Já vi o estilo de Mathers referido como "um título franco-escocês": Moïna afirma que Louis XV criou Ian MacGregor como Conde de Glenstrae em consequência de seu serviço no exército francês na Índia. É um fato que o Clã MacGregor em um momento possuía terras em Glenstrae em Argyllshire, e o primeiro lema esotérico de Mathers, "S Rioghail mo Dhream", lembra Kenneth MacAlpine, irmão de Gregor, o fundador do Clã. Da proscrição deles em 1604 após a Batalha de Glenfruin, quando massacraram mais de duzentos Colquhouns (sem ressentimentos!), Mathers comentou que é "...dito ser o único caso de um nome ser proscrito. Esta proibição não foi anulada até 1822!" Outras autoridades dão 1774 como a data para a aprovação do Ato anulando a supressão, mas isso pode não cobrir o nome.

Foi devido, em algum grau, ao apelo romântico do fora-da-lei, tanto quanto ao da aristocracia que dois dos alunos de Mathers, Allan Bennett e Aleister Crowley, para não falar dos MacGregor

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Reids mais tarde, o seguiram na adoção do nome de MacGregor. Crowley assumiu em um momento o lema de Rob Roy, 'E’en do and spare not' (algo como "Faça e não poupe"); ele também se chamava Alastor, The Wanderer of the Waste (O Andarilho do Lixo), e Yeats em um momento estava fascinado pela persona-Alastor.

O certificado de casamento de Mathers não inclui o título, mas o seu atestado de óbito sim; o próprio atestado de óbito de Moïna, preenchido por seu irmão mais novo e herdeiro, chama seu falecido marido de 'Liddle MacGregor Mathers, um estudante ocultista'. Outra explicação é apresentada por alguns parentes da Sra. Weir, que sustentam que ele era um Conde do Sacro Império Romano. Embora o imperador Franz-Joseph da Áustria tenha continuado a conceder tais títulos até sua morte em 1914, Mathers dificilmente poderia ter recebido um tão cedo quanto 1878 (quando ele é registrado pela primeira vez usando-o), mesmo de um ex-monarca. A certeza é ilusória, já que os registros publicados não incluem todas as concessões imperiais posteriores; só se pode dizer que mais tarde é cronologicamente possível. A menos que Mathers fosse o possuidor de dois títulos, um herdado ou pelo menos ressuscitado e outro, muito mais tarde, conferido, sinto que meus informantes devem estar enganados. Pode até haver confusão em suas mentes entre um Conde do Sacro Império Romano e um Conde Papal; o último também é uma possibilidade se os rumores da conversão de Mathers forem verdadeiros — há algumas alianças inesperadas entre a Igreja e o ocultismo.

Mathers pode ter estado em busca de uma ancestralidade mais glamorosa do que aquela confirmada por seu histórico imediato, mas qualquer que tenha sido sua intenção ao adotar um estilo nobre, ele não foi motivado por uma esnobação vulgar. 'Pierre Victor' (Victor Barrucand) faz uma sugestão perspicaz em L'Ordre Hermétique de la Golden Dawn (Nos. 2 & 3, 1956, La Tour St. Jacques):

"Assim, as pretensões de Mathers não são simbolicamente absurdas. Ele era certamente espiritualmente da raça desses homens estranhos, partidários jacobitas e "místicos" do século XVII!"

O ano de 1887 foi importante na vida de Mathers por várias razões. Trouxe à fruição sua primeira grande obra de erudição esotérica e mostrou-lhe a primeira possibilidade prática de estabelecer sua escola ocultista. Talvez ainda mais importante, presenciou o primeiro encontro com sua futura esposa, sem cuja ajuda ele não poderia ter mantido seus contatos no plano interior. Moïna Bergson havia terminado o curso regular

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na Slade School e estava estudando arte egípcia no Museu Britânico: teria sido sob o olhar ardente daquela Sekhmet de mármore negro entronizada, uma Leoa do Sol ainda instintivamente vibrante de força, que eles trocaram olhares incendiários pela primeira vez? Mathers, reconhecendo de imediato uma bela garota e uma vidente talentosa, impetuosamente propôs casamento, mas foi inicialmente recusado. No início do ano seguinte, quando Annie Horniman retornou após uma visita prolongada ao exterior, Moïna apresentou Mathers a ela "... como um homem interessante com quem ela não queria se casar", como Ellie Howe cita. No entanto, ela logo se comprometeu com ele e assim começou sua parceria de longa data como mago dirigente e sibila clarividente. Moïna foi uma das primeiras iniciadas da Aurora Dourada e mais tarde o primeiro membro, depois da Tríade, a entrar na Segunda Ordem ou Ordem Interna. De um ponto de vista metafísico, ela é mais do que isso, incorporando uma tentativa inconsciente de equilibrar a liderança exclusivamente masculina. Seu papel poderia ser comparado àquele elemento meio reconhecido no cristianismo que quase transforma a trindade em quaternidade pela introdução de um equivalente feminino ou shakti para cada uma de suas Pessoas:

Deus Pai: a Virgem Maria, Panagia (Toda Santa)
Deus o Espírito Santo: Hagia Sophia (Santa Sabedoria)
Deus o Filho: Eklesia (Igreja como Noiva de Cristo)

Moïna começou imediatamente as árduas sessões de clarividência pelas quais ela trouxe material dos planos internos que formariam a base da Segunda Ordem alguns anos depois. A Ordem Externa pode ter sido o 'bebê' de Westcott, mas a Ordem Interna, a Red Rose and Golden Cross ("Rosa Vermelha e Cruz Dourada"), foi a criação conjunta de Mathers e Moïna. Se eles interpretaram a inspiração dos Chefes Secretos, ativaram sua própria memória latente de encarnações anteriores como ocultistas ou evoluíram um sistema conjuntamente a partir de uma colaboração abaixo (ou acima?) do nível consciente em sua própria psique, é uma questão de opinião. Os poderes do organismo psicofísico humano ainda são desconhecidos, mas há uma analogia entre o processo de Mathers e o de Yeats e sua esposa cerca de trinta anos depois que produziu o material para A Vision. Consequentemente a essa parceria ocultista, Yeats registra fadigas semelhantes, fenômenos perturbadores e o que ele chama de 'frustração' por entidades hostis, embora com muito menos estresse e tensão do que os Mathers experimentaram. A principal

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diferença era que, enquanto os Mathers acreditavam estar sob um compromisso com seus Superiores Desconhecidos, os Yeats começaram sua clarividência a dois como uma diversão, por mais absorvente que se tornasse mais tarde.

Pouco mais de dois anos após seu primeiro encontro, Mathers e Moïna se casaram. Ele tinha trinta e seis anos, ela vinte e cinco; nenhum dos dois havia se casado antes. A partir de 1890, senão antes, Mathers mudou seu primeiro nome para Sydney e assim aparece em seus certificados de casamento e, mais tarde, de óbito. Se ele tinha um motivo para se identificar com o Bedford Samuel Mathers, ele também pode ter desejado, por algum motivo, distinguir-se deste último. Em uma carta para a revista Light datada de 23 de outubro de 1901, ele se assina G. S. L. MacGregor Mathers, mas eu não sei o que o G. significa — Gregor, possivelmente?

Após a cerimônia, Mathers levou Moina de volta a Forest Hill, onde já estava morando nos alojamentos do Museu[30], tendo recentemente obtido um cargo de bibliotecário assistente com F. J. Horniman. Uma das cartas de Annie deixa claro que ele nunca foi "o Curador do Museu Horniman", como muitas vezes foi afirmado: ele mal esteve lá tempo suficiente para ver a abertura das coleções de seu pai ao público em geral. Ele devia seu posto, informal como era, à recomendação de Annie: ela esperava amenizar a vida de insegurança que previa para Moïna. O casal também tinha o uso do alojamento Stent nos terrenos do Museu, provavelmente sem pagar aluguel, e sua casa ali tornou-se por cerca de um ano o ponto focal das atividades da Aurora Dourada. Infelizmente, essa prosperidade relativa não durou muito devido a uma disputa entre Mathers e Horniman o pai, e o talentoso, mas irresponsável, casal estava novamente vivendo com dificuldades, desta vez na Percy Street, perto da Tottenham Court Road. Novamente, Annie veio em socorro, mas tentou canalizar sua ajuda para a esposa enquanto excluía o marido. Ela deve ter sido ingênua e também indelicada ao supor que era possível apoiar um membro de uma parceria como essa sem ajudar o outro. Após estabelecerem uma Segunda Ordem ou Ordem Interna em Londres, ambos migraram para Paris, com Mathers sinceramente acreditando que seus Chefes estavam usando Annie para prover para ele - e quem era ele para questionar seus métodos? Quanto a ela, finalmente aceitou o fato de que ele compartilharia suas doações para Moina, e foi sua generosidade que permitiu que ambos encontrassem seu lugar na Paris da Belle Époque[31].



CAPITULO OITO

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Uma Espada: Fato (3)

A Sword: Fact (3)
Quando chegaram pela primeira vez em Paris, Mathers e Moïna ficaram na Rua Miromesnil, mas depois de uma semana eles atravessaram para a Rive Gauche em busca de acomodações mais baratas. Eles encontraram essas acomodações na Boulevard St Michel, 121, onde viveram por algum tempo — em extrema pobreza, de acordo com um de seus visitantes. Yeats deu o endereço deles para John O'Leary, sugerindo que qualquer Nacionalista Irlandês em Paris deveria visitar Mathers como um especialista — presumivelmente em assuntos militares — que tinha "um plano" que queria colocar em prática imediatamente. Quaisquer que fossem seus esquemas — e a política neste momento o desviou em certa medida de sua missão oculta, embora ele acreditasse que eles eram de alguma forma auxiliares a ela — as acomodações de Mathers não continham um quarto grande o suficiente para servir como um Templo. Foram necessários dois anos para ele estabelecer o funcionamento completo da Aurora Dourada, quando conseguiu se mudar para um apartamento no Champ-de-Mars[32] — certamente um endereço irresistível para ele! Por uma instância de sincronicidade (uma vez que St. Michael também é um 'líder do exército de Deus') ele estava deixando um endereço Marcial para outro. No novo endereço, Avenue Duquesne, 1, havia um quarto adequado para rituais e em 1894 ele delegou a sua benfeitora Annie para realizar a cerimônia de consagração. Desta vez, a dedicação foi para Ahathoor (Hathor, a Afrodite egípcia)..

Quatro grandes telas de Moïna representando deidades egípcias — Néftis, Osiris, Horus com cabeça de falcão e Horus o Jovem — costumavam decorar uma antessala pela qual os devotos passavam a caminho do Templo. Parece-me que esta antessala pode ter visto a performance dos Ritos de Isis, que sempre foram distintos dos rituais da Aurora Dourada, embora tenha havido confusão sobre o ponto com alguns escritores. A ressuscitação de um culto a Isis foi uma das muitas atividades nas quais os Mathers se lançaram, além de seu já completo programa de compromissos. Mathers

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ainda era o líder de Isis-Urania (embora tivesse nomeado Florence Farr para substituí-lo durante sua ausência de Londres) e ainda ocupava um cargo na Soc. Ros. Mas a principal tarefa para ele e Moina era obter dos Chefes Secretos ainda mais conhecimento para a Aurora Dourada, embora suas lutas e ansiedades financeiras tornassem quase impossível o tipo de concentração necessário para tal esforço. Como se tudo isso não fosse suficiente, o casal agora assumiu o ensino e a organização necessários para o renascimento de um culto separado. Independentemente de ser ou não parte da missão imposta a eles pelos Chifes Secretos, estava claro que não se opunha às Suas intenções. Poderia ser chamado, em termos teológicos, de um trabalho de supererogação, com a possível vantagem de usar o movimento Isis como um Tribunal Externo para atrair postulantes a Aurora Dourada.

Além disso, os Mathers estavam sempre prontos para fornecer uma refeição ou uma cama para os membros da Aurora Dourada, muitas vezes dois ou três de uma vez, que chegavam a Paris de Londres e de outros lugares. Entre seus convidados em várias ocasiões estavam Allan Bennett, Percy Bullock, Aleister Crowley, Frederick Gardner, Maud Gonne, Annie Horniman, Dr. Henry Pullen Burry, Charles Rosher, William Sharp, Ada Waters e W. B. Yeats. Hospitaleiros como eram, os Mathers dificilmente teriam acolhido tantos se não tivessem ajuda doméstica, mas, independentemente das circunstâncias restritas, eles parecem sempre terem tido uma empregada doméstica que também residia lá. Naquela época, tinha-se que chegar ao fundo do poço antes de prescindir dos servos, e na França havia garotas do campo felizes em se juntar a uma casa de Paris em troca de pensão e hospedagem sem pagamento adicional. Como não havia carros, as pessoas então gastavam pouco em mobilidade em contraste com as pessoas de hoje; não havia transporte público, nem mesmo ferrovias ligando as estações principais a certos subúrbios, até alguns anos depois. A alternativa, uma carruagem puxada por cavalos, era um luxo que só podia ser permitido em ocasiões especiais. Mathers, quando não andava, pedalava por Paris em uma bicicleta, uma figura colorida em um kilt e manta do tartã dos MacGregor com um skean-dhu, um punhal escocês, na meia e um joelho musculoso. Sempre que ele vestia roupas das Escocesas, ele se sentia "como uma chama ambulante", como ele uma vez confidenciou a Yeats.

Entre aqueles sobre os quais ele causou uma impressão estava o escritor alemão, Max Dauthendey (1857-1918), que acabou várias vezes em Paris durante o curso de sua vida errante. Em sua autobiografia

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Gedankengut aus meinen Wanderjahren (1913) (Reflexões de meus anos de Andanças) ele menciona Mathers como der Zauberer (o Magista) embora ele não o nomeie — e sua Ordem como Die Menschen von Morgen (Pessoas do Amanhã). Ele ouviu falar da Aurora Dourada pela primeira vez enquanto estava em Bloomsbury, onde conheceu um jovem casal americano, James e Theodosia Durand, escultor e pintor. Ele descreve vividamente sua moradia — o enorme quarto-sala onde eles viviam e trabalhavam, as longas conversas sobre potes de chá, os nevoeiros lá fora. O casal havia deixado Paris por alguns meses para estudar o ensino da Aurora Dourada — sem dúvida no British Museum, bem como nas reuniões que frequentavam duas vezes por semana. Eles apresentaram Dauthendey a Yeats, que o levou à primeira apresentação de The Land of Heart's Desire[33] na Avenue Theatre. No caminho, Dauthendey, que era míope, deixou cair seus óculos em um ralo, então não conseguiu ver o que estava acontecendo e dormiu pacificamente durante a ocasião histórica. Mesmo assim, Yeats renovou a amizade com ele mais tarde em Paris, homenageando-o — como Doukenday no Epílogo de Per Amica Silentia Lunae ("Através do silêncio amigável da lua", 1918): um dos 'jovens intelectuais que falavam de magia'. (A ortografia de Yeats sempre foi selvagem e seu ouvido para idiomas defeituoso; mas como os leitores da Macmillan deixaram passar essa?) Após seu retorno a Paris, os Durands levaram Dauthendey e sua esposa Anni para visitar Mathers; Dauthendey escreve sobre o encontro:

"... o último descendente de um rei escocês que vivia em Paris como egiptólogo. Ele e sua esposa ocupavam uma linda vila cercada por um jardim. Aos domingos ele recebia muitos visitantes. Vi lá os pergaminhos do Livro Egípcio dos Mortos, que ele estava traduzindo dos hieróglifos para o inglês. Este mesmo erudito reintroduziu o antigo culto de Isis e sua esposa se tornou a sacerdotisa de Isis. Soube disso vários anos depois por jornais ilustrados que traziam uma foto do casal com uma reportagem sobre seu renascimento do culto de Isis."

Sem dúvida, a última frase se refere às edições de 1 e 15 de dezembro de 1900, do jornal de Jules Bois, L'Echo du Merveilleux ("Echo da Maravikha"). A 'linda vila' era 87, Rue Mozart, Auteuil (embora Dauthendey diga Neuilly), para onde os Mathers se mudaram em 1895. Bois havia evoluído sua versão dos Ritos de Isis já em 1888; e, cerca de cinco anos

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depois, ele colaborou com os Mathers em dar apresentações privadas em seu apartamento. Em 1898, ele estava sugerindo que eles transferissem o show com ele próprio como mestre de cerimônias para o Théâtre Bodinière, um pequeno teatro perto da Gare Saint Lazare[34], e admitir o público mediante o pagamento de uma taxa. Isso não quebrava nenhuma obrigação de sigilo, pois os Ritos não estavam ligados aos rituais da Aurora Dourada, mas consistiam em declamações do Livro Egípcio dos Mortos traduzidas para o francês. Estas eram intercaladas com invocações a Isis compostas por Mathers e Bois e danças por um amigo que tinha talento para coreografia. O tipo de tema foi ecoado anos depois nos Ritos de Eleusis que Crowley encenou no Caxton Hall.

A crítica a respeito dos Ritos de Isis apareceu junto com um esboço à caneta e tinta no periódico The Sunday Chronicle em 19 de março de 1899. Este esboço é simples, mas mostra que Mathers era consideravelmente mais alto do que sua esposa. O crítico elogiou a beleza de sua voz e aparência, e sua presença cativante como ela encarnava a "Suma Sacerdotisa Anari", mas falou depreciativamente do sotaque francês de Mathers e reclamou que ele parecia mais um homem de Yorkshire do que o "Hierofante Rameses". Sotaque à parte, ele possuía uma voz profunda e ressonante; ele era um "homem de boa estatura" (de acordo com Joseph Hone) e pareceria impressionante em qualquer traje. Os Ritos tiveram uma boa recepção e trouxeram ao casal muitos contatos interessantes. É apenas um passo do cerimonial para o palco e ambos o deram com facilidade.

Existe uma tradição de que logo após chegarem a Paris, os Mathers viajaram para o Egito, onde entraram em contato com a corrente de Isis da antiga magia daquele país. Não tenho detalhes sobre esta jornada e nem mesmo posso dizer com certeza se ela aconteceu. Se aconteceu, eles poderiam ter visitado Busiris, o principal centro de Isis da região do Delta, sem muita dificuldade, embora seja menos provável que tenham chegado a Philae, o santuário da ilha acima da Primeira Catarata, em uma curta viagem. Eles podem ter usado parte da generosidade de Annie para custear as despesas ou algum outro amigo pode ter patrocinado eles. O falecido Gerard Heym estava convencido de que eles realmente foram ao Egito; ele contrastou as forças que influenciaram eles com aquelas da tradição egípcia 'obscuras' ou tifoniana que Crowley mais tarde se sintonizou. Dauthendey continua:

"Nesse verão, visitamos com frequência as abóbadas do Louvre

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que continham as grandes coleções egípcias. No processo, aprendi muito sobre as tradições secretas dos ocultistas. Eles me explicaram que é errado olhar para as grandes colunas de pórfiro dos deuses egípcios como divindades animais, embora eles apareçam em forma animal.
"Essas estátuas, meio humanas e meio animais, que ficam ou se sentam em uma pose cerimoniosa rígida, possuem apenas máscaras de animais à frente de seus rostos: a máscara de um íbis, ou de um chacal ou de um tigre. Os egípcios gostavam de mostrar seus deuses com máscaras de animais para indicar que animais e seres humanos possuem emoções semelhantes; que todos os seres vivendo na Terra experienciam uma e a mesma vida divina; que o Insondável aparece por trás de várias máscaras terrenas; e que os sentimentos eternos do universo são resumidos não apenas na forma de um ser humano, mas também naquelas dos animais."

Cito este trecho extensamente porque provavelmente representa o ensino de Mathers sobre este aspecto do ocultismo egípcio. O que Dauthendey diz também oferece uma perspectiva mais ampla sobre as realizações acadêmicas de Mathers do que havia sido reconhecido até então. Quanto a se Dauthendey mesmo foi iniciado no Templo Ahathoor fica vago: talvez, ao invés de ser um 'aderente', ele foi um daqueles Nobres Viajantes que persegue uma vida errante como uma prática oculta. Um comentarista americano, W. G. Wendt, em Max Dauthendey (1936), minimiza toda a conexão com o oculto; mas o preconceito acadêmico pode ser tão formidável que um interesse sério nesta direção não é necessariamente excluído. Esperemos que qualquer tradutor inglês que possa abordar os livros de Dauthendey mostre mais percepção: até agora, os livros dele permanecem praticamente desconhecidos neste país, embora títulos como Phallus[35] (1897), Die Frau von Thule ("A Mulher de Thule", 1898), Lingam[36] (1909) e Der Venusinenrein ("A Pureza de Vênus", 1911) possam ser esperados para despertar curiosidade.

Houve especulações, que no momento não podem ser chamadas de mais nada, de que Mathers também viajou para a América e Alemanha. Embora vários templos da Aurora Dourada tenham prosperado por algum tempo nos EUA, eles foram fundados, até onde se pode dizer, por pessoas que o visitaram em Paris e foram autorizadas por ele a espalhar a Ordem. Virginia Moore, em The Unicorn[37], diz que haviam templos estabelecidos na Alemanha e sugere que havia outros na França além

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do Ahathoor, mas não encontrei evidências disso. Rumores ainda mais infundados atualmente relacionam a Aurora Dourada com organizações ocultistas nazistas. Por exemplo, Trevor Ravenscroft, em The Spear ("A Lança", 1972), afirma que a Sociedade Edelweiss, que floresceu na Suécia no início dos anos 1920, era uma ramificação da Aurora Dourada, o que não tem fundamento. Ele também alega que ex-associados da "Loja Paris" (presumivelmente Ahathoor) foram atraídos para a Loja Luminous de Haushofer em Berlim, mas sem comprovação. Tais rumores devem sua aceitação à confusão com adeptos da Astrum Argenteum de Crowley ou a sua conexão com a Ordo Templi Orientis, erroneamente identificada com a Aurora Dourada.

Além de sua atividade ininterrupta em Paris, Mathers frequentemente tinha que retornar a Londres para tratar de negócios da Soc. Ros. ou Aurora Dourada. Em 1896, ele foi obrigado a suspender a associação de Annie Horniman por causa de sua intromissão e (talvez involuntária) causadora de problemas nos assuntos da Ordem. Se seus cheques para ele também foram suspensos como consequência deste conflito, não pareceria catastrófico para alguém do temperamento impetuoso de Mathers; mas, sendo cada vez mais pressionado por dinheiro, ele e Moïna podem ter esperado ganhar financeiramente com os Ritos de Isis. Talvez eles até tenham conseguido. O editor, Bailly, estava lançando uma revista chamada Isis que ele planejou como o órgão da causa celta; ele também tinha ideias para fundar uma Ordem Celta, mas os Mathers insistiam que antes que isso pudesse ser considerado, os panteões celtas deveriam ser redespertados por skrying[38] e cerimônia. Templos dedicados ao culto de Isis são mais difundidos do que se poderia supor. Só no outro dia eu ouvi falar de um estabelecido em uma casa de campo perto de Enniscorthy, Eire.

Felizmente os Mathers tinham outros meios, porém incertos, pois Mathers atuava como uma espécie de informante autônomo vendendo informações privilegiadas sobre o mercado de ações e ações em comissão para potenciais investidores; embora tal emprego pudesse ter sido pouco de seu agrado. No entanto, houve alguns interlúdios agradáveis naquele ano, um deles sendo um convite de John Brodie-Innes e sua esposa para ficarem com eles em Edimburgo. Diz-se que foi a única visita de Mathers à Escócia (nesta encarnação, pelo menos). Yeats menciona que ele foi a instâncias de um grupo jacobita, a Sociedade Rosa Branca [39], da qual Brodie-Innes pode muito bem ter sido membro. Uma carta de Moïna para Yeats sugere que eles esperavam encontrar o professor

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Patrick Geddes, mas ele estava ausente. Autor de Cities in Evolution ("Cidade em Evolução") e fundador da Outlook Tower[40] em Edimburgo e Teatro Leplay House em Londres, Geddes também originou Le Collège des Ecossais[41] em Arles. Estar associado à Universidade de Montpellier manteve viva a tradicional aliança franco-escocesa. A partir dessas instituições, desenvolveu-se uma Conferência Internacional de Sociologia que ainda ocorre bienalmente; também a Revista Sociológica e várias 'pesquisas' e visitações de estudo. Geddes foi um dos primeiros urbanistas e foi posteriormente condecorado por ser pioneiro na idealização de uma combinação de local-trabalho-povo. Eu recolhi de insinuações feitas por Alexander Farquharson, o falecido Secretário da Casa Leplay, que Geddes estava conectado com a Aurora Dourada de alguma forma, embora eu não tenha certeza se ele já foi membro do Templo Amen-Ra. As obras de 'Fiona MacLeod' certamente viram a luz do dia por meio de sua editora em Edimburgo.

No ano seguinte, Dr. Wynn Westcott, velho amigo e patrono de Mathers, retirou-se da Ordem. Foi inferido (por Crowley, em primeira instância) que Mathers arquitetou esta renúncia por ciúmes e ambição excessiva. Que ele agiria assim parece-me improvável; ao contrário, a aposentadoria de Wescott deve ter sido um choque para ele num momento em que ele precisava de todo o apoio em Londres que pudesse conseguir. Não havia mais ninguém com posição adequada para supervisionar as coisas enquanto ele estava ocupado em Paris. Mathers deve ter percebido nesse momento a extrema dificuldade de viver no continente enquanto continuava a governar uma Ordem cujos principais adeptos estavam espalhados pelas Ilhas Britânicas. O estresse de sua posição se mostra no tom de suas cartas aos seguidores recalcitrantes. Se cartas de protesto têm que ser escritas, frases emotivas são melhores evitadas; mas qual seria o uso de tal conselho para um homem do temperamento impulsivo e fanático de Mathers? Sua correspondência trai muito claramente seus sentimentos de ultraje e desespero: as sentenças trovejam, os adjetivos voam; mas o resultado teria sido mais eficaz se ele tivesse mantido a calma. Seu caso é basicamente bom: seus estudantes estavam tratando-o com mesquinhez e ingratidão em vez da lealdade e boa vontade fraterna que ele precisava e ansiava; mas ele está envolvido emocionalmente demais para expor os fatos da melhor maneira. Seus alunos o achavam difícil porque, não entendendo suas limitações até tarde demais, lhes dava conhecinmentos

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esotérico além de sua capacidade de receber. Seus defeitos eram a impetuosidade e o excesso de entusiasmo, mas esses são defeitos generosos.

A virada do século foi um período sombrio para Mathers, trazendo, como trouxe, três grandes desastres, cada um dos quais envolveu ele e a Ordem em litígios e consequente publicidade indesejada. Primeiro, houve o cisma na Segunda Ordem de Isis-Urania, após o qual apenas cinco membros são listados como leais a ele. Estes eram o Dr. Berridge, Sra. Simpson e sua filha Elaine, Coronel Webber Smith e G. C. Jones, embora esse escasso seguimento não dê uma ideia adequada do apoio que ele ainda poderia reunir. Além disso, havia o próprio Crowley; sua filiação à Segunda Ordem não era reconhecida por Isis-Urania e, portanto, não era convidado para reunião deles. Gerald Kelly também, embora possivelmente não tenha chegado à Segunda Ordem, havia se juntado ao Templo Isis de Berridge, já em operação, então ele deve ser contado entre os leais. Allan Bennett nunca foi contra Mathers, embora a essa altura seu interesse no esoterismo ocidental estivesse diminuindo. E quanto a John Elliott e a fiel Ada Waters? Eles podem não ter estado presentes na reunião para votar em Mathers, mas igualmente não eram contra ele. O próprio Westcott nunca se opôs abertamente a ele, mesmo quando Mathers o acusou de fraude. Os templos provinciais eram, em sua maioria, leais, embora nesse momento o Templo Osiris, de Westcott, tivesse se esvaído. Uma olhada nestes fatos vai reequilibrar um balanço perturbado por algumas contas, a partir das quais se presumiria uma derrocada completa.

A intimação feita por Crowley, a mando de Mathers, à Segunda Ordem rebelde para a devolução de mobiliário do templo, manuscritos e outras propriedades, foi contestada por Annie Horniman ao contratar um renomado K.C. [42] Diante disso, Crowley recuou, embora tivesse muito dinheiro e pudesse ter enfrentado suas táticas com uma jogada similar. Essa falta de iniciativa deve ter decepcionado Mathers, que valorizava os talentos de Crowley e tinha grandes esperanças em sua colaboração.

A segunda catástrofe seguiu-se ao encontro dos Mathers com o Sr. e Sra. Theo Horos e sua associada, Dra. Rose Adams. Apesar das negações posteriores de Moïna, é evidente que os Mathers foram inicialmente enganados por esses vigaristas plausíveis. Eles não foram seus únicos tolos — por anos a fio e em todo o mundo, a gangue Horos tinha ganhado a vida com fraude com um viés ocultista. Mathers estava

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sempre tão ansioso para transmitir seu conhecimento duramente adquirido, tão encantado em encontrar alguém disposto a recebê-lo, que estava inclinado a jogar a cautela ao vento. A Sra. Horos apresentou credenciais de um Templo Aurora Dourada nos EUA; ele reconheceu imediatamente sua considerável capacidade mesmerística e mediúnica e esperava sua cooperação. Ele logo se desiludiu quanto às suas intenções e só manteve contato na esperança de recuperar os itens que havia emprestado a ela. O casal Horos migrou para Londres, onde rituais roubados serviram como isca para mais vítimas. Um caso contra eles por fraude e estupro de menores foi ouvido pelo juiz Bigham em dezembro de 1901. O fracasso de sua condenação e encarceramento com sua resultante publicidade voraz novamente reduziu a adesão à Aurora Dourada: o nome da Ordem, por mais injusto que seja, foi arrastado pela lama e muitos adeptos, particularmente aqueles em emprego público, romperam a conexão com ela. Embora Mathers não tenha tido que aparecer no caso, ele deve ter achado as referências a questões da Ordem em tribunal aberto e em um contexto criminal excessivamente doloroso.

Então, em 1903, veio a deserção de Crowley — a quem na época do Cisma Mathers quase havia tomado como seu herdeiro mágico — acompanhada de furto, difamação e tentativas de ataque oculto. Embora os últimos fossem de eficácia duvidosa, outras influências contribuíram para o esfacelamento da Ordem em grupos dissidentes e uma consequente diluição de seu ensino. Não foi até 1910, no entanto, que Crowley decidiu se vingar de Mathers, publicando longos trechos literais da doutrina e ritual da Aurora Dourada em sua publicação semestral, The Equinox. Quando ele prometeu revelar material da Segunda Ordem, Mathers sentiu que era hora de agir: ele atravessou para Londres e apresentou uma injunção temporária. O caso foi ouvido em março de 1910 pelo juiz Bucknill e Mathers ganhou, embora tivesse que ouvir piadas do judiciário e risadinhas do público. Infelizmente, ele não tinha fundos suficientes para estender a injunção; ela caducou, e com base nessa tecnicidade, Crowley ganhou um recurso. Novamente a imprensa deu ampla (e maliciosa) cobertura. Embora este episódio tenha sido doloroso para Mathers, ele não foi fatal para seu trabalho, como alguns sustentaram. O exame mostra o quão pouco Crowley reproduziu em comparação com o corpus total do material da Aurora Dourada; e The Equinox atingiu apenas um público restrito.

Este foi o período em que Mathers retornou a Londres e

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permaneceu lá por cerca de dois anos; não sei se Moïna estava com ele, mas acredito que não. Acredito que ele alugou um quarto vazio na área de Hammersmith-Shepherd's Bush, onde vivia quase como um eremita; mas não insisto nisso, pois tenho apenas evidências oníricas. O Templo do Dr. Berridge ainda estava funcionando e, sem dúvida, se beneficiou da presença de Mathers. De Wend Fenton, editor de um jornal chamado The Looking Glass, agora publicou uma série de artigos atacando os Ritos de Eleusis de Crowley, no curso dos quais ele insinuou que Crowley e George Cecil Jones tiveram um relacionamento homossexual. Jones decidiu processar por difamação, e Mathers e Berridge foram chamados para depor como testemunhas de De Wend Fenton. Crowley até alega que Mathers forneceu a 'sujeira' sobre a qual os artigos reclamados se basearam. J. C. F. Fuller testemunhou por Jones; Crowley não foi chamado, embora ele tenha assistido aos procedimentos como um membro do público. O caso foi ouvido em abril de 1911 pelo juiz Scrutton, que se pronunciou a favor de Jones; no entanto, o júri rejeitou sua ação, a inferência sendo que o testemunho de Mathers e Berridge impressionou seus membros como verídico. Jones desaparece da cena oculta em uma névoa de escândalos e dívidas.

Como Mathers emergiu do julgamento em um Tribunal de Justiça, nesta e na ocasião anterior? Não muito mal, considerando o tipo excêntrico de perguntas que ele teve que responder. Sua voz e presença comandavam respeito, por mais bizarra que algumas de suas declarações possam ter parecido para uma mente jurídica. Ninguém — especialmente Mathers — treinado em cerimônia militar e maçônica é intimidado pela cerimônia da lei. Seus juízes talvez tenham se perguntado como um homem assim se envolveu com os acontecimentos estranhos e desagradáveis que tiveram que avaliar. Se eles soubessem, frequentemente a causa era a visão desapegada de Mathers em relação ao mundo. Sob o pseudônimo de Leo Vincey, Crowley publicou The Rosicrucian Scandal (O Escândalo Rosacruciano) em 1911, um panfleto satirizando o apelo de Mathers no ano anterior por uma injunção contra The Equinox. Apesar da animosidade de Crowley, Mathers emerge, mesmo numa paródia, como uma testemunha impressionante — concisa, precisa e astuta — capaz de resistir com uma resposta pronta ao interrogatório de "Scorpio, K.C."[43].

Até 1912, se não antes, Mathers havia retornado a Paris. O que ele estava fazendo? Por um lado, ele poderia estar explorando o sistema do Grimório de Armadel, um manuscrito que descobriu na Biblioteca

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do Arsenal de França e que permanece inédito até hoje. Ele continuou como Imperator do Templo Ahathoor; talvez ele ainda promovesse o culto de Isis, mas de forma privada, em vez de por meio de performances teatrais. Não sei por quanto tempo ele permaneceu membro da Soc. Ros. mas a menos que tenha mantido suas ligações maçônicas muito silenciosas, dificilmente poderia se associar com a pequena nobreza francesa e espanhola, entre as quais estava um pretendente ao trono da França. Yeats diz que ele frequentava esses círculos, cuja religião é fortemente católica e cuja política é de extrema direita. Quando Maud Gonne o visitou pela última vez — em 1912 ou 1913, ela não é precisa quanto à data — ela o encontrou ainda em estado nervoso: um dia ela o viu entrar numa igreja católica (a maioria das igrejas em Paris são católicas) 'para refúgio', como ela supôs. Ela acrescenta que ouviu mais tarde sobre sua recepção, mas sendo ela mesma convertida, ela naturalmente esperaria a conversão de seus amigos. Dr. W. B. Crow, em N.o 7 (Páscoa, 1968) de sua folha informativa Aletheia, afirma, com base na autoridade de Edward Garstin, que Mathers e Moïna eram católicos romanos. Lembro vagamente de Edward dizendo algo a esse respeito, mas não consigo me lembrar de detalhes. Surpreendente como tal conversão possa parecer, a influência persistente de Anna Kingsford não deve ser subestimada. Moïna certamente o teria seguido na Igreja, assim como em muitos caminhos mais tortuosos; já estando em termos frios com seus parentes, uma mudança de religião faria pouco para piorar seu status familiar. Anos depois, seu irmão Henri foi muito atraído pelo catolicismo, mas sentiu que deveria manter a solidariedade judaica diante da ameaça nazista, então nunca foi convertido. Moïna não permitiu que nenhuma conversão interferisse em sua vida mágica, assim como Anna Kingsford não o fez.

Gerard Heym — outro convertido — acreditava que era através do contato dos Mathers com a sabedoria do antigo sacerdócio egípcio que eles receberam um plano para a regeneração da Europa em linhas esotéricas. Yeats observa sobre Mathers que:

"Ele imaginava um papel napoleônico para si mesmo, uma Europa transformada ao seu gosto, a Escócia como um principado, o Egito restaurado..."

A Europa certamente foi transformada desde aquela época, mas se o resultado está de acordo com o desejo de Mathers é duvidoso. O Egito foi restaurado à independência, embora dificilmente para sua herança oculta. Uma

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Escócia autônoma, no entanto, está mais próxima hoje, quando onze nacionalistas escoceses se sentam em Westminster, do que em qualquer momento desde o olhar de Mathers para o futuro. Infelizmente, não há dúvida do cumprimento de suas outras profecias — de guerra global. O surto em 1914 não foi uma surpresa para ele, pois ele havia se preparado para o ataque há quinze anos pelo estudo de primeiros socorros. Ele abriu um centro de recrutamento em sua residência, inscreveu-se para o serviço de guerra várias centenas de britânicos e americanos na França e ajudou a treiná-los.

‘... Queridos pássaros predadores, preparem-se para a guerra.’ Assim, Michael Robartes se dirige a um grupo de seus alunos (ocultos) nas histórias que Yeats antecedem a edição de 1937 de A Vision.
Novamente Robartes diz: ‘ “Teste a arte, a moralidade, o costume, o pensamento, por Termópilas”.’

Este Michael Robartes tem sido considerado uma das muitas personas de Yeats. Se for o caso, foi um modelo baseado em Mathers. Considere sua descrição: Robartes é "um grande homem velho", e "magro, moreno, musculoso, de rosto limpo com um olhar irônico e atento" - descrições que poderiam muito bem ter se ajustado a Mathers se ele ainda estivesse em circulação durante a década de 1920. Completa-se o esboço dele no registro de Yeats sobre seu primeiro encontro no Museu Britânico. Robartes é sempre representado como o personagem Magian[44] "por excelência" e como um tipo de coragem em todos os níveis.

Mathers viveu apenas o suficiente para ver a vitória dos Aliados no outono de 1918; mais cedo no mesmo ano, ele havia visto o primeiro passo dado para conceder o direito de voto às mulheres da Grã-Bretanha, por cuja causa ele havia trabalhado no século anterior — contra um preconceito e perseguição agora quase inacreditáveis. Tendo retornado ao distrito de Auteuil após muitas mudanças de endereço, ele morreu em seu apartamento na Rue Ribera em 20 de novembro de 1918.

Moïna ficou muito chateada com o relato de Yeats sobre a morte de seu marido na primeira edição do The Trembling of the Veil ("O Tremor do Véu", 1922). Ele conta uma história de uma briga de rua, que mais tarde admitiu ser um engano e omitiu das edições subsequentes; e ele menciona a melancolia como uma causa contribuinte. Em correspondência com ele, ela contestou fortemente isso, declarando que nenhuma tendência à melancolia jamais tocou seu falecido marido. Embora ela admita certos elementos ‘quixotescos’ em seu caráter, ela diz que estes foram modificados em seus

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últimos anos. Evidentemente, ele havia amadurecido. Ela acrescenta que ele não sofreu de nenhuma doença grave durante o casamento deles, com exceção de uma que durou cerca de três meses durante a Guerra de 1914-18. Ela não especifica a natureza da doença, nem deixa claro se era a doença que o levou à morte, embora ache que ela quis dizer que foi. Ela diz que sua mente não foi afetada e que ele estava engajado em trabalho mental até o momento de sua morte.

O livro Applied Magic ("Magia Aplicada", 1962) de Dion Fortune relata que Mathers morreu vítima da gripe espanhola, que estava devastando a Europa na época; mas ninguém à beira da morte por uma gripe virulenta poderia fazer muito esforço intelectual! Outros escritores repetiram o relato de Dion Fortune, como costumam fazer. De onde ela tirou suas informações? Não do atestado de óbito, no qual nenhuma causa é especificada. Não é (ou não era) obrigatório ao registrar uma morte na França declarar a causa. Do que Moïna escreve, pode-se supor que foi o ápice de uma visita de seus Chefes, cuja presença — como ele havia alertado muito tempo antes — era quase impossível para um mortal suportar. Sua afirmação favorita, "Não há parte de mim que não seja dos deuses", finalmente se tornou verdade.

Mathers ensinou que se alguém tivesse encontrado o Elixir, a morte só poderia vir quando "o Gênio Superior consentisse". Gerard Heym insinuou algum mistério, ou pelo menos incerteza, em conexão com o falecimento de Mathers. Não consegui descobrir quaisquer fatos sobre seu sepultamento, ou seu testamento, supondo que ele deixou um.



CAPITULO NOVE

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Uma Espada: Ficção (4)

A Sword: Fiction (4)
Propositalmente deixei um resumo da produção literária de Mathers até que eu tivesse delineado, na medida em que a escassa documentação permitisse, os eventos de sua vida. Dessa maneira, suas obras podem ser encaixadas nos desenvolvimentos mundanos, por um lado, e nos acontecimentos internos, por outro.

Apenas um livro foi publicado antes de ele deixar a área de Bournemouth e este foi, de acordo com seus sonhos Marciais, um manual militar, Practical Campaigning Instruction in Infantry Exercise[45], 1884, o título que descreve o conteúdo com precisão. Na folha de rosto, o nome do autor é S. L. Mathers — sem MacGregor, sem Comte, embora ele já tivesse feito uso desses em um documento maçônico — seguido por 'First Hants. Infantry Volunteers'[46]. Se ele tivesse uma comissão neste regimento, isso também teria sido declarado aqui.

O fato de Mathers ter conseguido traduzir tal tratado do francês comprova um bom domínio da língua alguns anos antes de sua residência em Paris. Ele também deve ter compreendido os aspectos práticos de seu assunto ou não teria conseguido adaptar o manual aos métodos do Exército Britânico.

O ano seguinte viu a morte de sua mãe, sua mudança para Londres e a aparição de The Fall of Granada and other Poems ("A Queda da Granada e outros poemas", 1885), publicado por Williams e Strahan, Londres. O título da peça, descrita como 'um poema em seis Duans', é a mais longa e Marcial é novamente evidente. Os outros poemas são The Birthday of May ("O Aniversário de Maio") e dois com títulos latinos — Spectemur Agendo ("Sejamos avaliados por nossas ações"), um Poema em Pouvor ao Auto sacrifício, e Sic Itur ad Astra ("Este é o caminho para o céu") — que bem poderiam ter servido como lemas Rosacrucianos. Do ponto de vista estético, a coleção não é nem melhor nem pior do que a maioria dos versos menores do período. O todo é precedido por uma apóstrofe de Ossian de MacPherson (The War of Caros[47], "A Guerra de Caros",


Horus, da decoração de Moïna para a antessala do Templo Ahathoor, em Paris — uma série de divindades egípcias em óleo sobre tela e colagem.


Néftis, do Templo de Ahathoor.


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A Guerra de Caros) na qual Mathers desafia, e de certa forma prevê, seu próprio destino:

"Venham, fantasmas tênues de meus pais, e testemunhem meus feitos na guerra! Eu posso falhar, mas serei renomado, como a raça do ecoante Morven!"

A edição de William Sharp, The Poems of Ossian, traduzida por James MacPherson (1896), cujo texto foi tirado da edição de Hugh Campbell de 1822, (p. 365) diz:

"Venham, fantasmas tênues de meus pais e testemunhem meus feitos na guerra! Eu posso cair; mas serei renomado, como a raça do ecoante Morven".

O itálico e a pontuação na outra citação são de Mathers e sua substituição de "falhar" por "cair" é significativa. O primeiro dos poemas em prosa de MacPherson, Cath-loda, é dividido em três Duans e o tradutor (se assim foi) observa que "Os bardos distinguiam essas composições, em que a narração é frequentemente interrompida por episódios e apóstrofes, pelo nome de Duan. Desde a extinção da ordem dos bardos, tem sido um nome geral para todas as antigas composições em verso."

Morven está em Argyllshire, território do mito-herói gaélico Fin-ghal, o pai de Ossian (Oisín); e a suposta tradução de MacPherson era um dos livros favoritos de Mathers. Ele o escolheu, alternando com as Odes de Horácio, como leitura para o café da manhã e aceitou sua autenticidade. Não vou examinar as credenciais de MacPherson aqui, mas apenas chamar a atenção para reivindicações similares e contra-reivindicações feitas em relação ao Barddas[48], levado a sério como uma tradução do antigo Galês por muitos estudiosos no continente. Mesmo que estes Ossians sejam ambos falsos do ponto de vista acadêmico, eles capturam um vislumbre do espírito celta suprimido e, portanto, inspiraram celtistas ao longo dos anos, incluindo 'Fiona MacLeod' da Escócia e o falecido Morvan Marchai da Bretanha.

Os poemas de Mathers são dedicados a uma Miss Alice Μ. Willet Adiye "como um pequeno, mas sincero, sinal do Respeito, Admiração e Estima do Autor." Pode-se especular sobre que relação se esconde por trás desta fraseologia vitoriana: a julgar por seu nome, Miss Adiye era de ascendência escocesa, e provavelmente simpatizava com os entusiasmos gaélicos de Mathers. Quer ele tenha encontrado nela uma figura materna ou não, é seguro assumir que ela patrocinou a publicação do 'volume magro'. Eu acredito que estes não foram os únicos poemas que Mathers escreveu e que um manuscrito posterior existe (ou existia),

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'escrito à mão' por sua própria mão em tinta da Índia com maiúsculas vermelhas; mas eu não direi mais nada sobre isso, pois só tenho a evidência da visão. O primeiro dos trabalhos acadêmicos consideráveis, que assegurou e ainda assegura seu lugar na história do ocultismo, foi "A Kabbalah Desvelada" de 1887. Foi escrito por sugestão de Westcott e sua publicação financiada por um de seus amigos maçônicos, F. L. Gardner, posteriormente um iniciado da Aurora Dourada. O editor foi George Redway, Londres, em cujo escritório Arthur Machen trabalhou por um curto período. Outras editoras lançaram edições desde então, sendo a mais recente a John M. Watkins (1970). Na página de título — onde MacGregor é inserido após suas iniciais — Mathers explica que está traduzindo A Kabalah Desvelada de Knorr von Rosenroth (publicada pela primeira vez em 1677), mas afirma ter cotejado esta versão latina com os originais em hebraico e caldeu. Compreende textos representando aquela escola de pensamento cabalístico subsumida sob o rótulo de Zohar ("Esplendor"). Mathers traduziu o Siphra de Tzenioutha ("Livro do Mistério Oculto") e dois comentários sobre ele por Rabbi Shimeon Ben Iochai, sendo estes Ha Idra Rabba Qadisha e Ha Idra Zuta Qadisha[49] — respectivamente, a Grande e a Pequena Assembleia Sagrada. Aqui, o sábio discursa sobre o primeiro texto mencionado com um grupo interno de seus discípulos. Mathers numerou e anotou cada versículo desses três tratados zoháricos e os precedeu com uma longa e esclarecedora introdução ilustrada com diagramas, que os estudantes da Cabala Hermética hoje não podem ignorar.

Claramente Mathers sabia algo do idioma hebraico, mas não se sabe quanto. Ao escrever suas palavras e frases, ele geralmente omite o Pontilhado, que indica que ele as conhecia tão bem que achava desnecessário, ou então que ele não tinha dominado seu sistema. Quando ele restaurou os sigilos em The Key of Solomon ("A Chave de Salomão"), ele o usou — talvez com o conselho de Westcott, já que seu prefácio reconhece a ajuda deste. Embora não haja evidências de que ele pudesse escrever e falar fluentemente o idioma, o falecido Gustav Davidson, um moderno erudito em hebraico e autor de A Dictionary of Angels ("Um Dicionário de Anjos", 1967), cita várias vezes a opinião de Mathers a esse respeito.

No ano seguinte, Redway publicou um modesto manual de Mathers, Fortune-telling Cards. The Tarot, its Occult Significance and Methods of Play[50]. Esse livro foi compilado antes que ele tivesse

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dedicado um pensamento profundo ao assunto, e talvez, mais uma vez, foi produzido a pedido de Westcott. Compare-o com os capítulos sobre o Tarot em A Aurora Dourada de Regardie, Vol. IV, e julgue o quanto sua percepção se desenvolveu com os anos! Samuel Weiser de Nova York reeditou o manual, sem data, por volta de 1970. Ele não descreve a versão Aurora Dourada dos Atouts e não menciona o design simbólico correto das Cartas da Corte ou dos Quatro Naipes; segue mais o baralho de Marselha com a adição das ideias de Eliphas Levi para o Carro, a Roda da Fortuna e o Diabo. A. E. Waite parece ter tomado este manual como base para suas instruções a Pamela Coleman Smith quando ela estava desenhando para ele o famoso baralho art-nouveau.

Mathers seguiu isso no próximo ano com outro grande trabalho acadêmico, sua edição de A Chave de Salomão, novamente publicada por Redway, e reeditada por outras empresas de Londres em 1909 e 1972. Uma versão pirateada apareceu em Chicago em 1914 com o título The Greater Key of Solomon ("A Chave Maior de Salomão"), sob a edição de L. W. de Laurence, que acrescentou seu próprio prefácio e notas. Estes confundem mais do que esclarecem, já que ele não deixa claro quais são de Mathers e quais são dele, embora os anúncios de seus produtos "ocultos" falem por si mesmos. Ele era um dissidente do Templo Thoth-Hermes em Chicago? Na folha de rosto de sua edição do Lesser Key ("Chave Menor") , ele se descreve como "Membro da Ordem Oriental dos Mistérios Sagrados", seja lá o que isso possa ter sido.

The Key ("A Chave") é o Grimório mais importante da magia ocidental e a de Mathers é a forma definitiva, compilada a partir de sete diferentes versões manuscritas no Museu Britânico. Os textos originais estão em latim, francês ou italiano, que ele traduziu para o inglês, os sigilos sendo escritos em hebraico, muitas vezes muito corrompidos nos originais. Mathers corrigiu isso onde estava defeituoso, reproduzindo os diagramas em preto e branco. Em algumas das versões manuscritas, tintas coloridas são usadas nos diagramas, uma adicionando prata e ouro; é uma pena que até agora nenhum destes tenha aparecido.

Uma olhada em The Key ("A Chave") convencerá qualquer um de que a doutrina e o ritual da Aurora Dourada foram muito endividados com ele, especialmente no que diz respeito às atribuições planetárias, angelologia e magia talismânica. Para fins de Aurora Dourada, os implementos mágicos necessários foram simplificados: The Key ("A Chave") insiste em duas facas, uma espada, cimitarra, foice, punhal,

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adaga, lança e buril, que a Aurora Dourada reduziu para espada e adaga. As bruxas Gardnerian (e talvez outras) covens adotaram as duas facas, uma com um cabo branco, a outra com um preto, conforme prescrito em "The Key" ("A Chave"). Em Fairy Lullaby ("Canção de Ninar de Fada") traduzido por E. Sigerson do antigo irlandês, uma garota mortal apela para ser resgatada do feitiço das fadas:

"Traga uma faca negra para cruzar minha tristeza
E esfaqueie o primeiro corcel vindo daí!"

Poderia a skean dhu (um punhal escocês preto) tradicional no equipamento das Terras Altas Escocesas ter uma origem na feitiçaria?

O Prefácio de Mathers e as notas alertam seus leitores contra a prática da Magia Negra (embora ele nunca a defina) particularmente o uso de sangue no ritual, porque a corrente maléfica é passível de retornar ao seu carceiro de origem. Nisso, ele parece sugerir que métodos assim como intenções podem ser negros. Temperamentalmente, Mathers se retrairia de sacrificar qualquer animal vivo (como recomendado em várias receitas) se ele não pudesse, como Yeats relata, se dispor a se livrar de ratos de uma armadilha doméstica.

Um dos manuscritos que Mathers consultou (Lansdown 1202, p. 126) ilustra um talismã de Marte mostrando uma cobra enroscada em uma espada e as palavras Deo Duce Comite Ferro inscritas em suas espirais: este era o lema que Mathers escolheu ao ser elevado à Segunda Ordem e ao grau de 7°=4. Embora ele não tenha reproduzido este talismã em particular, ele deve ter conhecido bem a partir de suas pesquisas: é pertinente em vista do recrutamento de certos autores (aparentemente ignorantes de latim) em favor de Fero para Ferro. Estes substituiriam "Deus como meu guia, minha companhia uma fera selvagem" pelo mais apropriado "Deus como meu guia, minha companhia uma espada". Uma espada erguendo uma coroa na ponta também é uma marca do Clã MacGregor.

Agora, ocorre uma lacuna na produção acadêmica de Mathers até a publicação de seu próximo livro em 1898 por John Μ. Watkins; este foi reeditado em 1956, e também pirateado nos EUA. (Minha própria cópia da primeira edição está comida por vermes, como se suas entidades inclusas desejassem marcá-la com novos sigilos!) Durante o intervalo, ele se mudou para Paris e decidiu viver lá permanentemente. Embora ele estivesse seguindo, junto com sua atraente esposa, uma vida social mais intensa

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do que nunca antes, ele conseguiu combinar isso com bolsa de estudos e operações mágicas. Com uma dica de Jules Bois, ele agora descobriu na Biblioteca dpo Arsenal o manuscrito de um Grimório cuja tradução, desde então, se tornou famoso O Livro da Magia Sagrada de Abramelin, o Mago. Por mais rebuscado que fosse o texto, acreditava-se que Eliphas Lévi estava familiarizado com ele e que Mejnour, o alto adepto em Zanoni de Bulwer-Lytton, foi modelado com base no Mago Abramelin. O oratório e o terraço para práticas mágicas descritos em A Strange Story ("Uma Estória Estranha") também se assemelham àquelas recomendados por Abramelin.

Como seria de esperar, Mathers não apenas traduziu a obra do francês do século XVII — o original hebraico está desaparecido — mas adicionou uma longa Introdução e copiosas notas, algumas dedicadas a rastrear a linhagem dos demônios a serem evocados. Outras mostram seu conhecimento das palavras-raiz, geralmente consistindo de três consoantes, nas quais a língua hebraica se baseia. A primeira parte do texto consiste em uma biografia de Abramelin, supostamente dirigida a seu filho (ou seja, herdeiro mágico?) Lamech; a segunda é um tratado sobre os requisitos gerais para a execução da magia cerimonial de acordo com seu sistema; enquanto o terceiro diz 'como fazer', sendo uma espécie de livro de receitas de feiticeiro ou rescisão de feitiços. Os últimos dependem para sua eficácia na consagração e manipulação de Quadrados Mágicos, seja perfeitos ou gnomônicos; admito que não entendo completamente sua derivação ou método de ação. Isso pareceria ser desnecessário para obter resultados de um tipo — embora nem sempre os desejados. Arrisco a suposição de que certas entidades foram feitas para habitar esses diagramas; e enquanto podem ser feitos para fazer a vontade de um operador experiente, eles podem exercer uma influência obsessiva sobre aqueles que os empregam descuidadamente. Seus nomes sozinhos podem até manifestar uma vida automática própria: daí os avisos terríveis contra o mau uso do sistema Abramelin.

Em Magic without Tears ("Magia sem Lágrimas", 1954), Crowley relata o que soa como uma de suas grandes histórias, mas que estou inclinada a acreditar. O compositor Philip Heseltine queria que sua esposa desgarrada voltasse para ele, e com esse objetivo, mas sem a sanção de Crowley, inscreveu um dos quadrados de Abramelin em seu braço. Ela voltou quase imediatamente, mas ele cometeu suicídio logo depois. Amigos

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meus que alugaram o apartamento de porão em Chelsea, onde seu corpo foi encontrado, experimentaram muitos fenômenos estranhos.

Edward Garstin costumava contar uma história sobre um jovem casal que ele conhecia cujo pequeno filho de repente se empolgou, pregando uma série de travessuras maliciosas do tipo poltergeist e rindo histericamente ao mesmo tempo. Um menino dócil e amigável por natureza, então caiu em um humor negro de aborrecimentos que foi seguido por mais risos insanos e travessuras destrutivas. Desesperados, os pais tentaram sem sucesso acalmá-lo e finalmente o colocaram na cama; ao despi-lo, dois pedaços de papel caíram de suas roupas. O pai reconheceu alguns nomes que ele havia rabiscado anteriormente, enquanto fazia anotações sobre as entidades Abramelin: eram Durasco e Elerion, significando respectivamente 'Turbulento' e 'Um risonho'. O menino, muito jovem para ler, os pegou por curiosidade e depois os esqueceu. Recordamos curas populares realizadas em crianças e animais, inexplicáveis por sugestão a nível consciente.

Este Grimório está numa classe por si só, não pode ser comparado com o Grimorium Verum[51] ou O Grimório de Honoruis[52], ou mesmo com The Key of Solomon ("A Chave de Salomão"). Ele supera todos os outros na preparação psicológica que exige antes que operação principal, a de obter o Conhecimento e a Conversação do Sagrado Anjo Guardião — o que a Aurora Dourada chamava de Gênio Superior — possa ser tentada. Suas instruções são dirigidas à seção mais afluente da fraternidade oculta, pois requer muitos meses de vida regrada, uma residência isolada, relações amigáveis e servos para auxiliar. Será que Mathers em si obteve a paz e o lazer — para não mencionar uma casa com dois templos e um terraço privado — necessário para realizar a opus mágica do Sagrado Anjo Guardião? De todos os seus endereços, o que mais se aproximou de suas exigências foi o pavilhão na Rua Mozart 87, — agora vítima de uma Paris muito demolida — embora seu jardim provavelmente fosse visível para os vizinhos, imagina-se. Ou será que ele tentou imprudentemente usar atalhos, contra os quais ele alertou seus seguidores, e assim provocou a tensão psicológica que várias pessoas perceberam nele? Allan Bennett contou a Frater X. que ele tinha visto Mathers materializar um espírito no Triângulo da Arte usando uma combinação dos métodos de The Key of Solomon ("Chave de Salomão") e de Abramelin, então ele deve ter feito uso deste último.

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Mathers havia emprestado uma cópia de O Livro da Magia Sagrada de Abramelin para Bennett, que, quando vivia no apartamento de Crowley em Chancery Lane, trabalhava intensivamente com ele em seus métodos. Crowley levou suas orientações tão a sério que procurou e, finalmente, encontrou uma casa adequada para segui-las em Boleskine, na margem sudeste do Loch Ness. Por mais ideal que esse local parecia ser, ele nunca ficou lá tempo suficiente para completar os preparativos necessários, seu temperamento inquieto o impulsionando para novas viagens e aventuras. Finalmente, depois de várias tentativas em Boleskine e em outros lugares durante as quais, como em Chancery Lane, ele relata fenômenos que ele só poderia controlar de maneira imperfeita, ele afirmou ter alcançado o Conhecimento e a Conversação em um quarto no Ashdown Forest Hotel, onde ficou por alguns dias em outubro de 1906. Obviamente, ele não poderia ter trabalhado o rito completo em um lugar como esse e é muito improvável que os meses anteriores tenham sido regulados pelo jejum prescrito, oração e solidão. Ele deve ter caído no erro que ele atribui a Mathers.

Em uma nota de rodapé à sua introdução, Moïna cita o Simbolismo Egípcio como se fosse uma das obras publicadas de seu marido, mas não é encontrada nos catálogos do Museu Britânico. Possivelmente, foi publicado em Paris, embora ela dê o título em inglês; não há indícios de se tratar de um panfleto ou de um tratado de extensão completa. Provavelmente data do início do século, pois durante a década anterior Mathers havia realizado um exame exaustivo das coleções egípcias no Louvre. Se ele não visitou o Egito em si, pode assim ter captado a 'corrente' de sua tradição de Isis.

Por volta da época em que Mathers estava editando a Key of Solomon ("Chave de Salomão"), ele deu a mesma atenção ao Lemegeton ou Lesser Key ("Chave Menor"), outro texto atribuído ao mesmo autor ilustre. Presumivelmente, ele não conseguiu encontrar um editor (ou patrocinador) para isso, pois não apareceu. No entanto, em seu estilo confiante habitual, ele emprestou uma cópia de sua tradução e notas para Crowley. Alguns anos depois, em 1903, Crowley brigou com ele e não se preocupou em devolver o que havia tomado emprestado. Em vez disso, no ano seguinte, ele publicou o material como seu próprio trabalho, admitindo o fato mais ou menos descaradamente em uma nota introdutória, mas tentando justificar sua ação através de zombarias sobre a decepção de Mathers pelo casal Horos — que também havia abusado dos empréstimos.

Das cinco seções compreendidas na Lesser Key ("Chave Menor")[53], a primeira diz respeito à maneira de lidar com entidades malignas, Goëtia; a segunda,

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com entidades parcialmente malignas e parcialmente boas, Theurgia-Goëtia; a terceira, Ars Paulina; e a quarta Ars Almadel, com bons espíritos, enquanto a quinta, Ars Notoria, é uma antologia de orações supostamente usadas por Salomão. Não sei se Mathers traduziu todas as cinco seções; ele certamente colacionou quatro versões principais de manuscritos em hebraico, latim e francês, novamente abordando o trabalho por sugestão de Wynn Westcott. Crowley publicou apenas a primeira parte, sob o título de Goetia.

Além do Simbolismo Egípcio, outro livro de Mathers que ninguém parece ter visto é a sua edição do Splendor Solis ("Esplendor Solar") pelo alquimista do século XV, Salomon Trismosin, suposto professor de ocultismo de Paracelsus. Edward Garstin valorizava muito este trabalho e o citou várias vezes em seus próprios escritos alquímicos, especialmente no Alchemical Glossary ("Glossário Alquímico") inédito. Trismosin também foi o autor de The Golden Fleece ("O Velocino de Ouro"), um dos tesouros da biblioteca de manuscritos do Museu Britânico, suas ilustrações coloridas rivalizando, até mesmo, com as miniaturas de Les Très Riches Heures du Due de Berry[54] ("As Horas Muito Ricas do Duque de Berry", 1414).

Mathers passou seu manuscrito para F. L. Gardner, talvez como parte do pagamento de obrigações financeiras, e Gardner o publicou por volta de 1907 na esperança de recuperar despesas com alguns dos outros trabalhos de Mathers pelos quais ele havia concordado em ser responsável. Mas ele não informou Mathers do que havia feito, e este (compreensivelmente) protestou. Deve ter sido uma edição muito pequena e cópias são escassas — se Ellie Howe não viu uma, quem viu? Novamente, não há vestígios disso nos catálogos do Museu Britânico. A introdução e as notas de Mathers, se existirem, valeriam a pena ler, pois sua percepção da alquimia é pouco registrada em outros lugares e iluminaria o ensino da Ordem sobre o assunto.

Mathers foi excessivamente generoso ao emprestar seus trabalhos não publicados a amigos ou permitir que eles fizessem cópias — um hábito arriscado se alguém espera ganhar financeiramente com isso. Esta seria a última consideração para Mathers, cujo principal motivo era o desenvolvimento espiritual de seus alunos sob a orientação de seus Chefes. Um manuscrito organizado em forma de tabela e conhecido como The Book of Correspondences ("O Livro das Correspondências"), cuja compilação Mathers e Wynn Westcott haviam começado juntos nos primeiros dias de sua associação, foi circulado por eles entre seus alunos mais promissores durante a década de 1890. Allan Bennett tinha uma cópia que

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passou para Crowley, ou permitiu que ele copiasse novamente. Anos depois, enquanto se recuperava em Bournemouth, Crowley teve a brilhante ideia de adicionar algumas colunas a ele. Ele então deu a ele o título de Liber 777, escreveu uma introdução e notas, e, em 1909, publicou o todo como seu próprio trabalho, 'privadamente', sob o selo da Walter Scott Publishing Co. Ltd., Londres e Felling-on-Tyne. Esta é a explicação para a reivindicação de Crowley de ter composto todo o trabalho dentro de uma semana e sem livros de referência. Algumas das colunas foram repetidas em sua Magick in Theory and Practice ("Magia em Teoria e Prática", 1929) e em The Golden Dawn ("A Aurora Dourada") de Regardie. Uma nova impressão do original foi o Liber 777 Revisado, lançado pela Neptune Press, Londres, em 1955; foi editado por Gerald Yorke e financiado por Karl J. Germer com outros discípulos transatlânticos de Crowley, sendo adicionadas algumas colunas e ensaios curtos. Mais uma vez, a autoria de Mathers, que fez a maior parte do trabalho inicial, não foi reconhecida.

O último exemplo de sua erudição de que se tem alguma evidência é O Grimório ou Cabala de Armadel, o manuscrito novamente encontrado na Biblioteca do Arsenal. Segundo Edward, Mathers fez apenas duas cópias, que Moïna trouxe para Londres quando se estabeleceu lá após sua morte. Ela eventualmente os deu a Sra. Weir que passou um para Edward; eu vi este, que era uma tradução para o inglês, mas esqueci de que idioma. Suponho que seu sistema derivava da magia caldaica, mas isso é apenas um palpite. Foi escrito em um caderno; os sigilos dos espíritos a serem evocados foram desenhados com tintas coloridas e eram de uma forma e derivados completamente estranhos para mim. Eles foram colocados sobre os nomes de suas entidades apropriadas entre as linhas da escrita, então as páginas apresentavam uma aparência alegre. Edward não conseguiu esclarecer nada sobre eles; mas quando ele estava em dificuldades financeiras na década de 1950, foi apenas com relutância que ele vendeu este precioso manuscrito. Eu consegui colocá-lo em contato com um comprador, Gerald Yorke. Se a cópia de Mrs. Weir não pereceu no holocausto de Hertfordshire, ela pode sobreviver em algum lugar. Seria inadequado julgar a produção de Mathers apenas por trabalhos publicados da maneira usual, uma vez que ele também foi responsável, com a ajuda de Moïna, pela maioria dos documentos da Ordem, tanto de instrução quanto de ritual. Embora muitos desses tenham sido publicados desde então por vários

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"contam-tudo", alguns ainda permanecem escondidos, especialmente documentos conectados com a Segunda Ordem. Além desses, ele deve ter feito volumosas anotações sobre muitos assuntos para seu próprio uso pessoal. Possuo quatro cadernos na caligrafia de Mathers, que me foram passados por Mrs. Weir alguns anos antes de sua morte, contendo anotações sobre assuntos celtas. Em seu Prefácio, Moïna observa que seu marido ficou fascinado, ainda quando estudante, pela simbologia da lenda celta, mas minhas anotações datam do tempo em que ele morava em Paris - provavelmente no final dos anos 1890, quando ele e sua esposa trabalharam juntos em sessões de clarividência com Yeats e Maud Gonne. Eles resumem sua leitura em acadêmicos contemporâneos como d'Arbois de Jubainville, Kuno Meyer e o poético historiador Standish O'Grady, e tratam principalmente dos vários colonizadores míticos da Irlanda e seus panteões. Os cadernos mostram o tipo de estudo que Moïna recomendou a Yeats como preliminar a qualquer cerimonial de skrying em conexão com uma Ordem Celta projetada. O seguinte trecho é um bom exemplo:

"Amairgin Glun-gel ou Joelho Branco, era o Druida da Invasão da Raça de Mile. Sua esposa, que morreu durante a viagem, era Scêné. Eles desembarcaram no sudoeste da Irlanda, onde Ith havia desembarcado anteriormente. Foi chamado de Inber Scene ou Inver Skeen em homenagem a Scêné que foi enterrada aqui. É o ponto onde Nemed desembarcou em sua invasão. (Provavelmente o rio Kenmare, no condado de Kerry). Alguns dizem (Livro de Leinster[55], "Flathiusa N Erend") que os filhos de Mile desembarcaram por volta de 1100 a.c. (época de David); mas o "Livro dos 4 Mestres" o situa em 1700 a.C. Eles chegaram 1º de maio, die Jupiter , 17º die Lua. A invasão de Partholan foi no 1º de maio, die Marte, 14º dia da Lua. Foi também em um 1º de maio que ocorreu a epidemia de peste que em uma semana destruiu sua raça. O 1º de maio foi consagrado a Belténé, um dos nomes do Deus da Morte, ou seja, o Deus que dá e tira a vida."

Die ♂ significa no dia de Marte (Teutates), terça-feira; era um costume da Aurora Dourada datar suas cartas de acordo com o planeta do dia. O 14º dia da Lua se refere ao número de lunação, neste caso, Lua Cheia.

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Seria valioso coletar as contribuições de Mathers para periódicos, principalmente maçônicos, como Anubis (1902) e a Clavicula Rosicruciana III, de aproximadamente, a mesma época, que contém um ensaio sobre The Symbolism of the Four Ancients ("O Simbolismo dos Quatro Antigos"). A coleção poderia incluir suas cartas publicadas em várias revistas como Lucifer e Light; e que tal suas cartas para amigos (e inimigos)? Também deve ter existido uma quantidade considerável de cartas para ele de outras pessoas, e algumas delas ainda podem aparecer.





CAPITULO DEZ

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Uma Espada: Ficção

A Sword: Fiction
Todo mundo que escreveu sobre Mathers cometeu erros, mas com Aleister Crowley foi um caso de erros deliberados. À mercê de seus próprios humores, suas afirmações sobre muitos assuntos só podem ser aceitas com cautela: isso é verdade sobretudo quando suas afirmações concernem a Mathers, a quem ele venerou e depois vilipendiou em uma longa campanha de calúnias. Como ele é uma das poucas fontes de informação sobre a vida de Mathers, é preciso escolher cuidadosamente através de suas piadas, exageros, fantasias e obscenidades, pegando uma dica aqui ou ali como se pode.

Outros escritores de ficção são Moïna e Joseph Hone; F. A. C. Wilson e Annie Horniman adicionam sua cota. Yeats eu considero uma fonte de fato em vez de ficção; ele deixou claro quando estava registrando suas opiniões subjetivas e estava preocupado em corrigir as falsas impressões dadas pela primeira edição de The Trembling of the Veil ("O Tremor do Véu", 1922), a principal das quais aludia à morte de Mathers.

Para dar uma primeira olhada em F. A. C. Wilson: em W. B. Yeats and the Tradition ("Yeats e a Tradição"), ele afirma que Mathers "era um anti-semita fanático", mas não apresenta nenhuma evidência. Os fatos conhecidos sobre Mathers podem ser poucos, mas isso não dá uma carta branca. Se a alegação acima fosse verdadeira, Mathers teria passado tanto tempo e energia quanto fez no estudo do esoterismo hebraico, particularmente elucidando partes da Qabalah, os Grimórios atribuídos ao rei Salomão e o sistema mágico de Abramelin? E ele teria se casado com uma garota de uma conhecida família judaica? Nenhum dos dois parece provável. Só se pode especular sobre como o boato anti-semita poderia ter ganho força: talvez seus parentes "pensavam que ele era meio lunático, meio patife", como Yeats muito mais tarde, em All Souls Night, diz que ele era; e eles até podem "tê-lo dito". Yeats teve a graça de acrescentar "mas a amizade nunca acabou"; mas a atitude dos Bergsons pode

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ter causado o esfriamento notado por 'Pierre Victor' entre eles e Moïna. Mathers não era o tipo de homem que aceitava um insulto sem reagir, e seria natural para ele sentir (e expressar) ressentimento se eles o desaprovassem. Assim, pode ter surgido a história de seu suposto antissemitismo.

Joseph Hone, em W. B. Yeats, 1865-1939, chama Mathers de "um homem alegre e companheiro". Embora esses não sejam os epítetos que vêm à mente como geralmente adequados, eles podem destacar interlúdios conviviais. Se, devido a uma criação um tanto "privada", Mathers não conseguia relaxar facilmente entre seus associados, ele acharia o álcool uma ajuda para isso. Nesse sentido, era um remédio; por outro lado, sua dependência dele pode ter começado, como o consumo pesado de álcool costuma fazer, com uma espécie de bravata — aliada, em seu caso, a uma persona escocesa enfatizada. Crowley pesa com acusações de alcoolismo, zombando que "Daath se misturou com Dewar, e Beelzebub com Buchanan"; mas Yeats, em uma conta que data dos últimos anos de sua amizade, reequilibra a balança. Mathers, então, na visão de Yeats, estava sob algum estresse peculiar, para aliviar o qual ele recorria com muita frequência ao conhaque puro — "embora não à embriaguez", como ele tem cuidado de acrescentar. No entanto, Moonchild retrata "Douglas, Conde de Glenlyon" como um velho embebedado e sombrio cuja intemperança é ainda o menor de seus vícios.

Moïna também contribuiu para a mistificação predominante, supondo, como parece provável, que foi ela quem forneceu as informações sobre a morte de seu marido para um oficial da Prefeitura[56] local. Este documento dá como lugar de nascimento de Mathers "Perth, Ecosse", em vez de Hackney e sua idade como cinquenta e oito em vez de sessenta e quatro. Moïna deve ter conhecido a idade exata e o local de nascimento de seu marido a partir de seu certificado de casamento. Por que ela os declarou errado? Talvez ela estivesse muito chocada para lidar com esses detalhes práticos e os delegasse a Jules Bois ou algum outro amigo. Mas mesmo entre os poucos detalhes biográficos de seu Prefácio alguns são duvidosos se não errôneos, sendo a informação educacional um exemplo. Ela também diz que uma vez que ela e seu marido se mudaram para Paris, eles permaneceram lá pelo resto de sua vida, ignorando o período de aproximadamente dois anos por volta de 1910 quando ele retornou a Londres.

Fica a impressão de que havia diferentes versões circulando em vários momentos sobre a ascendência escocesa e o título de Mathers: Jules Bois foi citado no jornal Sunday Chronicle de 19 de março de 1899 dizendo

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que Mathers era "chefe de um antigo clã escocês" e Dauthendey o chama de "o último descendente de um rei escocês". Foi Moïna quem cristalizou as várias histórias em circulação, declarando que um dos antepassados ​​de seu marido, Ian MacGregor, fugiu para a França após a Rebelião de '45 e "lutou sob Lally Tolendal em Pondicherry. Este antepassado foi criado Comte de Glenstrae por Lousi XV". Cabe a algum genealogista dedicado verificar isso.

Crowley, porém, foi a principal fonte da ficção sobre Mathers e é divertido rastrear a gênese de um boato, já que serve como modelo para os demais: ele trata da suposta exploração de Moïna por Mathers, que foi enfatizada em Moonchild ("Criança da Lua", 1929). A lenda começou quando Crowley, acompanhado por sua noiva Rose (née Kelly), como relatado em suas As Confissões, encontrou Moïna enquanto passeavam ao longo do Rive Gauche[57] um dia em 1904. Com uma desconsideração pseudo-masculina, Crowley se esqueceu de apresentar as duas mulheres que não se conheciam anteriormente e embarcou em uma conversa fofoca com Moïna. Rose estava incomodada e, ao se afastar com o marido, comentou depreciativamente sobre a aparência da outra mulher. Então, mas não antes, ocorreu-lhe que a maquiagem de Moïna era muito extravagante. Naquela época, uma mulher decente não "pintava o rosto": a maquiagem realçava os encantos naturais, enquanto permanecia ela mesma imperceptível. Um blush discreto nas bochechas, um pó perolado de papier-poudre[58], um toque de bálsamo labial colorido eram tudo o que uma dama se permitia.

A maligna fantasia de Crowley avançou: uma vendedora, uma modelo, uma prostituta — o que Moïna tinha se tornado? Denegrir ela era uma maneira de atacar Mathers, com quem ele tinha recentemente brigado. Cerca de cinco anos depois, ele publicou em The Equinox, No. 1, uma história que ele chamou de The Dream Circean ("O Sonho Circeano"). Isso esboça uma caricatura do próprio Mathers — "o conde escocês, que sempre falava como um juiz pendurado" — depois insinua que a esposa deste último trabalhava em um cabaré — "Pobre menina, pobre menina!" Vinte anos depois, com a publicação de Moonchild ("Criança da Lua", 1929), cuja trama é supostamente desenvolvida por volta de 1914, a lenda amadureceu. Mathers, como "Douglas, Conde MacGregor de Glenlyon", envia sua esposa todas as noites para os Boulevards[59], a maltrata se ela volta para casa com pouco dinheiro, e finalmente a obriga a fazer um aborto como clímax de um rito de feitiçaria. Para completar, ele insinua que embora esta tenha sido sua última experiência horrível desse tipo, de forma alguma foi a primeira. Se Moïna já tivesse sido submetida a tal

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tratamento, dificilmente teria sobrevivido sem marcas; ainda assim, Maud Gonne a encontrou, quando se encontraram pela última vez em 1913, "bonita e encantadora como sempre".

Ao analisar os fatos, a maioria das anedotas melodramáticas sobre Mathers — e todas aquelas que o acusam de magia negra — se originam de Crowley. Elas seriam encontradas exclusivamente nos escritos de Crowley e daqueles que o imitam, exceto que, por serem sensacionalistas, os popularizadores do ocultismo também se apoderaram delas. Em quantas instâncias há até mesmo um pequeno substrato de verdade? Para examinar algumas: tome a história de Mathers batizando um número de ervilhas secas nos nomes de seus seguidores recalcitrantes e as agitando juntas em uma peneira para causar dissensão entre eles. Isso foi inicialmente relatado em The Temple of Solomon the King ("O Templo de Rei Salomão"), escrito em colaboração por Fuller e Crowley, e depois refinado para ser usado como um episódio em Moonchild ("Criança da Lua"); mas única base para essa narrativa, sugiro, seja a própria imaginação de Crowley. Ou olhe para a história de Mathers matando — à distância — os cães de Crowley e causando doença entre os empregados da casa em Boleskine. Sem negar que tais façanhas sejam possíveis, alguém poderia apresentar evidências que conectem Mathers a qualquer uma dessas calamidades? Se os cães realmente existiram — e Crowley os chama de cães de caça que ele usava para caçar homens pelos pântanos! — a causa de suas mortes é mais provável que tenha sido veneno posto por um vizinho irritado, como o Dr. Serge Hutin sugere em seu Aleister Crowley (1973). Considerando o sentimento de Mathers pelos animais, o tipo de retaliação aqui imputada é pouco convincente. Quanto aos empregados e comerciantes, o estilo de vida de Crowley seria suficiente para perturbá-los. Quaisquer eventos inesperados em Boleskine que não possam ser explicados pelo bom senso são melhor atribuídos às próprias brincadeiras de Crowley com os demônios Abramelin. Ainda assim, ele se queixou de que "Mathers e sua gangue" espalhavam mentiras sobre ele, por "vingança"!

E a história de Mathers ameaçando Allan Bennett, seu convidado em Paris na época, com um revólver durante uma discussão metafísica? Aparentemente, Bennett persistiu, para aborrecimento de Mathers, em manter sua asana e repetir um mantra em honra do Senhor Shiva. Crowley diz que Bennett confirmou a história quando perguntado para verificação; mas quão convincente é isso quando, mais uma vez, temos apenas a palavra de Crowley para isso? O único ingrediente da história que soa verdadeiro é a intervenção de Moïna: provavelmente ela aliviou a tensão entre Bennett e seu marido em alguma ocasião quando

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a discussão sobre misticismo oriental versus ocidental havia se acirrado. O resto é o exagero do contumaz contador de histórias que Crowley era.

Ainda mais incrível é a acusação de Crowley de que Mathers e Moïna foram expulsos de seus corpos físicos pelos poderes obsessivos do casal Horos, que já haviam sido condenados e presos. De acordo com este esboço para uma história curta no estilo gótico, Theo Horos expulsou Moïna enquanto sua esposa ocupava o corpo de Mathers. Gerald Kelly também estava envolvido, já que a vidente que Crowley usava para espionar a casa de Mathers era a namorada atual de Kelly. Crowley admite que estava "guiando-a em espírito" durante a sessão: claramente, ela viu o que ele queria que ela visse — e alguns francos extras no final. Kelly havia, pouco antes, pedido a Crowley (ou assim ele diz) para libertar uma certa jovem da influência de Mrs. Mathers, que se dizia estar modelando uma esfinge com o objetivo de "animá-la" e depois escravizá-la. Este absurdo foi trabalhado, com a ajuda de Fuller, em um episódio para The Temple of Solomon the King ("O Templo de Rei Salomão"), mas não há apoio factual de mais ninguém.

Em mais de um lugar, Crowley insinuou que Mathers e Moïna não eram legalmente casados — um insulto, naquela época — referindo-se a ela como sua "esposa hermética" ou Herrn. Mul.. Como há documentos disponíveis para provar o contrário, não é necessário refutar este pedaço de fofoca, que mostra a mesquinharia a que Crowley poderia descer. No entanto, ele caricatura alguns dos caprichos de Mathers com um divertimento malicioso em uma descrição do apartamento do "Conde de Glenlyon":

"O lugar de honra era alegadamente ocupado pela claymore[60] (espada) de Rob Roy. Uma de suas afirmações era que o Cateran Escocês[61] era seu ancestral, devido a uma ligação com uma fada. Outra afirmação era que ele próprio era James IV da Escócia, que havia sobrevivido à Batalha de Flodden Field, tornou-se um adepto, e imortal. Apesar do que uma mente profana poderia considerar a incompatibilidade dessas duas lendas — para não falar da improbabilidade de qualquer uma delas — elas foram avidamente engolidas pela seção Teosófica de seus seguidores."

Tudo muito divertido; e é verdade que Mathers estava intrigado com o mistério em torno dos restos mortais de James IV, cujo local final

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de descanso nunca foi autenticado. Igrejas na área de Sheen não têm registro de sua remoção para sepultamento da Abadia de Sheen. Só vou acrescentar que a história de sua cabeça ser depositada em St. Michael's, Wood Street, Londres, é estranhamente reminiscente da decapitação praticada na alquimia taoista no cadáver, a fim de formar o corpo sutil de um imortal.

Moonchild, a principal fonte de difamações de Crowley sobre Mathers, dá uma conta distorcida das atividades deste último na Guerra de 1914-18. Anexado ao Exército Francês como chefe de um corpo de sinais com a patente de Coronel, 'Douglas' usa essa posição para espionagem. Considerando o número de estudantes de ocultismo que gravitaram para a Inteligência durante a Segunda Guerra Mundial, não seria surpreendente se Mathers os tivesse precedido na Primeira, mas isso não quer dizer que ele trabalhou como um agente duplo. Em Moonchild ("Criança da Lua"), ele espiona não apenas para os Aliados, mas também para a Alemanha e a Turquia, com a conivência de um Ministro no Governo Francês. Absurdo? Provavelmente; no entanto, Jules Bois foi acusado de fazer trabalho de Inteligência para a causa alemã. De acordo com René Guenon (em Le Théosophisme, histoire d'une pseudo-religion, "O Teosofismo, história de uma pseudo-religião"), Bois foi para Nova York e não retornou à França até 1927, quando o caso havia se esgotado. Ele e Mathers podem ter sido sussurrados — por aqueles que se opunham ao seu trabalho ocultista, na tentativa de desacreditá-los. Contra Mathers, no entanto, nenhuma acusação foi abertamente feita — exceto por Crowley. Foi o próprio Crowley quem se envolveu em propaganda anti-britânica, e depois projetou a propensão em Mathers. Ele tacitamente reconhece em Moonchild ("Criança da Lua") um vínculo de amor-ódio quando, como 'Cyril Grey', ele 'começou a soluçar forte' ao encontrar o cadáver de 'Douglas', que havia (previsivelmente) chegado a um fim ruim.

É difícil perdoar o tratamento de Crowley a Mathers — não apenas suas difamações, mas também seus roubos de material literário. Furtar o trabalho de alguém e apresentá-lo como seu próprio é uma estratégia de espírito fraco na melhor das hipóteses e atende às necessidades psicológicas mais baixas; mas Crowley era mais do que um inválido: ele era um pequeno bandido, apesar de seus grandes e variados dons. Como Mathers reagiu? Em público, onde sua própria reputação estava em jogo, de maneira nenhuma; espera-se que ele tivesse coisas mais importantes a fazer. Apenas quando a Ordem foi atacada e sua obrigação de sigilo ameaçada é que ele buscou reparação legal.

Qualquer que seja a acusação contra Crowley em relação a Mathews, ele

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passou uma declaração que soa verdadeira. Fuller relata em Biblioteca Crowleyana que Mathers uma vez "contou um segredo a A. C." — um bem aberto, já que também foi revelado por Pico della Mirandola no século XV — a saber, que Samael, não Jeová, era o Senhor do Mundo. Lembra-se do lema mágico de Yeats, Daemon Est Devs Inversus. Se Crowley entendeu Mathers corretamente, então este último estava ensinando novamente a doutrina gnóstica de um dualismo entre "O bom Deus" e "o Deus justo"; isto é, entre um ser existente em felicidade incondicional e um Demiurgo imperfeito mexendo em uma criação aleatória. Na Qabalah, Samael é um Príncipe das Sombras, andrógino quando unido a Lilith, os dois formando Choiiah (a Besta) e dando origem à manifestação.



PARTE III
ORGANISMO





CAPITULO ONZE

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Raízes

Roots

De uma imagem poética, a Aurora Dourada pode (com sorte) se tornar um fato — na cerimônia de nascer do sol no Solstício de Verão em Stonehenge.

"Para nós, este é o dia em que o Sol subiu ao seu zênite, como a Maior Manifestação de Luz que podemos conhecer no sentido mundano e, portanto, a Tradição Druida da 'Golden Dawn'."

Este é um extrato do editorial de G. W. Smith em The Pendragon (Verão, 1953); seu nome de Druida era Goban, do deus ferreiro na mitologia gaélica. Nas celebrações mais recentes da Ordem dos Druidas — aquelas que ocorrem em Stonehenge que são apresentadas anualmente pela mídia — a Aurora Dourada é mencionada neste sentido metafórico-literal ao invés de como o título de uma Loja, Templo ou Ordem. No entanto, houve uma ligação com tais Templos.

Mistificado por certas semelhanças na estrutura e formulação entre os rituais Druidas e aqueles da Ordem Hermética da Aurora Dourada, uma vez perguntei ao Dr. Robert A. F. MacGregor Reid, falecido Chefe Escolhido da An Uileach Druidh Braithreachas (A Irmandade Druida Universal)[62], qual era a conexão entre as duas fraternidades? Ele respondeu: "Não te ocorre que a Ordem Druida é a sobrevivente da Aurora Dourada?" Mais tarde, ele me contou o rumor de uma sobrevivência mais intrigante, a de "uma Loja Aurora Dourada muito rigorosa na área do Regent's Park, trabalhando à maneira dos Jesuítas", embora ele não tenha conseguido descobrir mais sobre isso.

O Ancião, como ele era carinhosamente chamado na An Druidh Uileach Braithreachas, costumava usar uma roupa de druida que era curta demais para ele, especialmente na frente; sua figura corpulenta envolta em branco deveria se contorcer ao sair da carruagem para a Cerimônia da Meia-Noite em Stonehenge para

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as zombarias dos espectadores de "Moby Dick!" Ele aceitava tais insultos com placidez, acreditando que as multidões eram atraídas para o local por uma atração que elas não podiam entender e deveriam ser autorizadas a aproveitar a ocasião à sua maneira. Para responder ainda mais à minha pergunta, ele forneceu algumas notas esclarecedoras, e enquanto não posso garantir sua precisão em detalhes, acho que vale a pena resumi-las. Segundo ele, não apenas Mathers, mas Allan Bennett — que, segundo ele, também era um Druida — e seu próprio pai, George Watson MacGregor Reid, reivindicaram descendência de ramos exilados do clã MacGregor e, por esse motivo, readotaram seu sobrenome original. Mathers e Bennett estavam entre o amplo círculo de amigos de seu pai, que incluía muitas outras personalidades da Aurora Dourada — J. W. Brodie-Innes, Aleister Crowley, G. C. Jones, Charles Rosher, William Sharp — que costumavam se reunir em uma taverna, desde então desaparecida, em frente ao Museu Britânico.

O nome Druida do Ancião era Ariovistus; como na Golden Dawn e na Societas Rosicruciana in Anglia, os membros assumiam um nome especial na iniciação. Em sua opinião, a Aurora Dourada era o produto final de cinco diferentes Escolas esotéricas:

Ordens de influencia na GD.png

Ele não elaborou essa teoria, mas tentarei fazê-la. A fundação da Sociedade Teosófica em Londres antecedeu a fundação da Aurora Dourada em cerca de seis anos e as estreitas ligações existentes entre as duas em seus primeiros dias não foram adequadamente exploradas. Eu vi um Registro de Visões na caligrafia de Mathers que terminou com um 'pacto' de amizade assinado por vários membros da Sociedade Teosófica — G. R. S. Mead (então secretário de Madame Blavatsky), o próprio Mathers, Isabel Cooper Oakley e Mary Cooper — todos eles, exceto Mead, também eram membros da Aurora Dourada. Pelo menos dois dos três membros originais da Aurora Dourada — Mathers e Wynn Westcott — eram teosofistas: não tenho certeza

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sobre o Dr. Woodman. Não havia nenhuma antagonismo básico entre seus objetivos e os de Madame Blavatsky: eles concordaram cada um em enfatizar sua própria abordagem esotérica, uma predominantemente oriental, a outra ocidental. No livro The Magical Revival ("O Reviver da Magia"), Kenneth Grant até afirma:

"A Golden Dawn era a Escola dos Mistérios interna da Ordem que se formulou no mundo externo como a Sociedade Teosófica."

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Ele não entra em detalhes e pode-se achar sua declaração simplificada demais, mas chama a atenção para uma ligação pouco reconhecida.

Uma conexão mais tênue pode ser traçada através da Seção de Dublin da Sociedade Teosófica, estabelecida em 1888 por G. D. Dunlop e a próxima nas Ilhas Britânicas depois da de Londres. George William Russell[63] (pseudônimo AE) foi um membro precoce da ST, mas saiu na época da divisão de William Quan Judge com Annie Besant; outro foi P. G. Bowen, autor de The Sayings of the Ancient One ("Os Ditados do Ancião"), The Occult Way ("O Caminho Oculto"), The True Occult Path ("O Verdadeiro Caminho Oculto") e The Way of a Pilgrim ("O Caminho de um Peregrino") — os dois últimos editados por sua discípula, Sra. E. A. Ansell. Ele afirmou: "Meu próprio conhecimento vem através de homens que estão em contato com esta Escola de Mistério", ou seja, a dos Druidas; ele alegou a mesma coisa para "Light on the Path" ("Luz no Caminho") de Mabel Collins e "The Perfect Way" ("O Caminho Perfeito") de Anna Kingsford. Ele também deixou a ST para se juntar ao ramo de Dublin da Sociedade Hermética de Anna Kingsford, que foi aberta por AE em 1885; e ele assumiu sua direção de AE em 1929. Charles Johnson, que primeiro introduziu Yeats na ST em Londres, ajudou a fundar a Sociedade Hermética de Anna lá em 1884. Bowen dissolveu a Sociedade Hermética de Dublin em 1939 devido às condições de guerra, e ele mesmo morreu no ano seguinte. Em 1926, a Sra. Ansell

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(Aennaid) continuou seu ensino em Londres sob o título de Antiga Ordem de Druidas Hemetistas, que seria fundida com An Druidh Uileach Braithreachas vinte anos depois.

Desde que Ariovistus deu a Rosa-Cruz como uma linha de afiliação distinta daquela da Maçonaria, ele deve ter tido em mente algo diferente da Societas Rosicruciana, aberta apenas para Mestres Maçons. De qualquer forma que o contato tenha sido feito, uma ligação persistiu entre a Aurora Dourada e um grupo ocultista na Alemanha trabalhando na tradição Rosacruz, e isso constituiria uma linha distinta daquela da Maçonaria. Incluído aqui também estaria o contato direto de Mathers com os Chefes Secretos e, através deles, com o próprio Christian Rosenkreutz. A Tabela oposta esclarecerá a tradição sobre este assunto.

Quanto à linha de descendência maçônica, só poderia vir através da S.R.I.A. (Societas Rosicruciana In Anglia), à qual os três fundadores pertenciam. Embora autônoma, essa era a ligação mais direta da Aurora Dourada com a Grande Loja da Inglaterra (U.G.L.E., United Grand Lodge of England). Naquela época, tinha a impressão de maçons eruditos como Frederick Hockley e F. G. Irwin, além de Robert Wentworth Little, fundador da Societas Rosicruciana, 1867. Também poderia incluir aqui a teoria de que os Manuscritos Cifrados foram encontrados, não numa banca de livros, mas num buraco ou canto da Grande Loja, ou possivelmente de alguma outra biblioteca ou sala maçônica.

A Ordem Real de Eri[64] — com seus três graus de Homem em Armas, Escudeiro e Cavaleiro — usa imagens celtas, particularmente irlandesas, em seus rituais. Inicialmente aberto a Mestres Maçons, agora parece estar restrito aos Irmãos Sênior da S.R.I.A.

Estranhamente, apesar do intenso interesse de Mathers no simbolismo Celta, seu nome não aparece nas listas, embora o de Westcott apareça. Parte da atmosfera do Crepúsculo Celta que permeia o pano de fundo da Aurora Dourada pode, assim, ser rastreada aqui. Em 1874, o Irmão Little também fundou a Ordem Antiga e Arqueológica dos Druidas[65], que era aberta apenas para maçons; algumas de suas regalias, com designs que lembram o renascimento druídico do século XVIII, podem ser vistos no Museu da Grande Loja. Esta foi a Ordem na qual Winston Churchill foi induzido em Blenheim em 15 de agosto de 1908.

A origem principal dessas preocupações Celtas deve ser vista no renascimento dos movimentos druídicos e bárdicos no século anterior. A tradução e publicação de manuscritos galeses anteriormente inacessíveis por Rhys Davis, a edição de Barddas[66] de Llewellyn Sion


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(independentemente da idade do original), seus estudos por estudiosos e sua influência na organização dos Gorseddau[67] tiveram um impacto cultural mais forte do que é geralmente percebido. Um resultado disso foi a disseminação gradual de "conhecimento antiquário"[68] que persiste hoje como um interesse popular na arqueologia.

An Uileach Druidh Braithreachas reivindica descendência de Mount Haemus[69], o Bosque da Antiguidade, estabelecido em Oxford em 1245 por Philip Brydodd. (No Druidismo, a palavra "bosque" é equivalente a "loja" em Maçonaria Operativa, "acampamento" em Templarismo, "capítulo' em Martinismo e "coven" na Wicca.) Seu folheto de apresentação pública, The Ancient Druid Order ("A Antiga Ordem Druida") — autor e data não declarados — contém uma lista de seus Chefes Escolhidos voltando em uma sequência bastante convincente para o século XVIII:

John Toland (Janus Junius Eoganesius), 1717-22

Dr. William Stukeley (Chyndonax), 1722-65
Edward Finch Hatton (Cingetorix),
1765-71
David Samway (ou Samwell), 1771-99
William Blake, 1799-1827
Godfrey Higgins, 1827-33
William Carpenter, 1833-74

Dr. Edward Vaughan Kinealy, 1874-80

Gerald Massey (Kkemi Kha), 1880-1906
John Barry O’Callaghan, 1906-09
George Watson MacGregor Reid (Ayu Sahhadra Sawanus ou Ayu Subhadra Ashada), 1909-46
Dr. Robert A. F. MacGregor Reid (Ariovistus), 1946-64
Dr. Thomas Maughan (Aguila), 1964-

Desses, Gerald Massey foi o autor de A Book of the Begin­nings ("Um Livro dos Inícios", 1881), The Natural Genesis ("A Gênese Natural", 1883) e Ancient Egypt the Light of the World ("Antigo Egito, a Luz do Mundo"). Ele veio de uma família muito pobre em Tring, suas primeiras publicações sendo livros de versos. Mais tarde na vida, ele e sua esposa Rosina se estabeleceram em uma casa de campo em Little Gaddesden, onde ambos acreditavam possuir poderes sobrenaturais. Dr. Kinealy escreveu The Book of God ("Livro de Deus") e The Book of P. O.[70]; Godfrey Higgins, Celtic Druids ("Druídas Celtas") e The Anacalypsis[71] ("O Anaclipisis) 1836. William Carpenter trabalhou desde o início humilde para se tornar um autor e editor. Em 1749, foi publicado o History of the Druids ("História dos Druidas") de John Toland e as bem conhecidas obras do antiquário do Dr. Stukely; mas o que o nome de William Blake estava fazendo nesta lista? Pelo que sei, nenhum crítico literário questionou, muito menos confirmou ou negou seu direito de estar nela. Segundo o folheto, ele trabalhou com um círculo druídico derivado da Royal Order of Bucks[72], que se reuniu na Poland Street, Soho. Se alguém assume que havia algo equivalente a um templo da Golden Dawn

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operante no início do século XIX, isso poderia explicar a declaração, de outra forma enigmática, no prefácio da edição de The Collected Works of William Blake ("Os Trabalhos Coletados de William Blake") por W. B. Yeats e Edwin Ellis, afirmando que Blake era um membro da Golden Dawn. Surpreendente à primeira vista — já que a Aurora Dourada, como Yeats a conhecia, existia há apenas cerca de cinco anos! — isso sugere uma relação entre o Druidismo e a Ordem.

A Antiga Ordem dos Druidas ("The Ancient Druid Order ") ainda relata que a Mãe-floresta de An Uileach Druidh Braithreachas, chamada An Tighe Gairdeachas (a Casa do Portal) foi inaugurada em Primrose Hill no Equinócio de Outono de 1717, com John Aubrey e John Toland como espíritos guias. Esta reunião atraiu delegados de círculos Druidas e Bárdicos previamente existentes, mas dispersos, em Londres, Oxford, York, Cornualha, País de Gales, Anglesey, Ilha de Man, Escócia, Irlanda e Bretanha. (Não há nada de improvável nisso: pequenos círculos Bárdicos, geralmente baseados em um grupo familiar, ainda são indígenas ao País de Gales.) Eles escolheram Toland como o primeiro Chefe de uma Ordem Druida reconstituída. Naquela época, John Aubrey liderava o Bosque do Monte Haemus em Oxford, que havia persistido desde 1245 ou sido revivido sob o nome original. Elias Ashmole foi uma de suas luzes no século XVII e, de acordo com uma tradição, passou seus Três Graus para os primeiros Maçons Especulativos[73], estabelecendo o grau de Real Arco mais tarde em 1653.

A revista druídica The Pendragon, citada anteriormente, registra uma informação curiosa sobre Sir Francis Dashwood, a quem ela informa como Companheiro de Monte Haemus. Seguindo rumores, no entanto, de suas orgias na Abadia de Medmenham, a Hendeka (Conselho dos Onze regente) decidiu em 1742 retirar sua Carta Patente e de seu círculo; estes, nada desanimados, formaram imediatamente o notório Hell-Fire Club[74]. Que como a calma Sociedade Hermética quase dois séculos mais tarde, produziu o que a Druidismo costumava chamar de 'parto' (ramificação) na Irlanda, talvez através de Thomas Potter, Vice-Tesoureiro Adjunto daquele país. A carcaça da grande casa onde seus membros costumavam se reunir ainda é um marco nas Montanhas de Dublin, ao sul de Rathfarnham. Quando, em 1955, vi pela primeira vez as Cavernas Hell-Fire[75] em West Wycombe, fiquei intrigada por uma semelhança com os paramentos da Golden Dawn nos objetos expostos lá; mas, se havia uma tradição constante,

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ou pelo menos recorrente, de ritual hermético (diferente da cerimônia Druídica) associada ao Monte Haemus, isso seria explicado. (Ou a atual família Dashwood, ao preparar as Cavernas para exposição, se baseou em dados de fraternidades mágicas mais recentes?) O círculo Dashwood era originalmente conhecido como The Knights of St. Francis of Wycome ("Os Cavaleiros de São Francisco de Wycome"), embora usassem, não hábitos marrons, mas túnicas brancas (Druídicas).

Quanto à Universal Bond[76] ("União Universal"), da qual se diz que An Druidh Uileach Braithreachas é o Círculo Britânico em seu subtítulo, parece ter sido um tipo de movimento ecumênico, com a intenção de abraçar o mundo, mesmo que não o tenha feito de fato, que enfatizava os pontos de contato entre as várias filosofias e sistemas religiosos, minimizando ou ignorando suas diferenças. G. W. MacGregor Reid foi um trabalhador enérgico para sua causa; em um certo momento, ele costumava convocar seus simpatizantes em um prédio em forma de cúpula no meio da Praed Street em Londres, que mais tarde se tornou um cinema. Na opinião de seu filho, essa Universal Bond forneceu a força motriz que enviou Allan Bennett em sua solitária busca ao Oriente, na esperança de incorporar o budismo à Unidade. O mesmo motivo instigou o Rev. A. Gordon, outro membro da Ordem Druida, a estudar o xintoísmo em profundidade para que ele pudesse se tornar 'um professor de Universalidade no Japão... Ele escreveu vários livros sobre a Religião do Lótus', como um escritor anônimo em The Pendragon afirma. Charles Rosher, também (Frater Aequo Animo da Aurora Dourada), era um Druida 'que se tornou um estudante do Islã' com o mesmo objetivo. Talvez mais ardente que a própria Sociedade Teosófica, a Universal Bond desejava a união do Oriente e do Ocidente: um druidismo que se estende desde a Margem Celta até a Pérsia, Índia e além.

Um ensaio sem assinatura Pendragon Speaks, vol. 1, N.o 1 (1959) insinua uma origem Atlante para os ensinamentos Universalistas, agora um mero resíduo entre grupos dispersos como An Druidh Uileach Braithreachas no Ocidente e os Wandering Brothers[77] (ou seja, certas Ordens Dervixes?) no Oriente. A filiação está aberta aos adeptos de outras associações,

'...nós temos em nossa companhia as Crianças de Deus, a Igreja do Bom Pastor [certamente não a que funcionou na Rua Sloane durante o final dos anos 1950?] os Diggers, os Ranters, os Convenanters[78] e a União.'

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A inclusão do último mencionado, cujo fundador foi James Reilly, ressalta a tendência unitarista de alguns simpatizantes, mesmo que eles não estivessem formalmente inscritos na seita unitarista. A resvista The Pendragon já havia dado uma lista mais extensa, incluindo The Men of the Level, The Spade, the Followers of the King e Maçons operativos (N.T. respectivamente: Homens do Nível, Espada, os Seguidores do Rei). A maioria desses grupos parece estar, eclesiasticamente falando, nas margens extremas da Dissidência, sua principal doutrina sendo a Fraternidade do Homem. No entanto, Druidas, Bardos e Culdees[79] são reivindicados como o núcleo imemorial da União Universal.

As últimas palavras de um Companheiro sem nome — seria Charles Rosher? — são citadas no ensaio Pendragon Speaks já mencionado:

'Não esqueci do árduo trabalho de Mathers, Arnold, Moncrief, Gordon, O'Callighan [sic] e do restante... Eu também experimentei as lágrimas e a carência, pois também falhei.'

A partir disso, parece que Mathers pertencia à Universal Bond — embora dificilmente o associemos a formas extremas de Protestantismo na religião, Humanismo na filosofia ou Radicalismo na política. Moncrief não consegui identificar; Arnold é evidentemente Sir Edwin (The Light of Asia)) Arnold, listado em outro lugar como membro; Gordon é o clérigo xintoísta e O'Callaghan é o Chefe Escolhido dos Druidas de 1906-9. Embora os membros de An Druidh Uileach Braithreachas não fossem necessariamente membros de grupos maçônicos ou do Universalismo, é óbvio que enquanto G. W. MacGregor Reid era Chefe, muitos eram, e que anteriormente havia muita troca de pessoal.

Em The Pendragon, Verão 1953, Goban (G. W. Smith) edita para Uma Breve História de Monte Haemus um documento que ele chama de "O Registro de Amenophis, o Escriba". Amenophis era o nome druídico do escritor: alguns Companheiros de sua geração — ele estava ativo desde os anos 90 — favoreciam a Tradição Egípcia. Não descobri sua identidade, mas ele também usou um moto mágico no modo Rosacruciano, In Hoc Signo Vinces [80]. Seu Registro é preconceituoso, impreciso em detalhes e incoerentemente redigido, mas ele obviamente tinha acesso a documentos originais. Sua atitude é pró-místico e anti-ocultista; ele está cheio de complacências como 'o senso de Responsabilidade

[p 126]

é o início da Sabedoria'. Ele vê a morte de Mme. Blavatsky e, mais tarde, a cisão na Sociedade Teosófica entre Annie Besant e W. Q. Judge, como um sinal para a invasão de Monte Haemus pelo ocultismo. Ele sempre fala como se os líderes da Sociedade Teosófica e da Aurora Dourada estivessem estreitamente aliados a Monte Haemus, se não membros dela — todos unidos, talvez, na Universal Bond. Vou compilar uma lista de membros druidas da Universal Bond a partir do que ele diz, adicionando os nomes de adeptos mais recentes de outras edições de The Pendragon. Nomes de fraternidade, quando conhecidos, são dados entre parênteses:

Mrs. E. A. Ansell (Aennaid)
Sir Edwin Arnold

George Barlow (Phoebus)
Maud Beatty
Annie Besant (A.B.)
Dr. Charles Denis Boltwood
(Wayland)
W. G. Bromley
A. E. Brown
Dr. J. W. Brodie-Innes (Sub Spe)
Herbert Burrows
L. Cranmer Byng (Peganus)
[Paganus?]
Henry Chadwick (B.R.E.R.)
Jack L. Chapman
Arthur E. Charles
Prof. Henry Chellew
Dr. A. E. Churchward (Ma Kheru)
Irene Margaret Lyon Clarke
Alice Leighton Cleather
Martin Cobbett (Geraint)
J. R. Crosland (John)
Lady Florence Dixie
William David Finch
Rev. A. Gordon
Valentine W. Haig (An Crun)
Mrs. A. Harding (Philomena)
Mrs. I. Harman (Ishtar)
Thomas Lake Harris
William Burrough Hill
George Jacob Holyoke
Dr. W. G. Hooper (Andrew)
H. Theodore Howard
Dr. Hutchinson (Africanus Theophicas)
George Cedi Jones (Volo Noscere)
John C. Kenworthy (?)

Dr. Anna Kingsford
William Kingsland

Edgar Kingston
Allan MacGregor Bennett (lehi Aour)
S. L. MacGregor Mathers (’S Rioghail Mo Dhream)
George Watson MacGregor Reid
(Ayu Subhadra Sawanus or, Ayu Subhadra Ashadd)
Mrs. Annie Μ. MacGregor Reid

Edward Maitland
Gerald Massey (Khemi Kha)
William Morris
David Christie Murray (Merlin)
Harry Neil
Henry Norris
John Barry O’Callaghan
Art O’Mumaghan
Thomas Paine
Leslie Patterson
Verah M. Patterson

Walter H. Pendle (Aoghair)
G. Perry
Charles Rosher (Aequo Animo)
C. Saker
Harry Sampson (Pendragon)
George R. Sims
G. W. Smith (Gobari)
John Soul
Lewis Spence
Herbert Spencer
J. A. Steer
Derek Taylor
Arthur E. Waite (Sacramentum Regis)
David Wood

[N.T. Os nomes sublinhados estão no original com chaves agrupando, indicando uma relação.]

Não se pode deixar de se perguntar se Amenophis, o escriba de Monte Haemus, incluiu pessoas que ele achava que deveriam pertencer —

[p 127]

talvez William Morris e Thomas Lake Harris entrem nesta categoria? Eu só posso oferecer com reservas os nomes adicionais do Príncipe Kropotkin e um grupo de russos, também alguns árabes — Hadji Shaykh (Sheikh?) Ahmed Ruhi de Kirman e Mirza Aga Khan, cuja morte é notada em Tabriz — eles foram mártires da fé Baha'i? — e Sidi Muhamad Bedr Senoussi: "em uma gazela branca, ele perambula invisível pelo deserto, fazendo longas viagens e aparecendo de repente entre os adeptos". Gostaríamos de saber mais sobre essa figura pitoresca. Prosaico em comparação era uma filial em Leamington Spa, consistindo de três ou quatro Irmãos sob a liderança de Henry Taylor e um pequeno grupo com inclinações Arturianas chamado a Round Table ("Távola Redonda", não os atuais rotarianos), que era liderado por Harry Sampson e o pintor George R. Sims.

De acordo com uma Mensagem Druida sobre Stonehenge escrita por G. W. MacGregor Reid em 1930, havia nesta data seis Lojas ou Bosques sob a bandeira de Mount Haemus:

An Tighe Gairdeachas (Bosque-Mãe)
Arrdhir
Bangor
Berashith
Mounte Haemus [o próprio]
Harmony

mas eles devem ter diminuído até a sua morte em 1946. Em 1953, a Ordem dos Druidas tinha uma estrutura tríplice na tradição da Aurora Dourada:

Uma Terceira ou Ordem Interna, The Mound-Builders ("Os Construtores de Montículos") — também chamados de Hendeka[81], então presumivelmente consistindo de onze membros — denominados Druidas. Esta reivindicava descendência direta da Bosque da Antiguidade, Mount Haemus; a tradição da Hendeka está associada a Monte Haemus desde seus primeiros anos;

Uma Segunda ou Ordem Interna, An Druidh Uileach Braithreachas propriamente dita, os membros sendo denominados Bardo Condecorados ou Escolhidos tendo passado o grau 5°=6 (Adeptus Minor na Aurora Dourada);

A Primeira ou Ordem Externa, que adotou o nome de A.O.D.H. (Ancient Order of Druid Hermetists ["Antiga Ordem dos Hermetistas"] de Mrs. Ansell), os membros sendo dos Graus 1°=10 a 4°=7 e sendo chamados de Bardos.

[p 128]

Fora isso, o Colégio Central de Mount Haemus executava um curso por correspondência de três "Passos" para membros dispersos que eram chamados de Ovates; parece que os candidatos tinham que passar por este curso antes de se apresentarem para a iniciação da Primeira Ordem.

Até 1956, pouco restava dessa organização formal; o curso por correspondência havia cessado e, apesar de existirem três Graus, o mais alto que era praticado era o 0°=0, equivalente ao Neófito da Aurora Dourada, embora interpretado como 'Ovate Ôg' em vez de Zero igual a Zero. Nenhuma instrução definitiva foi dada na história da Ordem: aprendia-se o que podia nas reuniões, e nem mesmo havia um curso de leitura recomendado.

Um eco distorcido do Conselho dos Onze vem do romance Moonchild de Crowley, onde a chamada Loja Negra (ou seja, Mathers e seus associados Aurora Dourada, mais Annie Besant e Vittoria Cremers) é governada pelos "Quatorze".

Logo após a morte de G. W. MacGregor Reid, um grupo dissidente sob a liderança de David Wood se separou e se estabeleceu como uma comunidade parcialmente residencial em Bayswater. Trabalhou com um sistema de graus baseado, como o da Aurora Dourada, na Árvore da Vida, mas substituindo os nomes arturianos pelo hebraico dos Sephiroth. Suponho que também tenha afinidades com a Sociedade da Luz Interior (Society of the Inner Light), talvez através de uma dupla filiação. Suas longas cerimônias incluíam meditação e passagens inspiradoras, quando o ensino era dado 'sob poder'. No início da década de 1960, o grupo teve que se mudar porque a casa que ocupava estava programada para re-desenvolvimento; eu não sei para onde foi nem mesmo se continua.

Quanto ao Druidismo e a Aurora Dourada, qual é a galinha e qual é o ovo? Se aceitarmos os registros de An Druidh Uileach Braithreachas, foi a Ordem dos Druidas que precedeu e influenciou a Aurora Dourada, e não o contrário. No entanto, The Pendragon dos anos 1950 tinha o hábito de publicar material caracteristicamente da Aurora Dourada - Cabala elementar, Astrologia esotérica e Tarô ― que tinha pouco a ver com o Druidismo dos Celtas. Provavelmente, a questão só poderia ser respondida com certeza se soubéssemos a data da fundação do Templo Nuada da Aurora Dourada. Nuada da Mão de Prata é uma divindade do panteão Gaélico, possivelmente um deus da Lua cujos equivalentes são o Cymric Nudd, um deus da Morte ou divindade do submundo, e o Romano Nodens. Ele não deve ser

Gair (Young Crowley).png

Aleister Crowley com seu filho, Gair ('Jovem Aleister'), Cornwall, 8 de agosto de 1938.
Copyright Sra. MacLellan.


Crowley and Lady Frieda Harris.png

Aleister Crowley com Lady (Frieda) Harris, ao lado do carro, e sua amiga Catharine, Londres, por volta de 1941. Crowley carrega o longo bastão esculpido que às vezes usava como uma varinha mágica.
Direitos de cópia da Sra. MacLtllan.


Florence Farr plays A Sicillian Idyll.png

Florence Farr estrelando na estreia de "A Sicilian Idyll", do Dr. John Todhunter, no Club House Theatre, Bedford Park, W.4. Direitos de cópia da Coleção de Teatro de Raymond Mander e Joe Mitchenson


Annie Homiman.png

Annie Homiman.
Direitos de cópia de Mander e Mitchenson


[p 129]

identificado com Ludd, o equivalente a Lugh Lamfada e Llew Llaw Giffes, deuses do céu do dia. Eu sinto a influência de Mathers fortemente aqui — a adoção do sobrenome MacGregor, o título gaélico assumido pela Ordem dos Druidas, a escolha de uma dedicação do templo em gaélico. Este Templo operava em Clapham, S.W.4 (Sudoeste de Londres), e uma fotografia do seu interior existe (ou até recentemente existia) mostrando o Trono do Hierofante, o Altar e as Duas Colunas. Ariovistus me contou que "o Santuário", que eu entendi ser outra estrutura dentro do templo estava, então, em posse de um ministro unitarista que se recusava a entregá-lo. Este Santuário era um Câmara dos Adeptos, no modelo ortodoxo da Aurora Dourada, para uso dos iniciados da Segunda Ordem de Nuada? Na biblioteca de Nuada havia uma cópia dos poemas de Ethel Archer, Whirlpools, dada a Ariovistus por Meredith Starr. Uma inscrição na página de título menciona ‘o pequeno Mundo de Branco’ referido nos rituais da Ordem dos Druidas.

G. W. MacGregor Reid era o arcebispo de uma Igreja Universalista (Culdee[82]) com a qual Nuada tinha uma estreita ligação, tanto espiritual como geográfica. De qualquer sucessão que suas Ordens Eclesiásticas possam ter sido derivadas, esta Igreja está agora em abandono, não havendo mais sacerdotes e no máximo dois ou três leigos-devotos restantes. Representava o movimento externo de An Druidh Uileach Braithreachas, de acordo com The Pendragon (Verão, 1950).

Ariovistus identificou a localização do primeiro templo da Aurora Dourada como Rathbone Place, W.1. (a oeste de Londres), na casa desde então utilizada pelos Anarquistas como sua sede. Com isso, ele deve ter se referido ao primeiro local de encontro de Nuada — a menos que o Templo Isis-Urania fundado por Mathers, Wynn Westcott e Woodman, tenha se encontrado neste endereço? Na ocasião do Cisma da Aurora Dourada de 1900, de acordo com Amenophis, o Bosque de Monte Haemus se afastou da controvérsia em uma tentativa de evitar as dissensões e fragmentações consequentes. Ele havia perdido muitos apoiadores para a Aurora Dourada em seus dias de glória e eles não retornaram, embora muitos também tenham deixado a Aurora Dourada. Até 1907, Mount Haemus havia rompido seus últimos vínculos; esta data, ou uma logo após ela, pode indicar a fundação da Nuada, mesmo que esta tenha sido uma reativação de algum Templo anterior, agora nomeado de forma diferente. Suspeito que uma certa quantidade de material pré-Cisma tenha chegado a ele através de Charles Rosher, embora Nuada aparentemente devesse algo também a A. E. Waite: as cores da vestimenta usada na cerimônia de Ovate Og da

[p 130]

An Druidh Uileach Braithreachas são aquelas prescritas para os Oficiais na Fraternidade da Rosa-Cruz de Waite, um conjunto quase completo de cujos rituais veio ao mercado alguns anos atrás, e diferem daqueles dos Oficiais equivalentes na Aurora Dourada original.

O que An Druidh Uileach Braithreachas realiza como ritual interno, provavelmente assumiu de Nuada. A literatura que agora publica geralmente não é datada, mas a julgar por um livreto recente, há quatro graus de associação:

Amigos, quem poderia participar das três cerimônias públicas anuais; Companheiros, que após a iniciação são admitidos nas reuniões (secretas) do Bosque;
Membros da Universal Bond, Companheiros alcançando o grau apropriado; e
Membros de A.D.U.B. (completo), Companheiros de certos graus - presumivelmente mais altos que o anterior.

As relações da An Druidh Uileach Braithreachas com os Gorseddau[83] de Gales, Cornualha e Bretanha são muito complicadas para eu esclarecer aqui; e me abstenho de dar um relato sobre sua dissidente Druid and Bardic Order ("Ordem dos Druidas e Bardos").



CAPITULO DOZE

[p 131]

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Crescimento Regular

Regular Growth

Antes de olhar mais de perto as personagens que compunham os membros da Aurora Dourada e suas proliferações, fornecerei uma visão panorâmica de seus Templos na forma de árvores genealógicas. Estas mostrarão o número sob o qual cada Templo foi outorgado, seu nome dedicatório, o local e a data de sua fundação e o nome de seu fundador ou seu primeiro Imperator, seguido pelas iniciais de seu mote mágico. O primeiro desses diagramas mostrará a relação dos Templos Regulares; os posteriores, aquelas de suas ramificações dissidentes.

O costume da Aurora Dourada de assumir, ou ser atribuído, um lema como um nome mágico na recepção deriva em primeira mão, da Societas Rosicruciana in Anglia, que o tomou de predecessores Continentais. De forma alguma é exclusivo para os círculos 'Rosacrucianos': convertidos a religiões, orientais ou ocidentais (e não excluindo a Igreja Católica Romana) muitas vezes assumem um novo nome; e muitas Ordens ocultas e fraternidades mágicas insistem nisso. Não apenas pode servir para manter o fato da associação em segredo; os próprios membros tendem a não revelar tais nomes fora da fraternidade e, às vezes, são proibidos de fazê-lo a fim de proteger sua vida esotérica dos profanos. Imagina-se que a força mágica seja em termos quase materiais, como algo que pode vazar ou ser dissipado.

Na Aurora Dourada, um candidato era instruído a encontrar um lema que resumisse sua aspiração consciente mais alta e submetesse isso para a aprovação de seus superiores. Tendo passado pelo Grau de Neófito (0° = 0°), durante o qual o novo nome era conferido e, então, através dos quatro graus subsequentes da Ordem Exterior, ele seria informado, como parte de suas preparações para o Grau Adeptus Minor (5° = 6°), a considerar a adoção de um nome adicional para refletir qualquer desenvolvimento interino em sua percepção espiritual. Isso poderia ser novamente ampliado em seu avanço posterior; portanto, alguns membros tinham mais de um lema de Ordem. No entanto, por mais "precioso" que esse costume possa

[p 132]

parecer à primeira vista, isso realmente dá uma dimensão adicional à individualidade do membro.

Os lemas escolhidos eram geralmente em latim seguindo a tradição da S.R.I.A. O Dr. Franz Hartmann reproduz uma série de charmosas vinhetas emblemáticas no seu In the Pronaos of the Temple of Wisdom ("No Pronaos do Templo de Sabedoria"), cada uma com sua inscrição — como a paisagem de uma ilha ao amanhecer com algumas estrelas brilhando acima e o lema Aurora ab lachrymis, ou uma águia voando em direção ao sol e Tunc facie adfacies. Qualquer um desses lemas poderia muito bem ter sido selecionado pelos membros de Isis-Urania; mas alguns favoreceram um nome egípcio ou hebraico em consonância com essas tradições. MacGregor Mathers tirou seu primeiro lema, em gaélico, daquele do Clã MacGregor; Edward Garstin usou aquele do dispositivo heráldico de sua família.

Os nomes dedicatórios dos vários Templos geralmente enfatizavam a Tradição Egípcia com o objetivo de construir uma egrégora apropriada ou alma coletiva entre seus membros, a invocação da divindade regente vitalizando a aura da fraternidade. Assim, a influência benigna de Isis deveria ter presidido o templo-mãe da Grã-Bretanha; as profundezas de seu esposo, Osiris, sobre o primeiro templo filha; Horus Cabeça-de-Falcão, seu filho, sobre o terceiro; o poderoso Amen-Ra sobre o quarto e a presença graciosa de Hathor, a Vênus Egípcia, sobre o primeiro templo a ser fundado além dessas costas.

A Tabela a seguir mostra as ramificações regulares da Aurora Dourada.

Há pouco a dizer sobre os membros do Templo Nº 1: Licht, Liebe e Leben, já que o nome de apenas uma pessoa ligada a ele é registrado, Fraülein Sprengel, (Sapiens Dominabitur Astris) e os lemas de outros dois, Frater In Utroque Fidelis, seu suposto secretário, e Fr. Ex Uno Disce Omnes. Ela pode não ter sido sua fundadora, mas provavelmente era sua Imperatrix na década de 1880. Quando Wynn Westcott a contatou (se de fato o fez), a correspondência deles foi conduzida com o conhecimento, mas sem a total aprovação de seus colegas, um fato que veio à luz após sua morte em 1891. Uma de suas cartas também menciona um Frater Igne e A-N.U.T. (Eliphas Lévi), mas não afirma que eles pertenciam ao seu Templo.

Quando o Dr. e a Sra. Felkin visitaram a Alemanha nos primeiros anos do século atual, eles afirmaram ter encontrado uma sobrinha de Fraülein Sprengel, chamada Anna Sprengel, que estava associada

[p 133]



Grafico p133.png



[p 134]

ao Templo de sua tia. Os outros membros parecem ter sido poucos; a carta para Wynn Westcott anunciando seu falecimento poderia ser iluminadora se estivesse disponível. Além disso, só posso sugerir que a pesquisa sobre as vidas de Michael Bauer e do poeta Christian Morgenstern — um nome que soa Aurora Dourada — seus contemporâneos em Nuremberg, pode revelar contatos relevantes.

Muito menos se sabe sobre o Templo N.o 2, Hermanoubis. Christina Μ. Stoddart (pseudômnimo "Inquire Within"), autora de Lightbearers of Darkness ("Portadores da Luz das Trevas"), afirma que seu espírito governante era um certo Dr. Thyssen, também conhecido como Thiessen ou Thilson (Frater Lux E. Tenebris). Parece ter sido aceito como fato pelos Frs. C.C. e L. de L. (que Francis King afirma serem os fundadores de um Templo Hermanoubis revivido, supostamente ainda em operação em Bristol), já que escolheram perpetuar este nome para marcar sua própria sucessão na linha da Aurora Dourada original. No entanto, Ellie Howe, em The Magicians of the Golden Dawn ("Os Magistas da Golden Dawn"), 1887-1923 contesta a existência tanto do Tenmplo Liebe, Licht und Leben quanto do Hermanoubis, provando a seu ver que N.o 1 era uma fabricação de Wynn Westcott e a correspondência com Fraülein Sprengel uma falsificação. O Templo N.o 2, ele sugere, foi estabelecido, mas nunca operativo, a carta sendo dada a dois maçons ingleses, Kenneth MacKenzie e Frederick Hockley. Deve-se avaliar as razões do Sr. Howe para o ceticismo como válidas ou não de acordo com o próprio discernimento.

Com o Templo N.o 3, Isis-Urania, estamos imediatamente em terreno firme, com documentação disponível e um registro quase completo de membros. Eu anexo uma lista de seus nomes e lemas; as letras ST após o nome de um Frater ou Soror indicam a filiação em algum momento da Sociedade Teosófica e a letra M∴ indica aqueles que eram maçons. Após a Tríade governante no momento de sua fundação em 1888, a ordem é alfabética.


[p 135]

[No original essa listagem começa na página anterior, 134, com a tríade, termina em Mathers e Emily Bates. Depois, continua na página 135 até Mrs. Linda Bowatt Hamilton (Fidelis) e Alfred Percy Sinnett, ST, quando continua na página seguinte, 136..

ISIS-URANIA, No. 3
Chaves.png
Dr. William Robert Woodman (Magna Est Veritas Et Praevalebit e Vincit Omnia Veritas), M∴

Dr. William Wynn Westcott (Sapere Aude, Quod Scis, Nescis e Non Omnis Moriar), ST, Μ∴

Samuel Liddell MacGregor Mathers (’S Rioghail Mo Dhream e DeoDudce Comite Ferro), ST, M∴

Anne Ailis—Mrs. Charles, ST (Dublin).
Chaves.png
Rev. William Alexander Ayton (Virtute Orta Occident Rarius), - ST, M∴

Mrs. Ann Ayton (Quam Potero Adjutabo), ST

Julian L. Baker (Causa Scientiae)

Emily Bates (Pro Veritate)

Allan (MacGregor) Bennett (Voco e lehi Aour), ST Mary Haweis (Cede Deo)
Moïna Bergson—Mrs. MacGregor Mathers (Vestigia Nulla Retrorsum), ST Mme. Marceline Hennequin
Dr. Edward W. Berridge (Resurgam) Hon. Mrs. Ivor Herbert
Marcus Worsley Blackden (Ma Wahanu Thesi e Caritas Nunquam Incidit) Μ∴ Annie Elisabeth Frederika Horniman (Fortiter Et Recte)
Ann Blackwell (Essi Quam Videri) W. E. H. Humphrys (Gnothi Seauton)
Hon. Gabrielle Borthwick (Sine Metu)
Chaves.png
E. A. Hunter (Hora Et Semper)

Mrs. Harietta Dorothea Hunter (Deo Date)

Anna, Countess de Brémont
John W. Brettle (Luci) F. J. Johnson (Ora Et Labore)
Mary Briggs (Per Mare Ad Astra) George Cecil Jones (Volo Noscere)
Count Franz Otto Bubna Sir Gerald Festus Kelly (Eritis Similis Deo)
Percy Bullock (Levavi Oculos), ST Mrs. Florence Kennedy (Volo)
Chaves.png
Dr. Henry Pullen Burry (Anima Pura Sit)

Mrs. Pullen Burry (Urge Semper Igitur)

W. F. Kirby (Genetho Phos)
Rev. T. W. Lemon, Μ∴
Chaves.png
Alexander James Carden (Fide)Mrs. Anne Carden (Amore)

Pamela Carden—·Mrs. Percy Bullock (Shemeber), ST

Edward MacBean, Μ∴
Arthur Machen (Avallaunius)
Mrs. Alexandrina Mackenzie (Cryptonyma)
Dr. T. W. Coffin, M∴ Mrs. Cecilia Macrae (Macte Virtute e Vincit Qui Se Vincit)
Chaves.png
Col. Sir Henry Colvile

Lady Colville (Semper)

Mrs. Maitinski (Abest Timor), ST
Sidney Coryn (Veritas Praevaleat) George Minson (Equanimitur)
Maud Cracknejl (Tempus Omnia Revelat) J. H. Fitzgerald Molloy
H. C. Morris (Cavendo Tutus)
Sir ·William Crookes Oswald Murray (Utrumque Paratus e Quaestor Lucis)
Aleister Crowley (Perdurabo), M∴ Grace Murray (In Excelsis)
Mrs. Jane Anna Davies (Excelsior) Theresa Jane O’Connell (Ciall Agus Neart)
Chaves.png
James Μ. Durand

Mrs. Theodosia Durand

Mrs. Henrietta Paget (Dum Spiro Spero)
John Hugh Elliott (Nobis Est Victoria) Baroness de Pallandt
Nawab Mahomet Eusouf George Pollexfen (Festina Lente)
Florence Farr—Mrs. Emery (Sapiens Sapienti Dona Data), ST William Praeger
Mrs. Helen (Winifred ?) Rand (Vigilate)
Chaves.png
Dr. Robert William Felkin (Finem Respisce), ST (Edinburgh), Μ∴

Mrs. Mary Felkin (Per Aspera Ad Astra), ST (Edinburgh)

David Fearon Ranking, Μ∴
Mrs. Reena Fulham-Hughes (Silentio)
Chaves.png
Mr. Ritchie

Mrs. Ritchie

Frederick Leigh Gardner (Crede Experto e De Profundis Ad Lucem), ST, Μ∴ Charles Rosher (Aequo Animo)
Mrs. Jean Gffiison (Cogito Ergo Sum) Robert Roy (Nil Desperandum)
Mrs. Maria Jane Burnley Scott (Sub Silentio)
Maud Gonne — Mrs. Shaun MacBride (D.V. e Per Ignem Ad Lucem), ST (Dublin) Robert Scott
Althea Gyles William Sharp (‘Fiona Macleod’)
Mrs. Linda Bowatt Hamilton (Fidelis) J. Herman Simonsen
J. Herbert Slater (Veritas A Deo Est)
Chaves.png
Col. James Webber Smith (Non Sine Numine)

Mrs. Webber Smith

Chaves.png
Mrs. Simpson (Perseverantia Et Cura Quies)

Elaine Simpson (Donorum Dei Despensatio Fidelis)

Dr. Robert Masters Theobald (Ecce In Penetralibus) Alfred Percy Sinnett, ST
Robert Palmer Thomas (Lucem Spero), Μ∴
Chaves.png
Arthur Edward Waite (Sacramentum Regis), Μ∴

Mrs. Ada Waite (Lucasta)

Dr. John Todhunter (Aktis Heliou) Baron Alphonse Walleen
Dr. Charles Lloyd Tuckey, M∴ Ada Waters (Recta Pete)
Mrs. Violet Tweedale. Mrs. Constance Mary Wilde
Francis Wright (Mens Conscia Recte)
William Butler Yeats (Daemon Est Deus Inversus), ST (Dublin e London)


[p 136]

Todos os anteriores foram membros de Isis-Urânia em algum momento, embora nem todos contemporaneamente. Talvez devêssemos incluir alguns dos contatos de Yeats na Sociedade Hermética de Dublin e no ramo da Sociedade Teosófica de Dublin, que também estavam coonectados (embora seja difícil dizer quanto) a este Templo através dele. Yeats certamente escreveu para Lady Gregory e para G. W. Russell ('AE' pseud./mote) muito livremente sobre assuntos da Ordem se eles não eram membros; e com sua prima Lucy Middleton (D.D.), ele experimentou a vidência de Tattwa conforme ensinada no sistema Aurora Dourada. Possivelmente algumas dessas pessoas passaram pelo Grau de Neófito por recomendação de Yeats, mas não progrediram mais devido à dificuldade de comparecimento em Londres.

Havia uma Sra. Winifred Rand morando em Hampstead logo antes da Guerra de 1939-45 que escreveu ao Dr. Edwards em resposta a suas perguntas sobre o pessoal da Aurora Dourada. Ela conhecia bem Annie Horniman e certamente sabia do retorno de Moïna a Londres após a morte de Mathers, embora não esteja claro em sua carta se ela renovou a amizade com ela naquela época. Suponho que ela seja identificada com a Sra. Helen Rand (Vigilate) de Isis-Urânia que seguiu Waite em dissidência.

Arthur Machen fez o mesmo, assumindo os nomes de Filius Aquarii ou às vezes Aquarius. Annie Horniman adotou um lema adicional com as iniciais P.M.M.A. após 1900.

Isis-Urânia outorgou, por sua vez, templos-filha. Embora fossem autocéfalos, deviam uma lealdade final a Isis-Urania. Os dois primeiros também foram fundados no ano de 1888: Templo No. 4, Osiris, em Weston-super-Mare[84] e No. 5, Horus, em Bradford. Por que Weston-super-Mare de todos os lugares improváveis? Quais contatos os pais fundadores de Isis-Urânia, todos residentes em Londres, tinham com este resort de férias familiar no West Country? A resposta está

[p 137]

na Craft[85], (não da Bruxaria witchcraft, mas da Maçonaria): um ramo do Soc. Ros. estava florescendo em Somerset na época entre sua população maçônica e forneceu um núcleo para o novo trabalho. Seu primeiro Imperator, Benjamin Cox, não expandiu Osiris além dos círculos maçônicos, e sempre permaneceu uma pequena organização:

OSIRIS, N.o 4
Benjamin Cox (Crux Dat Salutem), Μ∴ Sidney Jones, Μ∴
—Blackmore, Μ∴ Dr. Edward Smith Nunn, Μ∴
James Partridge Capell, Μ∴ William Millard, Μ∴
Francis George Irwin, Μ∴, ST

O Templo de maior alcance foi o Horus em Bradford, iniciado conjuntamente por T. H. Pattinson (Voto Vita Mea) e Dr. Edward Bogdan Jastrzebski, (Deus Lux Solis) ― compreensivelmente conhecido como 'Edwards' ― como Imperator e Praemonstrator respectivamente. No início de sua carreira, essa 'filha' de Isis-Urania retornou aos ideais da Soc. Ros. e se afastou de aqueles da Aurora Dourada, aceitando como membros apenas Mestres Maçons reconhecidos pela Grande Loja e, portanto, barrando as mulheres, embora tivesse vários membros mulheres no início. Antes de adormencer em 1902, foi reformada como a Order of Light ("Ordem da Luz") ― um ramo Maçônico e sem conexão com a Irmandade (ou Igreja) transatlântica da Luz ― e ainda estava operacional em 1958. É possível que hoje dois estudantes devotados dos Mistérios que vivem perto de Huddersfield, G. H. Brook e Geoffrey Rhodes, estejam conectados com isso; foram eles que em 1967 adquiriram a 'caixa que apareceu na praia' contendo regalia Aurora Dourada. Aqui segue uma lista de membros para:

HORUS, N.o 5
Thomas Henry Pattinson (Fote Vita Mea), Μ∴, ST John Hih (Ut Prosim)
Fanny Clayton (Orare) Dr. Edward Bogdan Jastrzebski — 'Edwards' (Deus Lux Solis), Μ∴
Frank Coleman (Audi Et Aude), Μ∴ Minnie Constance Langridge (Che Sará, Sará)
Carlo Faro Mrs. Cooper-Oakley, ST
Oliver Firth William Williams (Nurho Demanhar Leculnosh)
Walter Firth Thomas Wilson (Sub Rosa), Μ∴
J. K. Gardner (Valet Anchora Virtus), Μ∴


O Templo de Edimburgo, Amen-Ra, N.o 6, foi concedido em 1893 e consagrado no ano seguinte; desenvolveu-se ao longo das linhas de Isis-Urania e seus membros compreendiam o seguinte:

[p 138]


AMEN-RA, No. 6
Imperator: Dr. John William Brodie-Innes (Sub Spe), ST (Edinburgh), Μ∴ Dr. George Carnegie Dickson (Fortes Fortuna Juvat)
Praemonstratrix: Mrs. Emily Drummond (In Deo Confido) Mrs. Edith Carnegie Dickson
Cancellarius: Dr. Andrew p. Aiken (Judico Lente) Mrs. Emily Drummond
Mrs. Georgina Aitkin (Sola Cruce Salus) Mary Drummond (Fideliter)
Mrs. F. A. Brodie-Innes (Sub Hoc Signo Finces), ST (Edinburgh) Dr. Robert William Felkin (Finem Respisce), ST (Edinburgh)
Mrs. Agnes Cathcart (Feritas Fincit) Mrs. Mary Felkin (Per Aspera Ad Astra)
Andrew Cattanach (Esto Sol Testis) William Sutherland Hunter (In Cornu Salutem Spero)
Kate R. Moffat (Servio Liberaliter)
William Peck (Feritas Et Lux)
Mme. Juliette de Steiger (Alta Peto)


Ao se mudarem para Londres, os Felkins se juntaram à Isis-Urania, e mais tarde fundaram uma das dissidências mais importantes da Aurora Dourada, a Ordem da Stella Matutina, da qual os Carnegie Dicksons se tornaram membros quando também se mudaram para Londres; o Dr. Carnegie Dickson finalmente assumiu como seu Chefe.

No ano de 1912, Amen-Ra deu origem a dois templos filhas; primeiro, o Alpha Omega (2)[86] que pode ter precedido sua matriz em Edimburgo ― em qualquer caso, manteve praticamente os mesmos membros, com o Dr. Brodie-Innes como Chefe. Ele abriu um ramo em Londres também; a Sra. Maiya Tranchell Hayes (Sra. Curtis Webb) e seu marido cuidaram deste último até o início da guerra em 1939. Parte dos regalia encontrados na 'caixa na praia' estava marcada com seu lema, Ex Fide Fortis.

Em segundo lugar, uma colaboração entre Alpha Omega(3)[87], e alguns clérigos de alta convicção anglicana produziu o Templo Cromlech ou Solar Order ("Ordem Solar"), também fundada simultaneamente em Edimburgo e Londres. Este era algo híbrido, já que membros da Stella Matutina também concordaram com sua fundação.

Assim que os Mathers se instalaram em uma residência em Paris adequada para trabalhos mágicos, eles concederam a Annie Horniman o privilégio de consagrar para eles o Templo No. 7, Ahathoor. Mathers, é claro, se tornou o Imperator e Moïna Praemonstratrix. Annie, Maud Gonne e W. B. Yeats foram visitantes frequentes durante os anos 1890; após o Cisma de 1900, Crowley e Allan Bennett os substituíram como principais convidados. Um casal inglês, Robert Nisbet e sua esposa, transferiram sua filiação de Horus e um jovem

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casal americano, James e Theodosia Durand, que haviam sido iniciados em Isis-Urania, se juntaram a Ahathoor ao retornar a Paris. O escritor Jules Bois (c. 1860-1930) foi um apoiador fervoroso desde o início; embora ele tenha defendido o Abade J. A. Boullan (1824-1893) na sensacional rixa com Stanislas de Guaita e sua seita, não há motivo para incluir Boullan entre os membros.

AHATHOOR, No. 7
Imperator:  Samuel Liddell MacGregor

Mathers (’S Rioghail Mo Dhream

e Deo Duce Comite Ferro)

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James M. Durand

Sra. Theodosia Durand

Praemonstratrix: Moïna MacGregor

Mathers (Vestigia Nulla Retrorsum)

Dr. Gérard Encausse (Papus)
Cancellarius: Robert Nisbet (Ex Animo) Mme. Marceline Hennequin
Jules Bois
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Eugène Jacob (Dr. Ely Star)

Mme. Eugène Jacob

Max Dauthendey ? Mrs. Robert Nisbet
Kate Sands Stainton, M.D.


Em algum momento durante meados dos anos 1890, Mathers autorizou uma Sra. Lockwood, que o visitou em Paris, a fundar um dos primeiros Templos transatlânticos: este foi Thoth-Hermes, N° 10, em Chicago, do qual Michael Whitty era Praemonstrator e Dr. Paul Foster Case foi Prolocutor em algum momento. Mathers outorgou pelo menos dois outros Templos, em Boston e Filadélfia, um dos quais era Ihme, N° 8, e outro, Themis, N° 9; é duvidoso se estes mantiveram o sistema completo da Aurora Dourada por muito tempo.

Tenho informações confiáveis de que Gerard Heym nunca foi um iniciado da Aurora Dourada nem de qualquer sociedade semelhante: "Sou meu próprio guru", costumava dizer com um sorriso. Tendo isso em vista, a inscrição encontrada por Gerard Yorke na cópia de Heym do The Equinox, III, conforme relatado por Ellie Howe, parece ter sido escrita como uma brincadeira. Durante sua última doença, um holocausto de todos os seus papéis foi feito sob sua direção, da maneira tradicional.

Ahathoor sobreviveu até o início da guerra em 1939. Membros de vários grupos Aurora Dourada nos EUA se uniram ao Dr. Paul Foster Case em sua School of Ageless Wisdom ("Escola de Sabedoria Eterna"), que posteriormente se desenvolveu em The Bulders of the Adytum ("Os Construtores do Adytum"), ainda operando sob sua viúva, Ann Davies.

Imediatamente após o Cisma, o Dr. Edward W. Berridge se reuniu a Mathers, garantindo que sua autoridade não decaísse em Londres, fundando um templo regular que manteve o nome de Isis. Começou

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com uma composição de membros dos poucos leais restantes de Isis-Urania, sendo o próprio Mathers seu primeiro Imperator, com Berridge como seu Cancellarius. Surpreendentemente, Wynn Wescott foi seu Praemonstrator; ele deve ter perdoado Mathers por suas acusações de falsificação ou esperava, com seu apoio, prevenir mais revelações. Este foi o primeiro Templo a ser consagrado sob o novo título de A∴ O∴, que se refere não apenas a Alpha et Omega, mas também pelo som com o grego Eos ('Eos = alvorada), conforme declarado em seu Ritual Neófito.

Além de seus adeptos mais conhecidos, outros membros eram a Sra. M. J. B. Scott (Sub-Silentio), Mme. Lucille Hill e, mais tarde, Alan Campbell (Fr. Fide et Amore) e sua esposa Joan; Brodie-Innes reafirmou a lealdade a Mathers em 1912 e cooperou com Berridge — ele pode até ter assumido o Templo de Isis eventualmente como A.'.O.'.(2). Antes disso, no entanto, é possível que Isis tenha produzido um ramo.

Entre o folclore que ainda — apesar de crianças barulhentas se aglomerando sobre a Pedra de Roseta — paira em suspensão ao longo das galerias do Museu Britânico, persiste o rumor de uma Loja Aurora Dourada, de caráter antiquário, estabelecida por Sir E. A. Wallis Budge (1857-1934). Como ele foi Guardião das Antiguidades Egípcias de 1892 a 1924, é bastante possível que ele e Mathers fossem pelo menos conhecidos. Em uma das muitas salas atrás das grandes portas no meio da escadaria que leva do principal Salão Egípcio, supõe-se que as reuniões da Loja tenham sido realizadas. Elas continuaram até 1928, quando um certo Thomas Trueman foi relatado por ter participado proeminentemente nelas: ele pode ter assumido a direção após a aposentadoria de Budge.

Em 1929, um belo par de Pilares Aurora Dourada, em tamanho real e pintados com os hieróglifos corretos, foi apresentado a uma Ordem de meu conhecimento. Seu doador era um ex-membro desta Ordem que pertenceu a 'uma versão egípcia da Aurora Dourada', então recentemente caída em dormência e, portanto, sem mais utilidade para eles: ele era o Rev. Arthur Hugh Evelyn Lee, editor do The Oxford Book of Mystical Verse ("O Livro Oxford de Versos Místicos"), um ex-Irmão na Co-maçonaria[88] de Annie Besant e escritor em assuntos maçônicos. Ele incluiu poemas de vários membros Aurora Dourada em sua antologia — Aleister Crowley (2), William Sharp (6), Evelyn Underhill (5), A. E. Waite (6) e W. B. Yeats (3).

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Seria um salto muito grande identificar sua configuração egípcia com a de Wallis Budge? Se elas não forem as mesmas, então deve ter havido duas Lojas Aurora Dourada contemporâneas com uma inclinação especial para a arqueologia egípcia, o que parece uma alternativa menos provável. Os Pilares pelo menos eram tangíveis o suficiente, e um ou dois itens menores do mobiliário do templo sobrevivem.

Derivando de Ahathoor estava a Loja A:.O:. (3), estabelecida pela Sra. Mathers em 1919 quando ela retornou a Londres após a morte de seu marido. Ao longo dos anos Vinte e Trinta, as seguintes pessoas pertenceram a ela em vários momentos:

Imperatrix: Moïna MacGregor Mathers (V.N.R.)

Praemonstratrix: Isabel (or Isabella) Morgan Boyd (A.V.)

Cancellarius: Edward John Langford Garstin (Animo et Fide)

Sara Allgood

Esmé Mabel Boyd — Lady Fletcher (Lux?)

Major Sabben Clare

Charles Courtneidge

Violet Μ. Firth — Mrs. Penry Evans (Deo Non Fortuna)

Netta Fornario

Mrs. Mary Garstin

Eric Hamilton
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Major C. Lewis Hall

Mrs. N. Lewis Hall

Raoul (?) Loveday

(Mr.) Parkes

Margery Stuart Richardson

Dr. Hugh J. Schonfield
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Leo St. Leger Stokes (Semper Fidelis)

Mrs. Gwendoline Stokes

Mrs. Grace Stokes


Sara Allgood era a renomada atriz do Teatro Abbey; ela desempenhou uma função semelhante à de Florence Farr no Isis-Urania, preparando os membros da A.'.O.'., a maioria dos quais carecia de experiência teatral, para a correta realização dos rituais. Somente quando isso se torna uma segunda natureza, a mente fica livre para construir a contraparte astral que transforma uma simples encenação em um rito magicamente eficaz. Sara deu-lhes dicas sobre fala, movimento e postura adequados ao trabalho no templo em geral. Sua bela voz entoaria para eles, provavelmente com uma técnica semelhante ao "cantilato" de Florence, as passagens mais poéticas da cerimônia.

Charles Courtneidge, irmão de Cecily, tinha o teatro no sangue, e o exemplo de um ator profissional da época deve ter inspirado os amadores da A.'.O.'. Pode-se supor que, no que diz respeito ao ritual, a Loja manteve um alto padrão.

Embora esta Loja tenha sido oficialmente fechada com o início da guerra em 1939, Edward Garstin me disse no início dos anos cinquenta que ele havia iniciado recentemente (por sua própria "iniciativa", parece) Tony (A.C.) Winyard

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e depois o pai de Tony também. Eric Hamilton lembra que alguém chamado Winyard era membro antes da guerra, mas se era ou não o Sr. Winyard Senior, eu não posso dizer. Edward também mencionou que o autor de um livro chamado The Psychology of Psychologists[89], que havia emigrado para os EUA, tinha sido um deles antes de partir. Eu suponho que H. Campell, que escreveu uma carta sobre a obsessão por um demônio Abramelin em The Occult Review (dezembro de 1929), também possa ter sido, pois me lembro de Edward contando essa história; por outro lado, este correspondente pode ter sido ligado a outra Loja A.'.O.'. Edward conhecia a Sra. Tranchell-Hayes, mas nunca falou dela como membro da Aurora Dourada.

A Fraternidade (mais tarde, Sociedade) da Luz Interior (Inner Light) de 'Dion Fortune', fundada em 1922, foi uma ramificação dissidente das Lojas A.'.O:. 2 e 3, das quais ela foi sucessivamente, embora brevemente, membro. De (3), um namorado dela chamado Loveday renunciou com ela. Detalho as circunstâncias mais adiante. A Sociedade da Luz Interior era um híbrido, pois a Stella Matutina e outros grupos também contribuíram para sua constituição.

Uma organização que se autodenominava a Order of the Hidden Masters ("Ordem dos Mestres Ocultos") foi operada por Michael Houghton — pseudônimo, 'Michael Juste' — da Livraria Atlantis, Museum Street, W.C.1.[90], e J. Michaud. Um grupo de cura estava em ação, algum ensino da Aurora Dourada foi ministrado e rituais foram realizados, independentemente de sua fonte ser um templo regular ou dissidente. Acredito que seu auge tenha sido pouco antes da Guerra de 1939-45; em meados dos anos cinquenta, o grupo tornou-se inativo.

Michaud fugiu com a esposa de Michael, Doreen; a assistente da loja adoeceu e morreu, e pouco depois o próprio Michael morreu em circunstâncias misteriosas, me disseram. Até onde eu sei, esse foi o fim dos Mestres Ocultos, mas nunca os investiguei de perto, pois tive a impressão de que seu período mais ativo havia terminado. Em um determinado momento, entendo que eles tiveram vários contatos no exterior, um com o grupo de Max Heindel nos EUA.

O divórcio de Houghton atraiu alguma publicidade na imprensa popular por causa de uma disputa sobre horóscopos — a esposa de Michael o acusou de crueldade porque ele se gabava de ser Sagitário, enquanto zombava dela por ser apenas uma velha Capricorniana sem graça, ou palavras nesse sentido. Havia alguns outros grupos que, embora não estabelecidos como templos-filha de Isis-Urania, estavam intimamente associados a ela:

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tais como The Sphere ("A Esfera"), em Londres, por volta de 1897, cujo espírito propulsor era Florence Farr. Era um grupo pequeno e discreto dentro do templo-mãe, e até que a legalidade de tais "células" fosse questionada, não havia indício de irregularidade. Depois de 1900, passou a fazer parte da dissidência geral. Wynn Westcott liderou um grupo assim até sua aposentadoria em 1897, quando os seguintes eram membros:

F. L. Gardner
Mrs. R. Fulham-Hughes
Mrs. F. Kennedy
F. Wright.

As duas mulheres logo foram substituídas pelo coronel Webber Smith; depois todos passaram para The Sphere, onde se dedicaram, juntamente com outros adeptos, em grande parte às técnicas de projeção astral.

Membros de The Sphere ("A Esfera") incluíam:

  • Florence Farr (Sapiens Sapienti Dona Data)
  • Marcus Worsley Blackden (Ma Wahanu Thesi)
  • Dr. Robert William Felkin (Finem Respice)
  • E. A. Hunter (Hora Et Semper)
  • Mrs. Harietta Dorothea Hunter (Deo Date)
  • Mrs. Florence Kennedy (Volo)
  • Mrs. Cecilia Macrae (Macte Virtute and Vincit Qui Se Vincit)
  • Mrs. Henrietta Paget (Dum Spiro Spero)
  • Mrs. Helen (Winifred?) Rand (Vigilate)
  • Ada Waters (Recta Pete)

Em segundo lugar, havia a Castle of Heroes ("Castelo de Heróis"), uma Ordem Céltica projetada por Yeats e Maud Gonne como uma ramificação de Isis-Urania e também de Ahathoor, cujo objetivo era a regeneração esotérica da Irlanda. O plano nunca saiu do papel, embora Yeats e Maud tenham descoberto para ele um local ideal em Loch Key, Co. Roscommon, celebrado no Livro de Lecan[91].

‘A água pura, ó homem!
De onde ela surgiu?...
Qual é a causa de onde ela procedeu
O lago verde e tranquilo.’

Maud renunciou à Aurora Dourada e Yeats se envolveu mais profundamente com o Teatro Literário Irlandês; o Cisma interveio, e sem a inspiração de Mathers e Moïna, o projeto fracassou.


CAPÍTULO TREZE

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Prole Legítima

Legitimate Breed

Provavelmente, nenhuma lista de membros existente de um templo da Aurora Dourada está completa; por outro lado, algumas "autoridades" adicionam nomes sem justificativa. Declarações conflitantes aparecem de tempos em tempos e são debatidas ― por exemplo, John Masefield e Arnold Bennett foram listados como membros de Isis-Urania. Em uma carta escrita para mim em 1965, pouco antes de seu pai falecer, Judith Masefield negou esse rumor como referente a ele. Ela concordou que ele frequentemente encontrou Yeats nos anos Noventa, então se pode presumir que ele tinha alguma noção do que estava acontecendo. Arnold Bennett foi inscrito sem motivo melhor do que suas iniciais serem as mesmas de Allan Bennett.

Nada pode ser tido como certo: mesmo obras de referência sólidas se contradizem. A tendência de copiar sem verificação é, se possível, mais marcante no Continente[92] do que na Grã-Bretanha[93], talvez porque existam proporcionalmente mais publicações, tanto populares quanto sérias, lidando com o oculto. Bram Stoker deve ser incluído na lista, se alguém segue seu biógrafo francês, Antoine Faivre; Rider Haggard e "Sax Rohmer", se o Dr. Serge Hutin for confiável. Le Matin des Magiciens ("O Despertar dos Magistas") de Pauwels e Bergier ― pouco confiável nos detalhes ― é uma fonte favorita; ou então a fantasia simplesmente tem livre curso. No entanto, Mr. Faivre me disse que as informações nas pp. 16-18 de seu Introduction à Dracula ("Introdução a Drácula", 1968) na tradução da Coleção Marabout[94] foram dadas a ele por um inglês que quis permanecer anônimo!

Ao descuido, deve-se acrescentar o propositalmente obscuro: biografias (e autobiografias) de cunho oficial tendem, até recentemente, a permanecer em silêncio sobre o assunto da Aurora Dourada, não tanto por respeito a obrigações de sigilo, mas por meio de uma rejeição pseudo-acadêmica dos interesses Herméticos como meros caprichos. No caso de W. B. Yeats, onde tais influências não podem ser negadas ou totalmente ignoradas,

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elas são frequentemente abordadas de forma superficial ― a menos que um autor, cerrando os dentes, aborde como um dever um dos aspectos ainda pouco explorados do gênio do grande homem. O resultado geralmente é menos esclarecedor, devido a uma falta básica de conhecimento e simpatia por parte do explorador. Ao nos voltarmos para outro iniciado: em Memories and Impressions of Arthur Machen ("Memórias e impressões de Arthur Machen", 1960), editado por Fr. Brocard Sewell, quatro dos seis estudos reunidos omitem qualquer referência a Aurora Dourada, enquanto os de Dr. W. D. Sweetser e Fr. Brocard em si mesmos lhe dão apenas atenção condescendente.

Correndo o risco de me juntar aos que fazem suposições, gostaria de perguntar se Aubrey Beardsley, que conhecia Yeats e W. A. Horton, talvez não tenha ele mesmo sido iniciado em algum momento no início dos anos Noventa? Embora seu desenho, A Neophyte and the Fiend Asomul ("Um Neófito e o Demônio Asomul", 1893), ilustre sua conhecida fascinação pela Arte Negra, ele não ecoa nenhum ritual Aurora Dourada. Certamente a Aurora Dourada, não era a única sociedade mágica operando em Londres durante os anos 1890! Sem entrar em detalhes especulativos, eu insinuaria que algumas das outras (assim como agora) forneciam uma fachada para homossexualidade, travestismo e folias sexuais em geral, seus rituais burlescos sendo apenas um prelúdio; alguns tinham ligações com o lado mais sórdido da medicina popular, alguns com círculos de vícios comercializados. Aqui e ali, um feiticeiro sofisticado, dispondo de poder genuíno, pode ter atraído uma confraria ao seu redor. Beardsley, se ele se aliou a alguma sociedade oculta, pode ter procurado algo mais sombrio em tom do que a Aurora Dourada. Pressinto um pano de fundo oculto semelhante em Arthur Machen. E o próprio Yeats — será que sua conversa sobre "Diabolismo", como notado por Max Beerbohm e outros, não era mais do que conversa fiada?

Na Aurora Dourada, a proporção daqueles que alcançaram distinção pessoal é acima da média — não apenas em questões esotéricas, mas também em relação à habilidade geral — pois muitos tinham habilidades em direções além do oculto. Geralmente, aqueles que causaram maior impacto no mundo profano também eram os mais ativos no "Santuário da Gnosis". As seguintes notas biográficas mostrarão como a personalidade e o ensino de Mathers influenciaram a vida interior e a realização externa de seus seguidores; além disso, a contribuição que cada um fez para a égrégora Aurora Dourada como reservatório de talento arcano.

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ALLAN BENNETT 1872-1923
Um químico analítico de formação, foi criado como católico romano por sua mãe viúva. Seu rosto comprido, tipicamente sagitariano, irradiava intensidade espiritual: olhos ardentes e sobrancelhas proeminentes até proclamavam o fanático.

Crowley foi iniciado em Isis-Urania como um jovem rico quando Bennett, pobre e um pouco mais velho, já era membro há vários anos. Ele notou em seu primeiro encontro que o novo membro havia "se metido com a Goétia", embora Crowley negasse isso. Bennett estava sempre profundamente ciente dos aspectos "cinzentos" da prática mágica: em companhia de Florence Farr, Frederick Leigh Gardner e Charles Rosher, ele havia realizado um ritual — sua própria composição — para evocar Taphthartharath, o Espírito de Mercúrio. Enquanto o Anjo de uma esfera planetária é benéfico para a humanidade e sua Inteligência é pelo menos amigável, seu Espírito muitas vezes é menos do que amável: significativamente, um caldo infernal era um adjunto necessário para esta cerimônia e, por algum tempo antes, Bennett ocupou-se com sua preparação.

Em 1899, Crowley convidou-o para morar em seu apartamento em troca de orientação em magia; na já intransigente opinião de seu anfitrião, Bennett era um dos únicos dois entre seus novos associados com potencial oculto. Os acontecimentos vieram a provar que ele também foi um dos poucos que permaneceram leais a Mathers durante as dissensões de 1900. Considerando as inclinações e convicções de Crowley, é provável que em seu relacionamento com Bennett houvesse nuances homossexuais; o resultado da ação de difamação de The Looking-Glass ("O Espelho", 1911) é significativo a esse respeito.

Ensaios de Bennett sobre assuntos esotéricos apareceram em várias edições de The Equinox ("O Equinócio"); destes, A Note on Genesis (Notas sobre Gênesis") lida com a Cabala Hermética, da qual ele era um profundo estudioso. Se a breve introdução de Crowley for confiável, Bennett ajudou Mathers na compilação do material da Ordem, que Crowley posteriormente publicou como seu próprio trabalho em Liber 777. Bennett ficou com os Mathers em Paris em várias ocasiões: Dr. R. MacGregor Reid lembrou-se da tradição de um Book of Correspondences ("Livro de Correspondências") encadernado em pergaminho, cujas poucas cópias foram distribuídas entre os membros de Isis-Urania. Allan Bennett era um deles, Charles Rosher outro; mas se eles consultaram a mesma cópia é incerto.

Sepher Sephiroth é um glossário numérico, cuja base é de

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Bennett: as sutilezas aritméticas da Cabala Literal sempre o fascinaram.

Liber Israfel, uma meditação poética sobre o 20º Arcano Maior do Taro (Julgamento), introduz muito simbolismo egípcio. Ditirâmbico[95] em estilo, provavelmente foi redigido por Crowley à sua maneira característica a partir de anotações de Bennett.

O Training of the Mind ("Treinamento da Mente") é estudado do ponto de vista do budismo Theravada. Todos esses textos do Equinox foram posteriormente usados por Crowley como papéis de instrução, carregando o Imprimatur[96] de sua Ordem dissidente, a Astrum Argenteum. Fica a dúvida sobre o que aconteceu com os muitos outros manuscritos que Bennett deixou com ele ao partir para o Oriente.

Bennett deixou a Europa e a Aurora Dourada para estudar o budismo in loco. Auxiliado por Crowley nas despesas de viagem, ele ficou por um tempo no Ceilão, onde Crowley o visitou. Ele entrou para a Sangha com o nome de Swami Maitrananda, mais tarde Ananda Metteya, significando "Êxtase de Metteya" (o futuro Buda). Ele viajou para Burma, onde se dedicou à vida de um Bhikkhu, e lá Crowley novamente o procurou. Bennett fundou uma Sociedade Budista Internacional com uma revista, Buddhism (1902), que mais tarde se tornou The Buddhist Review. ("A Revisão Budista") Após alguns anos, ele retornou à Grã-Bretanha como seu primeiro missionário, fundando a Loja Budista, uma ramificação da ST, que se desenvolveu na Sociedade Budista tal como está atualmente constituída. Os arquivos desta sociedade que tratam dele permanecem silenciosos quanto à sua antiga associação com a Aurora Dourada e Crowley.

Ele sempre sofreu de asma, doença ocupacional dos magos. Crowley não caiu vítima disso de imediato, embora tenha sido gravemente afetado em seus últimos anos; mas foi Bennett quem o introduziu ao uso de "drogas" — que o enfermo usava para aliviar sua enfermidade. Possivelmente Bennett, um dos poucos amigos com quem Crowley não brigou, estabeleceu o padrão para o surgimento de sua doença, talvez por alguma influência exercida inconscientemente, no sentido da imitação?

Bennett não permaneceu permanentemente satisfeito com o Oriente como seu lar espiritual; na década de 1920, ele estava novamente vivendo na Inglaterra. Segundo Frater X., que o conheceu e admirou nessa época, ele havia superado sua fase budista, profunda e prolongada como havia sido, e estava buscando uma prova objetiva da existência do

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mundo invisível.

Ele não ficou mais impressionado com a especulação sobre a verdade espiritual, nem com afirmações dogmáticas não comprovadas por métodos laboratoriais. Ele havia revertido para uma atitude mais ocidental, envolvendo experimentos ocultos em uma base científica que ele acreditava ser o "caminho" do futuro. Ele pode ter entrado em contato com Crowley novamente antes deste partir para o experimento de Cefalu; certamente estava em contato com alguns de seus discípulos e ex-discípulos. Ele não parece ter procurado Moïna, também de volta a Londres.

Ele pensava claro e era um asceta natural. Tendo-se desfeito de suas poucas posses ao entrar na Sangha, ele era extremamente pobre; alugou um quarto dos fundos não mobiliado, exceto por uma pequena mesa com dois ou três livros e sua famosa "baqueta de poder" cintilante, que ele parece ter preferido às varinhas recomendadas na Aurora Dourada. Quando estava carregada com sua considerável força psíquica e pronto para uso, ele a fixaria em uma empunhadura de madeira pintada com palavras de poder, que poderiam ser alteradas de acordo com a natureza da operação proposta. Além disso, seu quarto estava cheio de maquinário: ele estava em processo de aperfeiçoar um dispositivo para comunicação astral. Seu objetivo era fornecer, ou permitir que futuros investigadores fornecessem, por meio de resultados repetíveis, uma prova objetiva dos níveis sutis do ser e seus habitantes.

A saúde de Bennett estava pior do que nunca, e seus irmãos budistas, sentindo sua mudança de perspectiva, relutavam em apoiá-lo. Finalmente, ele tentou em Liverpool embarcar em um navio com destino a um clima mais quente; mas o capitão, não querendo assumir a responsabilidade por alguém tão gravemente doente, recusou-lhe a passagem. Um mendicante no Ocidente precisa ser resistente: Bennett morreu quase que imediatamente, desprovido de recursos, e como Frater X. diz, "em convulsões" - um espasmo grave de asma? Ele não sabe se Bennett deixou algum manuscrito, nem o que aconteceu com a maquinaria que ele inventou.

EDWARD W. BERRIDGE c. 1843-1923
Ele se qualificou como médico em Londres e como homeopata nos EUA e escreveu um livro didático sobre remédios homeopáticos. Ele praticou medicina de ambas as tradições em Londres por muitos anos e alguns membros da Aurora Dourada pensaram que ele também estivesse experimentando em Alquimia.

Ele é interessante pelas inclinações "tântricas" consequentes à sua

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admiração pelo utopista transatlântico, Thomas Lake Harris (c. 1823-83), que, sendo ministro da Igreja Universal na América, tornou-se sucessivamente um seguidor de Andrew Jackson Davis, um Swedenborgiano e um "Espiritualista". Na década de 1850, ele retornou à Inglaterra como missionário Swedenborgiano e fundou a Irmandade da Nova Vida, que era Adventista em inspiração e buscava a "reorganização do mundo industrial". Após seu retorno aos Estados Unidos e o fracasso de várias de suas comunidades, ele dedicou-se a estudos esotéricos. Sua teoria e prática psicossexual, que incluía Karezza — relação sexual prolongada sem ejaculação — interessou particularmente ao Dr. Berridge por razões ocultas e sociais.

Berridge irritou Annie Horniman com sua defesa de tais ideias no contexto da Aurora Dourada, e ela tentou insistir que Mathers o controlasse, mas suas ameaças resultaram em sua própria expulsão. O peculiar Doutor não era o membro mais querido do Templo Isis-Urania, mas estava entre os mais leais: ele nunca vacilou no apoio a seu chefe legítimo; após o Cisma, ele fundou sob a direção de Mathers, o Templo de Isis em West London, que trabalhava os rituais originais até a Segunda Ordem, então ele deve ter construído uma Câmara. Seu Templo continuou até pelo menos 1913, quando parece possível que tenha sido fundido com a A∴ O∴ iniciada por Brodie-Innes — embora isso seja especulação.

Ao Templo de Berridge se reuniram todos os membros de Londres que apoiaram Mathers, incluindo Crowley. Posteriormente, ele difamaria Berridge em suas "Confissões" (Confessions) e com a horrível caricatura de "Dr. Balloch" em Moonchild ("Criança da Lua").

JOHN WILLIAM BRODIE-INNES 1848-1923
Doutor em Direito de Milton Brodie em Morayshire, ele atuou como advogado em Edimburgo, onde se juntou à Seção Escocesa da Sociedade Teosófica em seus primeiros dias. Sem dúvida, foi nesse meio que ele e sua esposa ouviram falar da Aurora Dourada; quando o Templo Amen-Ra foi consagrado, ele se tornou seu primeiro Imperator.

Ele publicou uma quantidade considerável de trabalhos literários sobre vários assuntos (incluindo um grande volume jurídico) datando de 1887 com uma peça em verso em quatro atos, Thomas à Becket[97], até 1919 com The Golden Rope[98]. Ele é mais conhecido por seus romances sobre bruxaria e folclore escocês, o mais antigo dos quais foi Morag the Seal[99] (1908).

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Ele teve problemas com Amen-Ra, alguns anos após sua fundação, quando um de seus membros mais ativos, o astrônomo William Peck, liderou uma facção contra ele. No entanto, o templo permaneceu leal a Mathers no Cisma — apenas para perder Peck e outros após o escândalo Horos um ano ou dois depois. A partir daí, parece ter diminuído seu ímpeto, e Brodie-Innes deu apoio aos dissidentes — Felkin e até mesmo Waite, que o detestava. Por volta de 1908, ele retornou a Mathers e colaborou com o Templo Isis do Dr. Berridge em Londres.

Por volta de 1912, ele reviveu Amen-Ra e com renovada lealdade a Mathers; Edimburgo lançou um templo-filho (subsequentemente liderado por Mrs. Maiya Tranchell Hayes), a segunda Loja Alpha Omega (A∴O∴) em Londres. Mathers havia autorizado esse nome para desenvolvimentos 'regulares' pós-Cisma. Brodie-Innes também esteve envolvido no estabelecimento do Templo Cromlech, conhecido externamente como Ordem Solar, uma Ordem lateral de intenção mais mística do que mágica. Atraía membros do clero anglicano e da Igreja Episcopal da Escócia, que, em contraste com os presbiterianos, tendem para a perspectiva alta-anglicana. Aqui, a situação não é clara quanto à 'regularidade', já que o Templo Cromlech também mantinha relações próximas com a Stella Matutina e compartilhava o guia astral dos Felkin, Ara ben Shemesh.

Em seu tratado, Psychic Self-Defence ("Autodefesa Psíquica", 1930), Dion Fortune relata vários incidentes envolvendo um adepto que ela designa pela letra Z e de quem tinha alta opinião. Ela conta como, no início de sua carreira, frequentou uma "faculdade oculta escondida nas vastidões arenosas das terras áridas de Hampshire" e da qual Z estava encarregado. É bastante seguro identificá-lo com Brodie-Innes, a quem ela elogia em outros lugares como seu primeiro guru: as técnicas mágicas de Z são certamente as da Aurora Dourada, e Brodie-Innes era famoso por usar tais poderes hipnóticos como ela descreve.

Ela não menciona a data de sua estadia em Hampshire, mas pode ter sido antes de sua iniciação na A∴ O∴ em 1919. Se fosse depois, Brodie-Innes seria um cavalheiro bastante idoso; parece mais provável que, como ela permaneceu apenas um ano em sua Loja A∴ O∴, ela já havia estudado com ele anteriormente. A partir disso, parece que ele havia se mudado para o sul, e o esconderijo em Hampshire era o retiro no campo que muitos professores ocultistas acham útil como

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complemento para a sede na cidade. Brodie-Innes foi o modelo de Dion Fortune para o "médico de almas" em The Secrets of Dr. Taverner ("Os Segredos do Dr. Taverner", 1926).

MABEL COLLINS (MRS. KENINGALE COOK) 1858-1922
A filha de Mortimer Collins, Mabel Collins foi ativa no movimento pelo Sufrágio Feminino e, em colaboração com a Sra. Charlotte Despard, escreveu um romance sobre o assunto, Outlawed ("Proibido. Um romance sobre a questão do sufrágio feminino", 1908). Ela foi um dos primeiros membros da Seção de Londres da Sociedade Teosófica, co-editando a revista Lucifer com Madame Blavatsky em 1887. Pouco depois, Madame a expulsou da Sociedade ― talvez porque sentisse que ela estava se antecipando em relação aos Mestres? ― mas ela foi readmitida posteriormente.

Mabel foi uma escritora prolífica, suas publicações abrangendo os mais de quarenta anos entre An Innocent Sinner ("Um pecador inocente", 1877) e The Locked Room ("A sala trancada", 1920). Elas incluem versos, não ficção e inúmeros romances, alguns em três volumes, de acordo com a predileção vitoriana. The Idyll of the White Lotus ("O Idílio do Lótus Branco", 1884) reflete algo da fantasia de George MacDonald, mas carece de seu refinamento literário; The Blossom and the Fruit ("A Flor e o Fruto", 1888), subtítulo 'A True Story of a Black Magician' ("Uma verdadeira história de um mago negro", embora sua heroína, Fleta, esteja geralmente vestida de branco e sirva à Irmandade da Estrela Branca), está adquirindo o mesmo tipo de pátina periódica que os romances de Bulwer-Lytton. Como eles, interessa ao estudante por seu relato de trabalhos ocultos; foi listado por Crowley entre as leituras recomendadas para Neófitos de sua A:.A:.. Mabel é mais conhecida, no entanto, por Light on the Path[100] ("Luz no caminho", 1885), o primeiro em data dos três textos considerados clássicos no Movimento Teosófico, sendo os outros The Voice of the Silence ("A Voz do Silêncio") de Mme. Blavatsky e At the Feet of he Master ("Aos pés do Mestre") de Krishnamurti. Foi traduzido para vários idiomas e teve muitas edições.

Light on the Path é suposto ter sido ditado a, ou 'impresso' em, sua autora por um dos gurus tardios da ST, o Mestre Hilarion. Em sua Introdução, C. W. Leadbeater aponta que os comentários que não foram adicionados até uma edição posterior ― a de 1894? ― são supostamente inspirados na mesma fonte, mas na verdade não são: "... há sinais inconfundíveis de que o escritor pertence a uma escola de ocultismo bem diferente da de nossos Mestres." Eu concordo: o tom desses comentários é muito mais hermético do que teosófico; seu autor usa o termo Neófito em vez de

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Chela, e cita o "Zanoni" de Bulwer em vez de qualquer texto oriental. No final da primeira seção, há uma descrição (e referências a ela em outros lugares) do que soa como uma Travessia do Abismo entre as Segundas e Terceiras Ordens da Aurora Dourada. A palavra 'abismo' é mencionada, embora com um "a" minúsculo, e a linguagem em geral é a do Ocultismo Ocidental: "ante-câmara", "a loja real de uma Fraternidade Viva", "Fausto", "eles são tirados das tradições da Grande Fraternidade, que foi outrora o esplendor secreto do Egito". Os Comentos pareciam tão estranhos a muitos teosofistas que foram omitidos de outras edições da obra, até que Annie Besant os recomendou novamente em 1903; eles foram restaurados na edição de 1911 com a Introdução de Leadbeater.

Será que Mabel Collins se aliou a Aurora Dourada, mesmo que apenas por um breve período, após sua briga com Madame quando Isis-Urania estava apenas começando? Ou ela fez contato com a misteriosa Fraternidade de Luxor, como Madame fez durante uma estadia no Egito? E essa Irmandade é outra fonte importante, embora em grande parte inexplorada, de inspiração a Aurora Dourada? Documentos do Templo Isis do Dr. Berridge falam da Aurora Dourada pós-Cisma como "aquela seção dos Mistérios do Egito que é chamada de Ordem Rosacruciana da A:.O:.".

Mabel Collins e A. P. Sinnett eram basicamente teosofistas, mas ele certamente, e ela possivelmente, tiveram mais do que um flerte com a Aurora Dourada.

FLORENCE FARR (MRS. EDWARD EMERY) 1860-1917
A filha do Dr. William Farr, um próspero médico consultor que lhe deixou uma renda suficiente para garantir sua independência, Florence Farr foi educada na North London Collegiate School, fundada por Miss Buss, pioneira da educação feminina e inspiradora do jingle:

Miss Buss e Miss Beale
A flecha de Cupido nunca sentem —
Diferente de nós
Miss Beale e Miss Buss!

Diferente de Florence Farr, certamente, cujos namorados incluíam W. B. Yeats, Bernard Shaw e (alguns dizem) Aleister Crowley. Ela

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escolheu viver principalmente no que é agora a região de apartamentos tipo estúdio em W.6., que era perto da casa de sua irmã Henrietta, também membro da Aurora Dourada e esposa de Henry Paget, um artista de obras em preto e branco. Como vários outros membros, incluindo a família Yeats, eles moravam em Bedford Park, um bairro que havia sido recentemente planejado como um projeto-piloto para a ideia de Subúrbio Jardim.

A sobrinha de Florence, Dorothy Paget, fez o papel da Criança Fada em de The Land of Heart's Desire ("A Terra do Desejo do Coração") quando foi encenado em 1894 por Florence (como gerente) e Annie Horniman (como patrocinadora), juntamente com The Comedy of Sighs("A Comédia dos Suspiros") do Dr. John Todhunter. Foi algo de uma ocasião Aurora Dourada: foi a primeira das peças de Yeats a ser encenada e foi dedicada a Florence; Todhunter era amigo de Yeats, membro da Aurora Dourada e residente de Bedford Park, embora sua peça tenha sido logo substituída por Arms and the Man ("Armas e o Homem") de Bernard Shaw. Quando Florence mais tarde criou o papel de Aleel 'com movimento e gesto sonhadores rítmicos' na primeira produção de The Countess Cathleen ("A Condessa Cathleen") de Yeats (dedicada a Maud Gonne), Dorothy Paget interpretou o Anjo. Ela tinha a mesma pele oliva e olhos grandes como sua tia, coroada em seu caso com madeixas de cabelo cor de mogno. Ela se voltaria à negociação de obras de arte de vanguarda nos anos 1920; sua galeria no West End foi o palco da exposição individual de D. H. Lawrence quando muitas pinturas foram apreendidas pela Polícia.

A carreira de atriz de Florence começou no teatro particular de William Morris em Kelmscott House, Hammersmith Mall, e no teatro do clube em The Avenue, Bedford Park, onde em 1890 ela assumiu o papel principal em A Sicilian Idyll de Todhunter. Ela se casou com Edward Emery, membro de uma família bem conhecida no show business, mas logo se separaram; entre seus subsequentes romances amorosos, talvez o mais duradouro tenha sido o com Yeats:

"As mulheres que escolhi falavam docemente e em tom baixo
E ainda assim davam língua. 'Vozes de cão de caça' todas tinham?"

A voz de Florence Farr foi a primeira destas — a menos que tenha sido a de Olivia Shakespeare, cujas fotografias mostram uma semelhança, independente dos acessórios da época, com as de Florence. Antes do impacto de Maud Gonne, Yeats conheceu Florence; ele admirava tanto o seu senso de ritmo quanto a sua beleza e a comparava com uma estátua de Deméter no

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Museu Britânico. Ele deve ter pensado nela ao descrever a décima quarta fase no simbolismo lunar de A Vision ("Uma Visão"):

‘Aqui nascem as mulheres que são mais tocantes em sua beleza ... enquanto parecem uma imagem de suavidade e de calma, ela desenha perpetuamente em vidro com um diamante ... e apesar do langor de seus movimentos e de sua indiferença aos atos dos outros, sua mente nunca está em paz.’

Ele sentiu que a curiosidade intelectual de Florence prejudicou o florescimento de suas qualidades mais íntimas; mas para seu próprio desenvolvimento, ela precisava satisfazer o primeiro e expressar, por exemplo, suas simpatias feministas. Ela fez isso em parte produzindo obras como Rosmersholm" de Ibsen (1890) e Widower's Houses ("Casas de Viúvos", 1890) de Shaw, em parte escrevendo Modern Woman: Her Intentions ("Mulher moderna: suas intenções", 1910). A influência de Shaw se opôs à de Yeats: ele tentou em vão direcionar sua técnica de atuação para a precisão e o naturalismo, mas era essencialmente introvertida e, portanto, mais adequada para o drama poético em um ambiente íntimo.

Em The Music Of Speech ("A Música da Fala", 1909), ela expôs sua teoria de cantilating — declamação em notas semi-musicais — que Yeats também descreveu em seu ensaio Speaking to the Psaltery ("Falando ao Saltério"). Ela organizou a música e os coros para produções de "The Trojan Women" ("As Mulheres de Troia", 1905) e Hippolytus ("Hipólito", 1906). Além de The Dancing Faun: A Story ("O Fauno Dançante: Uma História"), suas obras publicadas tratam de vários aspectos de seus estudos esotéricos e filosóficos, desde Egyptian Magic ("Magia Egípcia", 1894) até The Solemnisation of Jacklin ("A Solenização de Jacklin", 1912). Algumas delas são assinadas com suas iniciais da Ordem, S.S.D.D..

Sem o exemplo de sua experiência teatral, os rituais da Aurora Dourada não teriam sido tão bem executados em relação ao movimento e dicção: ela também se especializou em Scrying in the Spirit-Vision ("Vidência na Visão Espiritual") e liderou um grupo privado dedicado a isso — The Sphere ("A Esfera") — dentro da Ordem: seu "Record of Spirit Journeys" ("Registro de Jornadas Espirituais") sobrevive em manuscrito. Quando Mathers migrou para Paris, ele a deixou encarregada da Ordem e ela cumpriu essa tarefa por anos, apesar das desvantagens de servir um Chefe ausente. Cansada talvez de suas responsabilidades, ela cometeu um erro erro tático ao mostrar a fatídica carta de Mathers sobre as falsificações de Wynn Westcott a um comitê em vez de enfrentar Westcott sobre isso em particular. Se ela tivesse usado maior discrição, muito problemas

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poderiam ter sido evitados. No Cisma, Florence Farr não só falhou em apoiar a Cabeça Visível da Ordem, como também tornou-se membro, por um tempo, da Tríade governava o templo dissidente que permaneceu. Em dois anos ela havia deixado a Ordem — após o escândalo Horos, embora não necessariamente por causa disso.

Por volta de 1904, Florence escreveu duas peças poéticas, The Beloved of Hathor ("A Amada de Hathor") e The Shrine of the Golden Hawk ("O Santuário do Falcão Dourado"), em colaboração com Olivia Shakespear; apenas cerca de dez cópias foram impressas. Elas lidam com temas da tradição mágica egípcia e mostram a influência da doutrina e do ritual da Aurora Dourada, ao mesmo tempo que defendem discretamente a Liberação das Mulheres. As instruções dizem que elas devem ser encenadas "...cortinas simples brancas ou siena clara, de modo que os atores pareçam figuras em um afresco egípcio antigo". Vindas da mesma linha literária que as Quatro Peças para Dançarinos de Yeats, elas tratam mais precisamente das técnicas mágicas do que qualquer uma de suas peças, mas sua linguagem carece da mágica verbal suprema de Yeats.

Este foi o ano do Trabalho do Cairo de Crowley, que produziu Liber AL, vel Legis. Estariam Florence e Crowley trabalhando em seus respectivos projetos ao mesmo tempo? Esses dois iniciados ex-Aurora Dourada foram ambos inspirados pelos aspectos de Horus Cabeça-de-Falcão; há até uma semelhança em sua dicção, especialmente notável quando a jovem sacerdotisa de Florence, Nectoris, fala em êxtase dentro do santuário:

"Estou embriagada com a conquista, e sacudo o sistro e danço com meus pés nus ilesos no teu chão dourado! E os passos que danço são para mim como o movimento de um grande exército que escalou as terríveis muralhas de tua majestade e tomou a fortaleza de tua sabedoria!"

Mas a abordagem básica de Florence e Olivia é a tradicionalmente ascética — de pureza, abnegação e disciplina — enquanto a de Crowley é o caminho oposto, nietzschiano — de excesso, autoafirmação e violência.

Então, Florence se concentrou nos estudos do pensamento oriental, principalmente conforme difundido pela Sociedade Teosófica, embora com ênfase nos ensinamentos Vedanta. Em 1912, depois uma séria cirurgia quando foi diagnosticada com câncer, ela se recuperou o suficiente para assumir um cargo no Ceilão em uma espécie de escola de aperfeiçoamento para meninas hindus. Yeats,

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em All Souls' Night ("Noite de Finados"), fala desse período final como "anos fétidos", mas teve compensações. Como chefe de uma faculdade, Florence desfrutou da quase real deferência concedida (talvez até hoje) no Oriente a uma pessoa importante, e foi mais atendida do que em qualquer momento de sua vida anterior. O clima era agradável, seus aposentos espaçosos, seus deveres despretensiosos, suas alunas encantadoras e vivas. Ela mesma enfrentou "o fim sem alardes" com serenidade, quase com alegria e certamente com coragem.

MAUD GONNE (SRA. SHAUN MACBRIDE) 1865-1953
Filha de um general do exército britânico, sua origem era a "Ascendência Protestante" da Irlanda. Após a morte precoce de sua mãe, ela administrou a casa de seu pai, entretendo-o desde os dezesseis anos. Sua educação foi irregular, mas incluiu um pequeno treinamento para o Teatro, que foi conseguido contra o desejo de seus parentes. Quando Yeats, ainda um jovem tímido, a conheceu pela primeira vez, ficou deslumbrado por sua vasta experiência social - e possivelmente sexual - tanto quanto por sua aparência.

Não preciso dizer que ela era bonita, pois todos, inclusive ela mesma, já disseram isso. Em seu ensaio de Scattering Branches ("Espalhando Ramos", 1940), editado por Stephen Gwynn, ela se descreve em seus dias de juventude como

"...uma garota alta com montes de cabelo castanho-dourado e uma beleza que tornava suas roupas de Paris... imperceptíveis..."

No entanto, vou relembrar um esboço em que Olivia Manning Robertson registra uma impressão dela. Ela e Maud (que já era idosa) deviam estar no mesmo elevador de uma loja de departamentos em Dublin. Olivia percebeu num instante que nunca antes havia visto uma mulher tão bonita: Maud Gonne McBride era a beleza.

"Sua imagem atual flutua na mente -
Será que o dedo do quattrocento a moldou?
Com a bochecha oca como se bebesse o vento
E tomasse uma massa de sombras como alimento?"

Não é de se admirar que nos anos anteriores todos caíssem de cara ao vê-la.

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Não foram apenas os homens que caíram: ela também encantava as mulheres, já que as valorizava como seres humanos em vez de avaliá-las como rivais. Sua autoconfiança serena não admitia rivalidade: ela podia ser excêntrica, mas nunca mesquinha. Tornou-se o centro de um grupo feminino de Renascimento Céltico, Finé (Os Dedos), selecionado por Ella Young do meio da Sociedade Teosófica e da Sociedade Hermética em Dublin; entre seus membros estavam Susan Varian, Maureen Fox e Helena Molony; e seu centro espiritual, localizado no Ireland's Eye (a ilha), prefigurava o Castelo dos Heróis, uma fortaleza insular mais tarde (1897-8) a ser vista por Maud em uma visão. Sob a persuasão de Yeats em Londres, ela progrediu da ST para Isis-Urania.

Ela deve ter possuído alguma qualidade que não se percebe em fotos dela. As primeiras fotografias mostram uma debutante casadoura, não mais notável do que muitas de suas contemporâneas, com uma vantagem similar do charme da época. O retrato de Sarah Purser dela usando um chapéu com penas (Galeria Municipal de Dublin) tem o ar abafado de uma dama provinciana inaugurando uma feira. Maud deve ter combinado a graciosidade de uma estátua com o inapreensível; havia "algo nela". Uma aura luminosa, veículo de sua natureza dourada, era perceptível para todos, mas irreproduzível em retratos. Yeats foi mais bem-sucedido com uma imagem escrita ao dar um exemplo da Décima Sexta Fase Lunar em A Vision ("Uma Visão"):

"... mulheres cujos corpos assumiram a imagem da Verdadeira Máscara e nelas há uma intensidade radiante, algo do "Bebê Ardente" da lírica elisabetana. Elas andam como rainhas e parecem carregar nas costas um alforje de flechas, mas são gentis apenas com aqueles que escolheram ou subjugaram, ou com os cães que seguem seus calcanhares. [Maud geralmente viajava com uma variedade de animais de estimação e Yeats tinha que lidar com eles quando a acompanhava.] Generosidade e ilusão sem limites...?"

Aqui está Maud, com todo o ânimo ausente dos retratos visuais.

Sua influência no curso do Nacionalismo Irlandês foi incalculável, mas considerável. Um incidente ilustrará a qualidade de sua liderança: um destacamento do Exército Britânico ameaçou atirar, a menos que seu grupo de manifestantes se dispersasse. Maud manteve-se firme

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e encarou o comandante opositor nos olhos; confrontado por aquele olhar avelã desinibido, ele preferiu arriscar a corte marcial a apertar o gatilho. Ela era uma oradora fascinante que não hesitava em incitar a violência; Yeats desaprovou, e descartou rudemente sua arte de discursar como "uma velha fornalha cheia de vento irado". Ele não percebeu que, muito depois de ter deixado Isis-Urania, ela continuou como uma agitadora política a cumprir seu mote de Ordem, Per Ignem Ad Lucem?

Maud foi diagnosticada por amadores da psiquiatria como frígida porque preferiu manter seu relacionamento com Yeats "platônico", mas os eventos de sua vida, de outra forma desinibida, tornam absurda qualquer teoria desse tipo. Ela se deleitou com a adoração de Yeats por anos - como quem, tendo a chance, não o faria? - e se a atenção dele se desviasse, um puxão discreto na corda o trazia de volta aos seus pés, onde ela supunha que ele pertencia. A união deles na zona rural de Wicklow não era do seu agrado e não foi repetida. Isso não impediu Yeats de se gabar sobre isso:

A primeira de toda a tribo estava lá
E teve tanto prazer —
Aquela que derrubou o grande Hector
E pôs toda Troia em ruínas —
Que ela gritou neste ouvido:
'Bata em mim se eu gritar.'

A sintonia dela com ele subsistia em planos mais sutis, em parte por meio de seu psiquismo natural e em parte através de técnicas de "encontro à distância" ensinadas na Aurora Dourada. Seu famoso caso de amor, frustrado em nível mundano, alcançou uma consumação oculta.

Para contatos menos atenuados, ela escolheu homens de ação como Lucien Millevoye, com quem teve um caso prolongado, referindo-se com desfaçatez alegre à filha deles como sua "sobrinha adotada"; e Shaun MacBride, com quem se casou aos trinta e seis anos. Shaun pode não ter sido um intelectual, mas conseguia excitá-la, para usar a gíria de hoje. Pouco antes do casamento, a voz do falecido pai de Maud a advertiu em um sonho: "Não faça isso". Ela prosseguiu - para o desastre. Shaun se mostrou um marido insatisfatório, apenas se redimindo através do martírio - e, ironicamente, através da celebração de Yeats do Sixteen Dead Men ("Dezesseis Homens Mortos") executados após a Revolta da Páscoa de 1916.

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Maud colaborou com os Mathers em cerimônias de evocação, particularmente de divindades gaélicas, para preparar o centro iniciático na Irlanda que ela e Yeats planejaram. Ela lembra comovida Yeats na velhice:

'...justo antes de ele deixar a Irlanda pela última vez, quando nos despedimos, ele, sentado em sua poltrona, da qual só podia se levantar com grande esforço, disse: “Maud, deveríamos ter continuado com o nosso Castelo de Heróis, ainda podemos fazê-lo.”'

Entre seu registros manuscritos de visões (Biblioteca Nacional da Irlanda), há uma que descreve as divindades Danaan[101] individualmente. Outro manuscrito, lidando com Três Adeptos, lembra um incidente em The Crock of Gold ("O pote de ouro") de James Stephens, também membro da ST de Dublin, que descreve figuras gigantescas chamando-se de Três Redentores; o Homem Mais Bonito (Intelecto), O Homem Mais Forte (Amor) e o Homem Mais Feio (Geração). Os Adeptos de Maud são um homem velho (incorporando sabedoria mística), um homem de meia-idade (intelecto) e um jovem (força física). Tais arquétipos devem ter circulado pela ST de Dublin em seus primeiros dias, derivados parcialmente das especulações Druídicas de Standish O'Grady.

Já adorada pelo povo da Irlanda, Maud identificou-se mais profundamente com eles através de sua conversão para a Igreja Católica Romana. Não é preciso dizer que ela ignorou a formalidade da Instrução - a "túnica preta" não era mais prova do que qualquer outra roupa contra seu charme dominador.

A monarca no título de sua autobiografia, A Servant of the Queen ("Uma Serva da Rainha"), é Banba-Fodhla-Eiré, Irlanda como Deusa Tripla, Kathleen ni Houlihan e Shan Van Vocht.

ANNIE ELIZABETH FREDERIKA HORNIMAN 1860-1937
Filha de F. J. Horniman - empresário rico, presidente da empresa que comercializava o chá Mazawattee, deputado liberal e fundador do Museu Horniman em Forest Hill - ela foi criada como anglicana, embora outra parte da família Horniman fosse fervorosamente quaker. Ela perdeu a mãe quando estava na metade da adolescência: Crowley caricaturou seu relacionamento com o pai na história "Seu Pecado Secreto" (The Equinox, No. VIII) sob os nomes de Theodore Bugg e sua filha Gertrude.

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Ao contrário de algumas estrelas na galáxia da Aurora Dourada - Moïna, Maud Gonne, Florence Farr - Annie não era uma beleza. Ela era uma mulher de aparência agradável em um estilo muito inglês - loira, inexpressiva, um pouco austera, com muita energia nervosa e sem glamour; essencialmente confiável, apesar do que naquela época era considerado sua ousada modernidade. Ela era o tipo de mulher que o homem médio ainda finge ter 'medo' - percebendo que sua inteligência pode desmascarar a pomposidade e a pretensão.

Em 1882, ela se matriculou na Escola de Arte Slade, onde trabalhou até 1888, e onde conheceu Mina (mais tarde Moïna) Bergson, já estudante há dois anos, tendo entrado aos quinze anos de idade. O impulso de Annie para ajudar essa menina promissora, mas sem recursos, influenciou as vidas de ambas por muitos anos. Não se conformando com a tradição da Slade - já estabelecida na época - de beleza em suas alunas, nem especialmente talentosa nas artes visuais, Annie foi atraída por sua contemporânea mais jovem e brilhante. Seus interesses eram amplos e ela se ausentou durante todo o ano de 1885-86 para viajar pelo continente, onde se apaixonou por um músico da Europa Central. O caso não prosperou, por qualquer motivo, e ela retornou à Slade por mais um ano como consolo. (Não tenho evidências para esta reconstrução de sua vida amorosa além de insinuações na história mencionada acima: embora Crowley fosse confiável quando motivado pela malícia, esse esboço provavelmente não está longe da marca. Ele diz que seu namorado era um violinista polonês - generalizei um pouco isso.) Moïna logo depois conheceu MacGregor Mathers no Museu Britânico; ambos se mostraram úteis para Annie em sua decepção emocional, Mathers dando-lhe o conselho sensato de buscar uma maior impessoalidade. Sem dúvida, ela tinha uma língua afiada, bem como um coração de ouro: seus apelidos entre os estudantes eram Tabbie e Puss.

O dinheiro de Annie sustentou Mathers e Moïna por anos após seu casamento e mudança para Paris, permitindo-lhes viver enquanto fundavam uma Ordem Interna para a Aurora Dourada. Esse apoio só cessou após seu desacordo com o Dr. Edward Berridge. Ela era temperamentalmente incapaz de simpatia pelo pensamento ou prática 'tântrica', e isso levou à sua expulsão por intolerância. A partir da temporada no Teatro Avenue, que ela financiou em 1894, Annie foi aclamada como a fundadora do Movimento



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Moderno no drama. Ela continuou a construir e equipar o famoso Abbey Theatre em Dublin, fornecendo assim um palco para os dramaturgos do Nacionalismo Irlandês; ela permaneceu associada a ele até 1910. Lennox Robinson, em um ensaio de Scattering Branches ("Espalhando Ramos", 1940), fala sobre os "figurinos feitos para as peças de Yeats há mais de trinta anos, muitos deles costurados pela Srta. Horniman. Eles são incrivelmente sem graça e feios, material desajeitado cortado de maneira escassa e muitas vezes bordado com pele falsa." Mesmo que o gosto de Annie fosse tão ruim quanto isso implica, certamente foi a hostilidade que ela involuntariamente despertou que trouxe à tona o fato?

Ela então comprou e reformou o Teatro Gaiety, em Manchester, onde sua política de apresentar novas peças ajudou a lançar talentos locais, bem como a aumentar a reputação de Shaw, Galsworthy e St. John Ervine. Muitos de seus atores alcançaram renome; mas o Gaiety não foi um sucesso financeiro e em 1917 ela teve que alugá-lo. No entanto, ela ainda estava em contato com ele em 1921, quando se aposentou para morar em Londres; durante seus últimos anos, ela se interessou por um teatro experimental em Shere, Surrey.

Em seus dias de Aurora Dourada, Yeats foi um sujeito de sorte — não satisfeito com belas amigas como Florence, Olivia e Maud, ele contratou Annie para trabalhar como sua secretária (de graça, é claro) quando sua visão começou a falhar. Mas Annie, por si só, teve pouco sucesso nos assuntos do coração: mesmo quando ela foi para a Irlanda deixando os anos 90 para trás, seu afeto por Yeats encontrou uma rival em Lady Gregory, outra mulher de substância. Annie e Augusta, ambas personalidades fortes em suas diferentes maneiras, competiram uma com a outra em ajudar Yeats a fundar um Teatro Nacional Irlandês. As cartas de Annie continuaram a chamá-lo por parte de seu nome de Ordem (Daemon Est Deus Inversus), começando com "Caro Demônio". Quando as coisas estavam indo bem, isso se tornava "Meu querido Demônio", mas quando a exasperação tomava conta, era "Você, Demônio!"

Um sigilo oculto em relevo em uma tonalidade mais profunda encabeçava seu papel de carta amarelo, um tipo especial de octograma com um caduceu no formato de diamante em seu centro, projetado para atrair correntes do planeta Mercúrio e da Sephirah Hod, benéficas para empreendimentos envolvendo literatura e relações públicas. Mais tarde, deu lugar a um hexagrama, simbólico do Macrocosmo, centrado no signo astrológico de Vênus, ladeado por Mercúrio e Luna. Seu signo solar natal

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sendo Libra, mansão de Vênus, este sigilo pode incorporar influências importantes em seu horóscopo.

O lema da Ordem de Annie, Fortiter Et Recte (Com força e retidão)[102], foi um registro de realização em relação ao seu primeiro período, se o segundo foi mais uma aspiração. A condução do ritual da Aurora Dourada pode ter tido tanto a ver com o conhecimento teatral e entusiasmo dela quanto com a técnica de Florence Farr. Ela compartilhou com Florence uma crença no que agora é chamado de Liberação Feminina, mas ela acabou achando os métodos administrativos de Florence (ou a falta deles) um desafio. Tendo mais talento para organização, ela tentou esclarecer questões de procedimento; ainda assim, as maneiras desleixadas de Florence podem ter se adequado a egrégora da Ordem melhor do que a eficiência de Annie. Se ao menos ela pudesse ter relaxado sua obsessão por detalhes e cultivado um pouco de tato!

Seu poder mágico foi reconhecido por Mathers quando ele a convidou para consagrar seu Templo Ahathoor em Paris, e sua força de caráter quando ele a enviou para regular anomalias no Templo de Horus em Bradford. Ela também possuía poderes divinatórios tanto com Astrologia quanto com o Tarot. No Cisma, sua oposição a Crowley como vice de Mathers tomou a forma mais eficaz possível: ela orientou um advogado feroz para defender o direito da Segunda Ordem ao mobiliário do templo que Mathers estava reivindicando.

Annie continuou a trabalhar com seus ex-colegas, especialmente nos grupos privados que persistiram por alguns anos. Um diagrama rotulado com sua caligrafia, que dá certas atribuições da Segunda Ordem para os Signos do Zodíaco, sobrevive na Biblioteca Nacional da Irlanda; aqui, o Fogo é atribuído ao Leste e verde, Terra ao Sul e azul, Ar ao Oeste e vermelho e Água ao Norte e violeta. Os Signos Cardeais devem ser coloridos com uma tonalidade escura de sua tintura elemental, os Signos Kerubic (Fixos) com uma tonalidade média e os Signos Mutáveis com uma tonalidade clara. A área circular no centro do Zodíaco deve ser pintada de ouro e atribuída ao Sol e à Pedra Filosofal.

Por 1907, Annie parece ter se desencantado com o oculto, pelo menos em relação ao trabalho com um grupo, embora seu interesse em muitos aspectos da Astrologia tenha persistido. Se sua vida interior continuou a se desenvolver durante seus últimos trinta anos, fez isso de uma maneira mais profundamente oculta do que antes.

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GERALD FESTUS KELLY 1879-1972
Filho do Rev. F. F. Kelly, LL.M., foi educado em Eton e Cambridge, e depois foi estudar arte em Paris. Posteriormente, tornou-se um bem-sucedido pintor acadêmico, especialmente de retratos; executou Retratos de Estado da realeza, recebeu um título de Cavaleiro, tornou-se Presidente da Academia Real em 1949 e Comandante da Legião de Honra no ano seguinte. No entanto, ele não tinha preconceitos contra a "arte moderna": a única ocasião (desde meus dias de estudante) em que um trabalho meu foi pendurado na Academia foi em 1952, quando chamei a atenção de Sir Gerald para La Cathédrale Engloutie[103], que eu estava apresentando.

Na aparência, ele era moreno e mercurial, com um rosto de macaco e um talento para a mímica - um adorável pequeno Macaco de Thoth. Crowley o apresentou a Aurora Dourada enquanto ainda era estudante, e ele é principalmente lembrado no contexto do ocultismo como irmão de Rose, primeira esposa de Crowley. Sua mediunidade como Ouarda [rosa em árabe] "a Vidente" produziu o roteiro de Liber Al, vel Legis, texto sagrado de Thelema.

Em uma carta de 1965, relembrando suas impressões da Aurora Dourada, Sir Gerald me disse:

"Meu pai era clérigo, e eu nunca fiquei muito impressionado com a redação de seus serviços, mas fiquei bastante chocado com a vulgaridade e trivialidade da maioria dos meus companheiros de culto... Havia apenas um membro da congregação por quem eu fui impressionado e de quem eu gostei. Seu nome era Jones e havia poucos tão sinceros quanto ele."

Bem! É preciso mais do que sinceridade para evocar demônios Goéticos à aparência visível, como Jones fez; e palavras como "serviços", "congregação" e "adoradores" soam estranhas em conexão com os rituais da Aurora Dourada - como se o escritor tivesse pouca ideia de sua natureza e propósito.

Gerald Kelly nunca foi um devoto ardente, embora após o Cisma de 1900, Crowley parece tê-lo envolvido para assumir um cargo no "resto" de Isis-Urania, conforme reestabelecido sob o Dr. Berridge, então ele deve ter alcançado pelo menos o grau de Zelator. Ele também deve ter estado entre o pequeno grupo de leais a Mathers durante a crise. No início deste século, ele começou a considerar seu cunhado

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um embaraço, sua amizade por ele esfriou e sua adesão ao Aurora Dourada diminuiu. Crowley retaliou com "Um pintor charlatão" (A Quack Painter, The Equinox, No. IX) ridicularizando seu antigo companheiro como "Algernon Agrippa Dooley".

A opinião de Kelly sobre o pessoal da Aurora Dourada reforça (ou talvez ecoe?) a de Crowley, concordando também com a de Maud Gonne; embora ele tenha feito uma exceção de Jones, como sua carta mostra. Parece estranho que uma Ordem que incluía personalidades tão vívidas como Yeats, Florence Farr, Allan Bennett, Annie Homiman e Moïna Bergson, para não falar de seus fundadores, pudesse evocar uma reação tão entediada de qualquer membro perspicaz. Para Crowley, deve-se dizer que ele exonerou (em graus variados) os três primeiros desta lista e acrescentou Julian Baker, enquanto os Mathers e Florence estavam isentos do desprezo de Maud Gonne. Talvez a situação possa ser paralela à dos calouros no primeiro ano da faculdade, que parecem mortais no primeiro encontro, mas florescem mais tarde - alguns até se tornando tão inteligentes e glamourosos quanto a própria pessoa.

GEORGE CECIL JONES c. 1870-1951
Este foi o homem chamado Jones destacado para aprovação por Gerald Kelly entre os membros de Isis-Urania. Jones havia patrocinado a entrada de Crowley e sua influência sobre ele provavelmente foi tão grande quanto a de Allan Bennett, embora até agora tenha sido insuficientemente reconhecida. Havia uma diferença de ênfase nos interesses desses dois mentores iniciais — enquanto Bennett (em seus dias pré-budistas) concentrava-se nos métodos da Chave de Salomão, Jones inclinava-se para o sistema de Abramelin.

Como Bennett, ele era um químico analítico; a patente e a classe da Aurora Dourada acreditavam que ele também fosse um alquimista. "Seu espírito era ao mesmo tempo ardente e sutil. Ele era muito versado em Magick", de acordo com As Confissões de Aleister Crowley (1970), que também diz que ele era um galês com uma semelhança com as imagens convencionais de Cristo. A partir da ilustração em The Equinox, No. VIII, desenhada de um esboço de Crowley, ele era de compleição leve e coloração arenácea, com olhos que fitavam de um rosto magro. Ele é mostrado aqui no traje de um Poderoso Adeptus Major — manto laranja-vermelho, um adorno na cabeça do tipo egípcio com chifres e plumas usadas sobre uma nêmis, ankh e bastão de fênix na mão. J. C. F. Fuller realizou os gráficos de The Equinox: se, como aqui,

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o desenho da figura é amador, os diagramas e as letras são sempre excelentes. Este ilustra um trecho do "Diário Oculto" de Crowley, que também foi editado por Fuller; a entrada sob a data de 26 de julho de 1906 diz:

"Desceu para ficar com D.D.S." [isto é, George Cecil Jones, que morava em Basingstoke].

Então, a partir da entrada do dia seguinte:

"Fra. P. foi crucificado por Fra. D.D.S. e naquela cruz fez repetir este juramento..." Segue-se o início do Juramento do Candidato no ritual de Adeptus Minor.

O que exatamente mestre e aluno estavam fazendo? Nunca se saberá, a menos que Jones também tenha mantido um diário oculto e que este venha à tona; mas provavelmente não foi nada mais macabro do que repetir, a dois, a parte central do dito ritual, com Jones atuando como Segundo Adepto e Crowley como Candidato. Para este último, o objetivo do exercício era obter aquela experiência mágica que Abramelin chama de "o Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião" — união com o Gênio Superior, em termos de Aurora Dourada. Ele insinua que alcançou algum sucesso nesta prática após uma "visualização completa e perfeita de Cristo como P" [isto é, Perdurabo, o próprio Crowley] "na cruz". Assim, eles tentaram combinar um trabalho Aurora Dourada com a Magia Sagrada de Abramelin.

Quando Crowley assumiu o cargo de Imperator na dissidente Ordem da A:.A:. que ele fundou, as iniciais mágicas de Jones, D.D.S., como seu Praemonstrator, reforçam o Imprimatur de seus livros de instrução. Ele havia progredido além de seu lema na Aurora Dourada, Volo Noscere, para — o quê?

Se a associação de Crowley com Jones foi mais um exemplo de sua obsessão homossexual, também foi algo mais. Quando Jones processou um jornal chamado The Looking Glass ("O Espelho") por difamação neste sentido, o júri decidiu contra ele. Esse veredicto deve ter sido um golpe sério em relação tanto à sua família quanto à sua profissão: sessenta anos atrás, a atitude predominante em relação à homossexualidade carecia da sofisticação de hoje. Jones, tendo nos anos intermediários se casado e tido quatro filhos, havia assumido

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posto comercial que fazia uso de suas qualificações em química para sustentar sua família. Nem o trabalho nem o casamento devem ter se beneficiado com a perda de seu processo e a consequente publicidade indesejada. Crowley considerou que ao se casar, ele havia decepcionado o grupo, e as responsabilidades domésticas provavelmente limitaram suas atividades mágicas (ou mágickas?). Ele alguma vez voltou a elas ao longo de sua longa vida? — ele ainda estava vivo em 1950. E o que aconteceu com seus documentos e biblioteca ocultos?

WILLIAM SHARP 1856-1905
Nascido em Paisley, sua infância foi passada nas Terras Altas da Escócia. Ele fugiu de casa várias vezes e passou um verão inteiro acampando com ciganos. A partir de 1871, ele estudou por dois anos na Universidade de Glasgow, mas saiu sem obter um diploma para se tornar um escriturário de advogado.

Sua saúde se deteriorou sob a pressão dessa vida incongruente, mas após um cruzeiro pelo Pacífico, ele retornou ao emprego em um banco de Londres. Conhecido de Rossetti, de quem ele escreveu uma biografia, e a admiração por Walter Pater incentivaram seu talento literário, e seu trabalho apareceu na Gazeta Pall Mall. Em 1885, ele se tornou crítico de arte do jornal Glasgow Herald, e assim que pôde, trocou a área bancária pelo jornalismo, lançando uma revista de edição única, a The Pagan Review, em 1892.

Ele se casou com sua prima de primeiro grau, Elizabeth; foi mais um casamento de amigos do que de cônjuges — às vezes, até mesmo de uma babá com sua "criança". Mas além de cuidar de sua saúde, Elizabeth colaborou com ele na edição da antologia, Lyra Celtica (1896); e como viúva, ela publicou William Sharp: Uma Memória em 1910, embora sem qualquer menção a Aurora Dourada. Sua bela cabeça leonina, fotografada pelo Duque de Bronte, enfeita Poems and Dramas ("Poemas e Dramas", 1925) como frontispício.

O entusiasmo de Sharp pelo Renascimento Celta o colocou em contato com Yeats e o círculo Isis-Urania; possivelmente, sua iniciação como Neófito realmente começou algo, mais precisamente, seu contato com a figura-animal que ele chamava de 'Fiona Macleod'. Essa personalidade extra ou um segundo eu escrevia em um estilo distinto do competente jornalista literário, William Sharp: 'seus' poemas, dramas e prosa lembram os de Maeterlinck[104] ou do período inicial de Yeats, estando

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impregnados no crepúsculo de um outono perpétuo. Embora lhes falte a autoridade poética que desde o início distinguiu o trabalho de Yeats, alguns transmitem um arrepio autêntico do outro mundo gaélico:

"Ah, se eu também pudesse ouvir o cruel
Povo doce como mel das Colinas de Ruel?"

A maioria deles sustenta as insinuações do Renascimento Pagão; onde seu tema é cristão, é com o cristianismo inocentemente fetichista de Carmina Gadelica[105] de Alexander Carmichael. Com seu conhecimento falado da língua gaélica e sua percepção das tradições das Ilhas Ocidentais, Sharp promoveu a herança da Escócia como Yeats fez com a da Irlanda.

"Fiona" se comunicava por um método que André Breton mais tarde definiria como Surrealismo — "automatismo psíquico puro"; isto é, escrita automática sem transe. Sua primeira publicação foi Pharais ("Pharais: um romance das Ilhas", 1894); surpreendentemente, considerando sua natureza, esta e outras obras semelhantes trouxeram sucesso a Sharp — não uma fortuna, mas um agradável estimar o sucesso, até mesmo uma certa popularidade. Ele manteve a identidade de "Fiona" em segredo dentro de um círculo restrito; sua irmã graciosamente escrevia cartas para ele em nome de "Fiona". Em 1900, enquanto era seu Presidente, a Stage Society[106] produziu o drama poético dela, The House of Usna ("A Casa de Usna"), no Globe Theatre, e até o final da década de 1920, The Immortal Hour ("A Hora Imortal"), musicada por Rutland Boughton, desfrutou de uma longa temporada com Gwen Ffrançon Davies no papel principal de Etain.

Em 1898, Yeats propôs que Sharp se juntasse a ele em Paris, onde colaborariam com Maud Gonne e os Mathers em pesquisas clarividentes sobre o panteão celta. Esperava-se que Sharp encontrasse em Mathers um espírito semelhante — uma devoção compartilhada a Ossian de Macpherson, pelo menos: Moïna, sempre tática, diz que ambos gostavam dele, mas infelizmente, os dois homens se mostraram tão incompatíveis quanto óleo e água: Sharp achou Mathers "duro e arrogante", enquanto Mathers o considerava "vago e sentimental". Um dia, Mathers o convidou para uma refeição de azeitonas e conhaque; Sharp não se divertiu. Apesar de seus anseios etéreos, ele gostava de almoçar ao estilo de Fleet Street, com bife e cerveja tipo porter. Após um de seus rituais de evocação, ele teve uma espécie de convulsão e ficou inconsciente por algumas horas,

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sem saber onde estava ou o que fez. Quando voltou a si — de uma imersão completa em "Fiona", assim como no Sena? — ele se retirou para Londres.

Quanto à sua afiliação ao Aurora Dourada, provavelmente ganhou mais do que contribuiu, absorvendo uma atmosfera esotérica generalizada enquanto era incapaz de uma técnica mágica sustentável.

Sharp também se sentou aos pés de John A. Goodchild, autor de The Light of the West ("A Luz do Ocidente", 1898), cuja abordagem mística lhe convinha mais do que o rigoroso ocultismo de Mathers.

Como Yeats depois dele, a doença o obrigou a passar o inverno fora da Grã-Bretanha; embora tenha feito visitas frequentes às Terras Altas da Escócia até o fim, foi na Sicília que ele morreu.

Anos depois da sua morte, sua viúva deixou dois pacotes volumosos "para serem destruídos sem serem examinados", de acordo com a fórmula aprovada pela Aurora Dourada; a menos que ambos os pacotes contivessem os documentos de seu marido, isso sugere que Elizabeth pode, como ele, ter atingido o grau de Neófito.

ALFRED PERCY SINNETT 1840-1921 Ele entra em cena Teosófica em 1879 enquanto editava "The Pioneer" ("Pioneiro") em Allahabad. Ele havia publicado alguns artigos sobre "Espiritualismo", e, por um impulso súbito, ele e sua esposa, Patience, convidaram Mme. Blavatsky e o Coronel Olcott para ficarem com eles. Foi, no entanto, com alguma relutância que os Sinnetts se tornaram Teosofistas: Alfred era mais ou menos insensível ao charme de Madame, embora a admirasse o suficiente para se tornar seu biógrafo oficial com Incidents in the Life of Madame Blavatsky ("Incidentes na vida de Madame Blavatsky", 1886). Por sua vez, Madame estava desconfortável com ele e ressentia-se de ele ter feito contato com um de seus Mestres, Kout Houmi. Após perder seu cargo bem remunerado em The Pioneer ("Pioneiro") em 1883 por defender a Teosofia, ele retornou a Londres. Anna Kingsford, então Presidente da Seção de Londres, pouco se importava com os Mestres, quer suas mensagens viessem através de Madame (Blavatsky) ou Sinnett, e ela e Edward Maitland se opuseram às suas reivindicações. Isso criou uma divisão nas fileiras Teosóficas, que Olcott e a própria Madame tentaram em vão curar; finalmente, ela resolveu o assunto dando a Anna uma carta para fundar a Loja Hermética (mais tarde, Sociedade). Alfred era amigo de Frederic Myers, que com Edmund Gurney e Henry Sidgwick, havia fundado a Sociedade para Pesquisa

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Psíquica em 1882. Após o relatório desfavorável desta Sociedade sobre as 'manifestações' de Blavatsky, ele teve menos contato com sua perpetradora; e desde o momento em que Annie Besant começou a ser destacada entre seus discípulos, os Sinnetts não foram frequentemente vistos na casa de Madame. Até 1888, eles foram completamente expulsos e devem ter voltado sua atenção para a nascente Aurora Dourada: em uma carta de 1896, Yeats diz ao seu protegido, William T. Horton, que Alfred Sinnett estava encarregado dos Neófitos da Aurora Dourada — o equivalente a mestre-noviço, parece. A associação de Alfred com a Ordem foi pouco divulgada, mas Yeats dificilmente deve ter se enganado ao atribuir-lhe este cargo responsável, que, por acaso, fornece mais um elo entre a Aurora Dourada inicial e a ST inicial.

Fica-se imaginando se Annie Besant já foi membro; seu amigo Herbert Burrows certamente era, embora não de Isis-Urania. Em seu romance Moonchild, Crowley usa suas iniciais, A.B., para o personagem a quem ele atribui um papel dominante no círculo de feiticeiros dirigido por 'Douglas' (caricaturado a partir de Mathers). Embora seus detalhes sejam distorcidos, um fogo às vezes explica a fumaça de Crowley.

Sinnett foi um escritor volumoso, contribuindo com muitos artigos para revistas e para as Transações da ST. Suas publicações mais substanciais variam desde Patent Rights ("Direitos de patente", 1862) até Theosophy in Europe ("Teosofia na Europa", 1922) póstumo. The Occult World ("O Mundo Oculto", 1881) e Esoteric Buddhism ("Budismo Esotérico", 1883) foram muito bem-sucedidos; ele também publicou dois longos romances teosóficos e uma peça em três atos. The Mahatma Letters to A. P. Sinnett ("As Cartas do Mahatma para A. P. Sinnett") alcançou algo de um sucesso escandaloso, ainda sendo considerado um documento controverso. A julgar pelo tema de seus escritos, ele estava sempre mais preocupado com o ocultismo oriental do que com o ocultismo ocidental; a Aurora Dourada talvez tenha feito pouco mais por ele do que preencher um intervalo de irritação com seus antigos, e futuros, associados.

WILLIAM WYNN WESTCOTT 1848-1925
Ele veio de uma família médica residente nas Terras Médias (da Inglaterra) e foi adotado por um tio, tendo perdido os pais ainda jovem. Foi educado na Escola Secundária de Kingston e no Colégio Universitário, Londres, onde se qualificou como Bacharel em Medicina. Seu tio o levou para trabalhar em parceria em sua prática em Somerset; e aqui, com uma Loja em Crewkerne, Westcott começou sua longa e ativa carreira na Maçonaria. Nestes círculos maçônicos provinciais, ele fez os

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contatos que mais tarde ajudaram a fundar o Templo Osiris da Aurora Dourada em Weston-super-Mare.

Na idade de cerca de trinta anos, ele começou um tipo de retiro tal como Crowley mais tarde chamaria de Grande Retiro Mágico, dedicando-se por cerca de dois anos na Hendon (por que Hendon?) ao estudo da Qabalah e estudos relacionados, só saindo para assumir o cargo de sub-legista para Hoxton. Ele já era membro da Societas Rosicruciana in Anglia e posteriormente se tornaria seu Supreme Magus[107]. Finalmente, ele também foi Venerável Mestre da loja de pesquisa Quatuor Coronati.

A maçonaria não era seu único interesse; ele conheceu Mme. Blavatsky e foi admitido no núcleo interno de sua Sociedade, a "Seção Esotérica" (N.T. às vezes referenciada como "Escola Esotérica" da Sociedade Teosófica). Os expoentes do esoterismo cristão, Anna Kingsford e Edward Maitland, eram seus amigos; quando sua Loja Hermética se separou da ST para se tornar a Sociedade Hermética em 1884, ele se juntou como seu membro honorário.

Para seus estudantes na Aurora Dourada, a maioria dos quais consideravelmente mais jovens do que ele, Westcott deve ter parecido um querido e velho afável, calmo, e que não impõe medo ou desafio aos outros - rechonchudo, dócil, erudito, trabalhador, viciado em insígnias e encenações teatrais. Ele teve muitas amizades "platônicas" entre as mulheres iniciadas, mas não teve namoradas. Se pudesse evitar confrontos, ele o faria. Escolhendo o caminho de menor resistência, raramente encontrou resistência dos outros, mas não era páreo para o severo, dedicado e fanático Mathers. Ele chegou a sentir que, ao ajudar o homem mais jovem em seu início, havia nutrido uma víbora em seu próprio seio generoso? Quando Mathers prosseguiu com a Segunda Ordem, Westcott retirou-se discretamente - seguindo, claro, 'instruções superiores'. Foi uma pena que ele as obedeceu; se durante os anos 1890 ele tivesse adotado uma postura mais firme em Londres enquanto Mathers estava em Paris, ele poderia ter evitado o Cisma de 1900.

Se você aceita a narrativa de Westcott sobre estar afiliado com os iniciados da Fraulein Sprengel na Alemanha ou se prefere a versão de Mathers (e Ellie Howe) de falsificação e fraude, a posição de Westcott no cisma era ambígua. Como de costume, ele não fez nada para esclarecê-la, encontrando-se em vários momentos aliado à "Aurora Dourada" de Waite, à Stella Matutina de Felkin, à A:.O:. de Brodie-Innes e ao Templo Isis de Berridge, que sempre foi leal a Mathers. Sempre se esforçando para evitar um confronto, mesmo depois que Mathers expôs sua

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falsificação ― se é que foi isso ― dos Manuscritos Cifrados, ele ainda parecia tão receoso de seu antigo protegido que nos fazemos perguntar o que mais poderia ter sido revelado? Em justiça, deve ser acrescentado que uma terceira teoria sobre as origens da Aurora Dourada foi proposta, ou seja, que, por um processo familiar na literatura Teosófica inicial, os Chefes Secretos, para seus próprios fins, haviam "impressionado" Westcott a agir como agiu - embora, sem o reconhecimento de sua intervenção, suas ações parecessem menos do que honestas. Embora eu não possa avaliar o valor relativo dessas alternativas, sinto que sozinho Westcott dificilmente seria capaz da impostura calculada que lhe foi imputada: alguma outra explicação pode eventualmente vir à luz.

Westcott publicou um grande número de trabalhos: além de tratados médicos, ele escreveu artigos sobre temas transcendentais, especialmente para a Soc. Ros.; traduziu o The Magical Ritual of the Sanctum Regnum ("O Ritual Mágico do Sanctum Regnum", 1896) da obra de Eliphas Lévi sobre o Tarot e editou a série de monografias intitulada Collectanea Hermetica. Além da The Isiac Tablet of Cardinal Bembo ("A Epístola Isíaca do Cardeal Bembo", 1887), a maioria de suas obras originais são manuais, breves, mas sólidos, sobre temas como Alquimia, Astrologia, Morte, Adivinhação, Numerologia, O Mito da Serpente, Talismãs, Teosofia e Tempo e Espaço. Os iniciantes de hoje ainda dificilmente encontrarão algo melhor do que estudar An Introduction to the Qabalah ("Uma Introdução à Qabalah", 1910) - uma coleção de palestras dadas aos alunos da Aurora Dourada - juntamente com sua tradução do Sepher Yetzirah (1911). É notável que em nenhuma dessas obras se mencione os estudos cabalísticos de Mathers, embora Kingsford e Maitland - não notáveis como cabalistas - e A. E. Waite sejam referidos.

Após a primeira década deste século, Westcott publicou pouco além de novas edições de suas obras anteriores. Em 1919, ele emigrou para a África do Sul para trabalhar em nome da ST (talvez com objetivos maçônicos também em mente) e morreu lá em 1925.

WILLIAM ROBERT WOODMAN 1828-1891
Tendo estudado e praticado medicina em Londres, ele já havia se aposentado quando se juntou a Tríade governante dos fundadores da Aurora Dourada em 1888.

Assim que Wynn Westcott se estabeleceu em Londres, ele procurou o Dr. Woodman, a quem conhecia por reputação como um maçom erudito e Supremo Magus da Soc. Ros. O Dr. Woodman era velho o suficiente

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para parecer uma figura paterna até para Westcott, e ele tomou Woodman como seu guru por cerca de sete anos. Assim como Mathers devia seu avanço maçônico a Westcott, Westcott devia a Woodman.

Em relação à Aurora Dourada, Woodman foi alistado em parte para dotar a nova empreitada com um ar respeitável e um venerável pano de fundo maçônico, junto com uma inspiração dedicada, porém distante, para o estudo oculto. Sua fisionomia "vitoriana" barbuda ― talvez já um pouco fora de moda na época ― teve suas utilidades como uma figura de proa; e tão insidiosamente ele impôs essa imagem que muitas pessoas hoje pensam na Aurora Dourada como uma sociedade de velhos cavalheiros. Tal nunca foi o caso: em 1892, quatro anos após sua fundação, Florence e Annie tinham trinta e dois anos, Moïna, Maud e Yeats vinte e sete, Percy Bullock vinte e quatro e Allan Bennett vinte ― enquanto Crowley ainda estava na escola. Mathers, embora mais velho do que a maioria de seus seguidores, ainda tinha apenas trinta e oito anos; e a morte de Woodman no ano anterior deixou Wynn Westcott como seu Grande Velho aos quarenta e quatro anos de idade.

A Lição de História da Aurora Dourada de Wynn Westcott, reproduzida em Ritual Magic in England ("Magia Ritual na Inglaterra") de Francis King, inclui um obituário elogioso de Woodman, descrevendo-o como "um erudito hebraico facilmente e um cabalista realizado: muitos de seus manuscritos estão na Biblioteca da Segunda Ordem". Essa biblioteca provavelmente era idêntica à coleção pessoal de Westcott; onde estão esses fascinantes manuscritos agora? Nenhum parece ter sido publicado.

Uma fotografia de retrato do Dr. Woodman costumava ser pendurada em uma parede da sala interior da livraria Watkins's no dia do Sr. (John) Watkins ― eu me lembro dele me dizendo que Woodman era o espírito motivador na fundação da Aurora Dourada. Idade, saúde precária e o subúrbio distante onde ele morava limitaram a participação ativa de Woodman e ele morreu antes da Segunda Ordem entrar em existência.

Ele não deve ser confundido com o Rev. A. F. A. Woodford, também um maçom erudito, que pode ter encontrado os famosos Manuscritos Cifrados ― o próprio Dr. Woodman fez isso, de acordo com outra conta ― mas que certamente não era um fundador da Aurora Dourada, tendo morrido em 1887.

WILLIAM BUTLER YEATS 1865-1939
Nascido perto de Dublin - de pais protestantes (Igreja da Irlanda) - seu pai, John Butler Yeats, era um advogado que se tornou pintor de retratos. O sobrenome de sua mãe era Pollexfen, e ela pertencia a uma família de Devon

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estabelecida em Sligo. Seu irmão Jack tornou-se um pintor distinto da cena irlandesa, e suas duas irmãs dirigiram a Cuala Press por muitos anos. A vida precoce da família não foi próspera, e as crianças foram educadas de maneira um tanto desleixada: W. B. frequentou escolas diurnas desagradáveis e depois a Escola de Artes de Dublin. Sua verdadeira educação foi adquirida durante visitas a seus parentes em Sligo, quando ele perambulava pelo campo, discursando e ouvindo seus habitantes coloridos.

Antes de deixar a escola de arte em 1886, ele se encontrava informalmente com outros estudantes de ocultismo. A Loja Dublin da ST, a segunda mais antiga, atrás apenas para da Loja de Londres, só foi fundada dois anos depois, então esses estudantes eram mais o núcleo do qual seu amigo Charles Johnson formou o braço de Dublin da Sociedade Hermética de Anna Kingsford. Yeats começou sua carreira como autor enquanto morava com seus pais em Bedford Park, Londres. Johnson o apresentou à ST, e ele deixou uma ou duas vívidas vinhetas de Mme. Blavatsky, que o admitiu na Seção Esotérica (da Sociedade Teosófica). Em seu Occult Notebook ("Anotações Ocultas") de 1889, ele observa de um colega membro, G. R. S. Mead - então secretário da Madame ― que ele tinha a mente de um grande caramujo. Em 1890, Mme. Blavatsky pediu a Yeats que se afastasse, ostensivamente porque ele havia publicado críticas à sua Sociedade, mas talvez em um sentido mais profundo por causa de seu envolvimento crescente com MacGregor Mathers. Embora não pudesse haver objeção a um compromisso semelhante por parte de um membro comum, a Seção Esotérica estava em uma posição diferente e Yeats provavelmente teve que escolher entre isso e a Aurora Dourada. Ele foi iniciado na Isis-Urania no mesmo ano.

Os anos 1890 em Londres abrangem o período inicial (Simbolista) de sua obra literária; os próximos quinze anos ou mais, passados em grande parte na Irlanda, constituem seu período intermediário, ocupado em estabelecer o Teatro Literário Irlandês e encenar suas próprias peças e as de outras pessoas; ocupado também com o Movimento Nacionalista e a Academia Irlandesa. Seu último período, ao qual pertencem seus versos e dramas mais profundos e sua obra-prima em prosa, A Vision ("Uma Visão"), começou com seu casamento em 1917 com Georgie Hyde-Lees, uma garota jovem o suficiente para ser sua filha e que ele havia iniciado alguns anos antes na Stella Matutina. Eles viveram alternadamente na Inglaterra e na Irlanda, tiveram um filho e uma filha, e restauraram "minha torre"[108] - Thoor Ballylee, Co. Galway,

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um dos principais símbolos pessoais de Yeats. Ele foi rejuvenescido com sucesso por uma operação de Steinach[109], serviu como senador no Dail[110] (1922-28) e ganhou o Prêmio Nobel de Literatura (1923). Suas obras publicadas entre Mosada (1884) e o póstumo If I were Four and Twenty ("Se eu tivesse Vinte e Quatro Anos", 1940).

No n.o II das suas Monografias de Carfax, Kenneth e Steffi Grant dizem:

"Foi a Golden Dawn que ensinou Yeats a consolidar suas visões e a criar um veículo mágico que levaria sua ambição em direção ao nome e à fama."

Não apenas fama, pois ele conseguiu tirar um sustento da poesia, um dos poucos escritores modernos a ter conseguido isso - se não apenas dos versos, pelo menos das belas letras. Ele nunca se envolveu com jornalismo, nem mesmo jornalismo literário; e quanto a outras atividades periféricas, leu seus poemas em algumas ocasiões para a BBC e deu palestras nos EUA, mas não escreveu romances policiais ou outros trabalhos apressados, não fez resenhas de livros, não elaborou roteiros para filmes ou transmissões, não aceitou cargos acadêmicos. Sua poesia nunca foi fácil ou popular em estilo; se às vezes soava enganosamente simples, não era menos obscura tanto no tema básico quanto na alusão ilustrativa.

Um público de estudantes transatlânticos de pós-graduação dificilmente proporciona a um autor um salário que lhe permita viver: como diabos tal escrita vendia, mesmo sendo o trabalho do maior poeta contemporâneo que usa a língua inglesa? A façanha é tão extraordinária que se é tentado a procurar uma explicação mágica.

Apesar da mútua antipatia entre Yeats e Crowley, estranhos laços os uniam: como eu disse, eles são duas das poucas fontes de informações sobre a vida e o caráter de Mathers. Se Crowley não tivesse se colocado entre Yeats e Mathers, o Castelo dos Heróis no Lough Key (um lago da Irlanda) poderia ter se tornado realidade: entre as notas sobre assuntos celtas passadas para mim pela Sra. Weir estava a seguinte, escrita por Yeats — uma indicação da pesquisa que ele perseguiu durante os anos 1890 em companhia dos Mathers:

‘MacCuill foi morto por Eber na chegada das crianças de Mile e ele mesmo matou Lug.
MacCecht. Filho do arado. Ele era marido de Banoba,

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identificada com Cesaer do Livro de Ballemote, que fala dela tendo colonizado a Irlanda antes do dilúvio. MacCecht foi morto por Cherenn[?] na chegada das crianças de Mile. Rhys escreve “Nós lemos sobre esses Fomori de três cabeças de vasta voracidade, garantidos pelo valor de MacCecht, como reféns da corte de Conaire, que seus parentes não estragariam nem o milho nem o leite na Irlanda 'enquanto Conaire reinasse'." '

Muito em breve depois, o fato de Mathers ter depositado sua confiança em Crowley antagonizou Yeats, de modo que ele se tornou o espírito motivador no Cisma de 1900. Ele até suplantou Mathers na liderança de Isis-Urania por um curto período; seu panfleto, A R.R. et A.C.[111] vai permanecer uma Ordem de Magia real? expressa seu ponto de vista na época.

No entanto, tanto Yeats quanto Crowley confirmaram o papel central da magia em suas vidas; Yeats, em uma carta a John O'Leary (1892), diz sobre a magia: "Eu escolhi persistir em um estudo que decidi deliberadamente quatro ou cinco anos atrás fazer, ao lado da minha poesia, a busca mais importante da minha vida."

Assim como Rose para Crowley, Georgie para Yeats se tornou uma esposa "hermética", o primeiro relacionamento produzindo Liber Al, vel Legis por mediunidade de voz direta, o último fornecendo os roteiros automáticos em que Yeats baseou A Vision ("Uma Visão") — uma obra ainda pouco compreendida. Ambos refletiram a parceria oculta de Mathers e Moïna, através da qual os rituais e ensinamentos da Segunda Ordem foram obtidos. Mas em The Equinox, N.o III, Crowley dedicou um de seus artigos na série sobre Our Crapulous Contemporaries ("Nossos Contemporâneos Crápulas") a Yeats, The Shadowy DHL Waters ou Mr. Smudge the Medium ("Águas Sombrias de DHL ou Sr. Smudge, o Médium"), ecoando um título de Browning; é tão preconceituoso que se suspeita de um relacionamento amor-ódio[112]. Ele também o caricaturou como 'Will Bute' em um conto, At the Fork of the Roads ("Na Bifurcação das Estradas", The Equinox, N.o II).

Yeats possuía um magnetismo poderoso, mesmo na velhice; sua aura, de uma cor laranja queimada, era quase perceptível à visão física. Não acredito nos poucos excêntricos que dizem que não é o corpo dele que jaz no cemitério de Drumcliffe, Co. Sligo — sua emanação ainda permanece lá inconfundivelmente. É difícil desvencilhar seus dons estritamente mágicos de seus dotes poéticos; mas ele valorizava tanto o trabalho no templo que, quando se aliou à Ordem de Stella Matutina de Felkin, voltou ao início do sistema de graus e trabalhou novamente

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nele, e não rompeu sua conexão com ele por mais de vinte de oh criança terrívelseus anos mais ativos.

De Dr. Woodman, o erudito reservado e digno, a Crowley, oh criança terrível do ocultismo, existe algum fio conectando os filhos de Isis-Urania uns com os outros? Que a maioria tinha talento acima da média é evidente, alguns até merecem o nome de gênios. Vários foram indistintos durante os anos de escola e todos experimentaram as dificuldades psicológicas que em nossa civilização parecem inseparáveis do talento criativo, não importa como se manifestem. Um esboço das circunstâncias típicas de um 'membro da Aurora Dourada' pode ser esclarecedor:

  1. Perda de um ou ambos os pais em tenra idade e consequente complexo de órfão; exemplos: Allan Bennett, Aleister Crowley, Maude Gonne, MacGregor Mathers, A. E. Waite, W. Wynn Westcott.
  2. Vitalidade nervosa combinada com fraqueza física ou doença frequente: Crowley (na vida posterior), Maud Gonne, William Sharp, W. B. Yeats.
  3. Descendência celta ou parcialmente celta: Moïna Bergson, Maud Gonne, Yeats (irlandês); Mathers, Sharp (escocês); Jones (galês). Celtas por vontade: Bennett, Crowley.
  4. Indiferença ou inibição sexual: Bennett, Moïna Bergson, Annie Horniman, Mathers, Sharp.
  5. Ímpeto para viajar: Crowley (contínuo); Sharp, Yeats (invernando no exterior); Bennett, Florence Farr, os Mathers, os Felkins, Wynn Westcott (expatriação).
  6. Dificuldades financeiras: Bennett, Moïna Bergson, Crowley, Mathers, Sharp.

Outra característica marcante pode ser resumida na frase "Os Golden Dawners não procriam", um título apropriado para o seguinte dossiê sobre catorze dos mais conhecidos Isis-Uranianos. Neste, os termos "casamento" e "filhos" cobrem apenas o casamento legal e os filhos legítimos, não por um viés moralista, mas pela dificuldade de rastrear outras ligações e seus resultados:

No. Nome Casamentos Filhos Sexo
1 Allan Bennett
2 Moïna Bergson (Mathers) 1
3 Aleister Crowley 2 2 ♀︎ ♀︎
4 Florence Farr (Emery) 1
5 Robert W. Felkin 2 2 ♀︎ ♂︎
6 Maud Gonne (MacBride) 1 1 ♂︎
7 Annie E. F. Horniman
8 George C. Jones 1 4 ?
9 Gerald F. Kelly 1
10 S. L. MacGregor Mathers 1
11 William Sharp 1
12 Arthur E. Waite 2 1 ♀︎
13 W. Wynn Westcott 1 ? ?
14 William B. Yeats 1 2 ♀︎ ♂︎

Dos quatorze membros listados, dois nunca se casaram; sete se casaram, mas não tiveram filhos; dos doze que se casaram, apenas um teve mais de dois filhos, consideravelmente menos do que a média contemporânea. Houve doze filhos no total — não o suficiente para manter o número inicial de indivíduos — e entre eles havia duas vezes mais meninas do que meninos.

Os curiosos podem gostar de estudar o romance alegórico de Crowley, Moonchild, nem que seja pelas suas caricaturas difamatórias de membros da GD e A :.A:., assim como de personalidades mais geralmente conectadas com o cenário ocultista em Londres e Paris nos primeiros anos do século. A lista seguinte fornece uma chave para os mais importantes deles:

Abdul Bey = Veli Bey
Akbar Pasha = Elias Bey
‘Annie’ ou A.B. = Annie Besant
Edwin Arthwaite = Arthur Edward Waite
Miss Badger = Gwendolin Otter
Dr. Balloch = Dr. Edward W. Berridge
Blaustein = Sir William Rothenstein
Lord Anthony Bowling = O Honorável Everard Fielding
Mr. Butcher = H. Spencer Lewis
Sister Cybele = Leila Waddell
Gates = W. B. Yeats
Lisa la Giuffria = Mary d'Este Sturges
Cyril Grey = Aleister Crowley (jovem)

[p 178]

Simon Iff = Aleister Crowley (idoso)
Arnold King = Raymond Duncan
Lavinia King = Isadora Duncan
Douglas, Conde MacGregor de Glenlyon = S. L. MacGregor Mathers
Condessa MacGregor de Glenlyon = Moïna MacGregor Mathers
Monet Knott = Hener-Skene
Wake Morningside = Hereward Carrington
Condessa Mottich = Stanislawa Tomschyk (a Honorável Sra. Everard Fielding)
The Mahathera Phang = Allan Bennett
Dr. Victor Vesquit = Dr. W. Wynn Westcott





CAPITULO QUATORZE

[p 179]

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Dispersão Dissidente: de Ahathoor

Dissident Spread: from Ahathoor

Eu comparo Templos Regulares a descendentes legítimos e Templos Dissidentes a disseminação bastarda. (Para variar a imagem, os Regulares são tecido saudável e os Dissidentes um crescimento cancerígeno.) Por mais talentoso que o ilegítimo possa ser, ele está em desvantagem quando comparado aos irmãos legítimos, já que ele não herda automaticamente nem bens nem reconhecimento. Tal regra, quando aplicada a assuntos materiais, seria mais do que mera contestação legalista se derivasse de uma condição existente em assuntos supra-mundanos. Em questões esotéricas, não é que um candidato não deve receber o Mana[113] de seu iniciador, mas que ele não pode fazê-lo a menos que seja regularmente (ou seja, magicamente) concedido.

Embora Isis-Urania fosse o templo-mãe da Aurora Dourada para a Grã-Bretanha, foi Ahathoor, seu templo-filha em Paris, que deu origem à primeira dissidência organizada. Essa "neta" teve uma vida breve e desreputada na virada do século sob os acontecimentos relacionados a um Sr. Theo e Sra. Laura Horos, para usar um de seus muitos pseudônimos. Sua sede era em Rua Gower Street, 99 W.C., agora a sede da resvita The Spectator. Esse casal de aventureiros já havia infiltrado um Templo Aurora Dourada nos EUA, e assim conseguiram enganar Mathers em Paris. Em sua maneira impulsiva habitual, ele os aceitou como verdadeiros estudantes de ocultismo, ofereceu-lhes hospitalidade e emprestou-lhes documentos, incluindo rituais. Eles fugiram para Londres, onde usaram essa decoração furtada como cenário para sua Ordem da Unidade Teocrática[114], cujas práticas logo os levaram aos tribunais.

Na medida em que se pode ver, suas travessuras não tinham nenhuma pretensão ao Tantra, sendo nada mais oculto do que um meio de gratificação para Theo Horos, que precisava de garotas muito jovens. (Em 1901 ele tinha trinta e cinco anos


[p 180]

ORDERS DERIVING FROM ISIS-URANIA.png



[p 181]

e sua esposa cinquenta e dois.) Laura Horos, por sua vez, obtinha seus prazeres através do voyeurismo com uma inclinação lésbica e sádica; ambos pregavam o vegetarianismo, mas eram eles próprios comedores vorazes de carne. Cada um recebeu uma longa pena de prisão, ele por estupro e ela por ajudar e incentivar — mas não antes que os relatórios do jornal do caso rasgassem o véu de sigilo da Golden Dawn — sua primeira séria ruptura — e o escurecesse com ameaçadoras nuvens tóxicas.

Começando a vida em Kentucky como Edith Salomon, Laura Horos se casou pelo menos quatro vezes e ganhou a vida nas margens da cena oculta em vários países diferentes. Crowley, que não se impressionava facilmente com os dons dos outros, reconheceu os dela, particularmente seu poder de obsessão; ele também afirma que Theo, embora de compleição leve, às vezes podia exercer uma força preternatural, e que ambos praticavam uma espécie de vampirismo sexual. O Templo de Salomão, o Rei, em The Equinox, N.o III, dá uma descrição florida dos efeitos colaterais que produziram depois que Mathers enviou Crowley a Londres com a missão dupla de conter os rebeldes de Isis-Urania e desmascarar o casal Horos.

Seria dignificar "a Ordem da Unidade Teocrática" além de seus méritos compilar uma lista formal de membros, mas os seguintes são os Pessoas do Drama da desonrosa organização:

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Theodore Horus (Magus Sidera Regit) Alias: Frank Dutton Jackson
Sra. Laura Horos (Sapientia Doctoribus e
Swami Vive Ananda) Alias: Princessa

Editha Loleta, Condessa de Landsfeld,
Baronesa Rosenthal, Mme, Helena,
Angel Anna, Ann O’Delia,
Sra. Howes, Vera P. Ava

Mrs. Sara Adams
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Daisy Pollex Adams, 16 anos
Clifford Adams, 14 anos
suas crianças
Dr. Mary Evelyn (Rose) Adams
(Sapientia Ad Beneficiendum Hominibus)
Evaline Mary Maud (Vera) Croysdale
Laura Faulkner
Olga Rowson
Henry Bosanquet, ST
Sra. Annie Lewis (proprietária na Gower Street).

Os três primeiros eram os parceiros no esquema, o restante seus tolos em graus variados.

Havia pelo menos três Templos Regulares nos EUA, derivados de Ahathoor, a saber, Thoth-Hermes (Chicago), Ihme (Boston?) e Themis (Filadélfia?); estes provavelmente proliferaram em grupos dissidentes, embora nenhum notório ao ponto de 'Unidade Teocrática', e na ausência de informações exatas, eles não podem ser tabulados.


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II. DISSIDENT ORDERS DERIVING FROM ISIS-URANIA(2).png



[p 184]

Somente muitos anos mais tarde que Ahathoor deu origem (com um grau de separação) a outro dissidente, a Fraternidade (mais tarde, Sociedade) da Luz Interior. Em 1913, o Dr. Brodie-Innes, tendo feito as pazes com Mathers, estabeleceu uma Loja A:.O:. em Londres como uma espécie de ramo sul de seu templo Amen-Ra revivido em Edimburgo. Mais tarde, em 1919, quando Moïna havia retornado a Londres após a morte de seu marido, ela também criou uma Loja A:.O:., que funcionava separadamente da de Brodie-Innes. Violet Μ. Firth juntou-se primeiro à Loja de Brodie-Innes por cerca de um ano, depois à de Moïna por um período similar; esses dois, portanto, foram seus principais mentores mágicos.

Na Loja de Moïna, ela não havia avançado muito antes que ela e seu namorado da época, um estudante de ocultismo chamado Loveday, começassem a receber ‘comunicações’ por conta própria. O roteiro automático que mostraram a Moïna era o rascunho do que viria a se tornar The Cosmic Doctrine ("Doutrina Cósmica", 1930). Após considerá-lo, sua Chefe apontou que, por mais fascinante que fosse o conteúdo, ele não estava de acordo com o ensino da Aurora Dourada — um fato que pode ser verificado hoje comparando a Doutrina Cósmica com os documentos da Aurora Dourada publicados desde então. O conteúdo do primeiro é, em qualquer caso, quase inútil do ponto de vista esotérico: sua tentativa de atualizar as ideias ‘teosóficas’ pelo uso inadequado de jargão científico não é apenas desagradável, mas imediatamente o distingue do uso da Aurora Dourada. (Sou atraída pela aura de arcaísmo que é característica da GD, que vejo como uma resposta ao realismo socialista na literatura, ao design de arquitetura minimalista e impessoal, semelhante a caixas de criação, e ao pragmatismo excessivo no design em geral.) Qualquer que seja a fonte do roteiro, Moïna estava justificada em declará-lo incompatível com a A:.O:., cujo sistema era o da Aurora Dourada tradicional, baseado na Década Sefirótica — enquanto Doutrina Cósmica se inclina para os Doze Signos do Zodíaco.

Moïna deu aos dois entusiastas a escolha de deixar de lado suas revelações enquanto continuavam como seus estudantes ou deixar sua Loja para seguir seu caminho recém-descoberto. Eles escolheram o último e partiram: não deveria haver ressentimentos, pois a atitude de Moïna era razoável, de fato inevitável; mas Violet tinha esperança de ser aceita de uma vez como uma sibila e assumir a Loja ela mesma em pouco tempo. Ela não parece ter perdoado sua ex-Chefe, mas Ritual Magic in England ("Magia Ritual na Inglaterra") de Francis King exagera na campanha de difamação que ela teria empreendido, pois o relato da morte de Netta

[p 185]

Fornario, publicada em Psychic Self-Defence ("Autodefesa Psíquica", 1930), não tenta implicar Moïna.

Eu devo o relato correto da secessão de Violet aos dados fornecidos por Edward Garstin, que na época relevante, era ele próprio um membro da A:.O:. de Moïna. Ele ficou surpreso que 'Dion Fortune' — um pseudônimo que Violet derivou do seu lema da Ordem, Deo Non Fortuna — deveria ter sido capaz de se estabelecer como professora após pouco mais de um ano de estudo, durante o qual ela havia avançado apenas uma curta distância na escada dos graus. Ele pode não ter conhecido sua associação anterior com Brodie-Innes, em cuja Loja ela deve ter avançado um pouco antes de se pedir ingresso na Loja de Moïna. É uma característica enigmática das relações da A:.O:. que os membros de uma Loja nada sabiam das atividades, ou mesmo da existência, de outras Lojas. Eu nunca ouvi Edward mencionar a de Brodie-Innes ou a de Berridge, muito menos o Templo Cromlech. Ele insistiu, no entanto, que Dion Fortune possuía apenas uma leve perícia mágica no momento de sua partida; e ele tinha uma opinião ruim da Fraternidade da Luz Interior (Inner Light), que ela fundou logo depois. A conta de Edward difere daquela publicada por Francis King, que, suponho eu, se baseia em informações atuais na Luz Interior (Inner Light), da qual ele foi membro por algum tempo; e isso é provável que seja tendencioso a favor de Dion Fortune.

Loveday havia partido com ela e presumivelmente se juntou à Fraternidade — a menos que tenha sido deslocado pelo casamento subsequente de Violet com o Dr. Penry Evans? Sempre presumi que esse jovem, cujo primeiro nome nunca ouvi, não fosse o 'Raoul' Loveday da notoriedade Thelêmica, mas agora estou menos certa; ele não poderia ter casado com Betty May como reação a Dion Fortune? Quando ele conheceu Crowley, já havia estudado magia por dois ou três anos.

A saída de Dion Fortune repetiu deserções anteriores, pois foi causada por uma crise de autoridade e, em última análise, um desacordo sobre a natureza dos Chefes Secretos. Sobre a identidade de seu 'comunicador', um dos panfletos da Fraternidade da Luz Interior diz:

'A personalidade de sua última encarnação é conhecida, mas não revelada — ... era a de um filósofo e professor mundialmente famoso?

(Como caíram os poderosos!) Suspeito que um dos doze

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últimos Mestres da ST seja responsável — Hilarion, Serapis, Rakoczi, et hoc genus omne. O folheto afirma, corretamente, que a "Luz Interior" foi fundada em 1922, mas sustenta que as "Comunicações" para a "Doutrina Cósmica" foram recebidas por Dion Fortune em 1923-24. Isso é impreciso, já que ela fundou a "Luz Interior" por causa das 'Comunicações', que, portanto, devem ter ocorrido antes dela e foram, de fato, recebidas enquanto ela ainda estava estudando com Moina.

Como Dion Fortune era membro da Sociedade Teosófica, a origem da "Luz Interior" também devia algo a esta organização, bem como à Aurora Dourada. Uma Ordem secundária associada à "Luz Interior" era chamada de The Guild of the Master Jesus ("A Guilda do Mestre Jesus") ― sem dúvida o Mestre mencionado aqui é outro dos doze teosóficos posteriores e não o Jesus dos Evangelhos Cristãos - e parecia ter uma base no Cristianismo Gnóstico, aceito (por um fio) na TS. Em 1934, sob os auspícios da Guilda, uma série de palestras foi ministrada na sede da "Luz Interior" por Col. C. R. F. Seymour, que era membro da "Luz Interior", mas também estava intimamente associado à Loja Hermes da Stella Matutina em Bristol. A julgar pelo programa, tratava-se principalmente da Gnose pré-cristã, com uma visão crítica do culto cristão ortodoxo. Cerca de vinte anos depois, quando eu estava fazendo o curso por correspondência da "Luz Interior", não se ouvia falar dessa Guilda, que supostamente tinha sido dissolvida ou se tornado inativa.

Como muitos líderes de grupos esotéricos, Dion Fortune sentiu a necessidade de um refúgio no campo. Por volta de 1930, ela escolheu um em Glastonbury, um terreno inclinado ao pé do Tor e em frente à propriedade de Chalice Well. Ela construiu vários bangalôs do tipo de estrutura temporária, e um deles foi uma vez mobiliado como um Templo — embora até que ponto foi adequado, é questionável. Quando visitei o local em meados da década de 1950, certamente não estava sendo usado como tal; espiando por uma fresta em uma janela com cortinas, pude ver que ela estava abarrotada de lixo de todos os tipos. Era mantido trancado e parecia ser muito pequeno para trabalhos rituais — talvez nunca tenha sido mais do que um misto de oratório e meditação.

Um bangalô maior era administrado como uma pousada improvisada por um casal idoso, Mary Gilchrist e seu "Tio Robbie", mas infestada de pulgas devido ao seu cachorro e gatos. A sobrinha e o tio eram membros da "Luz Interior", mas pelo que percebi, não eram bem vistos na sede principal. A Srta.

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Gilchrist sofria de diarreia verbal; ela se formou como médium de transe em uma igreja 'Espiritualista'. No mesmo jardim-pomar, havia uma ou duas outras cabanas naquela época alugadas a não membros — embora isso fosse contrário à ideia original. Agora, a casa de hóspedes era raramente usada pelos membros, mesmo por períodos breves. Após a morte da Srta. Gilchrist e do 'Tio', a propriedade foi vendida e já não está mais na posse da Sociedade da Luz Interior, mas é ocupada por um devoto da Arcane School ("Escola Arcana") de Alice A. Bailey. O local do assentamento era agradável, mas de alguma forma sua atmosfera não era.

Até o final da década de 1950, a sede original de Dion Fortune foi mantida na Rua Queensborough Terrace, 3 W.2 Londres, conhecida pelos membros como 3 Q.T. [115]). Esta era uma casa grande, parte dela alugada como quartos mobiliados para devotos da Luz Interior. Estes eram frequentemente realocados por ordem do Guardião, mas apesar dessa desvantagem, era considerado um privilégio ser permitido alugá-los. Eu penetrei apenas nos cômodos mais ou menos públicos: o térreo da frente abrigava a biblioteca, da qual havia uma seção interna operando a censura usual do bibliotecário. Seu catálogo trazia um aviso:

'A Fraternidade da Luz Interior não tem nenhuma conexão com Crowley, nem endossa seus métodos. No entanto, adquiriu seus livros por seu valor aos estudantes. Os leitores devem notar que muitas das fórmulas em Magick foram alteradas e são adversas.'

Tendo em vista certas anedotas sobre Dion Fortune que Crowley transmitiu verbalmente a seus íntimos, a nota acima intriga.

O térreo dos fundos abrigava o escritório; o quarto onde o Sr. Chichester me entrevistou estava no andar de cima e parecia completamente sem caráter. O grande salão da frente, outrora usado para palestras, provavelmente fora adaptado para a celebração do que eram chamados os Mistérios Menores; outro, no topo da casa, era usado para os Mistérios Maiores; e havia um ‘Temple of the Holy Graal("Templo do Santo Graal"), que pode ter sido idêntico a este. Não tenho detalhes e o que escrevo sobre isso é de ouvir dizer; mas as impressões atmosféricas das partes da casa que vi pareceram-me úmidas — ao mesmo tempo frias e abafadas, com o abafamento predominando no térreo — havia

[p 188]

também um porão — e frio na sala usada para entrevistas. Eu não havia notado tal falta de apelo quando assisti à palestra de Dion Fortune muito antes — o que teria acontecido desde então?

Quando o iniciado da "Luz Interior" alcançava um certo grau, três linhas de desenvolvimento estavam abertas à sua escolha: a Cristã (Devocional), a Hermética (Intelectual Oculta) e a Órfica (Natureza-Mística) — todas as três sendo apresentadas como aspectos de uma Tradição Esotérica Ocidental. (Ou pelo menos é o que diz o panfleto, embora eu duvide que as coisas tenham sido tão formais assim, mesmo na época de Dion Fortune.) Dos três caminhos, o primeiro poderia facilmente degenerar em religiosidade sentimental, enquanto o segundo tenderia a ser desafinado devido ao choque inerente na compreensão de Dion Fortune da tradição hermética — com suas referências à Grande Loja Branca misturadas com a Cabala. O terceiro era o mais interessante: tenho motivos para acreditar que a Sociedade, ou alguns de seus membros, coletou material valioso sobre a localização de leys[116], correntes terrestres e centros de força telúricos — estes últimos, equivalentes aos marmas do esoterismo hindu.

Na década de 1950, embora as palestras públicas não fossem mais realizadas, o trabalho da Sociedade foi relatado como em expansão — presumivelmente, por meio de seu curso por correspondência. Os iniciados eram incentivados a experimentar outros caminhos esotéricos — Subud[117], Cientologia e a Escola Arcana[118] com seu professor ‘Tibetano’ — o que sugere que seus líderes falharam em encontrar a Chave dos Mistérios em seu próprio sistema e estavam procurando em outros lugares. Do último grupo mencionado, só vou comentar que os tibetanos eram budistas Mahayana, mas o guru da Escola Arcana não ensina o budismo de qualquer tipo.

Já no final da década, a sede em 3 Q.T. foi transferida para Estrada Steele 38, N.W.3. Desde então, as atividades da Sociedade parecem ter se retraído: em meados da década de 1960, até mesmo a biblioteca foi dispersa. Entendo que agora apenas o aspecto cristão do ensino da Sociedade é enfatizado, e os aspectos herméticos e órficos foram gradualmente abandonados. Uma pessoa se pergunta agora (como sempre) o que isso significa em termos de cristianismo: que tornou-se uma dependente ecumênica da Igreja Católica Romana, ou é influenciada por uma das Igrejas "Bispos-Independentes" em alguma tradição gnóstica, ou apenas distribui devaneios "devocionais"? O último, eu suspeito. Como Francis King observa, dois pequenos grupos, ambos em reação contra

[p 189]

essas tendências, recentemente se separaram; ambos são, claro, dissidentes no sentido técnico, embora tentem restabelecer o ensino genuíno.

Aqueles na lista a seguir foram todos membros da "Luz Interior" em algum momento, embora muitos não sejam mais. Os cargos ocupados por certos membros no início da década de 1950 estão registrados:

Ernest Bell
W. E. Butler
Christine Campbell Thomson — Sra.
Hartley
A. Chichester (Guardião)
Mrs. Barbara Collins
W. A. Creasy (Tesoureiro)
Dr. Penry Evans
Violet Mary Firth—Mrs. Evans,
‘Dion Fortune’
Mary Gilchrist
Chaves.png

Rupert Gleadow
Mrs. Helen Gleadow
Gerald Gough (Bibliotecário)
Rev. Peter Graham
William G. Gray

Francis X. King
(Srta.) G. P. Lathbury (Secretária)
Mrs. N. Lewis-Hall
(Frederick Charles, ‘Raoul’?)
Loveday
R. H. Mallock (Diretor de Estudos)
Mrs. Julia Musters
Frances Perry (não a locutora!)
Kathleen Raine
Margaret Saul
Col. C. R. F. Seymour
Mrs. Patricia Turner ‘Tio Robbie’
Basil Wilby, ‘Gareth Knight’
David Wood

O capítulo sobre Dion Fortune em o Renascer da Magia de Kenneth Grant faz a estrutura da "Luz Interior" parecer mais emocionante do que qualquer impressão que recebi dela. Sem dúvida, nunca se recuperou completamente após a morte de sua fundadora; durante sua vida, manteve pelo menos um eco do saber iniciático.



CAPITULO QUINZE

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Dispersão Dissidente: de Isis-Urania (1)

Dissident Spread: from Isis-Urania (1)

Assim como no caso de Ahathoor, as fissões de Isis-Urania ocorreram através de várias atitudes incompatíveis em relação à autoridade. Se aceitarmos o que Wynn Westcott relata, a primeira cisão ocorreu quando Isis-Urania se desligou do Templo Alemão, Licht, Liebe und Leben ("Luz, Amor e Vida"). Após a morte de sua Imperatrix Fraülein Sprengel, seus colegas remanescentes disseram à Isis-Urania para ficarem por conta própria e, se necessitasse de mais conhecimento, para criar seu próprio link com os Chefes Secretos.

Isso MacGregor Mathers, que já estava em contato com adeptos Continentais, prosseguiu fazendo — com a ajuda indispensável da clarividência de Moïna. Dr. Woodman morreu, e após alguns anos Wynn Westcott retirou-se; por que as lacunas que deixaram na Tríade original não foram preenchidas? Provavelmente porque não havia ninguém de estatura adequada para preenchê-las; mas o fato de que Mathers governava sozinho irritou certos membros que, motivados por ciúmes ocultos, estavam indispostos a aceitar a ideia de que sua liderança se baseava em contatos supra-físicos.

A Ordem da Stella Matutina (Estrela da Manhã) foi adotada como um título para cobrir todos aqueles membros da Golden Dawn que se separaram de Mathers no Cisma de 1900. A maioria deles veio de Isis Urania, mas havia alguns de Amen-Ra, notavelmente o próprio Brodie-Innes, que por anos jogou um jogo duplo com Mathers. Na Biblioteca Nacional da Irlanda, MS 13574 & 5, uma nota em sua caligrafia e assinada com seu lema, Sub Spe, é datada de 1 de julho de 1900. Aqui ele relata favoravelmente sobre duas candidatas mulheres para a Stella Matutina, usando esse nome ao recomendar que certos elementos nas auras

[p 191]

(ou esferas-de-sensação) de Sorores Ferendo Et Sperando e Ultra Aspicio devem ser estabelecidos e fortalecidos. A julgar por essa data, a Stella Matutina é a mais antiga das Ordens dissidentes, exceto a notória "Unidade Teocrática".

No início, sua liderança era variável e confusa: em um ponto, Brodie-Innes, Marcus Worsley Blackden e Percy Bullock formaram a Tríade governante; foi o Dr. Felkin, um organizador capaz e enérgico, que deu um passo à frente para tomar o lugar de Bullock quando ele se afastou. A partir de então, Felkin permaneceu a maior influência na Loja Mater da Ordem em Londres, que foi dedicada a Amoun e produziu várias ramificações posteriormente. A Stella Matutina era, apesar de todas as suas extravagâncias, a mais próxima dos Dissidentes à Golden Dawn de Mathers; embora estivesse desprovida de muito significado mágico, o fato de que reteve até mesmo alguns elementos tradicionais foi devido principalmente a Felkin. Tais elementos foram deliberadamente abandonados por Waite quando ele liderou seu próprio círculo para formar a Holy Order of the Golden Dawn ("Ordem Sagrada da Aurora Dourada").

Felkin lutou por anos para estabelecer uma ligação com os Chefes Secretos: se ele fez isso ou não é discutível. Na opinião de Francis King, os famosos "Rosacruzes" que os Felkins conheceram na Alemanha e na Áustria eram aqueles membros da O.T.O. que John Symonds apelidou de Sauerkraut-und-wurst adepten ("Adeptos de chucrute e salsicha"). Ellie Howe prefere identificá-los com algum corpo quase maçônico, como o Rito de Memphis e Misraim; mas quem quer que fossem, certamente não eram aqueles com quem Mathers entrou em contato, nem aqueles ainda mais exaltados, dos quais ele tinha conhecimento.

A seguir está uma seleção de membros de Amoun:

Julian L. Baker (Causa Scientiae) Dr. Robert W. Felkin (Finem Respisce)
Marcus Worsley Blackden (Ma Wahanu Thesi and Caritas Nunquam Incidit) Mrs. Ethel Felkin (Quaero Lucem)

(Miss) E. Felkin (Quaero Altíssima)

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Dr. John W. Brodie-Innes (Sub Spe)

Mrs. P. A. Brodie-Innes (Sub Hoc Signo Vinces)

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Percy Bullock (Levavi Oculos)

Mrs. Pamela Bullock (Shemeker) Herbert Burrows

Laurence Felkin (N.N.)

Annie E. F. Homiman (Fortiter Et Recte) W. E. H. Humphrys (Gnothi Seauton)

Georgie Hyde-Lees — Mrs. W. B. Yeats

Neville Meakin (Ex Oriente Lux and Shemseddin)Kate Moffat (Servio Liberaliter)

Edith Nesbit—Mrs. H. Bland; Mrs. T. T. Tucker

Sra. Helen Rand (Vigilate)

Rev. William Reason (Semper Sperans)

Christina Mary Stoddart (Het-ta, II Faut Chercher e 'Inquire Within')

Robert Palmer Thomas (Lucem Spero)

Chaves.png
Dr. George Carnegie Dickson (Fortes Fortuna luvat)

Sra. Edith Carnegie Dickson

(Srta.) Childers (Quis Seperabit ?)

John Hugh Elliott (Nobis Est Victoria) Florence Farr (Sapientia Sapienti Dono Data)

Rev. F. N. Heazell (Evocatus Paratus)

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Arthur Edward Waite (Sacrementum Regis)

Baron C. A. Walleen

Francis Wright (Mens Conscia Recte)

William B. Yeats (Daemon Est Deus Inversus)

Soror Ferendo Et Sperando

Soror Ultra Aspicio


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Em vista de rumores sobre um contingente Fabiano que veio, brevemente, para a Stella Matutina, os nomes de G. B. Shaw, sua esposa Charlotte e H. G. Wells poderiam ser acrescentados, aos de Herbert Burrows e Edith Nesbit, que também eram Fabianos[119]. Sem mais dados, não serei definitiva sobre a filiação das celebridades anteriores, exceto para notar que a Sra. Shaw sempre se interessou pelo oculto, e que antes de 1905 Wells passou por uma fase de escrever contos, como The Door in the Wall ("A Porta na Parede"), que estão na linha da tradição Aurora Dourada. Também acho que William T. Horton pode ter seguido Yeats para a SM, trazendo Audrey Locke (Nefer-ari Isi-nofer) com ele.

Em uma visita à Nova Zelândia em 1912, Felkin e sua família (ele havia se casado uma segunda vez) fundaram a Loja Smaragdum Thalasses[120], N.o 37. (Não consigo entender como ele chegou à numeração das filiais da Amoun - certamente não havia 36 delas anteriormente, a menos que ele as contasse como pertencentes a alguma sucessão Maçônica Continental?) O fato de que a Sra. Hope Hughes e sua irmã, a Sra. Millicent Mackenzie - que foi a primeira Imperatriz da Loja Hermes - eram neozelandesas pode tê-lo levado às Antípodas como solo fértil para sua empreitada missionária. Hope e seu marido Donald visitaram a Ilha do Norte durante um tour pelo mundo em 1950-51, fazendo contato com Smaragdum Thalasses que ainda estava ativa na época. Ela persistiu sob a direção da Sra. Felkin em Whare-ra, Havelock North, até os anos 1960; presumo que tenha sido encerrada após sua morte.

No início, os fundadores estavam usando novos lemas, talvez presumidos para marcar os altos graus supostamente conferidos a eles na Alemanha. A seguir está uma indicação da filiação:

R. W. Felkin (Aur Mem Mearab

Mrs. Ethel Felkin (Maim Chioth V. H. Fratres (Piscator Hominum) (Kiora)

=

= =

Luz-Água-Oeste?)

Aguas Vivas, ou Águas da Vida?) Maria a Pastora?)



[p 192]

Diagram of Celtic Divinities by Mathers.png




Diagram of the Tree of Life fo the Celtic Pantheon by W. B. Yeats.png



[p 193]

A família Felkin retornou à Europa e retomou sua busca pelos Chefes Secretos, interrompida pelo surto da guerra de 1914. Seus sentimentos pró-alemães podem tê-los colocado fora de sintonia com seu ambiente e em 1916 eles retornaram à Nova Zelândia e se estabeleceram lá permanentemente. Antes de deixar a Grã-Bretanha, Felkin fundou mais três templos-filha — Hermes N.o 28, em Bristol; The Secret College in London ("Colégio Secreto em Londres"), aberto apenas para os iniciados S.R.I.A.; e Merlin, também em Londres, que tinha um número de membros Antroposóficos. Também absorveu alguns, como o Coronel Webber Smith, que pertencera à "Ordem Sagrada" de Waite, desfeita um ou dois anos antes. Foi afirmado que Felkin também estabeleceu uma Loja SM na Austrália, mas acho que isso é uma leitura errada para Australásia (ou seja, Nova Zelândia) já que um membro na Hermes me disse que havia cinco Lojas na época de maior expansão e esse número já está contabilizado.

Algumas notas sobre pessoas que pertenceram em vários momentos à Loja Hermes podem ser interessantes. O romancista Denis Wheatley, em um Prefácio para The Black Art ("A Arte Negra", 1936) de Rollo Ahmed, diz que este autor muito viajado, descrito variadamente como egípcio ou do Caribe, "sentou-se aos pés de magos brancos". Estes eram seus Superiores em Hermes, embora Wheatley não diga isso; no entanto, ele reconhece que deve a Ahmed as informações técnicas usadas em seu suspense, The Devil Rides Out ("O Diabo Cavalga"). Nos anos 1950, o Sr. Ahmed estava dirigindo seu próprio grupo em Brighton, mas não se sabe quão fielmente ele se manteve à tradição da Aurora Dourada.

Através de sua filiação à Loja Hermes nos anos 1930, Israel Regardie obteve os documentos que ele publicou como The Golden Dawn ("A Aurora Dourada", 1946), embora ele próprio não tenha revelado o nome de sua Loja. O material foi passado a ele no decorrer de seus estudos por Catherine Hughes, irmã de Donald, que era então Imperator, e por Hope, que também era uma dos três Chefes. Não será preciso dizer que os membros de Hermes ficaram escandalizados quando ele começou a publicá-lo; mas naquela época ele havia deixado a Ordem e estava morando nos EUA, então eles não fizeram nada a respeito. Edward Garstin, que era meticuloso sobre o juramento de sigilo, ficou quase igualmente perturbado — embora o de Regardie não fosse a primeira revelação deliberada e extensa sobre a Aurora Dourada, já que Crowley havia começado o processo de "contar tudo" em 1909. Essas publicações anteriores haviam

[p 194]

alcançado apenas um círculo restrito: com Regardie, um público muito mais amplo foi alertado. De fato, o que hoje é chamado de "Renascimento Mágico" deve-se em grande parte à sua disseminação do material da Aurora Dourada.

Antes de se convencer de que estava justificado em assim quebrar sua Obrigação, ele passou por uma busca considerável no coração. Pode ser preferível que a Magia da Luz seja estudada e praticada, mesmo sob condições menos que ideais, do que seja perdida ou destruída por negligência, malícia ou intromissão. Seja como for, o fato de alguns anos atrás Regardie ter sido roubado de todo o seu material oculto foi inevitavelmente visto por algumas pessoas como justiça poética. De fato, de um certo ângulo, ele mesmo o vê assim, como ele me diz. Da serenidade de uma compreensão madura, ele também o vê como marcando o encerramento de um período de sua vida e a abertura de outro.

Em 1956, a Loja Hermes, embora supostamente adormecida, iniciou um certo Jack Monro. Ele estava ganhando a vida em um emprego em tempo integral e logo se envolveu em trabalhar para a República Mondeivitan de Dr. Hugh Schonfield, embora fosse claro que, em seu lazer restrito, ele não tinha tempo para se dedicar a isso e também aos estudos esotéricos. John Hall, que então estava no comando, deu-lhe a escolha de se concentrar em um ou outro, e ele escolheu os World Citizens[121]. A egrégora do Hermes parece ter sentido sua deserção como um golpe sério, e desde então a Loja perdeu o ânimo; seus iniciados mais avançados estavam envelhecendo, mas falharam em preparar seguidores mais jovens para ocupar o seu lugar. Pelo que sei, a candidatura de Jack Monro foi a última que eles aceitaram; as atividades diminuíram, embora reuniões ocasionais tenham ocorrido nos anos recentes e talvez ainda ocorram.

Minha última informação sobre sua organização era que a Tríade governante consistia no falecido Donald Hughes, um pintor e viúvo de Hope Hughes, que havia sido um ex-Imperator; Sra. Bingham-Hall, uma trabalhadora incansável para o St. John’s Ambulance[122]; e Sra. Carnegie Dickson, viúva de um ex-Chefe de Amoun. Ela morava nos arredores de Londres ― nem todos os membros moravam ou mesmo perto de Bristol — e era a chefe do Templo Cromlech ao mesmo tempo. O foco do Hermes nos últimos dias parece ter sido no trabalho social - Donald fazia visitas prisionais: o ritual estava em abandono, embora houvesse uma Segunda Ordem e, portanto, uma Cripta.

[p 195]

(Quão diferente da época em que Yeats costumava ficar com "meus Cabalistas" — Hope e Donald!) Qualquer estudo que fosse realizado era fortemente influenciado pela Antroposofia e também pelos escritos de Anna Kingsford.

A Sra. Lucy Bruce morava em Edimburgo e pertencia tanto a Hermes quanto ao Templo Cromlech. Eu acho que ela deve ter tido alguma conexão com Brodie-Innes, já que ela me disse que havia aprendido fórmulas de exorcismo e proteção, mencionando a Aurora Dourada em vez da SM; mas como membro devota da Igreja (Episcopal) da Escócia, ela estava sempre mais sintonizada com a tradição mística do que a hermética. Minha impressão é que a maioria dos adeptos do Templo Cromlech, ou Ordem Solar como era chamada exteriormente, mantinha algum tipo de lealdade eclesiástica, mesmo que apenas incentivando membros do clero a se juntarem a eles.

A Sra. Bruce construiu uma casa à beira-mar na ilha de Iona, onde costumava passar o verão e onde eu a visitei. Um quarto foi reservado como seu santuário ou oratório pessoal — era quase pequeno demais para rituais em grupo, embora houvesse duas ou três cadeiras para meditação. Os móveis eram escassos e apenas vagamente lembravam a tradição da Aurora Dourada: havia um cálice e alguns pedaços de rocha no altar duplo-cúbico. Acima disso, estava suspensa uma espada nua, com a ponta para baixo — talvez um eco da Caliburn[123]. A umidade e o frio das Hébridas[124] enferrujaram a lâmina; a janela estava aberta, e não havia tentativa de manter o local à prova de intempéries. Ela não acendeu nenhum incenso para a nossa meditação, pois estávamos cercados por paredes lavadas na cor verde-mar: tive a impressão de entidades elementares que ela tentou em vão humanizar. Agora ela também cruzou para a Apple-blossom Island[125].

A Loja Hermes chamou a atenção recentemente quando Francis King afirmou que um pequeno grupo se separou dela por volta de 1930 sob a dedicação a Hermanoubis. Isso, por sua vez, deu origem a uma Loja em Londres, uma nova Isis-Urania em 1959, os patronos do templo sendo escolhidos para perpetuar a tradição Aurora Dourada inicial e enfatizar um retorno à ortodoxia total no ensino e ritual. De acordo com declarações publicadas, essas Lojas ainda estão em funcionamento; no entanto, pessoas no cenário oculto de Bristol contam uma história diferente, insistindo que Hermanoubis estava dormente por 1939, não foi revivido desde então e não tem ramificações reconhecidas. Não posso julgar entre essas duas versãos

[p 196]

e só vou acrescentar que minhas próprias tentativas de entrar em contato com Hermanoubis não levaram a lugar algum.

A maioria dos seguintes nomes de membros me foi dada por iniciados Hermes:

Rollo Ahmed

Sra. Bingham-Hall

Sra. Lucy H. M. Bruce

Chaves.png
Dr. George Carnegie Dickson (Fortes Fortuna luvat)

Sra. Edith Carnegie Dickson

W. J. Ellis (Fiat Lux)

Margaret Frodsham

Helen Graham

John W. Hall

Sra. Majorie Hall

Olive Harcourt Joe Harris

G. L. Harrison
Chaves.png
Ronald Huckman

Sra. Josephine Huckman

Catherine E. Hughes (Lux Orta Est)
Chaves.png
Donald Hughes (R.D.C. ?)

Sra. Hope Hughes (Spes)

Sra. Laura Lomas

Coronel Richard Longland (?)

Sra. Millicent Mackenzie (Magna Est Veritas)

John D. Monro Israel Regardie (Ad Maiorem Adonai Gloriam)

Chaves.png
Dr. Rixon (Labor)

Sra. Elsie M. Rixon (Amice)
Muriel Rixon
Shelia Rixon—Sra. Joe Harris (Shor)

Ada Severs (Benedicamus Deo)
Coronel C. R. F. Seymour

The Secret College in London ("O Colégio Secreto em Londres"), a terceira Loja-filha de Felkin, estava aberta aos iniciados da S.R.I.A., e os seguintes foram seus primeiros Oficiais:

Dr. W. Hammond (Pro Rege Et Patria)
Dr. George Carnegie Dickson (Fortes Fortuna luvat)
A. Cadburty Jones (Faire Sans Dire)

A quarta Loja era Merlin, para a qual vários adeptos de Waite passaram na dissolução de sua "Ordem Sagrada da A.D." - ele manteve o nome Isis-Urania, embora não a sua natureza. Presumivelmente, alguns dos móveis do templo que Waite vinha usando também foram repassados para Merlin. A seguinte é uma lista curta de membros:

Peter Birchall (Cephas)

H. Collison Sra. Rand (Vigilate) (Sr.) Sandrieux

Coronel Webber Smith (Non Sine Numine)

Sra. Weber Smith Soror Benedic Anima Mea Domino

[p 197]

Ao mesmo tempo em que estabeleceu esses três templos-filha, Felkin inaugurou uma Ordem paralela, a Guilda de São Rafael, que ele começou com a cooperação de vários clérigos e leigos que desejavam praticar a cura espiritual: na tradição da Aurora Dourada (e Hebraica), Rafael é o Arcanjo da Cura. Este grupo foi aceito pela Igreja Anglicana como uma de suas Guildas, aberta apenas aos seus próprios comunicantes, e como tal ainda está ativa hoje. Oferece um Rito de Exorcismo a candidatos adequados e atualmente há alguma demanda por isso nos círculos anglicanos. No informativo St. Raphael Quarterly ("São Rafael Trimesral") de fevereiro de 1956, um artigo pelo (então) sub-diretora e correspondências de membros afirmam que, na sua concepção, este rito foi operado de um apartamento em Bramham Gardens, W.6, pertencente a uma Srta. Caroline Amy Bigge, que foi sua primeira Secretária Honorária. Presumivelmente, ela era um membro da SM inspirada por Felkin, que representava o lado "oculto" da paternidade da Guilda - assim como o Cânon Roseveare, seu primeiro Vigilante, e o Rev. A. P. Gutch representaram o lado da Igreja da Inglaterra. Outros primeiros membros foram Dr. Crafer, J. R. Pridie, o Rev. J. C. Fitzgerald ― um ex-Padre Mirfield - L. D. Prince e Arthur W. Hopkinson, escritor de uma carta na correspondência acima. Se alguns destes pertenciam a SM, não se ouve nenhum sussurro do fato no Quarterly: aqui está a mesma reticência que marca as biografias de Rudolph Steiner e as histórias do Movimento Antroposófico. Você procurará em vão entre seus seguidores o reconhecimento de sua antiga Grão-Mestria da O.T.O. na Áustria, ou mesmo de sua bem conhecida Presidência do ramo alemão da ST, embora ele mesmo admitisse ambos, ainda que relutantemente.

A Hermetic Order of the Sacred Word[126] apareceu recentemente em Londres, alegando descendência da Stella Matutina; supor-se-ia que teria vindo através de Merlin, mas isso foi negado. A única alternativa restante é que seja derivada de restantes dispersos de Amoun ― se de fato sua afiliação a SM é genuína. Seu espírito guia era um Doutor em Música chamado Roger Hunt, que esteve uma vez estreitamente ligado à dissidente Ordem Bárdica e Druida, com vários adeptos pertencendo a ambas as organizações. A Sacred Word se reunia nas instalações da Bardic and Druid Order e usava o mesmo tipo de veste e adereço de cabeça. Teve uma carreira instável com várias reviravoltas e mudanças de liderança, durante as quais mudou seu nome para Order of the Light and of the Darkness ("Ordem da Luz e das Trevas").

[p 198]

Ela rompeu relações com a Ordem Bárdica e Druida, sendo ela mesma dissidente da A.D.U.B., e então ensaiou um retorno à fonte, amalgamando-se com a A.D.U.B. sob comando do Dr. Thomas Maughan. Esta aliança foi de curta duração e entendo que a escuridão agora superou a luz.



CAPITULO DEZESSEIS

[p 199]

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Dissidentes: de Isis-Urania (2)

Dissident Spread: from Isis-Urania (2)

Se Brodie-Innes estava usando o título de Stella Matutina já em 1900, e Waite não deixou Felkin e Brodie-Innes até 1903, então Waite também foi um membro da SM por um ano ou dois. Depois disso, ele levou seus amigos particulares a formar com ele o que chamou de a "Holy Order of the Golden Dawn" ("Ordem Sagrada da Aurora Dourada"), mantendo também o nome de Isis-Urania para sua principal, ou única, Loja - mesmo que o Dr. Berridge já tivesse estabelecido um (leal) Templo Isis .

Uma vez independente, Waite reescreveu os rituais, podando o máximo possível de elementos mágicos, banindo os Deuses dos egípcios e introduzindo uma atmosfera mais 'cristã'. Embora ele tenha mantido parte do ensino Qabalístico, pouco do poder original permaneceu. No entanto, seus seguidores não estavam principalmente interessados em manipular o poder, e sua versão diluída evidentemente os agradava, já que continuaram amigavelmente até 1912, quando o Dr. Rudolph Steiner fez sua primeira aparição em Londres. Este evento provou ser tão perturbador para muitos que dois ou três anos depois, Waite dissolveu a Ordem; e logo depois a Loja Merlin de Felkin forneceu refúgio para alguns deles. Felkin foi profundamente influenciado por Steiner e tinha objeção em combinar a cerimônia da Aurora Dourada com os estudos de Steiner. (Steiner já havia abandonado seu trabalho ritualístico Antroposófico - Ο.T.Ο., Rito de Memphis e Misraim ou qualquer que tenha sido sua base.)

A seguir está uma indicação dos membros que compunham a empreitada anterior de Waite (1903):

Chaves.png
Rev. William A. Ayton (Virtute Orta Occident Rarius)

Sra. Anne Ayton (Quam Potero Adjutabo)

Marcus Worsley Blackden (Caritas Nunquam Incidit)

Algernon Blackwood (Umbram Fugat Veritas)

[p 200]

Pamela Coleman Smith

H. Collison

Arthur Machen (Filius Aquarii)

(Srta) Maryon

Sra. Helen Rand (Vigilate)

Robert Palmer Thomas (Lucem Spero)

(Sr.) Sandrieux

Evelyn Underhill - Sra. Stuart Moore

Chaves.png
Col. Webber Smith (Non Sine Numine)

Mrs. Webber Smith

Eileen Webber Smith-Mrs. Williams
A. E. Waite (Sacramentum Regis)
Charles W. S. Williams(?)
Frater Christophoron
Soror Hilaria

Marcus Blackden substituiu seu primeiro mote (egípcio) pelo Latim e Arthur Machen mudou o seu de Avallaunius. Evelyn Underhill, que era amiga de Machen, deve algumas das percepções em seu romance, A Column of Dust ("Uma coluna de poeira", 1908), às suas experiências neste período. Por sua vez, Charles Williams deveu muito a ela pela estrutura de seus próprios romances esotéricos, que são muito mais conhecidos, embora ele possa não ter se tornado um discípulo de Waite até muito tempo depois dela ter se retirado.

Nem todos os devotos de Waite eram da persuasão Steiner[127]: aqueles com uma inclinação Neoplatônica se desdobraram como The Shrine of Wisdom ("O Santuário da Sabedoria"), com sede em Hermon Hill, Norte de Londres. Eles fizeram um trabalho útil na edição e publicação de textos como Plotinus on the Beautiful ("Plotino sobre o Belo", 1923), os membros anteriores incluindo pessoas com algum conhecimento clássico.

Com o passar do tempo, adotaram um nome diferente, The Universal Order ("A Ordem Universal"), e realizam (ou realizavam) reuniões semipúblicas no Conway Hall, W.C.1. Seus adeptos vestem uma túnica branca semelhante à da Ordem dos Druidas; aqueles com uma parte de fala (ou leitura) sentam-se em uma disposição equilibrada baseada nos pontos cardeais; e um de seus oficiais é chamado de Hegemon; caso contrário, há pouco traço de influênciada Aurora Dourada Eles possuem uma casa de campo em Brook, perto de Godaiming, que é usada para retiros ou períodos mais longos de estudo, e é aberta apenas para membros. O sistema ritual que praticam não é o da Aurora Dourada; mas havia, e talvez ainda haja, aqueles entre eles que conhecem a diferença; seus arquivos devem conter manuscritos da Aurora Dourada.

Um amigo meu que pertenceu por algum tempo decidiu finalmente que não havia justificativa para assumir os juramentos de sigilo exigidos, já que os ensinamentos não continha nada que não pudesse ser obtido por estudo independente. A partir dos folhetos que enviam aos inquiridores, esse ensino é baseado em um "ecumenismo" vagamente hermético, resumido no título de uma de suas publicações, Wisdom is One ("A sabedoria é uma"). Se você entrar, no entanto, escolhe um 'caminho' — seja de Psicologia,

[p 201]

Autoria, Cura, Educação ou Estudo dos Mistérios — e o aborda de um ponto de vista Universal. Se eles ensinam uma Cabala, eu suporia que é grega em vez de hebraica. A Ordem tem ainda menos de uma atmosfera mágica genuína do que o grupo de Waite — dissidência!

No livro The Trail of the Serpent ("Na Trilha da Serpente"), Christina M. Stoddart diz que o templo de Waite caiu em abandono por volta de 1915, mas foi posteriormente revivido. Sob sua aparente vagueza, Waite deve ter possuído considerável resiliência, pois na verdade ele logo atraiu em torno de si outro grupo, que ele chamou — com completa ausência de inibição — a Fellowship of the Rosy Cross ("Irmandade da Rosa Cruz") . Ele também lhe deu um nome interno, o Ordo Sanctissimae Roseae et Aureae Crucis ("Santíssima Ordem da Rosa e Cruz Dourada", emprestado da Segunda Ordem da Aurora Dourada original. Ele agora havia alcançado (ou assumido) o grau de 7°=4°, e assumiu um novo mote mágico, Adveniet Regnum. Entre 1916 e 1923, ele imprimiu privadamente uma série de panfletos cujos títulos dão uma ideia de seu sistema ritual:

  1. Cerimônia de Recepção no Grau de Neófito 0°=0° (Mundo da Ação I).
  2. Cerimônia de Avanço no Grau de Zelador 1°=10° (Mundo da Ação II).
  3. Cerimônia de Avanço no Grau de Theoricus [sic] 2°=9° (Mundo da Formação I).
  4. Cerimônia de Avanço no Grau de Practicus 3°=8° (Formação II).
  5. Cerimônia de Avanço no Grau de Philosophus 4°=7° (Formação III).
  6. Cerimônia Pontifical de Admissão ao Grau de Adepto Menor 5°=6 (3ª Ordem da R.C.).
  7. Cerimônia de Admissão ao Grau de Adepto Maior 6°=5° (Mundo da Criação III).
  8. Cerimônia de Admissão ao Grau de Adepto Isento 7°=4° (Mundo da Criação IV).
  9. Pontos de Contemplação Preliminares a todos os Graus.
  10. Questionamentos dos Graus nos Mundos da Ação e Formação, as 1ª e 2ª Ordens da Rosa-Cruz.
  11. Cerimônia de Recepção no Portal da 3ª Ordem.
  12. Rituais Adicionais da Rosa-Cruz. (Inclui Consagração de um Templo, Celebração do Solstício, etc.)
  13. Festival Solene do Equinócio.
  14. Festival do Solstício.

[p 202]

Tive a oportunidade de estudar em detalhes apenas o N.o 1 destes folhetos: este Grau de Neófito é, como se poderia esperar, mais longo, mais prolixo e menos memorável do que o seu antecedente na Aurora Dourada. Pergunta-se em que sentido a Cerimônia N.o 6 é 'Pontifical'[128] — além do fato de que, sem dúvida, deu a Waite uma ocasião para pontificar: também, por que a Cerimônia do Corpus Christi, integral à liturgia Rosacruz, deveria ser omitida? Por outro lado, as celebrações do Solstício são notáveis como sugestivas de polinização cruzada com o Druidismo, pois no ritual Isis-Urania tais Festivais não figuram, embora haja uma Celebração do Equinócio. A Terceira Ordem é aqui alcançada pelo rito do Adeptus Minor e, presumivelmente, não envolve a Travessia do Abismo, como na tradição genuína.

Embora esteja bastante certa de que o Templo Nuada da Ordem Druida se originou de algum arranjo de Waite, estou menos certa de que a Order of the Cubic Stone ("Ordem da Pedra Cúbica") também deva ser colocada aqui. Na tabela, a derivei de Nuada: seu fundador, H. Theodore Howard, era amigo do Dr. Robert MacGregor Reid e mantinha contato bastante próximo com A.D.U.B. quando este último era seu Chefe Eleito. A Order of the Cubic Stone tem certas inclinações Célticas e Arturianas; mas se minha suposição estiver incorreta, isso deve ser atribuído ao fato de que minhas perguntas ao Sr. Howard permaneceram sem resposta.

A seguinte é uma lista de membros longe de ser exaustiva: vários foram associados apenas por um curto período, Edwards e os Turners sendo os mais ativos e avançados:

David F. Edwards (S.F.C.?)

Romeo Ferrão
Sally Harrison
Raymond Howgego
H. Theodore Howard
Francis X. King

Chaves.png
Robert Turner (L.Z.I.?)

Sra. Patricia Turner

também:
Sorores H.I. e P.R.E.
Fratres GLAD (= Galahad?)
I.O.
V.
P.L.

O Templo de Waite (em Londres) recebeu em certo momento o título de Salvator Mundi: ele substituiu as cruzes latinas, variando levemente no design de um grau para outro, pelos lamens[129] da Aurora Dourada. Mercadoria de um fornecedor maçônico, elas eram de latão pintado com um tom mais marrom do que vermelho, em vez das tradicionais "cores cintilantes"[130], e sua

[p 203]

aparência sóbria era um emblema adequado para a perspectiva de Waite. Ainda assim, sua Irmandade trabalhou, pelo menos intermitentemente, até sua morte; nos últimos tempos, o local das reuniões era incerto — às vezes era em Earl's Court, às vezes em Maida Vale, finalmente, um sótão na casa de campo em Bridge, Kent, que sua primeira esposa, que morreu em 1924, deixara para sua filha. Miss Waite ficara descontente com seu segundo casamento — com Mary Broadbent Schofield, que havia sucedido a Sra. Rand como sua secretária — então, Waite passava parte do seu tempo com ela em Ramsgate, vindo a Londres para ver sua filha nos fins de semana e em outros períodos breves.

Após sua morte, a Irmandade continuou de alguma forma. Ela tinha um certo seguimento entre os maçons e as demandas por filiação aumentaram seus números até o limite acordado de 75. A. Rugg-Gunn, um cirurgião e maçom conhecido, assumiu como Imperator por alguns anos e houve pelo menos uma iniciação em 1948. Uma conexão tênue subsistiu com Tintagel, onde dois ou três membros tinham casas, uma delas uma mansão em Trebrea, antigamente uma propriedade templária. No início dos anos 1960, me mostraram uma casa pequena e vazia na vizinhança de Trevena com um cômodo térreo nos fundos onde, me disseram, as pessoas costumavam se encontrar "sob a Rosa". Quando olhei para o teto, vi grandes pétalas de estuque irradiando de seu centro. Esses adeptos do Extremo Oeste haviam sido abandonados; suas cartas para a sede ficaram sem resposta; eles não sabiam onde devolver seus documentos nem como descartá-los. (Um processo equivalente — em direção inversa — àquele de um membro "se demitindo"?)

Mostrara-me o que deve ter sido uma cópia do livreto N.o. 10 da lista anterior, que estabelecia um sistema de perguntas e respostas. Pelo que pude julgar com a breve olhada que me foi permitida, seu conteúdo era claro e direto ao ponto, e foi esclarecedor quanto a alguns dos simbolismos de A.D.U.B., que, acredito, derivava dele. Também vi um convite ou intimação para uma cerimônia do Solstício de Verão. Tenho certeza de que se a Irmandade persiste, silenciosamente, até os dias de hoje, é operada a partir de Londres.

Em seu estudo sobre Charles Williams, John Heath-Stubbs diz que seu objeto de estudo era um seguidor de Waite, mas não dá detalhes. Sua filiação (à "Ordem Sagrada") pode ter sido contemporânea ou logo após a de Evelyn Underhill. Por outro lado, ele pode

[p 204]

apenas ter entrado em contato (com a Irmandade) depois que se estabeleceu em Londres em 1917. Seja como for, a "Companhia" de C. W., levemente organizada — os Companheiros de Charles Williams — é um derivado distante de Waite. Com ainda menos organização e sem sugestão de uma Ordem oculta, Evelyn Underhill também reuniu em torno de si uma Companhia que se uniu silenciosamente como almas afins. Assim, embora em um contexto muito diferente, os Cainitas no romance "Demian" de Hermann Hesse se reconheciam por uma marca invisível na testa.

A seguinte lista registra os nomes de alguns dos seguidores posteriores de Waite:

Alice Bothwell-Gosse

Marjorie C. Debenham

(Miss) L. J. Dickinson

Ackroyd Gibsori

A. Rugg-Gunn

A. E. Waite (Adveniet Regnum)

Mary Broadbent Schofield — Sra. A. E. Waite (Una Salus)
Charles W. S. Williams (?)
Chaves.png
(Mr.) Wylde

Mrs. Wylde

Soror Lumen, (um médico)

Voltando ao extremo oposto do espectro emocional ao examinar a última heresia considerável de Isis-Urania — aquela iniciada por Aleister Crowley —, encontra-se um contraste demoníaco com a digna confusão de Waite.

Após uma briga com Mathers em 1903, Crowley desenvolveu ao longo dos anos seguintes a A.A. (Argenteum Astrum = Estrela de Prata), tomando seu título da Terceira Ordem da Aurora Dourada, composta inteiramente de Adeptos com graus acima de 8°=3 e compreendendo três graus correspondentes ao Triângulo Supernal da Árvore da Vida. É desnecessário dizer que a maioria de seus próprios adeptos não havia alcançado esse nível elevado de realização.

Em 1912, após um chamado de Theodor Reuss, Frater Superior ou Chefe Exterior da O.T.O., Crowley foi iniciado nesta sodalidade e se tornou no ano seguinte o "Rei Supremo e Santo da Irlanda, Iona, e todas as Bretanhas que estão no Santuário da Gnose". Em 1921, sucedeu Reuss como Frater Superior. Desde o início, teve dificuldades em administrar a A∴A∴ e a O∴T∴O∴ em dupla liderança, como outros fizeram desde então; na prática, postulantes que aplicavam para admissão na A:.A: após 1913 eram discretamente desviados para a M.M.M.Mysteria Mystica Maxima, como era chamado então o ramo britânico da O∴T∴O∴ A diferença essencial de objetivo entre estas duas Ordens consiste, pelo que entendo, em seu


[p 205]

DISSIDENT ORDERS IN BRITAIN(1).png



[p 206]


CROWLEANITY IN AMERICA.png




[p 207]

grau relativo de interioridade, sendo a A:.A: primordialmente um método de autodesenvolvimento, enquanto a O:.T:.O:. é mais "Maçônica" — no sentido extrovertido.

Anexo duas Tabelas representativas da influência de Crowley, conforme manifestada nas fraternidades que ele fundou ou inspirou, uma lidando com a Grã-Bretanha e a outra com o Novo Mundo. A influência da O:.T:.O:. chegou a predominar sobre a da A:.A:., que representa o resultado do período a Aurora Dourada de Crowley. Tão fascinantes quanto são essa afiliação à O:.T:.O:. e seus resultados, eles pertencem a um estudo diferente do presente. No entanto, terei algo a acrescentar quanto aos seus objetivos "tântricos".

Em relação à influência na Grã-Bretanha, surge uma ligação inesperada com o renascimento da Bruxaria: o fundador do Zos Kia Cultus, Austin Osman Spare (1889-1956), frequentemente descreveu e ilustrou sua participação no Sabbat. O Dr. G. B. Gardner (1884-1964) também recebeu uma Carta da O.T.O. de Crowley em algum momento da década de 1940, e ele introduziu material desta organização e (indiretamente) da Aurora Dourada, na tradição de seus covens.

Aqui está uma seleção daqueles que foram membros da A∴A∴ ou do ramo de Crowley da O.T.O. ou seus derivados, seja na Europa ou nos EUA. Um * denota que o iniciado ocupou o Cargo de Mulher Escarlate na época de Crowley, equivalente à Shakti dos sistemas Tântricos:

Kenneth Anger

Arnold Forster

Mel Archer—Sra. Wieland

A.J. Ivor Back (?)

Clifford Bax (?)

Frank Bennett (Ahahi e Progradior)

A. Perceval Bott

Karl Brooksmith (Anu)

Kathleen Bruce—Sra. Hilton Young; Lady Scott

Mary Butts—Sra. John Rodker (Rhodon)

Dintha Buddicom

Ale Burr

George MacNie Cowie (Fiat Pax)

Aleister Crowley (Perdurabo, Ol Sonuf Vaoresg, V.V.V.V.V., To Mega Therion, Nemo, Phoenix e Baphomet)

Marjorie Cameron—Sra. J. W. Parsons (Babalon)

Jane Chéron

Herbert H. Close—‘Meredith Starr’ (Superna Sequor)

Deirdre Patricia Doherty

Walter Duranty

Sra. Cora Eaton—Sra. K. J. Gemer

Oscar Eckenstein (D.A.)

Edward Noel Fitzgerald

Sra. Britta Forkis (Barzedon)

*Jane Foster (The Cat; Hilarion)

Ninette Fraux—Sra. Shumway (Cypris)

(Mestre) Shumway (Hermes)

Gen. J. F. C. Fuller (Per Ardua)

Dr. Gerald Brosseau Gardner (Scire)

Karl Johannes Germer (Saturnus)
Chaves.png
Kenneth Grant (Aossic e The Master Nodens)

Sra. Steffi Grant (Ilyarun)

[p 208]

Arthur Grimble

Eugen Grösche (Gregor A. Gregorius)

*Aimee Gouran

Nina Hamnett

Sra. Olivia Haddon

Benjamin Charles Hammond

Conde Louis Hamon (Cheiro)

Lady (Frieda) Harris (Tzaba)

Joan Hayes—Sra. W. Merton, 'Ione de Forest'

Philip Heseltine, 'Peter Warlock'

*Leah Hirsig, ou Faesi—Sra. Norman Mudd (Alostrael e The Ape of Thoth)

(Mestre) Hirsig (Dionysus)
Chaves.png
L. Ron Hubbard

Sra. Betty Hubbard

Hanni Jaeger (The Monster)

Dr. E. T. Jensen

Augustus John (?)

George Cecil Jones (D.D.S.)

George Stansfeld Jones (Achad, Arcteon, Uhus In Omnibus e Parzival)

Regina Kalil

Rose Kelly—Sra. Skerrett; Sra. Aleister Crowley; Sra. Gormley (Ouarda)

Leon Engers Kennedy (Genesthai?)

Martha Kuentzel (I.E.W. ou I.W.E.)
Chaves.png
Frederick Charles, 'Raoul', Loveday (Aud);

Sra. "Raoul" Loveday, "Betty May"—Sra. Sedgewick

Sra. Macky (Fiat Lod)

Cecil Maitland

Comandante G. M. Marston (A.B.?)

Herman Metzser (Paragranus)

Eleanor Mezdrov (?)

*Roddie Minor (Ahitha e The Camel)

*Maria Theresa Ferrari de Miramar—Sra. Aleister Crowley (A Alta Sacerdotisa do Vodu)

Norman Mudd

Adam Gray Murray (Virtute Et Labore)

Victor Benjamin Neuburg (Omnia Vincam e Lampada Tradam)

Chaves.png
Stanley Kennedy North;

Sra. S.K. North—Sra. Filson Young, Sra. Clifford Bax *Dorothy Olsen (Astrid)

Gwendolin Otter

John W. Parsons (Frater 210 e Belarion)

Sra. Helen Parsons (Grimaud)

George Raffalovich

Dr. F. Israel Regardie (Ad Maiorem Adonai Gloriam e The Serpent)

Charles Rosher (Aequo Animo)

Cecil F. Russell, ou Godwin (Fiat Lux e Genesthai?)

Dolores Sillarno

Elaine Simpson (Fidelis)

Wilfred T. Smith (Frater 132 e Velle Omnia Velle Nihil)

Olga Sobolov (Oluri)

Austin Osman Spare (Iehoveaum e Zos)

Gertrude S. (Almeira?)

P. R. Stephenson

Mary a'Este Sturges (Virakam)
Chaves.png
K. W. Sullivan;

Sra. Sylvia Sullivan

Eva Tanguay

Anny T.

O falecido Lord Tredegar

Raymond Tongue

(Herr) Tränker (Recnartus)

Dorothy Trozel (Wesruri)

Sra. Greta Valentine

*Edith, ou Leila, Waddell—Sra. Bathurst (Layla)

Eugene J. Wieland

Thomas Windram (Semper Paratus)

Miroslava Vacek (A Mulher de Samaria)

Jane Wolfe, 'Elizabeth Fox' (Estai e Metonit)

Gerald Yorke (Volo Intellegere)

Incluindo os Fratres:

Fiat Lux

Keefra

N.S.F.

O.

P. U.R.

Uranus

W.J.

Não passará despercebido que, de todas as minhas listas de membros, a acima é de longe a mais longa, e não incluí nomes de constelações mais recentes, como os grupos Sothis e Agape.



CAPITULO DEZESSETE

[p 209]

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Questão dos Desvios Sinistros

Bend-Sinister Issue

Além daqueles que começaram sua vida mágica fora da Aurora Dourada original, incluo aqui aqueles que, embora iniciados em Isis-Urânia ou um de seus Templos-filha, logo passaram para um grupo dissidente, fazendo a maior parte de seu trabalho oculto após deixar o grupo. As ramificações dissidentes de uma confraria mágica genuína têm a mesma relação com seu Templo de origem que a bastardia tem com a sucessão legítima ― um paralelo que já tracei. Isso é importante, contanto que os dissidentes persigam uma linha empolgante de investigação? A resposta não depende de uma discussão legalista, mas da aceitação da realidade e importância dos Chefes Secretos. Se você pensa que são seres dotados de inteligência e poder praeter-humanos, existindo "no corpo ou fora do corpo" e periodicamente enviando uma nova corrente para a atmosfera sutil deste planeta, segue-se que você não pode rejeitar facilmente a escolha deles como condutor. A seleção deles deve ser respeitada, mesmo que tenham tido que escolher o melhor de um lote ruim; mas uma vez feita, ela não pode ser transferida para outro condutor por capricho humano ― ou mesmo por julgamento humano. Cabe aos Chefes Secretos retirar a corrente, caso decidam; no ocultismo ocidental, sua decisão é tão vinculante quanto as ordens de Guru individual no Oriente.

Para os seguidores do condutor, a alternativa é simples: ou reconhecer sua missão ou retirar-se de sua ambiência, espacial e espiritualmente - ninguém é obrigado a permanecer com um mestre em quem tenha perdido a confiança. Dissidentes sempre tentam ter o bolo e comê-lo, mas do ponto de vista do ocultista comprometido, distinto do amador, isso não é possível. Por mais intrigantes que possam parecer as explorações deste último, elas estão sem sanção da cadeia iniciática e sofrerão, mais cedo ou mais tarde, de uma atrofia psíquica. Além disso, peneirar os ensinamentos do principal condutor e

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distribuí-los ao acaso pode suscitar uma reação adversa da egrégora ou alma-grupo da Ordem original, se não dos próprios Chefes Secretos. Se você considera essas entidades como ilusão subjetiva ou a fabricação de charlatães, você pode formar um grupo para estudo e experimentação sem referência a eles, e sem sanção além de seu próprio gosto e bom senso; mas perceba que então você não pode se chamar um iniciado. Inconsistências provavelmente se tornarão aparentes se você tentar combinar as duas abordagens.

As seguintes personalidades serão examinadas com essas considerações em mente.

ALGERNON BLACKWOOD 1869-1959
Seu pai era Sir Arthur Blackwood, K.C.K., um alto funcionário público, que se casou com a viúva do quinto Duque de Manchester. O contexto que eles forneceram, se confortável em circunstâncias materiais, era repressivamente evangélico em relação à atmosfera espiritual.

Algernon foi educado na Escola Morávia na Floresta Negra e no Wellington College; na Universidade de Edimburgo, ele estudou medicina. Tutores na França e na Suíça o instruíram durante as férias na esperança de descobrir alguma aptidão especial; aos vinte e um anos, ele não mostrou nenhuma, então seus parentes o enviaram para o Canadá. Se o principal motivo era resolver o problema enfadonho de seu futuro, na prática, sua vida transatlântica, mais sórdida do que qualquer coisa que ele tinha experimentado antes, serviu-lhe bem em sua profissão final. Durante dez anos, ele cultivou, prospectou ouro, administrou um hotel e trabalhou em vários outros empregos, incluindo jornalismo em Nova York. Já seus interesses esotéricos estavam despertos, e em 1891 ele se tornou um membro fundador da Sociedade Teosófica em Toronto.

Ele retornou a Londres em 1899 e ingressou na Isis-Urânia logo após o Cisma, seu período como Neófito coincidindo com a governança do Templo por sua primeira tríade dissidente. Quando Waite se separou em 1903, Blackwood o seguiu.

Blackwood começou a escrever seriamente em 1905 e, desde então, passou grande parte do seu tempo no exterior. Livros de referência não registram que ele tenha se casado em algum momento. Suas numerosas obras publicadas, principalmente romances e contos,

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começam em 1906 com The Empty House ("A casa vazia") e continuam até 1949 com Tales of the Uneasy and Supernatural ("Contos do Inquieto e Sobrenatural"). Sua autobiografia cobre Episodes before Thirty ("Episódios antes dos Trinta"). Embora sua ficção trate de assuntos muito parecidos com os de Arthur Machen, ele não possui uma profundidade de imaginação igual, nem um estilo tão fascinante. O modo de Blackwood tende a ser difuso; ele era mais um popularizador do que Machen e sempre gozou de uma circulação mais ampla. Antes da Guerra de 1939-45, ele começou a fazer sucesso como contador de histórias de horror no rádio, e essa linha se desenvolveu ao longo dos anos com transmissões televisivas semelhantes. Em 1941, o apartamento em Londres que continha todos os seus pertences foi destruído por uma bomba.

Sua fotografia em idade avançada mostra um nariz longo e torto em um rosto longo e torto acima de uma gravata-borboleta; olhos pálidos olham com um olhar ao mesmo tempo nebuloso e penetrante.

Blackwood absorveu uma boa quantidade de sabedoria da Aurora Dourada durante os primeiros anos deste século, particularmente em relação aos reinos Elementais. Seu romance, The Bright Messenger ("O Mensageiro Brilhante", 1921), conta a história de Julius Le Vallon, cuja concepção mágica evocou um espírito de Fogo para habitar um corpo humano — um tema semelhante ao encontrado em Moonchild de Crowley. Outras de suas histórias exploram de maneira imaginativa o Apas Tattva (Água Elemental) e a vida interior da vegetação que depende dela. Sua intuição, primeiro estimulada na Alemanha e na Suíça e posteriormente nas vastas florestas das Américas, investiga a obscura consciência das árvores que muitas vezes parece sinistra para aqueles orientados exclusivamente em relação à humanidade. A pressão persistente, embora não maliciosa, do reino vegetal em direção ao seu próprio bem-estar, sem falar em seu poder de lançar glamour e ilusão, pode muito bem se mostrar antagônica à vida humana. (Seria isso surpreendente, em vista da exploração implacável da humanidade?) O mote mágico de Blackwood, Umbra Fugat Veritas, se referia à sombra das árvores?

A figura de John Silence, que aparece em várias de suas histórias, é um médico, mas também um "doutor de almas", e projeta uma das aspirações mágicas de Blackwood. John Silence sabe todas as respostas, resolve os problemas ocultos que afligem outros personagens, domina os habitantes mais formidáveis dos planos sutis quando eles interferem no plano da terra, e em todas as circunstâncias mantém a calma. Ele serviu de modelo para vários personagens de magos brancos na ficção popular, incluindo o Dr. Taverner de Dion Fortune. Este último também deve algo à personalidade de Brodie-Innes, e assim pode ser o caso de John Silence, já que houve ocasiões em que Waite cooperou com ele, apesar do mútuo desagrado.

EDWARD ALEXANDER (ALEISTER) CROWLEY 1875-1947
Nascido em Leamington Spa, ele era o único filho de um rico cervejeiro, que também era pregador da pequena seita protestante dos Irmãos de Plymouth. A mãe de Crowley tinha uma formação evangélica e se adaptou bem à religião de seu marido. Seu filho foi enviado primeiro a uma escola preparatória (Darbyist), depois foi instruído por tutores sucessivos: mais tarde, ele foi para o Malvern College e para Tonbridge, indo finalmente para Cambridge, mas saindo sem um diploma. Seu pai havia morrido quando ele era um menino pequeno e ele frequentemente viajava sozinho durante as férias; assim que teve acesso à sua considerável fortuna, gastou-a liberalmente.

Uma das lendas favoritas de Crowley sobre si mesmo era que ele era de nobre descendência celta, mas pelos padrões do século XIX, ele mal era considerado um cavalheiro. Ele não era mais, nem menos, celta do que o típico inglês das Terras Médias da Grã-Betanha. Ele tentou derivar seu sobrenome da antiga família bretã de Kérouaille; quando essa teoria não se sustentou, ele afirmou ser escocês e/ou irlandês. (Ele enfatizou a reivindicação irlandesa, particularmente enquanto estava nos EUA, durante a Guerra de 1914-18. Crowley é um nome bastante comum na Irlanda, embora não mais do que na Inglaterra, mas não é gaélico; a terminação "ley" — mesmo que você a soletrasse como "laigh" — sugere uma origem nórdica.)

Ele encontrou outro fio para o arco celta quando alugou a Boleskine House, na margem sul do Loch Ness ("Lago Ness"), e se autodenominou Lord Boleskine. Isso mostrou um mal-entendido do uso das Terras Altas da Escócia, já que "laird" não significa "lord", mas sim proprietário de terras ou fidalgo do campo. (Na verdade, ele era um inquilino de acomodação de férias.) Foi um dos muitos títulos que ele assumiu durante o curso de sua vida errante e desordenada — talvez em uma busca patética por reconhecimento pelo Estabelecimento? Embora ele nunca tenha ficado muito tempo em Boleskine, foi a abordagem mais próxima — com a possível exceção de sua Abadia em Cefalu — de uma casa própria que ele já teve, e por anos ele se orientou em relação a ela como uma espécie de Meca.

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Nisso, sua intuição estava certa; o solo é de granito, e o lugar pode muito bem ser um centro psíquico da terra ou "fonte de Hecate".

Uma ideia interessante ocorre: o famoso Monstro poderia ser um "elementar" criado—seja como subproduto ou deliberadamente—pelas práticas mágicas que Crowley realizou na casa? Se o último, é sua piada mais duradoura. Tal entidade subsistindo nos planos sutis pode se manifestar visivelmente de tempos em tempos, como de fato parece fazer. As primeiras reportagens na imprensa datam da década de 1920, mas ele foi avistado localmente alguns anos antes. Será intrigante ver que efeito, se houver, o recente exorcismo do Loch por um clérigo anglicano produziu.

Crowley foi membro de Isis-Urania por menos de dois anos imediatamente antes do Cisma, que foi em certa medida por sua própria causa. No entanto, é devido às suas histórias, registros, diários e caricaturas escritas que sabemos tanto quanto sabemos sobre a Ordem e seus adeptos (com a ressalva de que o que ele diz deve ser tomado com uma pitada de sal.) Os seguintes marcos se destacam na vida mágica de Crowley.

  1. Iniciação na Aurora Dourada, 1898. Influência de George Cecil Jones, Allan Bennett e MacGregor Mathers.
  2. Ditado de Liber Al, vel Legis através da mediunidade de sua esposa Rose, 1904. Inauguração da Era de Horus com a Lei de Thelema.
  3. Tentativa de alcançar o Conhecimento e Conversação do Anjo Guardião Sagrado (1906).
  4. Estabelecimento de sua Ordem dissidente apropriando-se do título da Terceira Ordem da Aurora Dourada, Argenteum Astrum, 1909.
  5. Recepção na Ordo Templi Orientis por Theodor Reuss, 1912. Chefe do Ramo Britânico, 1913.
  6. Comunidade Thelemita em Cefalu, 1920. O Ritual que deu Errado - por incompetência de Raoul Loveday; desperdício da corrente mágica e reveses consequentes.
  7. Colaboração com Frieda Harris no design do Tarô, 1938-43. Omito sua assunção de Graus acima de Adeptus Minor, pois foram de experiência subjetiva. Quanto à sua realização mágica, seu valor depende de quão longe se aceita O Livro da Lei

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    e as doutrinas da O.T.O. Sem dúvida, ele foi mais ativo no sentido mágico do que a maioria de seus contemporâneos.

    Crowley nunca considerou seriamente adotar uma profissão, o que explica parcialmente o volume de sua produção em prosa e verso, erótica e ditirâmbica ― muita dela excessivamente escrita em um estilo "Ninetyish"[131], com um estilo exagerado ou com sobretons da Versão Autorizada. Ele começou a publicar (às suas próprias custas) ainda em Cambridge, com o ano de 1898 vendo o aparecimento de Aceldama, The Tale of Archais ("A História de Archais"), Jezebel, Songs of the Spirit ("Canções do Espírito"), Jephthah e White Stains ("Manchas Brancas"). O fluxo continuou até 1944, o ano de The Book of Thoth ("O Livro de Thoth"), a última obra importante de sua vida, embora outras tenham aparecido postumamente. Eu considero "Liber 777" sua obra mais valiosa, em parte porque é a menos prolixa: Crowley raramente resistia a uma dicção inflada, mas isso é apresentado de forma semi-diagramática. Não é inteiramente sua composição, como já expliquei.

    Crowley casou-se duas vezes, primeiro em 1903 com Rose, irmã de seu amigo e co-iniciado, Gerald Kelly; eles tiveram duas filhas, uma das quais morreu na infância. Rose divorciou-se dele em 1910; em 1929, ele casou-se com Maria Teresa de Miramar, uma nicaraguense que ele abandonou após um ano. Ela conseguiu subsistir por um tempo em um estado de quase indigência, depois se retirou para um hospital psiquiátrico onde morreu muito tempo depois. Essas duas mulheres neuróticas eram, ou se tornaram, alcoólatras; Frieda Harris, que achava Crowley o homem mais maravilhoso que já conheceu e, após sua morte, ela costumava usar enorme anel de jade dele, certa vez me disse que ele sentia uma simpatia avassaladora por mulheres com tais problemas. Ele pode ter sido atraído por esse tipo, mas é mais provável que tenha sido perversamente atraído por elas, já que suas ações provam que ele não estava disposto a fazer muitos ajustes para o bem-estar delas. Sua atitude em relação às outras "Mulheres Escarlates" não era basicamente diferente: assim que elas atrapalhavam seus planos, ele as descartava como um "fardo mortal". É impossível adivinhar o número e a identidade de seus filhos ilegítimos: Leah Faesi (Hirsig) teve uma filha com ele que, como o primeiro bebê de Rose, morreu com poucos meses de idade. Ambas as perdas foram rastreáveis a um estilo de vida inadequado para a criação de crianças pequenas; ele não quis ou não pôde modificar isso, e as crianças tiveram que afundar ou nadar. Ele não era o pai do outro filho de Leah, Dionysus, nem de Mercury, filho de Ninette Shumway ― todos habitantes de sua Abadia de Thelema. A garota que o abordou após sua ação por difamação em 1934 teve um filho com ele que

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    agora está perto dos quarenta anos; eles estavam presentes no leito de morte de Crowley, seu filho deixando o quarto alguns minutos antes do fim. O 'Velho Corvo' morreu pacificamente, de acordo com a mãe do garoto - não houve lágrimas e suas últimas palavras não foram "Estou perplexo".

    Se ele não estava perplexo, a maioria de seus associados estava: seu caráter era tão cheio de contradições que se tornava impossível avaliar ou mesmo resumir. Julgando pelas fotografias, ele deve ter sido bonito e vigoroso em sua juventude; mas, ao vê-lo e ouvi-lo na livraria Watkins quando tinha mais de sessenta anos, tive alguma dificuldade em entender a atração magnética que ele exercia, mesmo então, sobre muitas mulheres. Previsivelmente, romancistas o acharam intrigante, entre os quais W. Somerset Maugham diz-se ter usado Crowley como inspiração para o personagem Alroy Kear em Cakes and Ale ("Bolos e Cerveja", 1930). Eu mesmo não vejo muita semelhança, a menos que a fisionomia robusta reflita a aparência de Crowley quando jovem — talvez também uma certa petulância na abordagem social seja aplicável. Maugham, no entanto, fez a habitual negação, afirmando que Kear era um retrato composto baseado principalmente nele mesmo. Em The Magician ("O Magista", 1908), contudo, a figura central de Oliver Haddo é, sem dúvida, Crowley, embora sua crueldade e poderes sobrenaturais sejam ambos exagerados.

    ROBERT WILLIAM FELKIN c. 1858-1922
    Assim como Algernon Blackwood, ele estudou medicina na Universidade de Edimburgo; quando parcialmente qualificado, viajou para a África como missionário médico, mas voltou após um ou dois anos e concluiu seus estudos.

    Ele praticou medicina em Edimburgo, onde ele e sua primeira esposa, Mary, ingressaram no Templo Amen-Ra de Brodie-Innes. Em meados dos anos 1890, mudaram-se para Londres, Felkin continuou seu trabalho médico e ambos prosseguiram com suas carreiras mágicas em Isis-Urania. A escolha do motes de Mary, o enfadonho e banalizado Per Aspera Ad Astra, sugere que ela era uma das masoquistas nata. A adesão de Felkin ao grupo secreto de Florence Farr, The Sphere, desenvolveu nele o tipo de clarividência, transe mediúnico e escrita automática que se tornaria característico da Ordem da Stella Matutina, que ele desenvolveria mais tarde.

    Após o Cisma, o 'resto' de Isis-Urania subsistiu sob uma liderança confusa e variável por alguns anos. Em 1902,

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    sob o título de The Mystic Rose ("A Rosa Mística"), foi governada por um tríade, do qual Percy Bullock logo se aposentou; Felkin ocupou seu lugar. Um ano depois, quando A. E. Waite levou seus discípulos como a "Holy Order of the Golden Dawn" ("Sagrada Ordem da Aurora Dourada"), Felkin reuniu o restante em um núcleo para a loja-mãe da Stella Matutina, Amoun. Esta chegou a se reunir, curiosamente, em Bassett Road, W.10., embora, eu acredite, não na casa onde os Garstins viveram mais tarde. Felkin, Brodie-Innes e Hugh Elliott constituíram sua primeira tríade; e se Felkin não tivesse resgatado algo de valor, dificilmente poderia ter mantido o apoio de um manipulador tão hábil de correntes mágicas como W. B. Yeats.

    A segunda esposa de Felkin, Ethel (Quaero Lucem), era fortemente mediúnica, e sua parceria oculta com ele era próxima e duradoura. Felkin em si era um clarividente notável e, juntamente com sua esposa e filha — sentando como um 'círculo' familiar, parece — ele fez em 1908 um contato com uma entidade que se chamava Ara ben Shemesh. Este era um árabe desencarnado que alegava afiliação com o templo do deserto visitado pelo Padre Christian Rosenkreutz em sua peregrinação ao Oriente Médio. Felkin, percebendo a necessidade de uma sodalidade mágica de contato com os planos internos, aceitou Ara ben Shemesh como seu mestre e os "Mestres-Sol" deste como seus Chefes Secretos. Yeats, para não ficar atrás, entrou em contato com um mestre árabe próprio, Leo Africanus.

    Tanto antes quanto depois do advento de Ara ben Shemesh, Felkin procurou restabelecer o vínculo com os Adeptos Rosacrucianos na Alemanha, que haviam sido indicados (ainda que vagamente) nos Manuscritos em Cifra de Wynn Westcott e correspondência consequente. Ele e sua esposa empreenderam várias viagens ao continente com esse objetivo em vista, e seus contatos com Rudolf Steiner ali influenciaram doravante o egrégora de todas as Lojas Stella Matutina em graus variados. Uma busca cognata também empreendida por eles foi a busca pelo túmulo de Christian Rosenkreutz, descrito na Fama Fraternitatis, mas isso se revelou uma busca infrutífera. Uma garota alemã que conheci em uma das Escolas de Verão de Yeats em Sligo me disse que estudantes em busca de um tema barroco para uma tese ainda se envolvem de tempos em tempos nesta busca. Alguns chegaram a considerar os escassos dados da Fama como uma pista falsa e buscaram o túmulo na região de Leipzig — não surpreendentemente, sem sucesso, já que apenas aqueles do grau certo poderiam esperar encontrá-lo.

    Felkin foi feito Maçom em 1907, o que facilitou suas relações

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    com os corpos Maçônicos Continentais. Em 1912, ele e sua família fizeram uma visita prolongada à Nova Zelândia, que pode ter sido motivada pela Maçonaria: é certo que, quando ele finalmente se estabeleceu naquele país, foi como Inspetor dos Colégios da Soc. Ros. ali. Foi nesta primeira vez que ele fundou a loja filha mais velha da SM, a Smaragdum Thalasses.

    Ao retornar à Grã-Bretanha, Felkin, com incansável zelo, fundou mais três lojas filhas, uma Ordem lateral e a Guilda de São Rafael antes de se estabelecer definitivamente com sua esposa e família na Nova Zelândia. Fica-se imaginando como eles conseguiram a viagem, já que a atividade dos submarinos alemães durante a Guerra de 1914-18 estava, então, em seu auge e a viagem civil, particularmente por mar, era desencorajada. Evidentemente, o Doutor tinha "amigos na Corte".

    Depois de alguns anos, ele achou impossível governar o Templo de Amoun à distância, como Mathers antes dele havia descoberto no caso de Isis-Urânia, e cortou sua conexão com ele; a partir de então, logo entrou em desintegração. Ele continuou a governar Smaragdum Thalasses até sua morte na década de 1920, quando sua esposa assumiu.

    VIOLET MARY FIRTH (Sra. Penry Evans, "Dion Fortune") 1891-1946
    Órfã de descendência de Yorkshire, ela foi criada em uma família de Cientistas Cristãos. Para ganhar a vida, aceitou um cargo em uma instituição — ela não especifica sua natureza nem a de suas próprias funções — onde o diretor a incapacitou (ou assim ela acreditava) por uma combinação de hipnotismo e mau-agouro. Ela relata o incidente, devidamente disfarçado, no Prefácio de Psychic Self-Defense ("Autodefesa Psíquica", 1930); entendo que o adepto que a resgatou e a quem ela se refere como Z era J. W. Brodie-Innes. Provavelmente, ela o conheceu nos círculos Teosóficos que frequentava.

    Tendo estudado psicologia e psicanálise na Universidade de Londres, ela trabalhou como psicoterapeuta leiga — isto é, sem diploma médico — em uma clínica.

    Em 1919, ela foi iniciada na Loja A.·.O.·., uma loja filha de Londres liderada pela Sra. Maiya Tranchell-Hayes, da Amen Ra de Brodie-Innes em Edimburgo. Kenneth Grant identifica Vivian le Fay Morgan, a personagem central do romance de Violet, The Sea Priestess ("A Sacerdotisa do Mar", 1938), e sua sequência, Moon Magic ("Magia da Lua", 1956), com Maiya — embora eu

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    tenha presumido que esta figura Circeana fosse um autorretrato narcisista da autora. Seja como for, Violet logo se tornou insatisfeita com Maiya e transferiu sua lealdade para a outra Loja A:.O:. em Londres, então recentemente estabelecida por Moïna MacGregor Mathers. Já relatei sua breve carreira com Moïna e suas consequências. Após a ruptura, ela também se juntou à Loja Hermes da SM e, como Regardie diz em The Eye in the Triangle ("O Olho no Triângulo"), foi autorizada por um de seus Chefes a fundar uma Ordem própria.

    Pouco depois, ela se casou com o Dr. Penry Evans, e eles colaboraram com algum sucesso em vários métodos de psicoterapia, alguns dos quais não ganharam aceitação geral na profissão médica. Mais tarde, a parceria tornou-se desarmoniosa e a separação se seguiu.

    Dion Fortune foi preeminentemente uma divulgadora de ideias esotéricas e uma organizadora de estudos esotéricos; ela escreveu e palestrou incansavelmente enquanto dirigia sua Fraternidade. Como romancista, ela confia na fascinação intrínseca de seus temas e nas informações ocultas que eles transmitem, muitas vezes de maneira envolvente; ela não é uma artista literária, seu estilo carece de distinção e, às vezes, até de gramática. Na caracterização, sua suposição de dureza quando seu narrador se passa por um homem é particularmente pouco convincente.

    Tudo isso é apenas para dizer que ela fez o melhor que pôde, partindo de um histórico um tanto carente e sem uma educação extensa. Ela teve que buscar o que, se fosse um homem, teria sido considerado seu direito. Embora sua coragem e empreendimento mereçam saudação, é preciso admitir que sua erudição é inadequada e suas imprecisões são inúmeras. Sua primeira publicação foi um "volume magro" de versos, Violets ("Violetas", 1914); suas últimas obras póstumas, como os populares manuais de 1962, Aspects of Occultism ("Aspectos do Ocultismo") e Applied Magic ("Magia Aplicada") — um exemplo de sua habilidade jornalística, embora excessivamente recheada para o gosto especializado. Seu tratado mais conhecido, The Mystical Qabalah ("A Cabala Mística"), é uma introdução legível ao assunto como ensinado na Aurora Dourada e deve figurar entre as "revelações" desse ensino que desconsiderou os juramentos de segredo sob os quais foi dado. Abriu novos caminhos quando apareceu pela primeira vez em 1935, e vários autores posteriores estão em dívida com ela.

    "Dion Fortune" costumava dar palestras públicas em uma grande sala de estar mobiliada como sala de reuniões no andar superior da sede de sua Fraternidade; lembro-me de ir a uma em 1934, quando seu

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    marido presidiu a reunião. Ela era uma mulher grande, vestida de maneira simples e convencional, com cabelos loiros desbotados, que à primeira vista poderia ter sido confundida com uma diretora ou a administradora de uma casa de enfermagem. Somente seus olhos, azuis profundos e cintilantes, sugeriam algo menos facilmente aceitável. Esqueço o título de seu discurso, mas lembro-me do bom senso robusto de sua abordagem — exteriormente, pelo menos — e de seu alerta contra as Ordens falsas, os tubarões e os charlatães do mundo oculto de Londres. Ela era vigorosa e bem articulada, possuía um certo grau de poder hipnótico — às vezes usado, se os rumores da época não mentiam, para extrair doações de seus discípulos em benefício da Fraternidade, é claro.

    Sua última doença foi breve: "Tio Robbie", que então ocupava um quarto na sede dela, me deu alguns detalhes anos depois. Ela reclamou de dor em um dente e, como ele era qualificado em odontologia e o dentista dela estava de férias, ele se ofereceu para examinar o maxilar dela. Ele viu de imediato que não havia esperança de recuperação dela. Presumivelmente, uma infecção sanguínea se instalou após uma extração, embora pareça estranho que um antibiótico não pudesse ter sido administrado para trazê-la de volta: ela era de constituição robusta e mal passava da meia-idade. Ela consultou seu próprio dentista assim que ele estava disponível, mas em poucos dias ela estava morta, como Robbie havia previsto.

    WILLIAM THOMAS HORTON 1864-1919
    Ele entrou em contato com o círculo Isis-Urania por volta de 1894, quando, como protegido de W. B. Yeats, buscou iniciação. Ele obteve o grau de Neófito, mas depois disso sua carreira na Aurora Dourada revelou-se infrutífera. Yeats tentou persuadi-lo a continuar, e ele pode ter feito isso, talvez tão tarde quanto a época em que Yeats assumiu temporariamente o controle após o Cisma, talvez até na Stella Matutina. É com base nessa suposição que ele está incluído aqui como um desvio sinistro.

    Yeats escreveu uma introdução para ele em A Book of Images ("Um Livro de Imagens", 1898); como a maioria de suas obras, consistia em versos ilustrados por seus próprios desenhos em preto e branco. Eles mostram uma habilidade decorativa e às vezes uma varredura imaginativa genuína, mas não se comparam em destreza com as obras-primas neste meio de Aubrey Beardsley, a quem Horton conhecia e admirava. The Way of the Soul ("O Caminho da Alma", 1910), dedicado a Nefer-ari Isi-nofer (Audrey Locke), é do mesmo tipo de

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    livro, desta vez com uma Introdução do Hon. Ralph Shirley. Em The Equinox N.o VI, Crowley castiga os

    "... penhascos plissados como um acordeão feitos de sabonete Sunlight[132], as águas feitas de vermicelli[133], sóis indicados por círculos desenhados com um compasso cercados por raios desenhados com uma mão muito instável ..."

    Prefiro os desenhos aos versos do The Way of the Soul; o fato de Yeats apreciá-los já seria suficiente para prejudicar Crowley contra qualquer um deles. À parte os valores estéticos, aparece nas páginas 143 e 191 uma figura em armadura com uma aparência definida de Mathers, e na página 91 a espada deste cavaleiro lembra o design daquela no retrato de Moïna. A página 103 mostra uma cabeça de vampiro com uma semelhança com Crowley; no verso acompanhante, o poeta se dirige a si mesmo como "Filho de Hermes" e fala dos "feitiços dos quais você se libertou" como se algum poder sombrio o tivesse prendido em servidão.

    Segundo Yeats, Horton pertencia à Brotherhood of the New Life[134]; seria este um título disfarçando a Aurora Dourada, como Virginia Moore em The Unicorn parece pensar? Ela pode estar certa; mas havia um grupo chamado Fellowship of the New Life[135] ativo nos anos 1890, embora em 1894 tenha se fundido com a nascente Ethical Church ("Igreja Ética") e a precoce Sociedade Fabiana. Ralph Chubb (c. 1890-1960), outro solitário ilustrador de si mesmo, foi no início da vida membro de uma Sociedade da Nova Vida e também um Fabiano. Em 1910, o Dr. Berridge ou seu primo, sob o pseudônimo de Respiro, contribuiu com uma monografia, "Counterparts" ("Homólogos"), como Vol. XVI de The Brotherhood of New Life. An Epitome of the Work and Teachings of Thomas Lake Harris ("A Irmandade da Nova Vida. Um epítome do trabalho e dos ensinamentos de Thomas Lake Harris"). Berridge era conhecido por fazer proselitismo entre seus companheiros Isis-Uranianos, então ele pode, muito antes da data desta publicação, ter convertido Horton às suas visões.

    Horton havia se casado por volta de 1893, mas o ménage não era harmonioso; ele morou sucessivamente em St. John's Wood, Hampstead e St. Pancras, nem sempre no mesmo endereço que sua esposa. Ele pode muito bem ter procurado na Aurora Dourada uma rota de fuga; em todo caso, foi durante esse período que ele conheceu Audrey Locke, o amor de sua vida e o modelo para muitos de seus "desenhos de deusas". Yeats celebrou seu romance em All Souls Night" ("Noite de Finados"):

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    "... Ele amava pensamentos estranhos
    E conhecia essa doce extremidade do orgulho
    Chamado amor platônico,
    E que a tal ponto de paixão se elevou
    Nada poderia trazer-lhe, quando sua dama morreu,
    Anódino para o seu amor."

    Audrey morreu em 1916 e no mesmo dia Horton escreveu alguns versos (comoventes, embora infelizmente, bastante fracos) endereçados À Minha Dama. Sua própria ansiada morte veio cerca de três anos depois, na casa de sua irmã em Hove.

    Horton deixou muitos escritos, desenhos e pinturas que sobreviveram, inéditos e não exibidos, até a Guerra de 1939-45, quando pelo menos alguns são relatados como perdidos na Blitz de Londres. Seria uma pena se isso incluísse seu Diário de Trabalho, 1895-1919, que continha um poema ou desenho para cada dia deste longo período; seja qual for seu mérito estético, deveria ser esclarecedor como um Registro Mágico.

    ARTHUR LLEWELLYN JONES (ARTHUR MACHEN) 1863-1947
    Ele nasceu em Caerleon-upon-Usk, que, junto com Canterbury e York, compunha a tríade antiga da Sé[136] Druidica da Grã-Bretanha. As terras verdes nos arredores da cidade ainda carregam o nome da Távola Redonda do Rei Arthur: durante toda a sua vida, Arthur Machen foi inspirado pela paisagem assombrada de Gwent.

    Sua infância foi passada em Llandewi, a poucos quilômetros de distância, onde seu pai seguiu a vocação de clérigo, algo tradicional na família. Longe de reagir contra esse pano de fundo, o filho nunca abandonou sua posição anglicana alta. A invalidez de sua mãe garantiu que ele permanecesse filho único.

    Depois da educação particular, ele foi em 1874 para a Escola da Catedral de Hereford, mas foi obrigado a sair aos dezessete anos. Embora seu pai tivesse adotado um nome da família de sua esposa, chamando-se Jones-Machen na esperança de um subsídio para a educação de Arthur, isso não aconteceu. A universidade estava além dos meios de seus pais, então Arthur tentou estudar para o exame do Colégio Real de Cirurgiões em Londres: quando isso se mostrou infrutífero, ele passou os

    [p 222]

    próximos anos em jornalismo irregular, ensino e trabalhos diversos relacionados ao negócio editorial, intercalados com períodos em casa. Seus ganhos eram modestos e ele vivia "de chá verde e tabaco preto". (Ele sempre foi um fumante pesado e, assim que pôde, passou a beber algo mais forte do que chá.) Ele estudou muitos livros de ocultismo, catalogou e traduziu para os Srs. Redway e editou uma revista de antiquário para outra empresa.

    Após a morte de sua mãe em 1885, ele conheceu A. E. Waite no Sala de leitura do Museu Britânico — cuja atmosfera ainda está impregnada com o resíduo dos encontros da Aurora Dourada — e isso levou à amizade deles que durou quarenta anos. Com a morte de seu pai em 1887, uma herança permitiu-lhe abandonar o trabalho mal remunerado; ele também se casou com Amelia Hogg, treze anos mais velha do que ele e com propriedade própria. Eles viveram principalmente em Londres; a década de 90 que se seguiu foi o período de auge de Machen, tanto criativa quanto financeiramente. Tendo ele mesmo traduzido muito do francês, deve ter ficado satisfeito com a tradução de The Great God Pan ("O Grande Deus Pan") para esse idioma por um admirador, Paul-Jean Toulet, que havia sentido a influência de Machen ao escrever seu próprio romance, Monsieur du Phaur, Homme Publique ("Monsieur du Phaur, Homem Público", 1898).

    Amelia morreu em 1899, e Machen, como ele diz em Things Near and Far ("Coisas Próximas e Distantes", 1923), ficou devastado com essa perda:

    “E então um processo me sugeriu, como tendo a possibilidade de alívio... Eu fiz o que tinha que ser feito... os resultados que obtive foram totalmente diferentes das minhas expectativas.”

    Na verdade, ele experimentou:

    "... um coração trêmulo e uma sensação de que algo, eu não sei o quê, também estava sendo abalado até suas fundações."

    Ele admite, no entanto, que coisas mais maravilhosas podem ser sentidas tomando Anhelonium Lewinii (Peyote, mescalina), então ele deve, como Allan Bennett e Crowley, ter experimentado essa droga. O "processo" era evidentemente algo diferente — mas o quê? Uma oração, uma meditação, um mantram, um feitiço, uma forma de auto-hipnose? Seria talvez um processo alquímico ou alguma prática psicossexual, como indicado no sistema de Austin Osman Spare? Machen não dá nenhuma pista.

    [p 223]

    O processo foi sugerido a ele na Aurora Dourada, na qual ele foi iniciado em 1899, ou ele se juntou à Aurora Dourada como consequência de seu trabalho independente do processo? (Os dois eventos foram quase simultâneos em sua vida.) Isso resultou em "uma paz de espírito que era completamente inefável". Mais tarde, "A alegria ameaçava se tornar uma agonia que deveria destruir tudo". Ele pensou: "Há um vinho tão forte que nenhum vaso terrestre pode contê-lo." Uma euforia sem precedentes, particularmente pronunciada nos sentidos de audição e tato, o dominou; as enxaquecas às quais ele sempre fora sujeito desapareceram para sempre. Um brilho de bem-estar, tanto físico quanto espiritual — como ele descreve como consequência de uma nova visita do Santo Graal à Grã-Bretanha em sua história, The Great Return ("O Grande Retorno", 1915) — o envolveu.

    Quando, após muitos dias, a felicidade interior desapareceu e a consciência comum se reafirmou, ele era uma pessoa diferente. "O mundo estava sendo apresentado a mim sob um novo ângulo." Mesmo sem as revelações anteriores, poderíamos traçar uma transformação nele por volta dessa data — do estudioso solitário e sonhador ao extrovertido tagarela e, quando os fundos permitiam, ao bon viveur. Se foi uma mudança para melhor é uma questão de opinião.

    Dois anos depois, Machen juntou-se à companhia de Sir Frank Benson como ator, "aprendendo fazendo", e em 1903 ele se casou com Dorothy Purefoy Hudlestone, que também estava no mundo do espetáculo. Eles tiveram um filho e uma filha, e em 1908 Machen voltou ao jornalismo em tempo integral para sustentar sua família.

    O dinheiro continuou a ser escasso: mais de trinta anos depois, um fundo foi organizado para celebrar o octogésimo aniversário de Machen. Figuras conhecidas, de Max Beerbohm a Bernard Shaw, contribuíram; e Machen pôde passar seus últimos anos em Old Amersham, onde morreu logo após sua esposa. Três de seus livros, Far-off Things ("Coisas distantes"), Things Near and Far ("Coisas Próximas e Distantes") e The London Adventure ("A Aventura em Londres") , servem como sua autobiografia.

    Fotografias tiradas nos anos 1940 mostram uma cabeça rodeada de cabelos brancos e sobrancelhas arqueadas sobre as cavidades oculares piscianas; o grande rosto usa uma expressão auto-projetada de ator, que era realçada em vida por seus gestos extravagantes e capa preta: um boêmio amarelo-empoeirado, poderíamos dizer, sobrevivendo até meados do século.

    O trabalho publicado de Machen varia em data entre 1881 (Eleusinia) e 1937 (Gray's Inn Coffee House, "Café Gray's Inn"); ele também editou The Handy Dickens ("O prático Dickens")

    [p 224]

    em 1941. Seus escritos, embora impregnados de atmosfera celta, raramente apresentam o folclore celta diretamente, exceto como crença popular; sua mitologia se refere ao antigo panteão romano, sentido como uma suspensão em uma atmosfera psíquica persistente da Grã-Bretanha pré-romana. Kipling tratou dessa cultura mesclada em Puck of Peak's Hill ("Disco de Peak's Hill"), mas conseguiu drenar toda a sua estranheza tipicamente celta. Outros interesses de Machen - em alquimia e bruxaria - não são especificamente celtas, nem sua obsessão por línguas esquecidas. Em alguns aspectos, ele é um precursor da ficção científica: pedaços da língua Xu em The White People ("Os Brancos") certamente sugeriram as palavras estranhas usadas no culto Chthulul de Howard Phillips Lovecraft.

    Ele e Lovecraft eram espíritos afins, também, em uma atração para a lama primordial - "a viscosidade seminal" de Thomas Vaughan - como a base dos fenômenos e o produto de sua deliquescência. Machen continuou a linha dos romancistas góticos com M. R. James e Sheridan le Fanu - cuja história Carmilla deu o ímpeto a Blood and Roses ("Sangue e Rosas"), a adaptação cinematográfica de Roger Vadim. Como é que tais diretores até agora perderam Machen?

    Quando peguei emprestada uma cópia de The House of Souls ("A Casa das Almas"), fiquei tão horrorizada com The Three Impostors ("Os Três Impostores") que tive que parar de ler: achei a palavra Ishakshar[137] inscrita sobre o Selo Preto tão obsessiva que tive que devolver o livro inacabado. Quem desenhou a ilustração e o design da capa sem assinatura, eu não sei, mas eu não suportava olhar para o último, que retrata um mutante mais inquietante do que qualquer coisa imaginada em Le Matin des Magiciens[138]. Os autores, Pauwels e Bergier, adotam a teoria do Mal transmitida mais claramente na história de Machen, The White People ("Os Brancos"), através de um diálogo entre antiquários - um dispositivo favorito de Machen. Aqui ele equipara o Mal não com a injustiça, mas com '... um esforço transcendente para ultrapassar os limites comuns', uma paixão por penetrar a Alteridade de maneira ilegal. Christopher Booker expressou recentemente uma visão semelhante em The Neophiliacs ("Os Neofílicos", 1970), onde define o Mal como Fantasia e fala de:

    '... todas as tentações para violação da ordem que compõem o nível de fantasia do sonho'.

    Para ele, o Bem é quase equivalente à boa ordem, uma manutenção do conhecido e comprovado, por mais limitado que seja. Pauwels e Bergier também são

    [p 225]

    desconfiados do completamente sem limites; para eles, o principal mal do Nazismo residia em sua visão de mundo mágica, sua filosofia anti-Cartesiana e anti-humanista.

    Sendo uma Surrealista, vejo a fantasia como a libertadora, a abridora do caminho para uma super-realidade; e onde estaria a maior parte da obra de Machen sem a fantasia? (Aliás, onde estaria O Despertar dos Magistas?) A teoria de Machen serra o galho entre si mesmo e o tronco da árvore. Em sua monografia sobre Aubrey Beardsley (edição de 1966), Arthur Symons inverte essa concepção do mal:

    "Pois o próprio mal, levado ao ponto de um perverso êxtase, torna-se um tipo de bem, por meio da energia que, de outra forma dirigida, é virtude... O diabo está mais perto de Deus por toda a altura de onde caiu, do que o homem médio que não reconheceu sua própria necessidade de se alegrar ou se arrepender... E assim encontramos o mal justificado por si mesmo, e uma arte consagrada à revelação do mal igualmente justificada..."

    Tendo superado meu antigo escrúpulo e comprado uma cópia de "The House of Souls" ("A Casa das Almas"), fui recompensada com uma observação interessante, pois a folha de rosto estava inscrita:

    ‘Aleister Crowley
    —————
    Este livro pertence a
    M. H. Fra Perdurabo
    Abade de Dam-Car’

    "O pior homem do mundo" havia marcado várias passagens em The White People ("Pessoas Brancas"), tratando principalmente da natureza do mal, dos feitiços feito na diarista por sua enfermeira ou evocados por sua própria intuição, e das línguas estranhas que os consagram. Na última folha de papel estão os números 234 e a letra hebraica Gimel combinada como um sigilo com a letra Resh (invertida) e um pequeno lod invertido entre eles. Lido como uma fórmula do tema da história, indicaria: "Lua unida ao Sol através da semente secreta em Virgem" ou, em termos equivalentes de Taro, "A Alta Sacerdotisa e o Sol com o Eremita como paraninfo." Ambos resumem a intenção oculta da história. Em outra das histórias de Machen, The Ceremony ("A Cerimonia"), que usa parte do mesmo material temático de The White People("Pessoas Brancas"), a natureza do rito na floresta se torna mais explícita.

    A capacidade de Machen de projetar suas fantasias para a frente e atualizá-las na vida exterior é mostrada com maior efeito vívido em The Bowmen ("Os arqueiros"). No início da Guerra de 1914-18, quando ele era repórter no The Evening News ("Jornal da Noite"), seu editor exigiu uma contribuição para aumentar o moral, a fim de compensar os relatórios desanimadores da Frente. Pouco antes da retirada de Mons, Machen escreveu rapidamente um conto sobre São Jorge pairando com anjos assistentes sobre o campo de batalha para encorajar as tropas britânicas, e seu jornal publicou-o no dia seguinte, 29 de setembro de 1914. Imediatamente dezenas de soldados escreveram dizendo que haviam visto a visão no céu e a consideraram um bom presságio. Uma das revistas “sofisticadas” veio com um desenho de duas páginas, The Angels of Mons ("Os Anjos de Mons"), retratando uma cruz de luz no zênite ladeada por enormes guerreiros alados, conforme descrito por nossos bravos companheiros. Em vão, Machen protestou que escreveu o conto como ficção: de alguma forma, ele penetrou na egrégora da Grã-Bretanha e nada pôde desalojá-lo. Antes disso, no início do século, como ele diz em Things Near and Far ("Coisas próximas e distantes"), pessoas dos The Three Impostors ("Os Três Impostores") como “Miss Lally” e The Young Man with Spectacles (“O Jovem com Óculos”) apareceram repentinamente em sua vida diária, falaram e agiram como seus personagens fictícios e, tão repentinamente, retomaram sua existência mundana separada dele.

    No Capítulo X, ele escreve sobre “um jovem escuro, de aspecto quieto e reservado, que usava óculos - ele e eu nos encontramos em um lugar onde tivemos que ser vendados antes de podermos ver a luz” - uma referência à cerimônia de Neófito, sugerindo assim que "O Jovem de Óculos" era um membro da Aurora Dourada. Ele chama a fraternidade de Order of the Twilight Star ("Ordem da Estrela do Crepúsculo"), ou seja, da Stella Matutina. Mais adiante no mesmo capítulo, ele indica a abertura do ritual mais vividamente do ponto de vista do Candidato e admite: “isso me fez muito bem”. Então ele passa a minimizar a sodalidade e tudo o que ela representava, com olhares laterais para o escândalo Horos e um “mago negro”, provavelmente uma referência a Crowley. Embora ele traga vários dos argumentos recentemente levantados por Ellie Howe a favor da fraudulência de Westcott, ele continuou na versão de Waite da Ordem por algum tempo - talvez tranquilizado pela purgação de seu "paganismo".

    [p 227]

    De maneira mais generalizada, muitas de suas histórias anteriores parecem contornar a cronologia. Ele não ingressou em Isis-Urania até 1899 - isso foi após a morte da primeira esposa e provavelmente a pedido de Waite - ainda assim, a maioria de sua ficção aparentemente orientada para a Aurora Dourada data dos dez anos anteriores. Ele teria alcançado o conhecimento que foi informado por meio de um salto imaginativo no futuro? Ele disse a Wynn Westcott que, quando escreveu tais contos, não tinha ideia de que eles pudessem ter uma fundamentação na realidade; Westcott lhe assegurou em resposta:

    "...por pensamento e meditação, em vez de leitura, você alcançou um certo grau de iniciação independentemente de ordens ou organizações."

    (A menos que ele tivesse frequentado algum outro grupo oculto, como sugiro em um capítulo anterior. Em Far-off Things "Coisas distantes"), ele diz que pertenceu a mais de uma sociedade secreta.) Ele adotou o nome mágico de Avallaunius - de Avallon como pós-mundo celta - para Isis-Urania; quando Waite se separou, Machen foi com ele, mudando seu lema para Filius Aquarii: em que sentido ele seria um 'filho de Aquário'?

    EDITH NESBIT (Sra. Hubert Bland, Sra. Thomas T. Tucker) 1858-1924
    Ela era a mais nova de vários irmãos e irmãs, tendo nascido no subúrbio de Londres de Kennington, onde seu pai dirigia uma faculdade agrícola. Ele morreu quando ela tinha quatro anos; sua mãe a enviou para várias escolas onde ela foi muito infeliz, depois levou a família para o exterior. Edith foi educada principalmente na França e na Alemanha, e se tornou uma mulher talentosa e bonita.

    Ela sempre se interessou pelo oculto; se também era inquieta e temperamental, não era surpreendente após seu casamento em 1880 com Hubert Bland: ele teria produzido tais sintomas na mais plácida das esposas. Com base em sua união, ele renunciou ao seu emprego em um banco e se tornou, com o incentivo de Edith, um jornalista. Basicamente um tagarela e um zangão, ele dependia de Edith para sustentá-lo, o que ela fez com trabalhos literários variados, recitais e o design de cartões de saudação. Ela foi bem-sucedida o suficiente para comprar Well Hall, uma casa senhorial cercada por um fosso em Eltham, que durante muito tempo foi um lar para ela, seu marido, seus filhos e vários

    [p 228]

    parasitas. O local do edifício (agora demolido) é marcado por um banco de jardim em Well Hall Pleasaunce, onde no ano passado (1974) uma exposição no Tudor Barn comemorou seu trabalho. Era uma casa boêmia onde os assuntos de Hubert, se não passavam despercebidos, pelo menos não eram censurados. Ele foi um dos fundadores da Sociedade Fabiana, da qual ele e Edith permaneceram membros por toda a vida. Edith adotou um filho e uma filha dele com a ajuda de sua companheira-assistente, Alice Hoadson, depois que Hubert a ameaçou partir a menos que ela o fizesse antes. Por uma espécie de pensamento piedoso, ele provavelmente se convenceu de que não devia nada a nenhuma das mulheres, já que, do ponto de vista eclesiástico, ele não era casado com uma mais do que com a outra.

    Hoje é difícil entender a fascinação que esse homem horrível, com seu bigode e monóculo, exercia sobre muitas mulheres além de sua esposa admiradora. Esposa? Ele era católico romano, um que negligenciava ou cultivava sua fé conforme lhe convinha: ele havia casado com Edith em um cartório quando ela estava contente em ter qualquer tipo de certidão de casamento, estando grávida dele há vários meses. Embora mais tarde ela tenha se convertido discretamente à sua Igreja, não houve regularização de seu casamento de acordo com seus ritos, então ele não poderia ter se considerado casado com ela em nenhum sentido pleno. Anos depois, ela descobriu que ele ainda estava "noivo" de uma mulher com um filho dele, para quem ele não havia explicado que não estava mais legalmente livre.

    De acordo com James Webb (The Flight from Reason, "A Fuga da Razão" de 1971), entre outros, Edith ingressou na Stella Matutina; ele não dá detalhes, e ainda não rastreei a qual de suas Lojas ela pertencia, mas presumivelmente a data de sua associação veio após a morte de seu filho mais novo. A biografia de Doris Langley Moore não menciona a SM, embora ela fale da Fellowship of the New Life ("Confraria da Nova Vida"), da qual os Fabianos se desenvolveram. A SM pode ter sido um dos entusiasmos passageiros de Edith: seu nome como devota está ligado ao de um companheiro fabiano, Herbert Burrows. Pensar-se-ia que ela poderia preferir Waite a Felkin; mas James Webb é geralmente factual. Quando ela marcou as portas de uma casa assombrada com "talismãs" exorcistas, ela teria aprendido a técnica através dos Felkins?

    Hubert morreu subitamente em 1914 e três anos depois Edith casou-se com Thomas T. Tucker, um engenheiro marítimo e outro Fabiano. Ele era

    [p 229]

    um "homem do povo" sem meios próprios, mas onde Hubert tinha sido vaidoso e egoísta, ele era sólido e prestativo. Ela morreu em Dymchurch após uma longa doença.

    Seus trabalhos incluem versos, romances para adultos e uma coleção de contos de terror, Fear ("Medo", 1910); mas ela é mais conhecida por seus livros infantis, especialmente aqueles que lidam com a família Bastable. Sua espontaneidade, caracterização autêntica e humor despretensioso os colocam em uma classe à parte, e eles se tornaram clássicos em seu gênero. Com as ilustrações de H. R. Millar, eles compõem uma vívida peça de época que animou muitas infâncias. Edith tirou seu material tanto da família em que cresceu quanto de seus próprios filhos, mas os contos não são inteiramente realistas; eles frequentemente têm mais do que um toque de fantasia, como aquelas sobre The Psammead[139]. O fato de ela ter dedicado The Story of the Amulet ("A História do Amuleto", 1906) ao Dr. Wallis Budge sugere que pode ter sido o seu Templo a que ela pertenceu. Essas obras se estendem sucessivamente desde The Story of the Treasure-Seekers ("A História dos Caçadores de Tesouros") de 1890 até Five of Us—and Madeline ("Cinco de nós ― e Madeline") de 1925 e ainda mantêm uma venda constante.

    EVELYN UNDERHILL (Sra. Hubert Stuart Moore) 1875-1941
    Filha única (e solitária), ela foi criada como anglicana, mas sem intensidade devocional. Seu pai era um advogado de sucesso, e ela foi educada particularmente e no King's College para Mulheres, em Londres, do qual ela se tornou Membro Honorário em 1927.

    Por muitos anos, ela escreveu cartas de amor a um companheiro de infância, Hubert Moore, um advogado como seu pai e posteriormente Membro da Sociedade de Antiquários de Londres (Fellow of the Society of Antiquaries of London). Em 1906, ela ficou noiva dele, mas no mesmo ano, depois de se hospedar em um convento, ela foi "convertida" de repente, de uma vez por todas, por uma visão que, embora não especificamente cristã em conteúdo, a convenceu de que a verdadeira fé estava na Igreja de Roma. Hubert a convenceu a esperar vários meses antes de "se converter", deixando claro ao mesmo tempo que, se ela o fizesse, o noivado também terminaria. Evelyn se viu na conhecida situação difícil. No entanto, a controvérsia Modernista ocorreu no momento crítico, com o resultado de que ela passou anos sem uma aliança religiosa definida, embora com uma inclinação para o tipo de espiritualidade franciscana e bem dentro do ambiente romano. Tem-se

    [p 230]

    a impressão de um pacto com Hubert (com quem se casou em 1907) que a permitia ir a qualquer extremo nessa direção, desde que parasse antes da conversão. Grande parte de sua angústia devota ― e qualquer elemento psicogênico em sua saúde indiferente ― pode ser atribuída a este conflito em seus interesses mais profundos.

    Em 1911, ela conheceu o Barão Von Hugel, que modificou profundamente seu pensamento e sentimento metafísico, embora ela não se colocasse sob sua direção espiritual até 1921. Ainda assim, ela não entrou em sua Igreja, mas retornou ao redil anglicano. No mesmo ano, tornou-se Professora de Filosofia da Religião no Manchester College, Oxford, e em 1939 recebeu o título honorário de Doutora em Divindade[140] pela Universidade de Aberdeen. Acolhida por uma confortável casa em Campden Hill Square, seu tempo livre foi gasto em conversas literárias, jardinagem, caminhadas, velejando, estudando Liturgia e conversando com gatos. Ela fez palestras e transmissões sobre assuntos religiosos com sua voz desagradável, participou de Retiros e até se aventurou no trabalho social ― o que não deve ter sido agradável para alguém inclinada a um quietismo culto. Seus últimos anos foram atormentados por crises de asma ― a doença esotérica par excellence; Hubert sobreviveu a ela por alguns anos.

    Ela havia começado sua carreira literária com versos e romances, mas logo voltou sua atenção para questões mais sérias ― sua reputação foi feita por Mysticism ("Misticismo", 1911). Seus versos figuram nos Livros Agostinianos de Poesia de Benn e suas obras publicadas vão desde um romance, Grey World ("Mundo Cinzento"), em 1904, até as cartas reunidas como The Fruits of the Spirit ("Os Frutos do Espírito") em 1942.

    A recente biografia de Margaret Cropper omite um fato que Charles Williams, em sua introdução às The Letters of Evelyn Underhill ("As Cartas de Evelyn Underhill", 1943), revelou; Evelyn ingressou na Aurora Dourada dissidente de Waite em 1904 e permaneceu nela por vários anos ― presumivelmente até sua visão, que pode ter sido estimulada pelas técnicas da Aurora Dourada. Como Williams, Machen e o próprio Waite, ela poderia ter se chamado de "católica periférica" se a frase tivesse sido usada nos primeiros anos do século. Seu romance, The Column of Dust ("A Coluna de Poeira", 1909), tem a dedicação:

    ‘Para Arthur e Purefoy Machen
    Oferta de amizade’

    [p 231]

    Digna, segura e monótona como parece, é fácil descartá-la como o bege do espectro da Aurora Dourada. No entanto, tendo absorvido o incentivo discreto, mas persistente da Ordem ao feminismo (inspirado originalmente por Mathers), ela invadiu o que ainda é uma reserva quase exclusivamente masculina ― a teologia. Que ela tenha conseguido fazer isso em sua época sem despertar o demônio do preconceito e ciúmes ressentidos prova que ela podia manipular seu charme de forma muito astuta - talvez até de forma sobrenatural?

    Pois charme ela possuía, de acordo com o testemunho de seus amigos, embora não fosse bonita no sentido aceito: em uma foto datada de 1933, um rosto assimétrico aparece com traços rudes e castigados pelo tempo. Somente a penetração quase insolente dos olhos a distingue daquela de qualquer mulher profissional bem estabelecida, e desmente a aconchegante abordagem dela como conselheira espiritual.

    Ela é um portento que marca o quão longe e em que direções inesperadas a influência da Aurora Dourada pode se estender.

    ARTHUR EDWARD WAITE 1857-1942
    Nascido nos EUA, seu pai era cidadão americano e morreu quando ele era muito jovem. Sua mãe, nascida Emma Lovell, era inglesa e, quando viúva, retornou a este país. Convertida à Igreja Católica Romana, ela criou seu filho e filha como membros dela. Eles não eram ricos e Waite foi educado primeiro em pequenas escolas particulares no norte de Londres e depois, a partir dos treze anos, no St. Charles's College. Quando deixou a escola para se tornar um escriturário, escrevia versos em seu tempo livre; a morte de sua irmã logo depois o atraiu para a pesquisa psíquica. Aos vinte e um anos, ele começou a ler regularmente na Biblioteca do Museu Britânico, estudando muitos ramos do esoterismo. Quando tinha quase trinta anos, casou-se com Ada Lakeman ('Lucasta') e tiveram uma filha; algum tempo depois da morte de 'Lucasta' em 1924, ele se casou com Mary Broadbent Schofield (Una Salus). Ele passou toda a sua vida em Londres ou nas proximidades, estando ligado a várias editoras. Ele editou uma pequena revista, The Unknown World ("O Mundo Desconhecido"), mas tornou-se cada vez mais envolvido em seu tipo particular de autoria e na pesquisa que ela exigia.

    Ele conheceu MaGregor Mathers no Museu Britânico (quem não conheceu?),

    [p 232]

    mas nunca gostou dele. No entanto, ele e "Lucasta" foram iniciados em Isis-Urania, na casa dos Mathers perto do Museu Horniman, logo após o casamento de MacGregor e Moïna. 'Lucasta' nunca foi entusiásta e Waite não alcançou a Segunda Ordem — Ellie Howe sugere que seu desencanto pode ter sido devido a esse fracasso. Na conta de Waite — Shadows of Life and Thought ("Sombras da Vida e do Pensamento", 1938) — Dr. Berridge instou-o a renunciar; mas um ou dois anos depois, ele foi persuadido a retornar por seu amigo Robert Palmer Thomas.

    Waite sempre foi tendencioso a favor do "caminho do Místico", ao contrário do caminho Ocultista, Por isso, ele não concordava com Mathers e nunca se sentiu confortável no ambiente original da Aurora Dourada. Após o Cisma, Isis-Urania foi dividida no ainda leal Templo Isis sob a liderança do Dr. Berridge, e na dissidente Stella Matutina, da qual evoluiu uma nebulosa Golden Dawn sob a liderança do próprio Waite. Nessa época, Waite se tornou maçom — uma jogada astuta de sua parte, pois certas pessoas na Grande Loja anteriormente desaprovavam suas pesquisas.

    Fui informado por uma mulher que foi membro de sua Holy Order of the Golden Dawn ("Sagrada Ordem da Aurora Dourada") por um curto período, por volta de 1910, que ele então morava em Penywern Road, Earl's Court, com sua secretária e governanta, cujo lema era, apropriadamente, Vigilate. (Ela era a Sra. Rand, ex-Isis-Urania e reconhecível pelo seu nome de Ordem.) Ela cuidava dele em tudo; eles costumavam almoçar a cada três semanas com os pais da minha informante, que moravam em Kensington e eram ambos membros devotos. Waite era vago em seu modo de agir; ele diria: "Eu gosto de mostarda, Vigilate?" e ela teria que dizer a ele. (Presumivelmente, seu relacionamento preencheu algum intervalo de desarmonia doméstica, já que sua primeira esposa ainda estava viva.)

    A Ordem costumava se reunir no estúdio do Sr. H. Collison em Clareville Grove 27 — onde, curiosamente, a Sociedade Quest (e a Loja A:.O:. de Moïna) se encontrariam anos depois. Quando Rudolf Steiner veio a Londres em 1912, os pais da minha informante, Collison e cerca de cinco outros deixaram Waite pela Antroposofia, na crença de que ela havia superado a tradição Aurora Dourada; embora alguns deles tenham acabado mais tarde na Loja Merlin de Felkin.

    O impacto mais duradouro de Waite na Aurora Dourada provou ser o maço de Tarot produzido sob sua direção por uma devota artística, Pamela Coleman Smith, que desenhou no estilo de Walter Crane:

    [p 233]

    agora ele adquiriu o charme da época da art-nouveau, embora seu design siga as instruções da Aurora Dourada quanto ao design com fidelidade imperfeita.

    Sua autobiografia Shadows of Life and Thought ("Sombras da Vida e do Pensamento", 1938) não é factualmente confiável, como se poderia adivinhar. Suas publicações variam em data entre The Mysteries of Magic ("Os Mistérios da Magia", 1885) e The Life of Louis-Claude de Saint-Martin ("A vida de Louis-Claude de Saint-Martin", 1939). Ele produziu uma torrente interminável de livros sobre assuntos transcendentais, editou o trabalho de outros (sobre temas semelhantes) e persistiu com seus próprios versos. Este último me parece quase inútil — o adjetivo inelegante "piegas" vem à mente. Em quase todas as edições de The Equinox, Crowley parodiava sua prosa pesada e contorcida sem piedade — como em Dead Weight ("Peso Morto"), um obituário fictício. É difícil para eu avaliar a erudição de Waite de forma justa, já que seu estilo é tão prolixo e seu conteúdo tão evasivo que acho quase impossível lê-lo. (Seus títulos são sempre atraentes — e geralmente a melhor parte.) No entanto, reconheço que o momento pode estar se aproximando em que suas longas divagações parecerão um alívio bem-vindo da rapidez, e até sua astuta pedantice pode encantar.

    Lembro-me dele dando uma palestra em uma ocasião para a Sociedade Quest; ele estava vestindo um fraque, uma gola engomada alta e uma gravata azul-pálida presa com um anel; acima destes estavam o branco-desbotado de seu cabelo e o rosto oval e liso. Não me lembro do título de seu discurso, mas sua maneira de entrega era tão desconectada que seu tema poderia ter sido The Hidden Church of the Holy Graal ("A Igreja Oculta do Santo Graal"), Devil Worship in France ("Adoração do Diabo na França") ou quase qualquer outra coisa. Isso foi por volta de 1929 e havia fofocas na época de que ele já tinha começado a beber.

    CHARLES WALTER STANSBY WILLIAMS 1886-1945
    Embora seu pai fosse de descendência galesa — um poeta nas horas vagas que ganhava a vida em um pequeno negócio — Charles nasceu em Londres e permaneceu essencialmente um londrino por toda a sua vida. Educado na Escola St. Alban e na Universidade de Londres, ele deixou esta última por falta de recursos antes que pudesse obter um diploma.

    Em vez disso, teve que aceitar um emprego em uma pequena editora, e passava suas noites estudando no Working Men's College[141]. Ele ainda morava com seus pais em St. Alban's — segundo alguns ocultistas, o centro de poder oriental da Grã-Bretanha, que equilibra Glastonbury no oeste. Em 1917, após um longo noivado, casou-se com Florence Conway e foram morar em Londres; tiveram um filho. Charles

    [p 234]

    havia se tornado editor e leitor no escritório da Oxford University Press de Londres, e em 1939 ele seguiu a empresa para Oxford, onde se estabeleceu pelo resto de sua vida, recebendo um título honorário de Meste de Artes pela Universidade. Florence logo voltou para Londres e, desde então, estiveram juntos apenas em visitas, embora ele frequentemente voltasse para casa nos fins de semana. Quando ele dava palestras sobre Literatura Inglesa, no City Literary Institute, por exemplo, sua aparência comum se transformava à medida que começava a falar — a inspiração Galesa hwyl[142] tomando conta? — e ele prendia a plateia, fazendo-a esquecer de seus óculos grossos e lábio superior comprido.

    Com C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien, ele foi um dos "Inklings" ("Suspeitos"), um grupo seleto que costumava se reunir informalmente nos quartos de Lewis em Magdalen[143] para discussões literárias e filosóficas. Alguns anos antes, ele havia ingressado na fraternidade de Waite; como seu companheiro iniciado e compatriota celta, Arthur Machen, ele continuou profundamente religioso no modo anglo-católico em que fora criado. Como ele, também, estava fascinado pelas lendas do Ciclo Arturiano, com suas insinuações de magia do Graal — como o próprio Waite. A ele, Williams devia a abertura de uma porta misteriosa que a filiação a uma sodalidade às vezes pode oferecer. Alice Mary Hadfield, em An Introduction to Charles Williams ("Uma introdução a Charles Williams", 1959), diz que sua esposa duvidava se ele já fora membro; mas certamente nem mesmo Waite se tornara tão negligente a ponto de admitir não-iniciados! As esposas não sabem de tudo; Lady Kelly me disse que nunca ouviu falar da Aurora Dourada nem da associação de Sir Gerald com ela. É uma política comum entre os estudantes de ocultismo manter sua vida mágica separada das associações familiares.

    Se Tolkien e Lewis foram ou não adeptos de Waite em algum momento, eles devem algo a Williams por seus temas na ficção. O Senhor dos Anéis tem um toque da Aurora Dourada, embora isso possa ser filtrado através de E. R. Eddison em vez de Williams, já que passagens perto do início de The Worm Ouroboros ("O Verme Ouroboros", 1922) são tão permeadas pela atmosfera da Aurora Dourada que fazem alguém especular sobre o background esotérico de seu autor. That Hideous Strength ("Essa Força Hedionda"), o último da trilogia de ficção científica de Lewis, mostra uma familiaridade com ideias cognatas: há uma enigmática Companhia — "Não podemos contar muito a ela até que ela tenha se juntado" — centrada na Manor, St. Anne's Hill (mais uma versão da "pensão ou bordel" do meu capítulo anterior?) Seu Diretor, Sr. Fisher-King, é porta-voz e agente dos

    [p 235]

    Mestres, aqui identificados como os eldils[144] do Espaço Exterior; ele é, em um sentido mais localizado, o Pendragon do sutil equivalente britânico, Logres, em sucessão direta do Rei Arthur.

    Ambos Tolkien e Lewis afirmam estar combatendo forças satânicas, mas o ethos que propõem em vez disso é dificilmente aceitável. Ignorando por um momento seus méritos literários consideráveis, e concentrando-se em suas implicações metafísicas, vejo-os como piores do que meramente dissidentes, pois seus talentos distorcem a visão de mundo genuína da Aurora Dourada enquanto mantêm alguns de seus adornos. Ambos detestam e desprezam as mulheres; esse preconceito emerge indiretamente de Tolkien através da pouca quantidade e insipidez de suas personagens femininas, mas flagrantemente nas doutrinas sado-masoquistas de Lewis, que o Sr. Fisher-King implanta em seus discípulos em vez de ensinamentos ocultos e pelo uso indevido de seu magnetismo pessoal. Se esses são "os mocinhos", me dê Satanás!

    Os romances de Charles Williams, no entanto, respiram em um ar mais claro e exalam um ponto de vista mais maduro. Se ele concordou com algumas das noções defendidas por seus dois amigos, pelo menos as expressou com mais tato e bom gosto. Entre 1931 (War in Heaven, "Guerra no Céu") e 1945 (All Hallows Eve, "Véspera de Todos os Santos"), ele publicou uma série de romances que lhe trouxeram não apenas um sucesso de crítica, mas também uma justa recompensa monetária. Cada um lida com algum objetivo ou método oculto, por exemplo, War in Heaven ("Guerra no Céu") com o Graal, Many Dimensions ("Muitas Dimensões", 1931) com a Pedra dos Filósofos e The Greater Trumps ("Os maiores trunfos", 1932) com o Tarot. Ninguém que não tivesse explorado a região que os teosofistas chamam de plano astral inferior poderia ter descrito, como ele fez em Descent into Hell ("Descida ao Inferno", 1937), o Purgatório de um suicídio: é uma das descrições mais horripilantes em qualquer lugar, o Bardo Thödol Tibetano não é exceção, em um estado pós-morte, e há uma sucubus e um doppelganger (sósia ou duplo) de brinde. O nome da assustadora assombração do cemitério, Lily Sammile, é tirado do nome da Jovem Lilith, esposa de Samael, que governa o inferno cabalístico mais próximo da consciência terrena.

    The Column of Dust ("A Coluna de Poeira") de Evelyn Underhill forneceu um modelo para Williams como romancista. De acordo com Antony Borrow, que contribuiu com um estudo perspicaz, The Animation of Images )"A Animação de Imagens"), para a revista Nine de Peter Russell em 1952, Williams desenvolveu em seus romances sua própria doutrina particular de Imagens. Essas, tomadas coletivamente, parecem quase equivalentes às manifestações de Maya na filosofia Vedanta, já que quase tudo pode ser considerado uma Imagem em seu

    [p 236]

    sentido. Há dois caminhos básicos de consideração, o da Rejeição e o da Afirmação. A Rejeição — cito de uma carta recente de Antony —

    "...pode ser qualquer coisa, desde um leve ascetismo (não adoce) até privação completa, e Afirmação pode ser qualquer coisa desde desfrutar de um lanche até a união com Deus. Então, cada Caminho tem suas perversões. Assim, você tem quatro sub-caminhos e, virtualmente, todos os personagens em seus romances podem ser classificados sob um desses."

    Isso soa como uma versão sofisticada da teoria de Ben Jonson sobre o caráter como derivado dos Temperamentos, que por sua vez dependem dos Quatro Humores, mas também deve muito ao simbolismo quaternário da Aurora Dourada.

    O profundo interesse de Williams na lenda arturiana inspirou sua série de poemas, Taliessin through Logres ("Taliessin através de Logres", 1938), onde, assumindo alguns dos atributos de Merlin com os do bardo galês, ele projeta seu próprio ser mágico. Ele escreveu muitas outras poesias, críticas literárias e belles lettres[145] que despertaram uma empatia em T. S. Eliot e W. H. Auden. A poesia narrativa de The Region of the Summer Stars ("A Região das Estrelas do Verão", 1944), embora às vezes forçada e rígida na dicção, tem passagens impregnadas de tons Rosacruzes, como esta do The Queen's Servant ("O Servo da Rainha"):

    ‘Visivelmente se formando, caíram sobre as rosas amontoadas
    emaranhados e coalhos de lã dourada; o ar
    estava motejado de ouro na câmara tingida de rosa.’

    Na década de 1930, Williams sentiu um reflexo da Companhia de Taliessin tomando forma ao seu redor. Os Companheiros de Charles Williams foram uma sodalidade informal que unia não apenas aqueles que admiravam suas habilidades literárias, quanto aqueles que entendiam o que ele queria dizer com "coinerência"[146], "troca" e "substituição". Com essas palavras, ele tentou transmitir, em termos quase científicos, as doutrinas cristãs da Trindade, da Encarnação e da Expiação. Embora baseada na aceitação destas, a prática resultante parece se reduzir a "Apenas conecte!", de E. M. Forster, que não era especificamente cristã.

    Você se tornava membro da Ordem da "Coinerência" sentindo que

    [p 237]

    era um: você se tornava um "membro da coinerencia" sem um pedido de ingresso, iniciação, sistema de graduação ou organização de qualquer tipo. Mas havia quatro Dias de Festa prescritos quando, se você não festejasse de fato, você se lembraria de sua coinerência e a de todos os outros membros, vivos ou mortos, como se com um eco fraco da cerimônia Corpus Christi da Aurora Dourada. Esses dias eram a Anunciação (25 de março), Domingo da Trindade, a Transfiguração (16 de agosto) e o Dia de Todos os Santos (1º de novembro); é significativo que os dois últimos quase coincidem com dois dos quatro Grandes Dias do calendário Celta (pagão) — Lugnasad (2 de agosto) e Samhain (31 de outubro). Os outros dois estão apenas ligeiramente deslocados na data de dois dos Dias do Quatro Sabás[147] (Cross-Quarter Day), a Anunciação do Equinócio da Primavera e o Domingo da Trindade do Solstício de Verão. Williams nunca quis pontificar, mas agiu como uma espécie de pai-confessor freelance para seus coinerentes; e ele não poderia ter ficado descontente quando adotaram uma fórmula de despedida da expressão de Logres: "Sob a Proteção!"

    Nem como poeta nem como dramaturgo Williams recebeu ainda o reconhecimento que merece, mas em algum momento no início dos anos 1950, no aniversário de sua morte, uma missa memorial foi celebrada em uma igreja anglicana alternativa ― provavelmente a cripta de St. Anne's, Soho, que ele costumava frequentar em suas visitas a Londres, após a destruição do edifício principal por bombardeio. Minha informante descreveu esta cerimônia como uma "Missa cinza", mas ela era uma moça tola e pouco provável de saber o que era uma missa ― preta, branca ou cáqui. No entanto, algo que se assemelhava a um culto a Charles Williams havia surgido entre seus admiradores, que começaram a tratá-lo como um santo e pedir sua intercessão. Outros, mais críticos, inclinavam-se a fofocar maldosamente sobre seus problemas domésticos: dizia-se que quando ele começou a "Afirmar a Imagem"[148] de uma garota, ficou profundamente magoado por sua esposa não conseguir afirmar com ele.

    Assim como nos casos de Rose Macaulay e Dorothy Sayers mais tarde, a associação de Charles Williams com St. Anne's é comemorada por uma placa.

    Atribuí certos iniciados a este capítulo, intitulado como está Questão dos Desvios Sinistros, porque a maior parte de suas carreiras mágicas, mesmo que tenham começado em um Templo regular ― Isis-Urania ou outro ― foi realizada em dissidência. Quatro deles fundaram efetivamente

    [p 238]

    Ordens dissidentes: A. E. Waite (a Sagrada Ordem da Aurora Dourada, posteriormente reconstituída como a Irmandade da Verdadeira Rosa Cruz); Dr. Robert W. Felkin (a Ordem da Stella Matutina); Aleister Crowley (a Astrum Argenteum e o ramo britânico da Ordo Templi Orientis); e Violet M. Firth (a Fraternidade, posteriormente Sociedade, da Luz Interior). Essas Ordens, por sua vez, deram origem a uma série de ramificações, grupos, sodalidades, associações, conforme pode ser visto nas tabelas do capítulo anterior. Muitos deles afirmam ser descendentes da Aurora Dourada e alguns ainda estão ativos no cenário oculto até hoje.

    Excluindo, por enquanto, os muitos grupos derivados diretamente do hinduísmo ou budismo, esse cenário é de fato em grande parte composto por eles, sendo seus outros principais ingredientes:

    1. Teosofia e seus derivados diretos (Antroposofia, a Escola Arcana), cuja relação com a Aurora Dourada foi traçada no Capítulo XI.
    2. Maçonaria e suas Ordens associadas (as mais respeitáveis das sodalidades atuais que usam o emblema Rosacruciano é a S.R.I.A. Maçônica). Novamente, a conexão com a Aurora Dourada foi traçada, como acima.
    3. Sufismo, do qual existem várias "escolas"; aqui classifico os ensinamentos de Gurdjeff e seus dependentes (Ouspensky, Maurice Nicol); também Pak Subuh. O Sufismo não parece, tanto quanto eu possa ver, influenciar de forma significativa a história da Aurora Dourada ― a menos que (tenuemente) através das Ordens Druídas.

    Excluí W. B. Yeats dos Dissidentes, embora ele se qualifique como tal em vários aspectos ― notavelmente, através do comprimento de sua adesão a uma Ordem dissidente em comparação com a de sua lealdade a uma regular. Apesar de tudo, ele me parece tão indelévelmente marcado com o sigilo Aurora Dourada que o coloquei onde ele começou, sob a égide de Mathers em Isis-Urania.

    Figuras de diferente importância mágica, Machen e Blackwood, também partiram do templo-mãe, mas numa data em que a influência de Mathers estava diminuindo (no caso de Machen) e abertamente desafiada (no caso de Blackwood). Nesse sentido, sua dissidência foi involuntária; Charles Williams e Evelyn Underhill foram ainda menos responsáveis, sendo "nascidos" dissidentes.

    Se os juramentos tivessem sido mantidos e o crescimento permitido de

    [p 239]

    maneira orgânica, uma poderosa rede - mais eficaz por ser oculta - poderia agora ter permeado toda a Europa e as Américas em benefício deste planeta esfarrapado, maltratado e profundamente marcado.


    [p 240]

    Crowley with members of the A A performing his Rites of Eleusis at Caxton Hall.png
    Crowley com membros da A∴ A∴ realizando seus Ritos de Eleusis no Caxton Hall, 1910 (do The Liverpool Courier, 28 de outubro de 1910).






    PARTE IV
    LEGADO





    Inscription by Crowley on the flyleaf.png

    Inscrição feita por Crowley na folha de rosto de O Livro da Lei, 1938.



    Inscription by Crowley on the flyleaf of The House of Souls.png

    Inscrição feita por Crowley na folha de rosto de The House of Souls ("A Casa das Almas") por Arthur Machen, 1906. (primeira edição, ilustrada).




    CAPITULO DEZOITO

    [p 243]

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    Magia

    Magia

    Se o destino maligno decretou que o legado mágico de Mathers não penetrasse a comunidade de uma maneira idealmente discreta, ainda é pouco menos que estupendo. Os elementos mais avançados nele ainda estão esperando por estudo e prática adequados. Se sua contribuição fosse totalmente explorada, sem dúvida ocorreriam desenvolvimentos, mas essas não precisam ser as heresias da dissidência. Talvez seu trabalho mais marcante esteja em sua organização do diversificado material do Dr. Dee em um sistema, na revitalização da Alquimia e (como estou inclinada a acreditar) em algum equivalente ao ensino Tântrico: portanto, dedico um capítulo separado a cada um desses temas.

    Resta sua considerável realização em Magia Cerimonial, na Cabala Hermética, em Skrying e em sua Projeção do corpo sutil e em várias técnicas de Adivinhação. Essas últimas incluem Tarot e Astrologia iniciáticos, Geomancia, Xadrez Enoquiano e os métodos que ele chamou de "a Trípode" e "O Anel e o Disco". Mathers foi acima de tudo (e acima de qualquer um de seus contemporâneos) um ocultista criativo, trabalhando em remanescentes da tradição esotérica para uni-los em um corpus unificado e revitalizado sem distorcer suas essências.

    Uma de suas maiores façanhas na esfera da Magia Cerimonial é sua atualização do túmulo de Christian Rosenkreutz, descrito pela primeira vez na Fama Fraternitatis de 1614. Construído como uma estrutura sólida e usado como um item de mobiliário do templo para técnicas especiais, tornou-se um adjunto inestimável ao ritual. Quanto Mathers deve à Soc. Ros. pela ideia desta Câmara? Já que tem uma Segunda Ordem, o grau Adeptus Junior dela pode ser em alguns aspectos equivalente ao Adeptus Minor da Aurora Dourada, e pode muito bem usar algo do tipo, mesmo que fosse mais na natureza de uma "Câmara das Reflexões" Maçônica. Em qualquer caso, suas cerimônias são, pelo que posso reunir, extremamente

    [p 244]

    simples comparadas às da Aurora Dourada. Além disso, nenhuma outra fraternidade empregou, tanto quanto eu saiba, um dispositivo comparável, a menos que fossem certas Ordens Sufi — os Naqshabandi, por exemplo. Sua Irmandade Sarmoung é relatada por ter construído uma "caixa" que podia abrir e transformar-se em pivôs para mostrar uma sucessão de desenhos cênicos de importância simbólica.

    Desde o trabalho do ritual Adeptus Minor, que dá entrada à Ordo Rosae Rubae et Aureae Crucis, essa Câmara dos Adeptos é necessária; portanto, nenhuma Segunda Ordem poderia funcionar sem uma; segue-se que todo templo Aurora Dourada digno do nome deve ter construído o seu próprio. É fascinante especular quantas dessas estruturas maciças e elaboradamente pintadas — cada uma consistindo em sete grandes painéis com dobradiças, com chão e teto heptagonais — ainda podem sobreviver. Seria necessário algum esforço para destruir qualquer uma delas, então pode-se esperar que algumas permaneçam em sótãos, armários ou anexos, ou talvez nos depósitos de museus.

    Os seguintes Templos possuíam uma câmara e eu acrescento uma nota sugerindo seu paradeiro atual (ou seu destino):

    ISIS-URANIA: Este Templo construiu a primeira das Câmaras da Aurora Dourada e a instalou em suas dependências em Thavies Inn, W.C.I. Projetada e pintada por Mathers e Moïna, foi posteriormente transferida para Clipstone Street, W.I, e depois para Blythe Road, W.6. Após o Cisma, continuou em uso pela Stella Matutina inicial até a secessão de Waite em 1903, quando ele a assumiu (como ele foi autorizado a fazer isso?) para sua Holy Order of th Golden Dawn ("Sagrada Ordem da Aurora Dourada"). Se ele a manteve em sua subsequente Fellowship of the Rosy Cross ("Irmandade da Rosa Cruz"), é possível que ainda exista em Londres.

    AHATHOOR: Esta Câmara também foi projetada e pintada pelos Mathers, ou pelo menos sob sua supervisão direta. Quando Moïna voltou a Londres após a morte do marido, ela não fechou o Templo, então presumivelmente sua Câmara teria sido usada ocasionalmente até o final da década de 1930. Se sobreviveu aos anos de guerra, ainda pode estar escondida em algum lugar na França.

    AMEN-RA: Este Templo construiu sua própria Câmara a partir do design de Mathers; Juliette de Steiger, uma artista em certa medida, fez a maior parte da pintura. Pode ainda estar em Edimburgo.

    [p 245]

    A∴O∴ (1): Este era o Templo Isis de Berridge na Portland Road, W.11; não há informações definitivas sobre o destino de sua Câmara.

    A∴O∴ (2): Possivelmente este Templo assumiu a Câmara de Berridge, mas qualquer Câmara que tenha sido usada deve ter sido descartada após a morte de Maiya Tranchell Hayes (Sra. Curtis Webb), em 1937. Pode reaparecer de uma forma tão estranha quanto suas insignias pessoais.

    A∴O∴ (3): Este Templo possuía uma Câmara que era mantida junto com outros acessórios em um anexo em Elm Park Road, S.W.10. Supondo que Moina não a trouxe de Paris, ela deve ter sido projetada e pintada novamente sob sua direção, e estava em uso até 1939. No início da guerra, foi transferida para Sacombe Park, Hertfordshire, e consumida em uma fogueira juntamente com móveis de templo menores. Outras Câmaras podem ter perecido de maneira semelhante com a dispersão de seus Templos por volta dessa data: devido à dispersão dos membros e à interrupção geral da vida civil, as pessoas não saberiam o que fazer com tal madeira volumosa em condições de estresse de guerra. Isso é especialmente verdadeiro para a área de Londres.

    "TEMPLO EGÍPCIO": Se a estrutura montada por Wallis Budge tivesse uma Segunda Ordem, sua Câmara pode muito bem estar guardada em algum lugar no Museu Britânico.

    Várias Lojas Stella Matutina tinham uma Câmara no modelo ortodoxo; não tenho motivo para pensar que o design tenha sido modificado, mas também não tenho informações sobre os membros que a realizaram.

    AMOUN: Sua Câmara em Bassett Road, W.10, foi posteriormente transferida para Redcliffe Gardens, S.W.10. Com a dissolução, a Câmara pode ter passado para uma filial: o Secret College ("Colégio Secreto") em Londres (e assim, possivelmente, para a Soc. Ros.) ou para Merlin.

    SMARAGDUM THALASSES: Esta Câmara estava em uso até meados da década de 1960 e provavelmente ainda existe na Nova Zelândia. HERMES: Esta foi guardada na Berkeley Square, Bristol, após a Loja entrar em dormência. Não foi usada após a década de 1950 e teria sido destruída em 1964.

    HERMANOUBIS: Diz-se que esta Loja possui uma Câmara em Bristol, mas nada pode ser dito sobre isso enquanto a reivindicação do Templo de continuidade permanecer não provada.

    [p 246]

    NUADA: Uma Câmara foi abrigada (embora não usada desde a década de 1930) na Narbonne Road, S.E., pelo menos até cerca de vinte anos depois.

    CUBIC STONE ("Pedra Cúbica"): Um registro de um trabalho publicado em The Monolith ("O Monólito") menciona uma 'Câmara de Adeptos', então presumivelmente esses Irmãos construíram algo do tipo. A menos que seus rituais de grau superior fossem realizados apenas no nível astral?

    Alguns dos vários Templos sancionados nos EUA, regulares ou não, devem ter conseguido suas próprias Câmaras. Ao todo, cerca de uma dúzia de Câmaras devem ter sido montadas em diferentes épocas e lugares - com graus variáveis de perícia, mas sempre com algum grau de imponência. Eles serviam como oratórios inspiradores onde adeptos individuais ou pequenos grupos podiam se retirar para experimentos mágicos ou místicos. Relatei o holocausto de uma Câmara e a provável destruição de mais duas, mas acho que cinco ou seis podem persistir em algum tipo de armazenamento frio. Há um boato de uma nesse estado de animação suspensa localizada em Yorkshire, embora o Templo HORUS de Bradford não tenha o seu próprio - a menos que tenha montado um após sua absorção na Order of Light ("Ordem da Luz")?

    Os desenhos elaborados pelos Mathers para as sete paredes, o teto e o chão são mais detalhados do que a descrição - em alguns lugares ambígua - encontrada na Fama Fraternitais. Eles também diferem dela em certos aspectos, com mudanças feitas por Mathers tendo em mente considerações práticas. Foi ele quem ordenou a coloração, nenhuma das quais é mencionada na Fama׳, o que requer alguma habilidade técnica na aplicação, já que uma "pátina" da tonalidade planetária apropriada deve ser aplicada a cada painel assim que a pintura básica (de quarenta quadrados, cada um carregado com seu sigilo em cor contrastante) estiver seca. Moïna teria sido competente para realizar isso; e das duas ou três Câmaras nas quais se sabe que ela trabalhou, pode-se esperar que duas (em algum lugar!) permaneçam.

    A presença da Câmara aterrou a Magia Cerimonial de Mathers com um adjunto tridimensional: da mesma forma, ele ampliou o estudo e a prática daquele aspecto da Cabala que é explicado em sua nota, The Tree of Life as projected in a Solid Sphere. ("A Árvore da Vida projetada em uma Esfera Sólida"). Como um cosmógrafo, a Árvore (Otz Chiim) assim se torna um instrumento de maior lucidez e profundidade. Wynn Westcott deve ter colaborado

    [p 247]

    com ele nisso, já que suas iniciais da Ordem, S.A., assinam os diagramas ilustrativos.

    Embora os estudos Cabalísticos de Mathers devessem muito a Wynn Westcott e ao Dr. Woodman, seus primeiros mentores, não há dúvida de que ele finalmente os superou — como eles previam que ele faria quando encomendaram suas pesquisas pela primeira vez. Sob a orientação deles, ele serviu como aprendiz da Cabalah no sentido hebraico tradicional, principalmente através de Woodman, bem como expandindo isso no que Westcott chamou de "Cabalah Cristã". Eu prefiro o termo Cabalah Hermética, já que a atmosfera do sistema não é especificamente cristã (não é cristã de maneira ortodoxa) embora alguns estudantes de origem cristã — Pico Della Mirandola no século XV é um exemplo — tenham, desde os tempos medievais, contribuído para isso. Mais recentemente, foi Eliphas Levi (1810-1875) quem incorporou material não-hebraico como o Taro no diagrama da Árvore da Vida. O monumento mais marcante para esta linha de pensamento é o Liber 777 (1909), cujo material foi colhido principalmente do The Book of Correspondences ("Livro das Correspondências"), circulado (com a usual falta de cautela de Mathers) entre os membros da Ordem. Aqui, o diagrama de Sephiroth e Netibuth (caminhos) formam uma espécie de índice de cartas — ou "direção do fluxo", para adotar o jargão da cibernética — para a coleta, tabulação e armazenamento de informações sobre qualquer sistema transcendental. Ainda capaz de expansão, o sistema delineado no Liber 777 é, mesmo como está, um Prolegômeno indispensável para o estudo do ocultismo ocidental. A Introdução de Crowley reconhece o R.R. et A.C. como uma de suas fontes. Das 182 colunas da Tabela, apenas 10 não são certamente extraídas dos pergaminhos, a saber, colunas 22-4, 36, 47, 52 e 125-8, sendo principalmente aquelas poucas que contêm dados tão especializados sobre o Islã que podem estar além do escopo da Teosofia de Westcott ou além dos interesses de Mathers. Dion Fortune em A Cabalah Mística se refere ao Liber 777 como "o sistema Mathers-Crowley": mais preciso seria o sistema Chefes Secretos Mathers-Westcott.

    Embora Mathers e Moïna tenham desempenhado um papel importante no Skrying (clarividência) ensinado na Ordem, foi Westcott quem sugeriu o método básico a ser seguido. Após a remoção dos Mathers para Paris, eles tenderam a se livrar da influência inicial da ST, embora nunca a renegassem; mas Westcott sempre esteve e permaneceu

    [p 248]

    profundamente envolvido na Sociedade e foi principalmente devido a ele que uma obra de origem oriental, As Forças Sutis da Natureza, de Rama Prasad, inspirou as técnicas de skrying da Ordem. A principal contribuição dos Mathers para a prática da Aurora Dourada neste campo foi empregar essas técnicas na investigação clarividente das Tábuas Enoquianas, das Inteligências Geomânticas e do panteão celta. Neste último, o procedimento de Mathers foi primeiro fazer anotações copiosas de obras padrão que lidam com os ciclos mitológicos irlandeses, particularmente traduções de textos originais; ele também alistou Yeats para coletar e passar suas próprias anotações. Depois, ele encorajou Maud e Moïna a se impregnarem dos registros dessa atmosfera lendária e, posteriormente, a se projetarem nela astralmente e registrarem suas descobertas.

    Um manuscrito escrito à mão por Moïna com ampliações de Mathers, que eu citei, ilustra bem o método, relacionando como faz a Árvore Cabalística à Avelã do Conhecimento na mitologia gaélica. Isso fez parte do trabalho preparatório que precedeu a clarividência de Moïna sobre o tema da fonte de Shannon, um poço sagrado para o deus da água Connla, e resultou em seu contato astral com Connla, como Yeats registra em uma de suas cartas. Um manuscrito na Biblioteca Nacional da Irlanda registra uma Visão de Brigid, uma Deusa Tripla dos Gaélicos, vista por Maud Gonne; mostra incidentalmente que a grafia de Maud era tão selvagem quanto a de Yeats:

    AS TRÊS BRIDGETS

    As três Bridgets guardam a entrada para a terra dos Deuses. Esta entrada consiste em três portais, formados por vigas pesadas de madeira, incrustadas com pequenos ornamentos de prata e bronze.

    Bridget, a trabalhadora Ferreira, está forte e atenta no portão esquerdo. Ela é muito morena, com cabelos pretos e ásperos, e olhos negros inquietos. Sua túnica é azul e roxa, sua capa roxa; um broche de bronze prende sua capa e em sua cabeça há uma faixa de bronze; trabalhos em bronze batido adornam seu cinto de couro e sandálias.

    Ela governa todos os trabalhos manuais e representa o lado árduo, trabalhoso e doloroso da vida.

    Bridget da Medicina fica no portão direito. Ela tem um rosto justo e gentil,

    [p 249]

    suas vestes são azuis claras bordadas com fio de prata, presas por um broche alado de prata, outro ornamento alado repousa em sua cabeça. Ela representa o lado feliz e simpático da vida, e assim se torna a curandeira do que é machucado e quebrado pelo martelo da Bridget da Ferraria.

    Bridget da Poesia. Sobre o portal central fica Bridget da Poesia, suas vestes são mais sombrias e enevoadas. São de um cinza azulado e branco opacos; seu rosto não é nem claro nem escuro, ela tem olhos azuis suaves que olham tristemente para o mundo, sentindo as alegrias e tristezas que nele operam. Ela combina as forças das outras duas, sendo tanto ativa quanto passiva, receptiva às impressões e possuindo o poder de produzir forma.

    Seu braço direito repousa sobre uma harpa de prata, o esquerdo está estendido, como se enfatizasse algumas palavras faladas. Ela diz: 'Expanda, expresse, disponha a partir do centro, depois descanse e recolha. A força velha deve ser jogada fora, ou torna-se insalubre'. Ela dá como seu sinal o movimento das mãos em direção ao coração, depois jogando-as abertas para fora.

    Enquanto ela descansa, a vegetação cresce; ela sopra o sopro de sua trombeta durante os meses mortos do inverno. As ondas do mar fluem em sua direção quando ela está em repouso e são repelidas quando ela se torna ativa.

    Atrás dos postes do portal, jazem dois cães, aquele ao lado de Bridget, a trabalhadora ferreira, é preto, o outro é branco. Eles representam Vida e Morte, Alegria e Tristeza. Quem quiser entrar por este portal deve conhecer o segredo de um desses cães, pois ocorre uma batalha entre eles, e aquele cão que é conhecido fica mais forte através desse conhecimento, e quando o mais forte devorar o mais fraco, ele se torna o servo daquele que conhece sua natureza.

    Enquanto Skyring e a prática associada de Projeção poderiam claramente ser trabalhados com intenção divinatória, seu principal propósito na Ordem era a exploração de níveis desconhecidos do ser. É intrigante especular até que ponto essas viagens astrais eram "viagens" no sentido da cultura (ou subcultura) das drogas de hoje. A Lei das Drogas Perigosas não entrou em vigor até 1920; antes dessa data, qualquer pessoa podia comprar, a um custo razoável e sem receita médica, substâncias

    [p 250]

    que agora têm preços no mercado negro. Crowley, Bennett, Jones e Machen admitiram francamente o uso de alucinógenos; e uma boa proporção dos membros da Aurora Dourada (e dissidentes) eram médicos que podiam obter e distribuir tais drogas sem comentários adversos.

    Até mesmo práticas tipicamente adivinhatórias, como o Tarot e a Astrologia, foram dadas aplicações muito além da mera previsão do futuro: elas sugerem, entre muitas outras coisas, uma classificação de tipos psicofisiológicos. Métodos mais obviamente adivinhatórios incluíam o Trípode, o Anel e o Disco, a Geomancia (especialmente em relação à magia Enochiana) e o jogo do Xadrez Enochiano. Qualquer que fosse o método e por mais humilde que fosse a questão, a Adivinhação sempre fazia parte de um ritual, para uma abordagem mais segura aos planos sutis e uma proteção mais completa dos exploradores. Isso distingue a Adivinhação iniciática do comercialismo e do mero amadorismo.

    Os desenhos do Tarot da Aurora Dourada nunca viram a luz do dia, sendo que aqueles, frequentemente confundidos com eles, foram projetados por Waite com a ajuda técnica de Pamela Coleman Smith. Seja qual for o mérito deles, equivalem a uma distorção do baralho, conforme desenhado (ou revelado) por MacGregor Mathers. Isso ocorre especialmente em relação aos Arcanos Menores dos Quatro Naipes, cuja ornamentação simbólica foi empobrecida por Waite; e para as Cartas da Corte, cuja disposição simétrica ele viciou. O conjunto original de Mathers é:

    Reis (montados em cavalos)
    Rainhas (entronizadas)
    Príncipes (sentados em carruagens)
    Princesas ou Amazonas (em pé).

    Waite substituiu estes por:

    Reis (entronizados)
    Rainhas (entronizadas)
    Cavaleiros (montados em cavalos)
    Valete (em pé)

    perturbando, assim, o equilíbrio dos sexos propositalmente estabelecido por

    [p 251]

    Mathers, cuja disposição se baseia nas Quatro Letras do Tetragrama e na Sephiroth:

    Iod = o Pai, Abba, Chokmah.
    He = a Mãe, Aima, Binah.
    Vau = o Filho, Adão, Tipheret.
    He final = a Filha, Malkah a Noiva, Malkuth.

    A versão de Waite é baseada em—o quê? Além de cartas de baralho comuns, uma degeneração de qualquer padrão iniciático. A confusão desnecessária que resultou é ainda mais lamentável, já que Waite, em Shadows of Life and Thought ("Sombras da Vida e do Pensamento", 1939), parece aprovar as atribuições genuínas.

    Baralhos emitidos mais recentemente — como o do Insight Institute, por exemplo — tendem a perpetuar as perversidades de Waite enquanto suprimem o charme de época da arte de Pamela. O de Paul Foster Case, lançado pelos Builders of the Adytum ("Construtores do Adytum"), segue Waite na questão das Cartas da Corte, mas tenta a autenticidade com os Arcanos Maiores. Vários destes Arcanos foram variados gratuitamente por Waite: por exemplo, O Louco—na realidade "o Espírito do Éter" — deveria ser representado como "um Ancião barbudo visto de perfil", enquanto a Temperança deveria ter "a figura de Diana Caçadora". Mais de trinta anos depois, Lady (Frieda) Harris atuaria em uma capacidade semelhante à de Pamela quando ilustrou The Book of Thoth ("O Livro de Thoth", 1944) de Crowley. Os desenhos coloridos de Frieda, notáveis como são, não tentam representar as descrições da Aurora Dourada, exceto como vistas através de um temperamento—o de Crowley. Durante os anos 1940, eles foram exibidos em duas galerias do West End e foram produzidos como um baralho alguns anos atrás nos EUA.

    Há também um baralho transatlântico (Americano e Europeu) que é bem desenhado em uma versão atualizada do estilo Art Nouveau, mas abandona grande parte do simbolismo tradicional. Um descendente remoto do pensamento de Mathers, mas uma instância genuína de ocultismo criativo, é o Taro Surrealista, desenhado em 1939-40 e reproduzido na revista Minotaure (Genebra). Apenas três Cartas da Corte aparecem nesta versão, o Mago substituindo o Rei e a Sereia a Rainha; assim, doze figuras históricas e literárias que os Surrealistas achavam simpáticas são celebradas, três para cada um dos Quatro Naipes—muito como em alguns baralhos franceses anteriores, os Reis eram nomeados após Carlos Magno e outros líderes.

    [p 252]

    O Tarot da Aurora Dourada ainda aguarda um ilustrador iniciado disposto a respeitar as instruções reveladas. Com uma abordagem semelhante à destreza de The Book of Kells ("O Livro de Kells"), tão delicada que mal se assemelha ao artesanato humano, isso poderia ser uma obra-prima de iluminação - em dois sentidos.

    O método da Ordem de adivinhação pelo Tarot não estava sozinho, mas foi complementado pela Astrologia e Geomancia. Os estudantes se preparando para o trabalho da Segunda Ordem tinham que aprender a fazer um horóscopo ― também interpretar um mapa natal, um processo que exige grande ingenium. Vários se tornaram especialistas. Embora lhes tenha sido ensinada a abordagem ocidental usual como base, Mathers transmitiu aos mais avançados suas descobertas astrológicas, que levam em conta tanto as Estrelas Fixas quanto os Planetas. Ele substituiu o Zodíaco móvel geralmente aceito por um fixo, medido a partir de Cor Leonis, e dividiu as Casas de maneira diferente; alguns investigadores contemporâneos concordaram que isso resulta em maior precisão.

    Nenhum dos ‘reveladores’ parece ter reproduzido as Lições de Conhecimento e/ou os Pergamínios Voadores contendo as instruções astrológicas da Aurora Dourada, embora o Ritual Magic in England ("Magia Ritual na Inglaterra") de Francis King apresente a Tabela de ajustes de Mathers. Apesar disso, o rumor da marca peculiar da astrologia de regra exata e intuição pessoal gradualmente se espalhou pela sociedade profana. Não fosse pelos esforços de Mathers e seus alunos nesse campo, quantos horóscopos estariam aparecendo na imprensa popular agora? Quantos livros sobre o assunto, elementares ou avançados, seriam publicados? Foi a influência às vezes oculta da Aurora Dourada que deu à Astrologia seu ímpeto atual.

    Mathers integrou a prática divinatória medieval da Geomancia à Astrologia e à Magia Enoquiana. Como elas, a Geomancia também está conectada com entidades praeternaturais[149], cada uma de suas dezesseis Figuras sendo atribuídas a duas dessas entidades, o Gênio e o Regente. Cada um também é atribuído a um Elemento, Planeta ou Signo do Zodíaco. O nome Geomancia remete ao fato de que o método lida com o Elemento Terra, e as dezesseis linhas aleatórias de pontos com as quais suas operações começam são idealmente feitas com uma vara apontada em terra seca ou areia.

    O uso dos quadrados Enoquianos como tabuleiro de xadrez e o que Mathers chamou de "a Jogada" do Xadrez Rosacruciano podem ter sido sugeridos a ele no decorrer de suas pesquisas celtas: em The Mysteries of Chartres Cathedral ("Os mistérios da Catedral de Chartres", 1966), Louis Charpentier fala

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    das três ‘Mesas’ que sustentam o Santo Graal ― circular, quadrada e oblonga. Uma "mesa" quadrada, ele diz, muitas vezes assume a forma de um tabuleiro de xadrez, então, a maioria dos diagramas enoquianos pareceria pertencer a essa segunda categoria, a da "iniciação intelectual". Por um lado, o Xadrez Enoquiano pode ser um jogo e, por outro, uma base para profecia exaltada, e entre os dois, um método de Adivinhação.

    Mathers também reviveu e reorientou dois meios antigos de consulta mágica, cujos restos já haviam sido apresentados, embora em forma decadente, pelo Movimento 'Espiritualista'. Estes são a Adivinhação pelo Tripé, vulgarizada como Girar a Mesa, e pelo Anel-e-o-Disco, popularizado como o Pêndulo e desde então promovido por cientistas marginais como Radiestesia. Um documento de Mathers dá instruções para fazer e operar este anel e disco, o anel usado como um pêndulo e o disco sendo o círculo de letras - na versão Aurora Dourada, estas são o alfabeto hebraico. Francis King recomenda um anel de ouro suspenso em um fio vermelho, mas a cópia de Liber Hodos Chamelionis em minha posse sugere fazer tanto o anel quanto o disco de papelão - para que possam ser adequadamente coloridos e inscritos. Aqui, o fio deve ser colorido de acordo com a natureza da consulta; Wynn Westcott acrescenta uma nota sobre o possível uso de fio metálico.

    Será possível que Mathers, mesmo com a ajuda de sua esposa e Wynn Westcott, pudesse ter elaborado esse sistema intrincadamente entrelaçado de estudo, culminando com The Book of the Concourse of the Forces ("O Livro do Concurso das Forças"), no decorrer de três anos? Não é tão provável que Mathers e sua Skryer, Moina, tenham sido capazes de fazê-lo porque entraram em contato com instrutores (a quem chamaram de Chefes Secretos) dos níveis mais sutis do ser? Aqueles que depreciam o trabalho de Mathers como "ecletismo" não entenderam seu objetivo, que não era multiplicar correspondências para exibir erudição, mas organizar cada vertente da tradição mágica de modo que reforçasse o restante.



    CAPITULO DEZENOVE

    [p 254]

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    Enochiano

    Enochiana

    O sistema enoquiano de magia e seu veículo, a língua angelical, geralmente são atribuídos ao Dr. John Dee (1527-1608) e seu Skryer ou clarividente, Edward Kelley. No entanto, em um tratado latino publicado em Veneza em 1531, Vaorchadumia ― em si uma palavra angelical ― já se pode encontrar o alfabeto angelical. A partir de 1475, uma Loja secreta do mesmo nome, com a qual Marcello Ficino teria estado relacionado, estava operando em Veneza. Chwolsohn, em sua erroneamente chamada Agricultura Nabateana[150], publicada em alemão em São Petersburgo por volta de 1860, também apresenta as letras angelicais, embora não seja provável que ele soubesse das investigações de Dee. Madame Blavatsky menciona o trabalho de Chwolsohn, mas não o do Dr. Dee: em suas referências à literatura enoquiana em "A Doutrina Secreta", ela se refere ao apócrifo Livro de Enoque. Mesmo considerando os laços que existiam entre a Sociedade Teosófica inicial na Inglaterra e a Aurora Dourada inicial, não é provável, embora seja possível, que ela tenha dado a MacGregor Mathers e Wynn Westcott uma dica para investigar o sistema. Seja como for, eles o fizeram, usando não apenas os recursos da erudição, mas também os da clarividência por meio do Skrying de Moïna. Kenneth R. H. Mackenzie, que morreu logo antes da fundação da Aurora Dourada, deixou manuscritos nos quais a língua angelical foi usada; e se estes estavam acessíveis aos fundadores, teriam fornecido um incentivo adicional. Os documentos de Mackenzie não estão na Biblioteca do Museu Britânico e, segundo me disseram, nem na da S.R.I.A., da qual ele foi membro em certo momento; eles podem estar escondidos em alguma coleção maçônica privada.

    Uma carta para mim datada de 5 de março de 1954, do falecido C. R. Cammell, afirma que um manuscrito na língua angelical, de uma data muito anterior à época do Dr. Dee, existe na biblioteca de um mosteiro sírio. O doutor dificilmente poderia ter conhecimento disso;

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    e desde então foi classificado como "em uma língua desconhecida e indecifrável". Lamento que o Sr. Cammell não tenha sido mais específico; ele não disse qual mosteiro, nem mesmo a qual das Igrejas Ortodoxas Orientais pertence essa relíquia: repito o que ele escreveu, caso alguém possa encaixar as peças que faltam no quebra-cabeça.

    Dee foi, entre muitas outras coisas, o fundador do ‘Espiritualismo’ moderno, e Kelley foi o seu médium mais poderoso, embora de forma alguma o único que ele utilizou. Seus principais guias espirituais — ou melhor dizer, comunicadores — não eram resíduos humanos desencarnados, mas os mesmos Arcanjos — Miguel, Gabriel, Rafael e Uriel — que instruíram o patriarca hebreu Enoque: daí a adoção de Dee do nome deste último para o sistema que os Anjos entregaram. A diferença entre isso e a maior parte do que, desde então, tem sido considerado comunicação espiritual é que os contatos de Dee realmente disseram algo, e algo de profundo interesse: eles não apenas divagaram com especulações não verificáveis e generalidades moralistas. Se eram ou não idênticos aos Arcanjos de Enoque, se eram ou não anjos no sentido teológico, eles certamente estavam um nível acima dos espíritos comuns que se manifestaram, desde então, a maioria dos quais se enquadram na categoria de "tolices" de Madame Blavatasky.

    Entre o trabalho não publicado de Edward Garstin deixado em sua morte em 1955, havia um Glossário da Língua Enoquiana. J. W. Brodie-Innes havia compilado um anteriormente, e Elias Ashmole havia tentado algo do tipo muito antes, mas se Edward os consultou, não sei dizer. Dr. Israel Regardie também tem trabalhado em um Glossário há algum tempo, em consulta com um filólogo, e isso deve aparecer em breve. Edward completou suas investigações sem consultar Regardie, cuja revelação do material da Aurora Dourada ele desaprovava, então eles chegaram às mesmas conclusões (onde o fizeram) independentemente.

    Em uma breve introdução, Edward ressalta que nas 48 Chamadas Angelicais, o Anjo comunicador às vezes precisava inserir palavras, implícitas na linguagem do próprio texto, na tradução para o inglês, a fim de torná-la inteligível. Ele compara o estilo telegráfico do original com o do Sepher D-Tzenioutha (The Book of Concealed Mystery, O Livro do Mistério Oculto"), um dos três textos zoháricos que compõem A Cabala Desevelada, traduzida

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    por Mathers. Ele ainda tenta peneirar essas palavras adicionadas de seu texto original, ao mesmo tempo analisando suas raízes. Ele observa que a divisão em sílabas encontrada nos manuscritos de Dee — o objetivo disso sendo auxiliar na pronúncia — resultou em algumas sílabas sendo erroneamente realocadas.

    Edward sugere uma possível derivação angelical para certas palavras nas línguas hebraica e outras comparando o hebraico Sião com Siaion (templo), o latim Lux com Luc (brilhante) e o egípcio Ra com Roa (leste).

    Alguns estudantes especularam que o Angelical é a língua Ur-Semitisch, fonte de todas as línguas semíticas posteriores. Parte da sua impressão rude aos olhos latinizados quando escrita é, admitidamente, devido à omissão de algumas vogais, que devem ser fornecidas pelo leitor a partir do conhecimento prévio, como em todas as línguas semíticas. Prefiro a opinião de Regardie (The Golden Dawn, N.o 4) de que possa ser antes a língua que "está por trás do sânscrito", nas palavras de Charles Johnson, nomeadamente, a língua de Atlântida. Não é adaptada à conversação comum, sendo principalmente uma "língua do saber", uma língua hierática a ser usada em rituais, com vocabulário referindo-se a assuntos transcendentais. Como todos os alfabetos sagrados, este consiste em números, bem como letras - os sinais individuais que compõem tal são números tanto quanto letras; mas, em um sentido mais recondito, cada letra é também um sigilo ou glifo. Cada uma tem uma entidade própria, da qual a forma da letra é um emblema ou assinatura.

    Um método de pronúncia foi ensinado na Aurora Dourada e sobrevive um disco de Crowley recitando a primeira das 48 Chamadas, começando com Oel Sonuf Vaoresagi ("Eu Reino sobre Ti”). O timbre de sua voz é insuficientemente sonoro para fazer justiça a tal Mantram, mas sugere o quão impressionante essa língua poderia soar se adequadamente vibrada. A última palavra sobre sua pronúncia, ou melhor, vibração, ainda não foi pronunciada.

    A magia Enochiana é, entre outras coisas, um equivalente ocidental ao Mantra-Yoga do hinduísmo — uso o termo sânscrito por falta de um sinônimo ocidental. O principal propósito dos elaborados diagramas de Dee é produzir os Nomes de seres divinos, angelicais ou demoníacos para que possam ser evocados pelo som para auxiliar o mago em operação: "Movei-vos, portanto, mostrai-vos!" adjura a primeira Chamada. Por certa manipulação do som, o sistema pode, se minha intuição servir, dar acesso a um mundo primitivo de clareza Atlante: baseado em um uso

    [p 257]

    de matemática oculta, eleva uma superestrutura inimaginavelmente atenuada e cristalina, o que o Livro Egípcio dos Mortos simboliza como "o lírio do feldspato verde". Um eco de sua natureza ainda pode ser ouvido na Tradição Egípcia, talvez um lampejo dela possa ser captado em contos maravilhosos celtas como The Voyage of Maeldûr ("A Viagem de Maeldûr"):

    "Depois, navegaram até encontrarem uma grande coluna prateada. Tinha quatro lados, e a largura de cada um desses lados era de dois remos do barco... E nem um único torrão de terra estava ao redor, apenas o oceano sem limites. E não viram como sua base estava abaixo, ou — por causa de sua altura — como seu cume estava acima. Do seu cume saía uma rede prateada longe dela; e o barco foi a vela através de uma malha daquela rede... E ouviram uma voz do cume daquela coluna, poderosa, clara e distinta. Mas não conheciam a língua que falava, nem as palavras que pronunciava."

    É a imagem de navegar através de uma dessas malhas equivalente a entrar "na Visão Espiritual" em um quadrado Enochiano? Outro trecho descreve "uma ilha elevada" dividida em quartos por cercas de ouro, prata, bronze e cristal e contendo respectivamente Reis, Rainhas, Guerreiros e Donzelas. Essas figuras semelhantes ao Tarô representam as entidades que Dee chamou de Pequenas Filhas da Luz, e Filhos, Filhas-das-Filhas e Filhos-dos-Filhos da Luz, e cujos nomes ele tirou do Grande Selo formando o topo de sua mesa de observação? Ou, alternativamente, os quartos dessa misteriosa ilha são outra forma de retratar as Torres de Vigia de Dee? São eles aludidos novamente pela "mulher em trajes estranhos" que convidou outro viajante, Bran filho de Feval, a embarcar para:

    "... uma ilha distante,
    Ao redor da qual os cavalos-marinhos cintilam
    Um belo curso contra a onda branca e crescente —
    Quatro pedestais a sustentam."

    Em minha opinião, o Enochiano está mais distante da consciência cotidiana do que qualquer um dos sistemas clássicos da magia medieval. Um amigo matemático faz uma analogia entre estes últimos e

    [p 258]

    a geometria Euclidiana — que ele relaciona ao Mundo Briático da Qabalah — de um lado, e a magia Enochiana e os sistemas não Euclidianos de Riemann medindo o contínuo espaço-tempo pela geometria de curvatura positiva (formas elipsoidais) — que ele relaciona ao Mundo de Yetzirah — do outro. A magia anterior evoca entidades da esfera da mente; a magia Enochiana, entidades externas à mente humana. Apresento esta ideia caso outros magos matemáticos ou magos-matemáticos possam desenvolvê-la. Sinto, embora ainda não possa provar, que as Tábuas Enochianas ocultam um sistema musical; os próprios termos de Dee "Chamada" e "Aire" sugerem uma referência auditiva; a substituição de Crowley de "Chave" e "Aethyr" pode, assim, obscurecer uma faceta do significado. É possível que as Tábuas forneçam um método de notação, ou registrem frequências nas quais as Chamadas devem ser enviadas; elas podem até sugerir a construção de um instrumento. Este é um campo que aguarda mais experimentação.

    De vários romancistas que caíram sob o encanto de Dee, o mais ilustre é Gustav Meyrink (1868-1932). Seu longo e fascinante romance, The Angel at the Western Window ("O Anjo na Janela Ocidental"), do qual uma tradução francesa apareceu em 1962, lida extensivamente com as origens familiares de Dee, sua relação com Kelley, intrigas com Elizabeth I e seu serviço secreto, viagens e contatos com monarcas da Europa Central, experimentos espíritas, investigações alquímicas e previsões astrológicas. Mas Meyrink deixa de lado a base da magia Enochiana como revelada nas sessões de Dee e Kelley, talvez como material indigesto em um romance, embora ele descreva algumas das sessões em si.

    Neste país, Gerard Heym foi, antes de sua recente e triste morte, uma das poucas pessoas com algum entendimento da magia Enochiana, e recomendo seu ensaio, embora breve, Le Système Magique ("O Sistema Mágico") de John Dee, no n.o 11-12, La Tour Saint Jacques ("A Torre de São Jacques", Paris), àqueles que buscam uma exposição técnica. Heym acreditava que o alfabeto Angelical era conhecido pelos eruditos do Islã desde os primeiros anos de sua época. Também estou familiarizada com uma fraternidade designada por uma fonte não divulgada para levar adiante o sistema mágico de Dee, e ela agora está atuando para esse fim. J. W. Hamilton Jones, membro da ST e também um Maçom, em 1946 publicou sua tradução anotada do latim da obra de Dee, The Hieroglyphic Monad ("A Mônada Hieroglífica"). Este é um trabalho matemático-astrológico

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    com sobretons alquímicos, escrito em um estilo tanto críptico quanto elíptico; ele não toca diretamente na sua técnica mágica. O fato é que quase ninguém sabe nada sobre essa técnica sob um ângulo prático, nem entende sua base teórica.

    Ivor Jones, em um livreto cativante chamado The Green Rainbow ("O arco-íris verde", c. 1967), explora a relação entre o trabalho — principalmente alquímico — de Dee e o de um galês transcendental posterior, Thomas Vaughan, irmão do poeta Silurista. Mas ele conta pouco do conteúdo dos experimentos de Dee com espíritos, apenas relata anedotas sobre suas teorias e suas consequências domésticas às vezes embaraçosas. Ele afirma que Dee deixou trabalhos escritos num total de setenta e nove, mas não diz como chegou a esse suposição. Apenas alguns foram publicados, o mais importante do ponto de vista de seu sistema mágico sendo A True and Faithful Relation of what passed for many years between Dr. John Dee and some Spirits ("Uma Relação Verdadeira e Fiel do que se passou durante muitos anos entre o Dr. John Dee e alguns Espíritos", 1659) — embora até mesmo desta obra as cinco primeiras partes tenham sido omitidas. Cerca de meia dúzia de outras obras mágicas permanecem em manuscrito na Biblioteca do Museu Britânico, outras na Bodleiana, em Oxford. A. E. Waite coletou os Alchemical Works of Kelley ("Obras Alquímicas de Kelley") em 1893.

    Mesmo os manuscritos de Dee fornecem pouco mais do que o esqueleto de um sistema, rudimentar quando comparado ao corpus mágico consistente e elaborado ensinado na Aurora Dourada. Em seus parágrafos introdutórios para a seção Enochiana de The Golden Dawn, vol. IV, Regardie observa com admiração que alguém soldou textos díspares, espalhados em diferentes bibliotecas, em um todo coerente. Quem foi este soldador consumado senão MacGregor Mathers, que assinou com um ou outro de seus lemas mágicos quase todos os documentos de instrução da Ordem relativos ao sistema Enochiano? Estes formaram uma parte importante do curso de estudo empreendido após o grau de Adeptus Minor e na preparação para os graus da Segunda Ordem. Foi principalmente, senão unicamente, através de Mathers que o trabalho mágico de Dee foi incorporado ao currículo da Aurora Dourada e, portanto, através dele que se difere da maioria das outras Escolas esotéricas. Embora Elias Ashmole antes dele tenha tentado uma revisão do sistema de Dee, ele não o fundiu com outro material Hermético. Foi Mathers — ou foram seus Chefes Secretos? — quem compôs o The Book of the Concourse of the Forces ("Livro da Confluência das Forças"). Essa impressionante amálgama

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    combina a Tradição Egípcia, a Astrologia iniciática, o Tarot, a Geomancia e a Árvore da Vida Cabalística com as intensas construções Elementais de Dee, para criar um todo monumentalmente impressionante. Ninguém sem o mais profundo conhecimento de todos esses "caminhos" simbólicos poderia ter construído a partir deles uma síntese viável. A partir de agora, chamarei este sistema, concebido por Mathers com base nas investigações pioneiras de Dee, pelo nome de Enochiana, para distingui-lo dos textos não desenvolvidos de Dee em si.

    Tomando a Cabala Hebraica, particularmente aqueles de seus tratados que expõem a Árvore da Vida, como base da magia do Oriente Médio que, absorvida pela Europa, tornou-se a forma clássica da arte para o Ocidente, Enochiana é reconhecível como diferente, embora de forma alguma contraditória. Desenvolveu os Kameas ou Quadrados Mágicos do sistema anterior em outra dimensão — em ângulos retos, se pode se dizer assim, à magia Cabalística. (Um estudo aprofundado, O Quadrado Mágico SATOR AREPO, pelo falecido Alex Bloch, é um dos poucos textos autorizados sobre o assunto de Kameas). Da mesma forma, expandiu o equivalente Cabalístico do Mantra-Yoga em sua elaboração das Palavras de Poder. Tanto devemos a Dee ou a seus comunicadores: Mathers elaborou, além disso, um paralelo Enochiano com os Tattvas hindus — mais propriamente Tanmatras[151] — conforme ensinado na Aurora Dourada quando ele elaborou o Universo Elemental como revelado a Dee. Esse ensino de Tattva foi tirado mais ou menos diretamente de livro Nature's Finer Forces ("Forças Sutis da Natureza"), de Rama Prasad, mas enquanto os Tattvas representam, por exemplo, o Ar do Fogo como um triângulo vermelho carregado com um círculo azul (menor), o Fogo sendo o Elemento e o Ar o Sub-elemento, seu equivalente Enochiano pode ser encontrado em um dos quadrados do Ângulo Menor do Ar na Torre de Vigia do Fogo. Enochiana é muito mais detalhada, suas potências Elementais sendo mais finamente subdivididas quanto à classificação; portanto, as visões produzidas por Skrying em seus quadrados devem ser ao mesmo tempo mais elevadas e mais precisas do que as resultantes do Skrying-Tattva. Embora isso geralmente seja o caso, a julgar pelos registros dos membros que mostram que eles entraram em contato — em aparência, pelo menos — com a "Esfinge", o "Anjo" e o "Deus" de cada pirâmide como foram ensinados, eles raramente experimentaram o pleno poder e conhecimento de tais entidades, e seus registros às vezes soam como uma descrição de mera pompa. A descrição da A Vision of the Square in the Watery Lesser Angle of the Fire Tablet ("Uma Visão do Quadrado no Ângulo Menor Aquoso da Tábua de Fogo") por Annie

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    Horniman, reproduzida em Astral Projection, Magic and Alchemy ("Projeção Astral, Magia e Alquimia", 1971) de Francis King:

    ‘Eu fiz os Sinais e chamei pelos Nomes e implorei para ser permitida a ver o Anjo. Ela apareceu com um crescente lunar azul em sua cabeça e cabelos castanhos que eram muito longos. Sua túnica era azul pálida com uma borda preta, e um pentagrama em vermelho em seu peito; suas asas também eram azuis, e assim era o Cálice em sua mão esquerda, em sua mão direita ela carregava uma tocha vermelha. Ao redor dela havia um diamante de yods vermelhos. Ela me disse que sua função era "Mudança e purificação através do sofrimento, tal como espiritualiza a natureza material."’

    Tais visões parecem de uma só vez demasiado decorativas e demasiado antropomórficas; não há razão para que a aparência do Anjo de uma pirâmide, ou de seus habitantes elementais menores, deva sequer lembrar uma forma humana. Nas palavras do excelente poema de Yeats:

    Uma vez fora da natureza, nunca tomarei
    Minha forma corporal de qualquer coisa natural,
    Mas uma forma como os ourives gregos fazem.

    Eu preferiria esperar que tais entidades se manifestassem em alguma forma geométrica abstrata sugerindo joias, simples ou complexas de acordo com sua natureza; ou talvez em formas que se assemelhem a cristais ou às estruturas celulares básicas da vida orgânica. Isto é apenas para dizer que uma exploração mais aprofundada é necessária.

    A principal preocupação da Enochiana é com o Mundo dos Cinco Elementos, cuja doutrina é comum tanto ao ocultismo ocidental quanto ao oriental; ela estabelece um método geométrico de mapear este 'Mundo', e um meio de explorá-lo, nas Quatro Torres de Vigia (de Ar, Água, Terra e Fogo) que são unidas pela Tábua da União (Éter). Essas Torres de Vigia são representadas por diagramas divididos em quadrados em doze colunas e treze fileiras, a Tábua da União consistindo em cinco colunas e quatro fileiras. Pode-se imaginar - ou construir - um cubo com um diagrama de Torres de Vigia em cada um de seus lados e a Tábua da União no topo; ou talvez um cilindro seria mais apropriado. Esta figura sólida, seja qual for,

    [p 262]

    deve ser cercada por uma série de esferas concêntricas, cada uma simbolizando um dos Trinta Aires. Os diâmetros dessas esferas aumentam em progressão geométrica com sua distância das Torres de Vigia — das quais elas são modos de ser, "mundos" ou "dimensões" ainda mais atenuadas. Assim, o diagrama reproduzido em The Monolith ("O Monólito"), N.o 1, N.o 4, que representa os Aires como uma massa de círculos (bolhas?) todos do mesmo tamanho acima de um globo terrestre, parece ser mal concebido. Desde 1964, a Order of the Cubic Stone ("Ordem da Pedra Cúbica") tem experimentado com as Chamadas de Dee, publicando resultados em seu periódico como acaba de ser citado. Ela volta, por inspiração, a Dee, ignorando, tanto quanto possível, os desenvolvimentos de Mathers.

    O sistema é tanto macrocósmico quanto microcósmico, relacionado tanto ao organismo psicofísico humano quanto às profundezas do espaço. Embora Dee tenha apresentado em forma diagramática austera, ele também registrou uma visão tida por Kelley de quatro Torres de Vigia reais, com cores, bandeiras e guardiões apropriados. Ele dá suas cores como branco, verde, preto e vermelho; Mathers atribui amarelo ao Ar, azul à Água, preto à Terra e vermelho ao Fogo, reservando branco para Éter. É talvez significativo que sua atribuição empregue as cinco cores consideradas sagradas no Extremo Oriente, embora seu motivo para a variação possa ter sido prático: quando esses diagramas são pintados como talismãs ou "tábuas cintilantes", a coloração de Mathers se mostra mais eficaz.

    Da mesma forma que Mathers projetou o diagrama bidimensional da Árvore da Vida em uma esfera e atualizou a descrição da tumba de Christian Rosenkreutz na Fama, ele elevou as tábuas Enoquianas à próxima dimensão. Cada quadrado das Torres de Vigia, assim, se torna a base de um sólido, uma pirâmide truncada com seis superfícies: quatro lados, uma base e um topo. Ele reconheceu que uma Mandala tridimensional tem uma aplicação mais ampla do que um desenho linear. Ele também atribuiu a cada face de uma pirâmide uma atribuição Elemental, um Arcano do Tarot, um signo Zodiacal ou Planetário, um símbolo Geomântico, uma Sephirah, uma letra ou uma divindade egípcia. Às vezes, ele atribuía dois desses a uma face. Cada pirâmide, assim, se tornou um 'concurso' de várias forças diferentes, porém congruentes, que, manipuladas por um operador eficaz, poderiam dispor de imenso poder. Os membros da Aurora Dourada foram advertidos sobre os perigos de simplesmente brincar com este sistema, como na Sagrada Magia de Abramelin, que também

    [p 263]

    faz uso de Quadrados Mágicos. Experimentar o último método sem realizar a prática preliminar ordenada por seu autor seria pedir problemas. Iniciado por "skrying" cerimonial e pela vibração de palavras de poder, o Enochiano também deve ser abordado gradualmente, com intenção séria, e por membros de um grupo dedicado. Caso algo dê errado, a carga será então distribuída, e o impacto neutralizado ou pelo menos atenuado.

    Crowley, é claro, não deu atenção a tais advertências: o que lhe faltava não era energia nem coragem, mesmo ao ponto da imprudência. Em 1909, ele realizou o exercício peripatético em magia Enochiana que registra em The Vision and the Voice ("A Visão e a Voz"); acompanhado por seu discípulo Victor Neuburg, ele vagou pelos desertos do interior da Argélia, pausando apenas para o ritual e "skrying" com as Chamadas de Dee. Talvez ele se sentisse um segundo Edward Kelley enquanto olhava para sua própria "pedra da visão", um enorme topázio no centro de uma cruz escarlate, enquanto Victor anotava o que ele relatava ver ali. Seu propósito era explorar aquelas regiões reconditas simbolizadas pelos Trinta Aires, ou Aethyrs como ele os chamou; mas não sinto que ele penetrou profundamente em sua essência, embora seus resultados sejam notáveis. O relato de suas visões anotado por Victor parece muito com o de suas outras visões. Estas são obsessivamente preocupadas com a interpretação do mundo mágico da Golden Dawn por sua própria extensão mágica dele — enquanto Enochiana vai além de ambos, e em uma direção diferente. A atmosfera de Crowley é frequentemente carregada e sombria, às vezes tecnicolorida, e a frequência de episódios pesadelos, como o seguinte de uma visão baseada em The Cry of the 18th Aethyr ("O Grito do 18º Aethyr"), que é chamado ZEN, sugere que ele falhou em atravessar as nuvens turvas de sua própria aura para qualquer esfera mais clara:

    "E agora surge a cena da Crucificação; mas o Crucificado é um enorme morcego, e para os dois ladrões são duas crianças pequenas. É noite, e a noite está cheia de coisas horrendas e uivos."

    Mais tarde, ele expôs a base do Enochiano com admirável lucidez em "The Equinox", Nºs. VII e VIII, embora sem reconhecer que o trabalho já havia sido feito por Mathers: tais omissões podem ser tão prejudiciais quanto mentiras.

    [p 264]

    Yeats também deve ter explorado um pouco do Enochiano, já que ele participou do jogo de Xadrez Enochiano — outro desenvolvimento das investigações de Dee pelo qual Mathers foi responsável. O Xadrez Enochiano é mais do que um jogo: como diz Regardie (The Golden Dawn, Vol. IV), seus tabuleiros podem, quando preparados de acordo com a fórmula de Mathers, tornar-se "tábuas cintilantes" e "A Representação ou Arranjo dos Quadrados das Tábuas" um método de adivinhação. Eu sei de um grupo de ocultistas nos EUA que na década de 1940 fez exatamente isso e obteve alguns resultados notáveis. Uma das profecias assim obtidas declarou que antes do fim deste século a Rússia perderia a Mongólia para a China. O tempo mostrará.

    Na mitologia celta, há referências frequentes ao fidchell, um tipo de xadrez jogado por seus heróis e divindades; habilidade nesse jogo-que-é-mais-que-um-jogo é um sinal de poder mágico. Yeats elaborou o que pode ser chamado de extensão celta do Enochiano e descreve algumas Tábuas que ele chama de 'tabuleiros de xadrez' em um manuscrito não publicado, Biblioteca Nacional da Irlanda, MS. 13568[152]. Aqui um Cromlech — uma pedra de topo apoiada por quatro pilares verticais — substitui o conceito de uma pirâmide com quatro paredes inclinadas para um topo plano; e mudanças na atribuição de cores, bem como na alocação da direção do espaço aos quatro Elementos, são introduzidas. Não há indicação de data, então, esse material pode ter sido distribuído como ensino da Segunda Ordem, que se sabe que variou em relação ao da Primeira Ordem em alguns aspectos; ou Yeats pode ter chegado a isso após o Cisma através de suas próprias pesquisas.


    AS EVOCAÇÕES DOS CROMLECS
    O tabuleiro de xadrez era, sem dúvida, de grande importância mística e, nos tempos antigos, era atribuído a certos Cromlecs. Existem vinte diferentes atribuições correspondendo ao reflexo dos poderes dos quatro portões de cada uma das quatro cidades e ao reflexo dos quatro portões da cidade que está acima dos deuses e acima da forma. Assim como essas cidades correspondem aos quatro elementos e ao espírito, o reflexo de seus portões corresponde às subdivisões dos elementos e do espírito.

    Cada quadrado do tabuleiro de xadrez representa um cromlec visto de cima; e todas as pedras superiores dos cromlecs do tabuleiro de xadrez, quando atribuídas à cidade do fogo, são vermelhas ou vermelho-amarelas, e quando à cidade do Ar são verde-azuladas, e quando à água, violeta ou



    [p 265]


    Diagram 1.png




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    prata, e quando à terra, amarelas. Cada pedra superior é suportada por quatro suportes correspondentes aos quatro ângulos de cada quadrado, e esses suportes são atribuídos aos elementos e às cores em uma certa ordem.

    Tomarei a atribuição do tabuleiro de xadrez às forças do portão ocidental da cidade de Gorias como exemplo. Gorias corresponde ao elemento do fogo e, como o oeste é o lugar da água, o portão ocidental é a água do fogo.

    O quadrante superior esquerdo corresponde ao leste e ao ar, o quadrante superior direito ao sul e ao fogo e o quadrante inferior esquerdo ao norte e à terra e o quadrante inferior direito ao oeste e à água, respectivamente. Cada um desses quadrantes é novamente dividido em quatro quadrantes, e estes são novamente divididos em quatro quadrantes, contendo um quadrado cada.

    O lugar da terra que é considerado o lugar de maior poder elementar e o lugar da água, o próximo é o lugar do ar, o próximo é o lugar do fogo, o menor, pois os elementos diminuem em peso nesta ordem. O sub-elemento mais forte na atribuição, que será terra no tabuleiro de xadrez quando atribuído a um portão norte ou terroso de uma cidade, e fogo, se a atribuição for a um portão sul, etc., sempre pertencerá ao suporte Norte, que, portanto, será colorido de amarelo; e o próximo sub-elemento mais forte, que será fogo, no caso do quadrante sul, do tabuleiro, será atribuído ao Oeste, e assim por diante. Tomarei o quadrado marcado com um X como exemplo.

    Aquele é o quadrado Oriental do quadrante ocidental do tabuleiro de xadrez atribuído ao portão ocidental da cidade de Gorias. Seu cromlec, portanto, será o cromlec do Ar da Água da Água da Água do fogo. O elemento principal, fogo, é representado pela pedra superior; o sub-elemento mais poderoso, Água, por um suporte norte violeta ou prateado, e o próximo sub-elemento mais poderoso, que ainda é água, por um suporte ocidental violeta ou prateado, e o próximo sub-elemento, Água, por um suporte oriental violeta ou prateado e o sub-elemento menos poderoso, Ar, por um suporte sul verde-azulado. (Os diagramas de Yeats são oblongos, desenhados de forma muito grosseira; eu os fiz quadrados, pois, de outra forma, não podem ser relacionados ao tabuleiro de xadrez. Eu os colori de acordo com suas instruções e também mantive sua grafia da palavra cromlec, pois ele a está usando em um sentido especial.)

    Não compartilho inteiramente do desprezo de Regardie pelos estudantes enoquianos posteriores,



    [p 267]


    Diagram 2.png




    [p 268]

    uma vez que estudei alguns papéis de membros da Loja Hermes da Stella Matutina, descrevendo em grande detalhe a atribuição de deidades egípcias aos quadrados das Torres de Vigília — embora seja questionável se essas foram usadas de forma prática.

    As Torres de Vigília de Dee foram comunicadas por um espírito chamado Ave; outro, chamado Nalvage, revelou uma Tábua adicional que, embora modesta em tamanho, parece-me de considerável importância. Novamente, consiste em letras geometricamente organizadas, desta vez nomeando quatro classes de entidades, forças — anjos, se preferir — que governam conjunta e, talvez também, individualmente sobre as Torres de Vigia. Dee os particularizou como Laudantes (Aqueles que louvam), Ministrantes (Aqueles que servem), Confirmantes (Aqueles que estabelecem) e Confundantes (Aqueles que lançam na desordem). Na medida em que a humanidade participa dos reinos Elementais, essas quatro classes de seres têm influência sobre ela: portanto, embora os três primeiros pareçam ser benéficos, os Confundantes, no curso de sua função destinada, podem causar caos nos assuntos humanos, dos mais triviais aos mais momentâneos. Sugiro que as entidades que Yeats experimentou como "os Frustradores" quando estava recebendo as comunicações nas quais baseou A Vision ("A Visão") vieram dessa classe. Sua existência sozinha é suficiente para aconselhar cautela.

    Isso não é para afirmar que os Confundantes, ou quaisquer outras entidades enoquianas, são essencialmente malignas, mesmo no sentido restrito de hostilidade à humanidade, mas; perturbadas de forma inexperiente, podem se mostrar tão destrutivas quanto a eletricidade ou qualquer outra força natural mal manuseada. Eles são os veículos das energias Elementais particularizadas; em alguns casos personalizadas, mas de modo diferente do ser humano.

    O bem é, para a consciência comum, o que contribui para o bem-estar da humanidade; mas a provisão ou manutenção de tal bem-estar pode ser completamente irrelevante em um esquema cósmico mais amplo. O que o mina ou o elimina pode não ser maligno em um contexto mais amplo. "Entre os dentes da mutabilidade, vamos fazer a nossa morada" — seria sábio levar a sugestão de Rilke a sério.



    CAPITULO VINTE

    [p 269]

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    Alquimia

    Alchemia

    Utilizo a palavra Alchemia para a ciência ou arte da alquimia, vista através do temperamento Aurora Dourada, da mesma forma que emprego Enochiana para o sistema enoquiano de magia igualmente visto. Hoje, se alguém pensa que a alquimia está morta ou superada, é melhor pensar novamente. Embora no Ocidente o Estabelecimento sempre tendeu a relegá-la à lata de lixo do "conhecimento rejeitado", surgindo, como de fato, do fluxo subterrâneo do pensamento Magian[153], ela está tão viva no presente quanto em qualquer século anterior. Sem forçar minha memória, posso pensar em vários operadores no continente — o falecido Armand Barbault, autor de L'or du millième matin ("O ouro da milésima manhã", 1969), recém-publicado em tradução para o inglês; Eugene Canseliet, aluno do misterioso Fulcanelli, cuja identidade está em debate, embora tenha sido ativo no passado muito recente; Roger Caro, Bernard Husson e o pintor Louis Cattiaux, que escreveu Le Message retrouvé ("A mensagem encontrada", 1955). Todos mantêm (ou mantinham até recentemente) um laboratório alquímico em um cômodo dos fundos ou no quintal. M. Canseliet até já apareceu na televisão trabalhando lá.

    Roger Caro, autor de Pleiade Alchimique ("Plêiade Alquímica", 1967) e Concordances Alchimiques ("Concordâncias Alquímicas", 1968), também publicou um registro fotográfico colorido da Grande Obra em suas diferentes etapas e está associado a uma fraternidade conhecida como Les Frères Aînés de la Rose Croix ("Os Irmãos Mais Velhos da Rosa Cruz"), que opera dois Templos, o Ajunta e seu desdobramento o Vrehappada. Seus membros são adeptos europeus, alguns dos quais adotaram nomes mágicos em sânscrito; as seguintes listas provavelmente não estão completas:

    Templo Ajunta:
    Kamala Jnana (Superior; autor de um Dictionnaire de Philosophie Alchimique, "Dicionário de Filosofia Alquímica", 1961, publicado em Argentière, Charlet)

    [p 270]

    Theophoreonai (Hirofante Maior)
    Mustagogos (Hierofante)
    Erebus
    Ermeion
    Jethro
    N’Palinga-Dhara
    Teletourgos

    Templo Vrehappada:
    Pasiphae (Hierofante)
    Nitiçastra
    Tejasrasa

    Seria imprudente assumir que esses Templos funcionam na Índia — pode ser bem na França, com uma inspiração teosófica. Eles se dedicam tanto à alquimia prática quanto teórica: durante uma visita a M. Caro, o Dr. Serge Hutin foi apresentado a uma amostra da Quintessência... liquide rouge en masse compacte, mais prenant la couleur d'or une fois qu'il se trouve étalé[154], como seu Prefácio a "Concordances Alchimiques" relata. A popularidade dos próprios livros do Dr. Hutin sobre alquimia é uma prova do interesse em todo o continente pelo assunto. Ele escreve de um ponto de vista teórico, sem tentar (pelo que sei) a praxis física ou espiritual.

    Talvez eu deva dizer imediatamente o que penso que a alquimia não é — embora seja difícil definí-la positivamente. Não é uma alegoria moralista, mas também não é mero trabalho de forno, o "atormentar" dos metais pelo calor extremo: as autoridades concordam em deplorar os Souffleurs (Sopradores), cuja única ideia era transmutar metais em ouro para enriquecer rapidamente. Não é química de qualquer tipo, nem mesmo a chamada Hiperquímica; é mais um aspecto da física nuclear, e suas transmutações bem atestadas resultam de uma reação nuclear provocada por um processo ainda desconhecido.

    Sem dúvida, existem alquimistas praticando na Grã-Bretanha; certamente há vários teóricos com magníficas bibliotecas pessoais como Michael Innes (não o romancista!) e Robert Lankiewicz, para não falar do falecido Gerard Heym, cuja coleção única foi dispersa alguns anos antes de sua morte. Ele foi um dos membros fundadores da Sociedade para o Estudo da Alquimia e Química Antiga e de

    [p 271]

    sua revista, Ambix. Sua introdução à tradução francesa do romance de Gustav Meyrink, Le Dominicain Blanc ("O Dominicano Branco", 1963), mostra sua perspicácia sobre a teoria da alquimia taoista, rastreável até a China no século VI a.C., com referência especial à tradição de que uma Espada é encontrada materializada no caixão de um adepto cujo cadáver foi transmutado pelo Elixir em um Corpo de Luz. Na década de 1930, Londres possuía um adepto genuíno em Archibald Cockren, um fisioterapeuta e massagista, então morando em Boundary Road, N.W.8, que escreveu Alchemy Rediscovered and Restored ("Alquimia redescoberta e restaurada", 1940). Edward Garstin visitou seu laboratório, onde lhe foi mostrado o Ovo dos Filósofos, um vaso de vidro de forma ovoide contendo camada sobre camada de matéria básica nas cores tradicionais de preto, cinza, branco e amarelo. No topo, essas camadas haviam florescido em uma forma semelhante a uma flor, um padrão disposto como pétalas em torno de um centro, tudo em um laranja-escarlate brilhante. Uma lembrança da ansiosa indagação de Sir Epicure Mammon em The Alchemist ("O Alquimista"), de Ben Jonson:

    "Tu avistaste a flor, o sanguis agni?"

    Ao manter sua matéria básica por muito tempo em um calor constante e suave, Cockren fez com que ela crescesse; tinha galhos como uma árvore, como Edward me contou. Cockren não revelaria qual substância havia usado como base, mas observou que sempre mantinha "um pentagrama aberto" no laboratório enquanto trabalhava. Eu entendi isso como algo semelhante ao Pantáculo Aurora Dourada, o instrumento mágico relacionado à Terra elemental, e suponho que ele o mantivesse envolto em seda quando não estava em uso, conforme instruído. Outros adeptos afirmaram que o laboratório também deve ser um oratório. Embora eu tenha certeza de que ele não era membro da Loja de Edward, ele pode ter tido alguma outra conexão com a Aurora Dourada.

    Cockren seguiu as instruções que encontrou nos escritos de Sir George Ripley, um discípulo de Raymond Lully - provavelmente em The Bosom Book ("O Livro do Seio"), que dá um método para preparar a Pedra Filosofal. Ripley também foi o autor de The Compound of Alchemy ("O Composto da Alquimia"), contendo doze portais (1471). Cockren preparou óleos de todos os metais e os prescreveu em doses mínimas para seus pacientes: tomar mais do que o suficiente para tingir um litro de água envenenaria alguém. O óleo de ouro era o agente de cura mais eficaz, mas a Sra. Maiya Trancell-Hayes foi curada de um colapso nervoso tomando três gotas de óleo de prata, presumivelmente em doses iguais.

    [p 272]

    Na década de 1940, Cockren mudou seu local de trabalho para a área de Holborn, onde Gerard Heym, que era amigo de Edward desde os tempos da Sociedade Quest, costumava vê-lo com frequência. Gerard estava nessa época no servindo nos Bombeiros, e quando se feriu durante o serviço, Cockren lhe deu um bálsamo que, ele acreditava, salvou sua vida. O laboratório estava maravilhosamente equipado - o melhor desde o século XVIII, segundo ele disse - graças à generosidade da Sra. Meyer Sassoon, que tinha grande fé em Cockren depois que ele lhe deu ouro potável como remédio, e a quem seu livro é dedicado. Ele foi morto quando uma explosão destruiu o laboratório[155]; e não houve sucessor para continuar seu trabalho. Seria impossível montar seus experimentos a partir das descrições esboçadas e elípticas em seu livro. Recentemente, em 1965, Gerard me falou de um amigo, então com noventa e cinco anos, que ainda tomava ouro potável com grande benefício; seu efeito era prolongar a vida e a juventude. Ele não pôde ou não quis revelar a identidade desse paciente, mas pode haver outros até hoje que estejam de posse dos remédios de Cockren; se houver, eu só gostaria que eles entrassem em contato comigo.

    De onde a Aurora Dourada derivou seu ensino alquímico? Principalmente do tratado Zohárico, Aesh Metzareph ("Fogo Purificador"), que faz parte da Kabbalah abala Desvelada de von Rosenroth, embora não tenha sido incluído na tradução de Mathers. As duas versões de uma Árvore da Vida alquímica que figuram no Liber 777, onde sigilos planetários representam os metais correspondentes, derivam de seu primeiro capítulo. A primeira tradução para o inglês foi feita em 1714 por "Amante de Philalethes"[156]. Dr. Wynn Westcott publicou uma edição em 1894; foi ele quem contribuiu mais do que Mathers para o conhecimento alquímico da Ordem em seus primeiros dias, sendo William Ayton seu aluno mais devotado. Ouvi dizer que alguns dos papéis de Ayton sobrevivem na posse de um descendente e, novamente, só posso pedir que, se isso for verdade, ele entre em contato comigo.

    Embora um Ritual para Transmutação fizesse parte do corpus mágico da Aurora Dourada e fosse destinado a um trabalho prático, Mathers não tentou incluir os símbolos fugitivos da Art in The Book of the Concourse of the Forces ("Arte no Livro do Concurso das Forças"). Sem dúvida, ele queria ter certeza de seu próprio entendimento antes de transmiti-lo aos estudantes, e não foi até depois de um estudo profundo do Mysterium Magnum ("O Grande Mistério") de Jacob Boehme e dos tratados no Splendor Solis ("Esplendor Solar") de Salomon Trismosin que ele compreendeu a totalidade do assunto. Ele também passou a valorizar muito a Aurea Catena Homeri ("Cadeia Dourada de Homero") de

    [p 273]

    Kirchweger (1722), acreditando que ela encerrava poderosos segredos cósmicos, a ponto de não permitir que nenhum adepto abaixo do grau 7°=4 a estudasse. Ele já havia se embrenhado no pensamento de Boehme, que assume grande parte da visão de mundo alquímica e a desenvolve em seu próprio sistema místico.

    E quanto ao Elixir da Vida? Uma sugestão de que Mathers o havia descoberto, uma aura faustiana, paira sobre ele durante toda a sua vida, desde o tempo em que, entre seus primeiros alunos, corria o boato de que ele o havia procurado e encontrado como Zanoni no romance de Bulwer-Lytton. Mais tarde, ele se identificou de alguma forma com o rei James IV da Escócia, sobre quem persiste a tradição da imortalidade. Além disso, o ar de mistério em torno de sua morte e a falta de detalhes sobre seu sepultamento, há pouco para fundamentar tais crenças. No entanto, ele era um enigma - um homem que influenciou sua geração e as seguintes, mas que deixou pouco rastro além de suas poucas obras publicadas; que usou um título, mas não era membro de nenhuma Ordem cavalheiresca descobrível; que se especializou em assuntos militares, mas nunca se juntou a um exército regular; que se estabeleceu como erudito sem evidência de educação superior. Ele pertencia à raça do Conde de Saint Germain, daqueles imortais que (como afirma a tradição esotérica) aparecem e desaparecem à vontade, assumindo uma humanidade temporária para um propósito desconhecido?

    Boehme inspirou Kirchweger; compare suas Seven Qualities of God ("Sete Qualidades de Deus") com alguns dos "ligações" da Catena. Kirchweger postula qualidades correspondentes, nomeando suas três primeiras como Ternário Terrestre; isso consiste em Caos ou a Ira de Deus, que ele contrasta com a Luz ou o Amor de Deus. A ação contrária dessas duas qualidades ou forças gera Rotação ― Kreutzrad (Roda-Cruz) de Boehme ― como terceiro termo. Boehme chama as duas qualidades antecedentes de Vontade Não Criada, Semente ou Contração - e Vontade, dando origem à dualidade: de outra forma, ele fala de Sal, Mercúrio e Enxofre nessa ordem, assim transpondo a sequência mais usual (adotada por Kirchweger) que faz do Enxofre e do Sal as forças opostas e do Mercúrio a sua rotação combinada. É fácil reconhecer aqui um equivalente ocidental e literário do conhecido diagrama taoísta de Yin-com-Yang. Na "Corrente", o Kreutzrad aparece, mas não segue imediatamente os dois primeiros "elos".

    [p 274]

    Eu me sinto atraído pela Aurea Catena mais fortemente do que por qualquer outro texto alquímico, pois me inspira por três razões: primeiro, descobri que relações emocionantes com a Árvore da Vida e as escalas de cores do Minutum Mundum da Aurora Dourada se desenvolvem espontaneamente na 'Corrente' quando se faz esboços dela. Depois, percebo que ela retrata a identidade de Nirvana e Samsara pelo uso de um sigilo idêntico para o último elo em cada extremidade da Corrente, tanto o "mais baixo" quanto o "mais alto". Um sigilo está em pé e o outro invertido — mas qual é qual? Ao inverter a ordem usual, surgem relações sugestivas. "Tal como acima, assim é abaixo" é o equivalente Hermético; o Cabalístico, "Kether está em Malkuth e Malkuth está em Kether, mas de outra maneira". Em terceiro lugar, a Catena estabelece com clareza uma metafísica Yin-Yang sob os nomes das duas qualidades alquímicas básicas:

    Enxofre: Sal:
    Ácido

    Espírito

    Pai

    Semente Masculina

    Princípio Universal Ativo

    Céu

    Ar

    Aço

    Martelo

    Sutil

    Claro

    Volátil

    Alcalino

    Corpo

    Mãe

    Semente Feminina

    Princípio Universal Passivo

    Terra

    Água

    Ímã

    Bigorna

    Grosseiro

    Escuro

    Fixo

    Outros autores atribuem as qualidades de maneira diferente, o Fixo tornando-se Masculino e o Volátil, Feminino; mas a maioria é 'tântrica' na medida em que insiste na antinomia e em sua resolução.

    O conteúdo sexual da literatura alquímica é óbvio e alguns termos alquímicos têm uma analogia fisiológica:

    Alambique: o útero.
    Banho de Vênus: a vagina, ou possivelmente o saco amniótico.
    Fogo Moderado: calor (sexual) do corpo.
    Aqua Vitae: secreções líquidas em geral, secreções femininas em particular, das quais dezoito são listadas nos textos Tântricos.
    Viscosidade Seminal: sêmen ou, melhor, sua contraparte sutil, o bindu em Sânscrito.
    Esperma dos Filósofos: espermatozoides, secreções masculinas.
    Medicina Catholica: a essência procurada; em particular, o princípio feminino, talvez a anima da Psicologia Analítica, visto que a maior parte da literatura alquímica é escrita do ponto de vista masculino.

    [p 275]

    É interessante comparar minha lista com uma encontrada em um diário mantido por W. B. Yeats em 1889 (Biblioteca Nacional da Irlanda, 13570), onde ele registra o seguinte:

    Simon Magus diz:
    Éden = útero universal.

    Rios de = cordão umbilical.

    Riachos de = 2 veias e 2 artérias.

    Embrião = ponto cósmico [?]

    Fluido Vital = [?] Amnio = Akasa.

    Útero = Éter do espaço, photo [---------?], manas.

    Cordão umbilical = Elementais, cometas, conteúdo do sonho de [----------?], Kama Rupa.

    Sua caligrafia é difícil de decifrar, mas esta breve nota indica que sua associação de ideias seguia uma direção semelhante. Algumas das instruções para os graus superiores do Ο:.T:.O:. são expressas em um código alquímico, onde:

    athanor = penis.
    serpente

    sangue do Leão Vermelho

    Chaves right big.png
    = sêmen.
    retorta
    cucurbite
    Chaves right big.png
    = vagina.
    menstruum do Glúten = secreções vaginais.
    Primeira Matéria = secreções vaginais misturada com sêmen.
    Elixir Amrita Chaves right big.png matéria transmutada.

    [p 276]

    Se consultarmos outros alquimistas, encontramos três princípios chamados de as Três Serpentes ou o Triângulo: esses às vezes representam a Alma, Spiritus Mundi (Alma do Mundo) e o Solvente. Em outros, Mercúrio, Enxofre e Sal são quase equivalentes os Gunas do Hinduísmo, cujos nomes podem ser traduzidos como as tendências serena, agressiva e letárgica na Natureza. Voltando à Aurea Catena, Spiritus Mundi é subdividido em três: Volatilis Incoporeus, (Volátil Incorpóreo), contrastado com Acidus Corporeus (Ácido Corpóreo) ou Enxofre, e Fixus Alcalinus (Alcalino Fixo) ou Sal. Enxofre e Sal, com sua antinomia resolvida, se unem como Sal Duplo, a Prima Materia (Primeira Matéria). Um diagrama esclarece isso:

    Esquema da 276.png

    Desdobramentos da Aurora Dourada tentaram continuar a tradição alquímica: Ritual Magic in England ("Magia Ritual na Inglaterra") de Francis King reproduz uma experiência realizada pela Loja Hermanoubis, em Bristol, nesse campo. Embora outras evidências sugiram que seu período ativo foi menos recente do que o Sr. King implica e possa remontar a cerca de quarenta anos, seu trabalho alquímico parece ter tido uma aplicação prática, e os medicamentos resultantes são relatados como eficazes quando tomados em pequenas doses "homeopáticas", como os óleos metálicos de Cockren. Tais esforços, com os de Caro no Midi, parecem continuar a genuína linha da terapia Rosacruciana.

    Na edição de primavera de 1967 de The Monolith ("O Monolito"), Robert Turner, então Co-Chefe da Ordem da Pedra Cúbica, em um breve ensaio, relacionou os processos alquímicos ao diagrama da Árvore da Vida. Isso não deu indícios

    Mathers’s Death Certificate..png

    Certidão de Óbito de Mathers.



    Mathers’s Birth Certificate.png

    Certidão de Nascimento de Mathers



    King James IV of Scotland.png

    "Rei James IV da Escócia: a tradição conta que ele sobreviveu ao Campo de Flodden e alcançou a imortalidade como um adepto oculto. Mathers sentiu uma ligação oculta com ele (artista desconhecido)."




    [p 277]

    de que ele ou qualquer membro de sua Ordem haviam se envolvido em alquimia prática, e não estou convencida de que sua interpretação dos Leões (Preto, Vermelho e Branco) e seus cavaleiros seja válida: ele deixa de fora o (mais comum) Leão Verde e altera a sequência de cores geralmente aceita de preto/branco/vermelho. Ele toma emprestados três dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse e os monta em Leões. Ele ignora as Árvores alquímicas de Aesh Metzareph e Liber 777 e atribui os metais de acordo com suas respectivas esferas planetárias. Assim, seguindo os planetas, ele identifica apenas sete processos; sua interpretação não é mais do que um exercício em simbologia comparativa, lançando pouca luz sobre os fundamentos da disciplina alquímica.

    Não tenho espaço aqui para analisar os dois ensaios inéditos de Edward Garstin sobre Alquimia e Astrologia, mas tentarei examinar em detalhes outra obra deixada por ele, A Glossary of Alchemical Terms ("Um Glossário de Termos Alquímicos"). Prefiro todos esses a Theurgy ("Teurgia, 1930) e The Secret Fire ("O Fogo Secreto", 1932) ― embora o primeiro esteja prestes a aparecer em uma tradução francesa ― porque eles se aprofundam mais (em termos alquímicos) do que qualquer uma das obras publicadas. Edward negou qualquer prática em transmutações físicas, mas admitiu, se pressionado, que havia tentado o que chamou de "alquimia espiritual". Não sei exatamente o que ele quis dizer com esse termo, mas muitas vezes a frase indica apenas um conhecimento meramente acadêmico ou alguma teoria sobre a natureza da Grande Obra. Às vezes, não abrange mais do que alegorias piedosas ao longo das linhas de "purificar a alma de sua escória mortal para revelar o verdadeiro ouro espiritual", e assim por diante; ou a equação do calor com o amor em uma veia de religiosidade sentimental. Quando um vislumbre de tais atitudes ocorre nas obras publicadas de Edward, elas falham em tocar as profundezas de seu assunto. A julgar por A Glossary ("Um Glossário"), ele pode ter sabido mais do que estava disposto, ou talvez capaz, de dizer.

    Além de Cockren, Aesh Metzareph e Aurea Catena, suas fontes incluem as obras de Thomas Vaughan, The Ordinali of Alchemy("O Ordinali da Alquimia") por Thomas Norton, aluno de Ripley, Spendor Solis ("Esplendor Solar") de Trismosin, A Suggestive Inquiry ("Uma Investigação Sugestiva", 1850) de Mrs. Attwood, The Hieroglyphic Monad ("A Mônada Hieroglífica") de Dr. John Dee e Clavis Chimicus ("Chave Química") de The Rosicrucian Secrets ("Os Segredos Rosacruzes", inédito), com The Alchemical Writings of Edward Kelley ("Os Escritos Alquímicos de Edward Kelley", 1894), The New Pearl of Great Price ("A Nova Pérola de Grande Valor", 1546) por Peter Bonus e The Triumphal Chariot of Antimony ("A Carruagem Triunfal do Antimônio") de Basil Valentine. Edward

    [p 278]

    enfatiza o trabalho de alquimistas passados na Grã-Bretanha e não mostra interesse nos do continente nos dias atuais. Baseio o seguinte resumo em sua antologia de definições porque, ao elucidar a linguagem simbólica da literatura alquímica, também dá uma ideia de como certos estudantes da Aurora Dourada abordaram esse assunto recôndito.

    SUBSTÂNCIAS. A alquimia postula um estado sem corpo que subsiste tanto "abaixo" quanto "acima" do universo manifestado à humanidade como matéria. (O uso de tal imagética espacial para sugerir tipos de existências fora do continuum espaço-tempo como ordinariamente cognitivo é incômodo e até enganoso, mas inevitável, pois a linguagem é limitada pela percepção humana.) Esse estado incorpóreo é o Primum Ens ("Primeira Essência") pelo qual sua contraparte incorporada, a Prima Materia ("Primeira Matéria"), é delimitada. Visto como mais denso em sua manifestação "central", essa Prima Materia opera uma escala de mudanças tanto "para cima" quanto "para baixo"; e é com esses extremos — "os confins onde a matéria termina", nas palavras dos The Chaldaean Oracles ("Oráculos Caldeus") — que a alquimia lida. Aristóteles chamou de "Arte Espagírica" (ou seja, separativa) porque consiste em grande parte em dividir o Primum Ens da Prima Materia ou Corpus que atua como seu veículo no universo físico, "separando o Volátil do Fixo". Em uma imagética que é notavelmente constante através das fronteiras da cultura e época, a Águia e, às vezes outras aves e bestas aladas, representam o Volátil — também o feminino e Mercúrio quando este é usado para a metade feminina no equivalente alquímico de um conceito Yin-Yang. O Leão e outras bestas representam o fixo, também o masculino e o Enxofre. O Glúten da Águia, também chamado de Lac Virginis (Leite da Virgem), deve ser misturado com o Sangue do Leão para efetuar a combinação de Yin com Yang. A imagética em outros contextos para esses opostos polares pode ser: Mulher Branca e Homem Vermelho, Vênus e Marte (♀︎ e ♂︎), a Lua e o Sol, Prata e Ouro, e a Rainha e o Rei.

    A divisão do universo entre o Primum Ens e a Prima Materia — mais ou menos equivalente ao Purusha[157] e Prakriti[158] do pensamento Vedanta — é diagramática, já que a realidade é estruturada mais como uma série de escalas ou graus. Em um livro recente e em alguns aspectos horrível, The Beginning was the End ("O Começo foi o Fim"), Oscar Maerth emprega uma divisão cósmica quádrupla — espírito, meio-espírito, meio-matéria e

    [p 279]

    matéria — que ele aprendeu durante sua estadia em um mosteiro budista chinês e que se aplica tanto macrocosmicamente quanto microcosmicamente. De maneira semelhante, quando os alquimistas falam de "três Mercúrios" ou "três Enxofres", estão chamando a atenção para as formas e funções variadas das substâncias em diferentes níveis de ser e indicam por essa subdivisão particular apenas três desses vários níveis.

    Comparativamente, poucas substâncias físicas parecem ser usadas no experimento alquímico, mas em sua literatura — cujo vasto escopo, se estendendo ao longo da história e em todas as culturas, a pessoa comum educada não tem ideia — cada uma assume uma diversidade de pseudônimos. Onde quer que a Arte seja encontrada, seus praticantes parecem estar fazendo — e até dizendo — as mesmas coisas básicas. Algumas de suas variantes referem-se a uma determinada substância em um estágio particular da Grande Obra ou em um "nível" cósmico particular; mas o problema do deciframento é complicado pelo uso, em alguns textos, do mesmo nome para substâncias distintas. Não se pode entender um texto alquímico tentando traduzi-lo para a linguagem cotidiana: seu desafio é mais do que o de um trabalho de decodificação e requer uma faculdade análoga à apreciação poética. É estranho que a literatura da alquimia tenha sido negligenciada como uma forma de arte — o que é, entre muitas outras coisas; além de meu próprio artigo imaturo na revista The Quests ("A Busca"), conheço pouco, exceto Anthologie de la poésie hermétique ("Antologia de Poesia Hermética") de Claude d'Ygé. As ilustrações gravadas que animam muitos textos alquímicos ou, como The Book of Lambspring ("O Livro de Lambspring") e Mutus Liber[159] ("Livro Mudo"), ficam em seu lugar, também aguardam avaliação estética; tanto quanto eu sei, a única tentativa nessa direção é Art et Alchimie ("Arte e Alquimia") de Van Lerinef.

    O sr. Roger Caro me disse que hoje, caso o objetivo seja experimentar alquimicamente com substâncias físicas, é muito difícil obter materiais da qualidade certa por meio de canais comuns. Os produtos disponíveis comercialmente são quase sempre "adulterados" quimicamente para facilitar a embalagem, armazenamento ou transporte; ou de fato, brutalmente viciados com o objetivo de maiores lucros. Para o alquimista, eles são, portanto, inúteis, e ele deve fazer encomendas especiais ou empreender outras medidas para obter o que precisa.

    ELEMENTOS. Existem quatro formas do espírito (o estado incorpóreo) relacionadas aos Elementos (corpóreos): Azoth é sua forma aquosa,

    [p 280]

    Kibric sua forma aérea, Alocohoph ou Alicosoph sua forma terrestre, e Sandarace sua forma ígnea. Esses são os contrapartes sutis dos Elementos e os animais que figuram proeminentemente nos textos e ilustrações alquímicas são frequentemente emblemáticos desses Elementos: baleias ou peixes, da Água; a águia, do Ar; o leão ou o boi, da Terra; e a salamandra ou o dragão, do Fogo.

    Paracelso (1493-1541) criou uma terminologia pessoal elaborada que dá Iliades ou Ileidus como um nome coletivo para os Elementos incorpóreos, Caos, que ele chama de Iliaster e que é, como os Elementos, quádruplo. Macrocosmicamente, é o Caos da Terra, Água, Ar e Fogo que se reflete no homem como microcosmo e é aí conhecido como Iliaster Primus, Secundus, Tertius e Quartus ou Magnus. Para aprofundar, esses Iliastri estão relacionados com o Elixir da Imortalidade e, nesse sentido, são ampliados por certos epítetos ou frases. O Iliaster Primus (Terra) é chamado de Força Vital, Bálsamo da Natureza e Bálsamo da Vida. O Secundus (Água) pode dar imortalidade condicional através dos quatro Elementos corpóreos. O Tertius (Ar) é o Poder Astral, a ser obtido através da Quintessência ou Quinto Elemento. O Quartus ou Magnus (Fogo) é chamado de imortalidade de Enoque ou de Elias, provocada por uma "tradução" do corpo denso — o que implica uma reorganização das partículas que o compõem.

    ESTÁGIOS. No decorrer da Grande Obra — a produção do Elixir da Vida e/ou da Pedra Filosofal — a substância básica escolhida, qualquer que seja, passa por três estágios principais chamados de acordo com as cores que ocorrem quando é aquecida: Preto, Branco, Vermelho. Estes são ainda diferenciados por alguns autores, assim:

    [p 281]

    Preto
    Azul ou Cinza
    Branco
    Açafrão
    Vermelho
    Roxo

    Em The Great Art ("A Grande Arte", 1786) de Dorn A. J. Pernety, as cores que marcam os estágios da obra são organizadas com suas atribuições planetárias e metálicas da seguinte forma:

    Tabela 1 na 281.png

    Mais detalhadamente, os estágios podem ser relacionados com as estações e o Zodíaco desta forma:

    Tabela 2 na 281.png

    A menção das cores nos faz lembrar de uma passagem em The Alchemist ("O Alquimista"), onde o garoto da casa, Face, reclama:

    "... esses olhos turvos
    Observaram para ler suas várias cores, senhor,
    Do citrino pálido, do leão verde, do corvo,
    Da cauda do pavão, do cisne emplumado?"

    Aqui, a ordem das cores e os estágios que elas significam estão confusos, mas os versos mostram como aves e bestas simbólicas sustentam um elemento pictórico na escrita alquímica. Sir Epicure já chamou a atenção para uma interpretação especial dos mitos Clássicos:

    "Tenho um pedaço do velo de Jasão, também,
    Que não era outro senão um livro de alquimia,
    ....................................................
    E toda aquela fábula dos encantos de Medeia,
    A maneira de nosso trabalho; os touros, nosso forno,
    Ainda respirando fogo; nosso argento vive[160], o dragão;
    Os dentes do dragão, mercúrio sublimado,
    Que mantém a brancura, dureza e a mordida;
    E eles são reunidos no elmo de Jasão,
    O alambique, e então semeados no campo de Marte,
    E então sublimados tantas vezes até que se fixem?"[161]


    [p 282]

    A obra Atalanta Fugiens ("A Fuga de Atalanta", 1618) de Michael Maier expande o uso técnico da mitologia para fins alquímicos.

    FOGO SECRETO. Com a consideração do calor, os processos reais da alquimia entram em questão. Diz-se que existem quatro graus de Fogo relacionados aos signos do Zodíaco, conhecidos como Sol de Áries, Sol de Touro (Estágio Negro), de Gêmeos (Estágio Branco) e de Leão (Estágio Vermelho), respectivamente. Ou pode haver uma divisão em três graus: aqueles de Áries, Leão e Sagitário, os signos que compõem a Tríplice do Fogo do Zodíaco, e descritos ainda como natural, antinatural e contra-natural. Sugiro que o primeiro destes três se refere ao calor natural das coisas — talvez também à utilização de esterco como agente aquecedor em alguns experimentos; ou um método de quebrar metais pela proximidade a um disco de aço que gira rapidamente, sem contato direto e sem calor ou oxidação. Em termos alquímicos, esse "derretimento" é operado através da ação do Fogo oculto (Elemental). O segundo pode indicar o uso direto da luz solar, e a atração de raios na produção de resultados alquímicos às vezes associados ao Caminho Seco usando cadinho[162] em vez do Ovo dos Filósofos. O terceiro pode aludir à aplicação excessiva de calor pelos Puffers[163] no athanor. Os graus de Fogo são às vezes classificados de maneira mais simples como Interno e Externo, ou calor natural e aplicado.

    PROCESSOS. Os processos que levam à realização da Grande Obra são numerados em um texto como sendo quatro: a Solução da substância escolhida na água mercurial, a Preparação do Mercúrio Filosófico, sua Corrupção e a Geração, a partir dele, do Enxofre Filosófico. Eles também são descritos como Solução, Purificação, Redução e Fixação.

    No entanto, a maioria dos autores propõe um número maior de processos; a Aurea Catena tem dez "elos", mas doze é mais comum, muitas vezes relacionados aos Trabalhos de Hércules. Norton simboliza-os como Doze Portões, Basil Valentine como Doze Chaves; adotei a nomenclatura deste último como títulos de capítulos em meu romance esotérico, Goose of Hermogenes ("Ganso de Hermógenes", 1961). Le Livre des Feuillets Hermétiques ("O Livro das Folhas Herméticas", 1763) de Kerdanek de Pornic descreve vinte e dois Arcanos, um número que

    [p 283]

    inevitavelmente faz lembrar os Arcanos Maiores do Tarot. Aqui, no Arcano XIII, La Floraison: "La Fleur des Sages croit sur la plante philoso­phique[164]; e no Arcano XIV, La Fructification: "...couleur du pavot des champs ou rouge vif du sang"[165], descreve exatamente a "flor" no laboratório de Cockren, que deve ter atingido um estágio intermediário entre esses dois quando Edward a viu. Este texto foi reproduzido em Initiation et Science ("Iniciação e Ciência") — famoso por seus artigos sobre temas alquímicos — A edição N.o 55 (1962) por Claude d'Ygé de Lablatinière, que morreu dois anos depois. N.o 63 (1965) da mesma revista continha um obituário de Serge Hutin e mostrava na capa uma fotografia de d'Ygè que, estranhamente, tem uma forte semelhança com Edward. Outro texto em francês, La Pilote de l'Onde Vive ("O Piloto da Onda Viva", 1678) por Mathurin Equem, Sieur du Martineau, contém vinte e um 'movimentos' e um 'ponto fixo', este último francamente equiparado ao Louco do Tarô.

    MICROCOSMO. Espalhados pelos escritos de Paracelcus, pode-se encontrar muito conhecimento relacionado não apenas ao contraparte sutil dos metais, mas ao corpo sutil do ser humano. Quando a alquimia é usada terapeuticamente, é a esse veículo ou a uma de suas subdivisões que o tratamento é dirigido e através do qual se pensa que a cura ocorre. No sistema paracelsiano, as partes da alma — ou, melhor dizendo, a escala dos corpos sutis — se comparam bem com o esquema hindu (e teosófico) de sete partes. Em ordem de sutileza, começando com o mais incorpóreo ou volátil, esses veículos são:

    Sistema
    Paracelsiano
    Sistema Hindu
    1. Spiritus

    2. Carne de Christ

    3. Carne de Adam

    4. Archaeus

    5. Evestrum

    6. Iliastri

    7. Limbus

    8. Corpus

    Atma

    Buddhi

    Manas Superior

    Manas Inferior

    Kama

    Prana

    Linga Sharira

    Sthula Sharira

    Essa correspondência sugere uma continuidade de pensamento e prática entre a tradição alquímica ocidental e a oriental, indicando a universalidade subjacente dos conceitos alquímicos.

    A GRANDE OBRA. Esta procede em três etapas: a primeira, Rebis, é a conjunção de Enxofre e Mercúrio, frequentemente

    [p 284]

    representada em ilustrações por uma figura humana hermafrodita, equivalente ao diagrama geométrico Yin-Yang. A segunda, o Elixir, é subdividida em Elixir dos Corpos, ou "primeira rotação", progredindo para o estágio Azul; seguem-se as Sete Imbibições[166] que levam ao Estágio Branco ou Tintura Branca e depois ao Estágio Vermelho ou Tintura Vermelha. A terceira é chamada de Elixir dos Espíritos ou Elixir do Fogo e é realizada pela "fermentação".

    Diz-se que existem dois tipos de ouro — Ouro Branco, que é o "Nosso Mercúrio", e Ouro Vermelho, "Nosso Enxofre". O pronome possessivo indica que não se referem ao mercúrio e enxofre comuns. Parece ser apenas mais uma imagem para o conceito de polaridade Ying-Yang subjacente ao pensamento alquímico.

    Concluirei enfatizando que o Elixir e a Pedra são objetos de busca como agentes de transmutação em todos os níveis; e citarei uma ocasião, registrada em Memoriae Sacrum ("Memória Sagrada", 1658) de Thomas Vaughan, na qual a Grande Obra foi efetuada:

    "... no mesmo dia minha querida esposa adoeceu; e no sábado seguinte, que foi o dia em que ela morreu, eu a extraí pelo método anterior, de modo que no mesmo dia que se mostrou o mais doloroso para mim, seja lá o que for, Deus se agradou em me conferir a maior alegria que posso ter neste mundo após a morte dela."

    A transmutação metálica, embora necessária para a finalidade alcançada pelo alquimista, não é mais do que um símbolo do conhecimento mais profundo e dos poderes mais amplos do Sábio. O Hiperquímico laborioso pode produzir transmutações de um tipo em seu laboratório, mas sem a habilidade de manipular forças "nas fronteiras onde a matéria termina", ele não é um Alquimista.



    CAPITULO VINTE E UM

    [p 285]

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    Tantra

    Tantra

    O sistema mágico ensinado na Aurora Dourada deve ser classificado como Teurgia, a Magia da Luz, distintamente de todos os tipos de magia sexual e, até mesmo, exclusivamente deles. No Prefácio de sua monografia de mesmo nome, Edward Garstin define Teurgia como

    "a parte prática da alquimia espiritual"

    e continua:

    "... os Teurgistas egípcios, que diziam que os Deuses eram Essências Espirituais, e eram participados como luz, deixando a luz inalterada, enquanto quem a partilhava era preenchido? ..."

    Ele acrescenta:

    "... em lugar algum nos verdadeiros mistérios sagrados — pelo menos no Ocidente — foi dada qualquer instrução envolvendo práticas sexuais, tais como a introversão das forças sexuais, tentando puxá-las pela espinha e para o cérebro."

    Segue-se disso que ele desaprovava Aleister Crowley — de fato, quando conheci meu primo, ele estava muito amargo contra ele, embora menos por sua suposta influência prejudicial do que por seu tratamento de Mathers, que era mesquinho por qualquer padrão. Edward sempre foi intensamente leal a Mathers e Moïna; mas é justo dizer que, no fim de sua vida, ele modificou sua atitude em relação a Crowley e tornou-se menos cego aos méritos deste último — embora ainda deplorasse sua quebra de juramento, calúnia e pilhagem de material alheio. Talvez Edward estivesse se tornando mais tolerante

    [p 286]

    com as tendências estranhamente justapostas que constituem um ser humano.

    Embora eu acredite que a visão de Edward sobre a magia sexual tenha sido geralmente aceita na Aurora Dourada de seu tempo — Regardie (em My Rosicrucian Adventure, "Minha Aventura Rosacruciana") expressa a mesma opinião sobre a ausência de magia sexual no ensino da Aurora Dourada — também acredito que alguns de seus estudantes anteriores de patente da Segunda Ordem receberam mais do que uma sugestão de processos que hoje poderiam ser classificados como "Tântricos". Essa especulação é difícil de comprovar, pois o ensino, se houvesse, não seria registrado por escrito de forma explícita. Em todas as sociedades ocultas, o estudante recebe — além de ritos graduados — instrução por etapas:

    1. A partir de livros em bibliotecas, e por meio de palestras públicas ou semipúblicas, às quais os cursos por correspondência são um possível complemento ou alternativa.
    2. Através de "palestras de conhecimento", como a Aurora Dourada os chamava: geralmente papéis duplicados ou impressos privadamente disponíveis apenas para membros; e em palestras ou seminários particulares.
    3. Através de manuscritos secretos emprestados apenas aos estudantes mais avançados; e ensino individual "de boca a ouvido" — a Cabalah Não Escrita ou seu equivalente em outros sistemas.

    Nesses dias de iluminação científica e educação universal, a informação de qualquer tipo não deveria estar disponível para todos? Fraternidades esotéricas podem ser consideradas um pouco fora de moda por exigirem segredo ou mesmo discrição de seus adeptos. No entanto, até que ponto os investigadores não qualificados penetram em um laboratório de pesquisa nuclear, ou não iniciados em um escritório onde a política de um consórcio financeiro é decidida, ou os profanos em um Departamento de Governo preocupado com a Defesa? (O resultado do último tipo de intrusão pode muito bem ser o encarceramento) Mesmo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha em Genebra — La Maison para seus membros, que nunca excedem vinte e cinco em número — se reúne para suas decisões principais em estrito segredo. Esses exemplos demonstram o fato de que, quando os assuntos são considerados importantes o suficiente, o segredo é a regra; aqueles que exigem admissão devem estar de posse do equivalente a uma senha.

    Retornando ao campo mais comumente designado como oculto, o problema é determinar se existe no Ocidente algum corpus de tradição comparável aos Tantras do Oriente, seja Taoista, Budista ou

    [p 287]

    Hindu. Enquanto a magia sexual de vários tipos é comum a todas as culturas, especialmente ao nível da prática popular, duvido que se possa encontrar o Tantra propriamente dito na Europa, a menos que como uma importação do Oriente. Aqueles escritores que afirmam descobri-lo tendem a enfatizar um dos 'Cinco M's' do Tantra — Maithuna, intercurso sexual — em detrimento dos outros quatro. No entanto, o Tantra é, de acordo com Philip S. Rawson, organizador e catalogador da exposição de Arte Tântrica do Arts Council em 1971,

    "... um culto ao êxtase focado em uma divisão da sexualidade cósmica. Estilos de vida, rituais, magia, mitos, filosofia e um complexo de sinais e símbolos emotivos convergem para essa visão. Os textos básicos em que esses são transmitidos também são chamados de Tantras."

    Essa exposição, uma das mais inspiradoras, esteticamente e metafisicamente, que já vi, deu uma visão clara de uma visão de mundo especializada e sofisticada. (Não ouvi falar de nenhuma reclamação sobre "obscenidade", e espero que não tenha havido nenhuma.) Sugiro que o Tantra na arte, filosofia e sentimento represente a vertente Magian[167] na cultura oriental: uso o termo de Spengler em Der Untergang des Abendlandes (um título traduzido de forma muito rápida como O Declínio do Ocidente), onde esse estilo, distinto tanto do Clássico quanto do Romântico, foi isolado pela primeira vez.

    Se tivesse a oportunidade de estudá-los profundamente, certamente algumas dessas exposições Tântricas lançariam luz sobre o sistema Enochiano do Dr. Dee: penso nas disposições geométricas das letras do alfabeto sânscrito e em outros diagramas compostos de quadrados para cálculos astrológicos e, novamente, nos Tantras que representam a origem do lingam. Se o Dr. Dee é o exemplo mais profundo de pensamento Magian no Ocidente, ele também pode ser um expoente ocidental do pensamento Tântrico. Outro tema (apenas mais um!) que está à espera de exploração.

    Como qualquer equivalente do Tantra pertenceria à terceira e mais secreta categoria de instrução esotérica em uma fraternidade mágica, só se pode coletar referências dispersas, até mesmo fofocas, como indicação de sua presença na Aurora Dourada — muito como, na esfera da política nacional, às vezes se pode obter discernimento a partir das perguntas feitas no Parlamento, em vez de suas respostas, frequentemente redigidas em um "oficialesco" destinado

    [p 288]

    a confundir em vez de esclarecer. Seguindo esses rastros tênues, pode-se encontrar vestígios de uma atitude Tântrica ou anti-Tântrica em vários membros da Aurora Dourada; em Mathers e Moïna; depois em Dr. Edward Berridge e Annie Horniman (lembre-se de sua desaprovação expressa a ele a esse respeito); em W. B. Yeats, Dr. Brodie-Innes, Aleister Crowley (claro) e A. E. Waite com Arthur Machen como seu discípulo.

    Por que os Mathers escolheram Isis do panteão egípcio para um renascimento de culto? (Ou foram eles selecionados por ela?) Quem ou o que era ela, além do poder da Estação Invisível que deveria inspirar o Praemonstrator de um templo Aurora Dourada? Ela era a Lua como Rainha dos Céus, mas também a terra e seu grão, nutridora da humanidade — tanto Yesod quanto Malkuth na Árvore da Vida. Arquétipo de mãe, irmã e esposa, ela era, além disso, a Grande Deusa de todos os panteões, a própria Mãe Natureza — Binah, mas também Ain Soph Aur, o todo-penetrante e o todo-produtor. Quando Moïna assumiu a forma divina de Isis, ela se tornou a Shakti universal para seu marido. Eles sentiram alguma influência "lunar" como necessária para equilibrar a Magia da Luz da Aurora Dourada, e foi esse o motivo para o renascimento da adoração a Isis?

    O interesse de Waite (com exceção de Crowley) é, surpreendentemente, o mais bem documentado. Na coleção Gerald Yorke de Manuscritos no Warburg Institute, em Londres, há uma obra de Waite intitulada The House of the Hidden Light ("A Casa da Luz Oculta", 1903), que nunca foi publicada, embora encadernada em um volume através do cuidado assíduo do Sr. Yorke. Ela menciona The Veritable, Ancient and Rectified Rite of Lilith, called ל in the Great Book of Avalon. ("O Verdadeiro, Antigo e Retificado Rito de Lilith, chamado ל [lamed] no Grande Livro de Avalon"). Não se sabe se este Grande Livro foi escrito, mas quanto à parte chamada O Rito, pode-se adivinhar sua intenção analisando os nomes em seu título. Na tradição cabalística, Lilith é governante dos Qliphoth ("Cascas", "Conchas" ou Demônios Malignos), permeando o aspecto adverso de Yesod, microcosmicamente a esfera do sexo. A tradição rabínica a caracteriza como a primeira consorte de Adão, uma súcubo e mãe de súcubos, o que sugere que esse Rito dizia respeito ao congresso sexual com seres praeternaturais[168]. As lendas elaboram ainda mais, atribuindo a Jovem Lilith como esposa de Asmodai, que governa a esfera de Vênus Aversa, a Qliphah Netzach; e Lilith, a Anciã, como esposa de Samael, príncipe das Qliphoth de Chokmah, esfera do Pai Escuro.

    [p 289]

    Parece que Waite estava lidando, não apenas com magia sexual, mas com o seu lado "mais sombrio". Ele havia investigado Andrew Jackson Davis durante uma fase anterior do Espiritismo e publicou um relato da Harmonial Philosophy ("Filosofia Harmonial de Davis", 1922). Mas este Rito parece ir muito além das teorias sexuais bastabte experimentais de Davis. A letra hebraica ל (L, Lamed), no entanto, é atribuída ao signo de Libra, mansão de Vênus, e ao Arcano Maior conhecido como Justiça, ambos sem conotações goéticas. (Crowley renomeou a carta como Ajustamento e atribuiu-lhe um significado fálico-vulval como "A Mulher justificada por Iod".)

    Waite continua a dizer que o Rito está simbolicamente relacionado à terceira letra do mantram Sânscrito AUM: como A e O (U) já estavam em uso como emblemáticos da Magia da Luz e tipificavam o nascer do sol (grego Éôs, Ἠώς), M deve ter indicado outro caminho — talvez "lunar" em contraste com "solar", um que utilizasse a corrente feminina como tal. A Magia da Luz expressa a ideia unissex em uma sociedade oculta, admitindo homens e mulheres em pé de igualdade, independentemente de seu sexo, ou restringindo a participação apenas aos homens. O Tantra, no entanto, precisa de mulheres porque, em sua visão, sua constituição psicofísica contém elementos ausentes na do homem. Essa é a inspiração básica de todos os cultos dedicados à Grande Deusa e a razão para a suspeita com que são comumente vistos em uma sociedade orientada para o homem. Assim, enquanto um grupo tântrico admite mulheres, ele não pode fazê-lo em uma base unissex, uma vez que o motivo de sua presença consiste em sua própria diferença dos homens. Essa visão pode ser adequadamente sugerida pela letra M; qualquer fraternidade que faça uso dos poderes que a Deusa engloba poderia ser enquadrada na mesma designação, bem como aqueles grupos compostos apenas por mulheres que derivam dos mitos das Amazonas. Estes não são necessariamente de uma tendência lésbica, embora eu entenda que tais existem: em Secret Societies of Modern London ("Sociedades Secretas da Londres Moderna") de Elliott O'Donnell, uma delas é mencionada como The Gorgons ("As Górgonas"), mas não há evidências de tais irmandades em conexão com a Aurora Dourada.

    O Rito de Waite não é dado na íntegra, por isso é impossível dizer até que ponto ele abertamente fazia um culto à Deusa. Aparentemente, seus iniciados formavam um grupo secreto dentro da sua Holy Order of the GD ("Sagrada Ordem da AD", como alguns de seus predecessores em Isis-Urania), mas não eram tirados exclusivamente dele. Todos os seus membros haviam deixado a original Isis-Urania até esse momento e, consequentemente,

    [p 290]

    estavam em cisma. Waite os lista sob seus lemas da Aurora Dourada, e eu anexo seus nomes no mundo profano:

    Soror Shemeber = Pamela Carden — Sra. P. Bullock
    Soror Hilaria = ?
    Soror Vigilate = Sra. (Helen) Rand
    Soror Fidelis = Elaine Simpson
    Frater Resurgam = Dr. Edward W. Berridge
    Frater Levavi Occulos = Percy Bullock
    Frater Finem Respisce = Dr. Robert W. Felkin
    Frater De Profundis Ad Lucem = Frederick L. Gardner
    Frater Anima Pura Sit = Dr. Henry Pullen Burry

    Deve-se acrescentar o próprio Waite e seu grande amigo Arthur Machen; também talvez Crowley, uma vez que ele já estava associado a Elaine Simpson e ao Dr. Berridge no leal Templo Isis. A conexão desses estudantes Herméticos com o Rito lança uma luz inesperada sobre a personalidade de alguns deles, principalmente sobre a de Waite; e também pode-se especular sobre como a Sra. Rand se reconciliou com o Dr. Berridge, a quem pouco antes ela havia se oposto quase tanto quanto Annie Horniman.

    Waite dá outra lista de nomes, aparentemente em relação a Cargos em vez de indivíduos, que inclui:

    Frater Aquarius
    Frater Elias Artista
    Frater Christophoron
    Soror Benedicta in Aqua
    Soror Gloriosa in Igne

    Os dois últimos representam claramente uma versão dos Stolistes e Dadouchos da Aurora Dourada — Stolistria e Dadouché se os Cargos forem ocupados por iniciadas — localizados na Árvore da Vida em Hod e Netzach, respectivamente. Christophoron (Portador de Cristo) poderia ser um Cargo atribuído à esfera de Tiphereth, enquanto Elias Artista[169], com conotações alquímicas, e Aquarius seriam referidos, respectivamente, a Geburah e Chesed. Waite provavelmente assumiu o Cargo de Elias Artista, já que usou esse título em outros lugares quase como se fosse um lema mágico extra, e Machen às vezes era chamado de Aquarius em vez de Filius Aquarii.

    Waite pertencia a uma geração que tendia a velar em latim as partes mais francas de qualquer discurso, e este também está envolto em sua prosa usualmente ofuscada. Ele lança olhares oblíquos, no entanto, a um misterioso Locus Faunorum (Lugar dos Faunos) e a um Locus Inferioris Zion (Lugar Inferior do Sião) que dificilmente podem

    [p 291]

    implicar algo que não seja a polaridade sexual. O último nome é, na verdade, uma locução Zohárica para os órgãos genitais femininos (Idra Zuta Qadisha, cap. XXII, 744); a passagem é um exemplo claro da base sexual de muito pensamento Cabalístico. Mesmo que tudo deva ser tomado simbolicamente, o que é dito deve se referir a um rito orientado para a magia sexual e, portanto, distinto, não apenas da Magia da Luz, mas também do Cristianismo ao qual Waite constantemente criticava — para usar uma palavra da qual ele certamente aprovaria! Recordo-me do ritual maçônico marginal registrado por Crowley em Energised Enthusiasm ("Entusiasmo Energizado", The Equinox, N.o II), que eu já supus ser fantasia.

    Se é surpreendente encontrar Brodie-Innes como colaborador de Waite neste sentido — os dois eram pessoalmente como óleo e água —, não é surpresa alguma encontrá-lo como defensor do Tantra, na qual ele já havia mostrado interesse. Se Kenneth Grant estiver correto ao pensar que Shakti-tantra ou seu equivalente ocidental formavam a base do trabalho oculto de Dion Fortune, então ela recebeu um ímpeto inicial em direção a isso de Brodie-Innes. A cooperação do Dr. Berridge também não é surpreendente, já que uma das primeiras brigas sérias a estremecer o tecido de Isis-Urania surgiu de sua adesão à Brotherhood of the New Life ("Irmandade da Nova Vida"). Esta foi fundada pelo norte-americano naturalizado Thomas Lake Harris que, com seus seguidores, um dos quais era o fascinante escocês Laurence Oliphant (1829-88), autor de Sympneuma, estabeleceu várias comunidades para colocar suas ideias em prática. Aqui, a crença em uma divindade de duplo sexo substituiu o monoteísmo extremo, o casamento em grupo e a busca pela alma gêmea foram defendidos, e estados de transe induzidos por meio de Karezza (o que na O∴T∴O∴ viria a chamar de Dianismo) foram incentivados. Moderadas o suficiente pelos padrões atuais, a propaganda de Berridge para essas noções teria sido geralmente chocante na Grã-Bretanha do século passado, e Annie Horniman não foi a única estudante oculta a se escandalizar. Logo chegaram reclamações a Mathers, que naquela época se domiciliara na França, de que Berridge estava desencaminhando os membros mais jovens. Mathers, no entanto, recusou-se a discipliná-lo como Annie exigia e lhe disse (mais ou menos) para cuidar de seus próprios negócios. Ele deixou claro que, em sua opinião, todos deveriam chegar a uma conclusão sobre questões sexuais sem interferência de seus colegas estudantes, embora pudessem recorrer a seus superiores em grau (ou seja, ele próprio e Wynn Westcott) se sentissem necessidade de orientação. Sua atitude é

    [p 292]

    notavelmente de mente aberta em um homem que, tanto quanto se pode julgar, levou uma vida de considerável abstinência. Berridge retribuiu a tolerância de seu Chefe ao mobilizar apoio para ele na hora da necessidade, o que ocorreu alguns anos depois com a deserção da maioria dos iniciados de Isis-Urania.

    Quer Lake Harris tenha evoluído suas ideias a partir de seu próprio ingenium ou não, elas certamente têm alguma semelhança com o Yoga Tântrico. O Tantrika evita 'desperdiçar' o sêmen no orgasmo; a substância é valorizada por suas propriedades ocultas e é idealmente absorvida em seu ser psicofísico, onde, especialmente, sua contraparte sutil reforça seu corpo ou corpos sutis. Oliphant defendeu um sistema de 'respiração interna', relacionado ao controle da respiração yóguica, a ser usado especialmente durante o ato sexual. Um livreto de Alice B. Stockham, intitulado Karezza (1895), descreve essa prática sexual em detalhes; pareceria ser indistinguível do que os teólogos católicos, ao listar métodos permissíveis de contracepção, chamam de Coitus Reservatus, e que classificam como um tipo de continência.

    Esse caso de Casuística faz questionar se o relacionamento de Mathers com Moïna era estritamente e permanentemente 'platônico', ou seja, baseado na continência como comumente entendido e como sua carta de 31 de dezembro de 1895 a Annie Horniman daria a entender. Poderia ser que Karezza não fosse excluído, sendo considerado uma prática 'espiritualizada', distante dos estímulos sexuais comuns e sua satisfação? Se Mathers exerceu tanta ascendência mesmérica sobre sua esposa como Westcott opinou, ele pode tê-la persuadido de que o coitus reservatus não era um ato sexual e vencer em algum grau sua repugnância por contatos físicos íntimos. Sentados frente a frente, vestidos ritualisticamente com nêmis e manto, o vermelho e azul invertendo as cores tradicionais de Boddhisattva e Dakini, eles podem ter permanecido em êxtase por horas em um entronamento mútuo.

    Seja qual for o relacionamento, a continência (no sentido aceito ou casuístico) não prejudicou Moïna de forma alguma: nunca se ouve falar dela como fisicamente enferma, nem parece ter sido emocionalmente vitimizada. Não tenho certeza se o mesmo pode ser dito de Mathers: embora fosse de físico resistente e sempre tomasse medidas para manter sua saúde e força, relatos datados de antes da virada do século e se estendendo até o início da Guerra de 1914 notam nele sintomas de tensão nervosa. Esses sintomas podem ter

    [p 293]

    sido devidos, em alguma medida, ao controle exigente que Karezza exige? Vários sexólogos alertaram contra a prática por esses motivos.

    Pode haver outra razão para apreensão: enquanto se sabe que Crowley não é um relator confiável, especialmente quando o assunto é um ex-amigo, uma afirmação que pode ser pertinente ocorre em Liber Agape. Este é um papel de instrução da O.T.O. lidando com magia sexual citado por Kenneth Grant em The Magical Revival ("O Reviver da Magia"). Tendo indicado o uso da boca de maneira vampírica no ápice da relação sexual, Crowley continua:

    "Isso foi usado pelo falecido Oscar Wilde, e por Sr. e Sra. "Horos", também, em uma forma modificada por S. L. Mathers e sua esposa, e por E. W. Berridge.
    A inaptidão dos três últimos os salvou do destino dos três primeiros."

    Como o destino mencionado envolveu acusação e uma longa sentença de prisão, a implicação parece ser que a prática a que Crowley alude, se completamente realizada, poderia perverter o julgamento de seus praticantes, levando-os ao crime enquanto dificultava sua fuga quando a lei se preparava para alcançá-los. Mas Crowley era irresponsável em tais acusações e ele pode, conhecendo as predileções de Berridge, ter feito uma observação maldosa sobre os Mathers como um acréscimo.

    Se eles usaram ou tentaram usar essa espécie de vampirismo, onde os parceiros se tornam Sábio e Vítima, é evidente que Karezza em si poderia ter trazido algumas vantagens. Não só poderia fornecer uma plataforma de lançamento oculto para explorar os reinos do mistério, mas um contraceptivo cuja quase-segurança eliminaria a preocupação em relação aos laços familiares—algo que ambos, sem dúvida, desejavam em prol do avanço oculto. Em vista do estado continuamente precário de suas finanças, o cuidado com os dependentes teria frustrado a missão à qual ambos haviam sido chamados.

    O ensino de Mathers lidou com o sexo em outra manifestação, mais recondita—aquela do cônjuge Elemental. Ambos, ele e Wynn Westcott, não apenas acreditaram na possibilidade de tal união, mas

    [p 294]

    devem ter ensinado métodos pelos quais um parceiro de regiões praeternaturais poderia ser atraído. Eles recomendaram um casamento Elemental a Sra. Carden, apesar do fato de ela já estar casada, de maneira menos refinada, com A. J. Carden e ter tido uma filha. Sem documentação mais detalhada do que a disponível atualmente, é impossível dizer mais do que aqui, mais uma vez, os dois Chefesda Aurora Dourada estavam de acordo com a tradição Tantrik, pois o Tantrika avançado tem métodos de obter um amante Daimon. Tais crenças não se limitam a cultos especializados no Oriente, no entanto: o folclore mundial está repleto de histórias da noiva ou noivo fada, seja benéfico ou avesso, desde o homem-foca e a mulher-foca das Hébridas até a Dama do Lago ou a Lamia até a sereia ancestral da linhagem Lusignan. Se tais uniões resultam em descendência — e muitas vezes se diz que sim — é difícil descartá-las como mera fantasia sem também classificar todos os nossos antepassados como mentalmente perturbados. Embora Moïna não gostasse da ideia de companheiros Elementais tanto quanto dos humanos, ela não duvidava da possibilidade de tal coisa, e é de se perguntar quanto tempo ela continuou a resistir diante do que acreditava sinceramente ser o ensino Rosacruciano. Ela deve ter dado instruções na A∴ O∴ sobre tais assuntos como A Filosofia Oculta do Amor e do Matrimônio, se ela proibiu, como muito revelador, o livro de Dion Fortune com esse título.

    Mathers não precisava ter ido tão longe quanto os sistemas secretos da China, Índia ou Tibete: o Islã esconde uma tradição similar com a seita Beni Udhra e, por várias razões, é mais provável que, se o Tantra (assim chamado por conveniência) formou uma parte, embora oculta, da doutrina Rosacruciana, veio do Oriente mais Próximo do que do mais Distante. Mathers era temperamentalmente contrário aos empréstimos orientais, e não há evidências para sugerir que ele já tenha se juntado a O∴T∴O∴ Embora eu não consiga encontrar nada na Europa comparável aos extensos sistemas orientais corretamente designados como os Tântra, alguns resíduos da Gnose pré-cristã, que ensinava doutrinas similares, podem ter sobrevivido aos séculos. Em geral, porém, a Europa deve seu Tantra ao saber oriental trazido em tempos mais recentes por viajantes empreendedores como Karl Kellner, que penetraram em cultos exóticos durante suas andanças.

    O selo da O∴T∴O∴ foi feito naquele formato quando Crowley foi iniciado na Ο∴T∴O∴ em 1912. Mathers pode muito bem ter dado a ele uma

    [p 295]

    ideia em seus primeiros estudos e, como outros, sem dúvida, ele extraiu algo de suas viagens, embora se tenha exagerado muito sobre seus Gurus Tântricos. Crowley ficou nas proximidades de Madoura, Sul da Índia, por apenas alguns dias e não poderia ter tomado iniciações avançadas lá em tão pouco tempo. Mais tarde em Benares, ele conversou com Shri Swami Swayam Prakashananda Maithila e com Munshi Elihu Bux em Agra; mas nenhum deles era um Tântrico e não há motivo para pensar que o Tantra foi discutido. Quanto a Shri Mahatma Agamya Paramahamsa Guru e Bhima Pratap Sen, que são reivindicados por alguns como seus mentores em Tantra, ele nunca os encontrou, mas apenas recebeu seus ensinamentos, em terceira mão e muito depois, de Theodor Reuss: eles foram os iniciadores de Karl Kellner. Em relação a Agamya, Crowley não sentiu o respeito devido a um mestre reverenciado, a julgar pelo relato depreciativo de Col. Fuller que ele publicou em The Equinox, N.o IV. Enquanto Crowley era um dos Tântricos da natureza, suas inclinações não foram canalizadas em um sistema viável até sua recepção na O∴T∴O∴.

    Eu não pertenço a essa escola de pensamento—cujo principal expoente é, talvez, Serge Hutin—que vê nas histórias de amor de vários poetas da Belle Epoque o trabalho de iniciados em Tantra. Dr. Hutin assim reivindica Rimbaud com base no soneto Voyelles ("Vogais"), e [Auguste Villiers] de L'Isle Adam de L'Eve Future ("A véspera do futuro"), antes, havia de Nerval e Aurélie. Em nenhum caso há evidência concreta de membros de um grupo fechado—nem de nada mais do que sensibilidade erótica. Anexo minha própria tradução de Voyelles para que todos possam julgar se reflete "Uma Ascensão até Daath" ou qualquer prática oculta semelhante:

    VOGAIS

    A preto, E branco, I vermelho, U verde, O azul —
    Vogais, vou contar sua origem oculta!
    A, casaco escuro de moscas cintilantes que zumbem
    Em torno de odores desencantadores lá embaixo

    E, branco de névoa de cortina, a lança orgulhosa do glaciar
    Haste de lança, reis pálidos, farfalhar de flor de guarda-chuva
    I, lindo na ira ou triste delírio
    Os lábios carmesins risonhos que cospem sangue

    [p 296]

    U, marés, murmúrio celestial de mares verdes
    Paz de pasto espalhado pelo rebanho, paz enrugada—
    A marca da Alquimia em uma testa estudiosa

    O, a última trombeta de estridências estranhas
    Ômega, radiância violeta de Seus Olhos —
    Éons e Mundos surgem através de seu silêncio agora!

    Parece-me que o Dr. Hutin confunde romances fantásticos com uma disciplina obscura, mas exigente. Com W. B. Yeats, no entanto, estamos em terreno mais firme; sabe-se pelo menos que ele passou a maior parte de sua vida adulta como membro de uma fraternidade secreta. Embora nunca tenha sido estreitamente associado a Waite ou Crowley (e essa é uma razão para se adivinhar uma tendência semelhante ao Tantra nas iluminações do próprio Mathers), Yeats atribuiu um alto valor metafísico ao sexo, tanto em sua vida pessoal quanto em seu trabalho. Este último se enquadra na categoria Magian[170] de Spengler; muitos de seus poemas celebram o que ele chama de "a antinomia resolvida", da qual ele vê o casamento, e de fato todo o amor sexual, como um glifo. Ele estende essa ideia na prosa de A Vision (1926 e 1937) onde ela recorre como um dos temas básicos. Na "união do homem e da mulher" ele vê "um símbolo daquele instante eterno em que a antinomia é resolvida". O livro está cheio de afirmações abstrusas como:

    "... o amor apaixonado vem do Daimon que busca, por meio da união com algum outro Daimon, reconstruir acima das antinomias sua própria natureza verdadeira."

    e:

    "... nas escolas mais ascéticas da Índia, o noviço torturado por sua paixão orará a Deus para vir até ele como uma mulher e ter com ele relações sexuais, nem o símbolo é subjetivo...";

    Enquanto eu não quero superestimar a tradição 'Tântrica' na Aurora Dourada, existem algumas sugestões que indicam sua existência. Seja qual for a infiltração que possa ter havido anteriormente, foi a publicação de Ellie Howe em The Magicians of the Golden Dawn ("Os Magistas da Aurora Dourada"), da carta reveladora de Moïna a Annie, que trouxe o assunto à tona. Enquanto Mathers e

    [p 297]

    Moïna comunicavam esse e qualquer outro ensinamento sexual apenas aos alunos que, em sua visão, estavam prontos para tal instrução, Waite deve ter chegado a ele por outro caminho, provavelmente transatlântico americano.

    * * * *

    É evidente a partir de tais insinuações sobre o saber dos Elementais e sua relação com a humanidade que muito do ensino da Ordem ainda não chegou ao público em geral. Material já divulgado está oculto em reentrâncias mundanas; mais permanece não revelado, sob a guarda de Guardiões que aguardam aqueles qualificados para recebê-lo sem distorções e transmiti-lo com discrição. O ano de 1975 verá eles emergirem?

    A Ordem se espalhou - não como seus Chefes idealmente teriam desejado, mas ela se espalhou; e seu nome é mais poderosamente evocativo do que nunca antes. Se uma completa renovação acontecer no futuro, seu espírito mestre deve ser, como Mathers pretendia tornar-se, tanto um erudito quanto um adepto. Ele deve ter um bom conhecimento de hebraico, grego e latim, preferencialmente também de árabe; e ele deve possuir pelo menos várias das buada (excelências) ocultas e clessa (conquistas) — para substituir os termos Gaélicos pelos sânscritos siddhis. Até que ponto Mathers teve sucesso pode ser avaliado comparando-se sua conquista com a de muitos ocultistas dos dias de hoje.

    "Eu posso falhar, mas serei renomado, como a raça do ecoante Morven!"





    [p 298]

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    ELEGIA DA
    ORDEM HERMÉTICA DA AURORA DOURADA
    (Fundada em 1888)

    The name by which it sought to be
    Unknown belied its tinge of light—
    The sunset of a century
    Was nearer to its point of sight


    Mathers and Mina, Florence Farr
    Maud Gonne, Yeats, Crowley, Machen too
    All took the journey to Damcar
    With Allen Bennett the Bhikkhou

    They entered in the temple’s close
    And some came out the further side
    Some backed away with gain or loss
    And others tragically died

    But set on all a hidden stamp
    The rays that from its luminary
    (Though not the ever-burning lamp)
    Marked once again the magian way

    While evening’s acrid brilliance
    Played a phantasmagoric rite
    They cast a keen delusive glance
    Through the proscenium of night

    The promise was, to draw aside
    The curtains of great Isis’ veil
    Counting disease and suicide
    Well risked by all if one prevail

    The gods that Mina made to deck
    The inner vault of mystery
    Are now sewn up inside a sack
    Stored in a dank depository

    (For Mina had the collage found
    Before Max Ernst she learnt to glue
    Bright slivers on a canvas ground
    And livened Horus’ fading hue)

    Alas for all her joys and pains
    All her sincerity and pose!
    Her quested treasure still remains
    The perfume of a 'Secret Rose'

    O nome pelo qual procurou ser
    Desconhecido desmentiu seu toque de luz —
    O pôr do sol de um século
    Estava mais próximo de seu ponto de vista

    Mathers e Mina, Florence Farr
    Maud Gonne, Yeats, Crowley, Machen também
    Todos fizeram a jornada para Damcar
    Com Allen Bennett, o Bhikkhou

    Eles entraram no recinto do templo
    E alguns saíram pelo outro lado
    Alguns recuaram com ganho ou perda
    E outros tragicamente morreram

    Mas marcados todos com um selo oculto
    Os raios que de seu lumiar
    (Embora não a lâmpada eternamente acesa)
    Marcaram mais uma vez o caminho magian

    Enquanto a brilhante acidez da noite
    Representava um rito fantasmagórico
    Eles lançaram um olhar perspicaz e enganador
    Através do proscênio da noite

    A promessa era, afastar
    As cortinas do véu da grande Isis
    Contando doença e suicídio
    Bem arriscados por todos, se um prevalecer

    Os deuses que Mina fez para adornar
    A abóbada interna do mistério
    Agora estão costurados dentro de um saco
    Guardados em um depósito úmido

    (Pois Mina descobriu a colagem
    Antes de Max Ernst, ela aprendeu a colar
    Fragmentos brilhantes em um fundo de tela
    E reavivou o tom esmaecido de Hórus)

    Ai de todas as suas alegrias e dores
    Toda a sua sinceridade e pose!
    Seu tesouro buscado ainda permanece
    O perfume de uma Rosa Secreta

    FIM

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    1. N.T. A expressão latina sub rosa significa "sob a rosa", "em segredo". É usada para denotar segredo ou confidencialidade.
    2. N.T. Em março de 1909, Mead fundou a Quest Society como um grupo de buscadores sinceros de sabedoria espiritual, sem qualquer mancha de charlatanismo. Os objetivos eram "promover a investigação e o estudo comparativo da religião, filosofia e ciência com base na experiência; encorajar a expressão do ideal em uma forma bela". Durante 21 anos (1909-30), a sociedade publicou um jornal trimestral, The Quest, editado por Mead e com um padrão de contribuições extremamente elevado. A sociedade desapareceu após a morte de Mead em 1933.
    3. N.T. A Sociedade da Luz Interior é uma sociedade mágica e escola de mistério ocidental originalmente fundada originalmente como Fraternidade da Luz Interior por Dion Fortune em 1924.
    4. N.T. Doutrina Cósmica é um livro de Dion Fortune recebido por ela e Charles Loveday em 1922, após uma cerimônia, através de transe mediúnico quando foram contatados por Mestre Rakoczy que lhes forneceu o texto do livro.
    5. N.T. Madrasa se refere a uma escola islâmica, geralmente associada ao ensino de teologia, jurisprudência e outras disciplinas religiosas no contexto do Islã. Essas escolas desempenham um papel importante na educação religiosa e podem variar em termos de seu currículo e enfoque, dependendo da tradição islâmica e da região.
    6. N.T. Uma biografia sobre Crowley
    7. N.T. Zanoni é a obra mais famosa do renomado escritor inglês Edward Bulwer-Lytton (1803-1873), conhecido por sua exploração de temas ocultistas. Ambientada na cidade de Nápoles, a história gira em torno do Conde Zanoni, da talentosa cantora de ópera Viola Pisani, do jovem aprendiz de pintor Clarêncio Glyndon e do misterioso Mejnour. O romance utiliza os princípios da Ordem Rosa-cruz como pano de fundo, abordando de forma metafórica temas como a busca pela alma e pelo ideal. Zanoni, um ser imortal dotado de grande sabedoria, perde seus poderes quando se apaixona pela cantora de ópera Viola Pisani, demonstrando o impacto da paixão humana em um ser que alcançou elevados níveis de consciência
    8. N.T. A expressão francesa "cri de coeur" significa "grito do coração". É usada para descrever uma expressão sincera e intensa de emoção, especialmente quando alguém faz um apelo ou expressa um desejo profundamente sentido.
    9. N.T. não consegui localizar a referência de History no original)
    10. N.T. O Salmão da Sabedoria (bradán feasa) é uma criatura do Ciclo Feniano da mitologia irlandesa. Ele aparece no The Boyhood Deeds of Fionn, que descreve as primeiras aventuras de Fionn Mac Cumhaill. De acordo com a história, o salmão comeu as nove avelãs que caíram no Poço da Sabedoria das nove árvores ao redor da fonte, ganhando todo o conhecimento do mundo. Por resultado, a primeira pessoa que comesse sua carne fresca ganharia tal conhecimento. O poeta Finn Eces passou sete anos tentando pescar o salmão. Ao finalmente conseguir capturá-lo, ele instruiu seu aprendiz Fionn a prepará-lo para seu instrutor. Enquanto preparava o alimento, Fionn se queimou com parte do animal e imediatamente chupou a região para reduzir a dor. Ao levar a refeição a Finegas, o mestre viu um fogo nos olhos do garoto que não havia antes. Quando questionado por Finegas, Fionn negou que havia comido o peixe, mas ao ser pressionado assume que havia provado um pouco acidentalmente. Esse conhecimento incrível de Fionn o permitiu liderar Fianna.
    11. A Avelã é frequentemente associada à sabedoria e ao conhecimento na mitologia Celta.
    12. N.T. Para o português seria "À Nuvem Opressiva, Tu". Este título reflete o estilo simbolista de Mallarmé.
    13. N.T. The Golden Bough originalmente são 12 volumes, há uma edição resumida em português,"O Ramo de Ouro". Aqui Ithell mostra sarcásmo pelo autor ser somenteconhecido por essa única obra.
    14. N.T. "Império Romano" sua história contada em vários volumes escrita por Theodor Mommsen. Publicado originalmente por Reimer & Hirzel, Leipzig, em três volumes durante 1854-1856, a obra tratava da República Romana. Um livro subsequente foi publicado tratando das províncias do Império Romano.
    15. N.T. Mistral ― escritor frances ― Sua obra reabilita a língua provençal, levando-a às mais altos cumes da poesia épica: a qualidade desta obra se consagrará com a obtenção dos prêmios mais prestigiosos.
    16. N.T. Working Men's College está entre as primeiras instituições de educação de adultos estabelecidas no Reino Unido, sendo também o mais antigo na Europa. Fundada por socialistas cristãos, no seu início esteve na vanguarda da filosofia da educação liberal.
    17. N.T. John George Taylor (ativo de 1851 a 1861; também conhecido como JE Taylor e JG Taylor) foi um oficial britânico do Ministério das Relações Exteriores e também um importante arqueólogo que investigou as antiguidades do Oriente Médio. Ele foi um dos primeiros arqueólogos a explorar os túmulos proeminentes na área do Golfo Pérsico e fez algumas descobertas muito importantes.
    18. N.T. Na Paris do século XIX, posteriormente à revolução burguesa, ocorreu o que a história nomeou “haussmannização”, o projeto de modernização e embelezamento estratégico da cidade realizado pelo Barão de Haussmann, seu “artista demolidor”, que pretendia, além de tornar a cidade mais bela e imponente, cessar com as barricadas, insurreições e combates populares muito recorrentes na época.
    19. N.T. Concluído em 1874, o lendário "Ciclo do Anel" de Richard Wagner consiste em quatro óperas individuais – Das Rheingold, Die Walküre, Siegfried e Götterdämmerung – e totaliza cerca de 15 horas de música.
    20. N.T. "Champagne Charlie" é uma canção de music hall do século 19 composta por Alfred Lee com letra de George Leybourne . Leybourne popularizou a canção que estreou em agosto de 1866 no Princess' Concert Hall em Leeds. Pelo ato, causou certa polêmica ao aparecer com uma cartola recortada, semelhante a um estilo usado pelo assassino Franz Muller . Foi uma das canções mais famosas de Leybourne e mais tarde ele seria apelidado de Champagne Charlie.
    21. N.T. No original "Dundreary whiskers". "Dundreary" é uma palavra que se refere a um tipo de bigode, especialmente aquele que é grande e espesso e se estende para fora dos lados do rosto. O termo é frequentemente usado para se referir a um estilo de bigode popular na década de 1860, que era caracterizado por ser longo, espesso e virado para cima nas extremidades. Esse estilo de bigode era chamado de "Dundreary whiskers" em homenagem ao personagem Lord Dundreary, interpretado pelo ator Sothern.
    22. N.T. "Westward Ho!" é um romance de aventuras históricas escrito pelo autor inglês Charles Kingsley, publicado pela primeira vez em 1855. A história se passa no contexto da era elisabetana e explora temas como a exploração marítima, a colonização e as guerras contra os espanhóis. O título é uma expressão que era usada para encorajar e motivar os exploradores e marinheiros ingleses a viajar para o oeste, em direção ao Novo Mundo.
    23. N.T. "Real" no sentido da nobreza ou a linhagem real do Clã MacGregor.
    24. N.T. "Dunvegan" é um nome próprio que se refere a várias localidades, principalmente em áreas de língua inglesa. Um exemplo notável é Dunvegan Castle, localizado na Ilha de Skye, na Escócia. Este castelo é o lar ancestral do clã MacLeod e é conhecido por sua história e beleza cênica. A tradução de "Dunvegan" em português é apenas uma transcrição fonética, pois é um nome próprio que não tem um equivalente em português. Portanto, "Dunvegan" permanece o mesmo em ambas as línguas.
    25. N.T. A expressão "travailler par quart-d'heures" em francês pode ser traduzida para o português como "trabalhar por períodos de quinze minutos." Isso sugere que alguém está dividindo seu tempo de trabalho em intervalos de quinze minutos, possivelmente para uma programação específica ou organização do tempo.
    26. N.T. Respectivamente dos originais The Perfect Way e Clothed with the Sun.
    27. N.T. Sociedade Hermética foi fundada por Anna Kingsford e Edward Maitland em Londres, Inglaterra, em 1884. Kingsfor relata que recebeu insights em estados de transe e durante o sono; estes foram coletados de seus manuscritos e panfletos por Edward Maitland e foram publicados postumamente no livro Vestidos com o Sol (1889).
    28. N.T. Os irmãos John Sobieski Stolberg e Charles Edward mencionados são figuras historicamente associadas à família Stuart e ao movimento jacobita. John Sobieski Stolberg, Conde d'Albanie, reivindicou ser o herdeiro legítimo da linhagem Stuart, enquanto Charles Edward Stuart, conhecido como "Bonnie Prince Charlie", foi uma figura central no levante jacobita de 1745, que buscou restaurar a dinastia Stuart ao trono britânico.
    29. N.T. Refere-se ao grupo de leitura do Museu Britânico
    30. N.T. Museum Lodge trata-se da residência que a família Horniman residiu anos 1891 a 1904, sua mudança para o Museu coincidiu com a abertura ao público. Annie Horniman, prima de Moina, cedeu a residência a Mathers.
    31. N.T. A tradução para o português seria "Bela Época" e é frequentemente usada para descrever esse período de florescimento cultural e artístico na história europeia.
    32. N.T. O Champ-de-Mars é uma grande área pública em Paris, França, localizada no 7º arrondissement, entre a Torre Eiffel a noroeste e a École Militaire a sudeste. O nome "Champ-de-Mars" significa "Campo de Marte", referindo-se originalmente ao deus romano da guerra. Este espaço aberto tem sido usado historicamente para vários propósitos, incluindo desfiles militares e exposições.
    33. N.T. The Land of Heart's Desire ("A Terra do Desejo do Coração") é uma peça do poeta, dramaturgo eganhador do Nobel de 1923 irlandês William Butler Yeats. Foi apresentada pela primeira vez na primavera de 1894, na Avenue Theatre, em Londres, onde durou pouco mais de seis semanas, foi a primeira apresentação profissional de uma das peças de Yeats.
    34. N.T. Primeira estação edificada na Ilha de França desde 1837 e afetada principalmente depois do trem de subúrbio, é a segunda estação mais movimentada de Paris.
    35. "Phallus" é uma palavra que se refere ao órgão genital masculino, especialmente quando considerado em um contexto simbólico ou ritualístico. Em muitas culturas e tradições religiosas, o falo é um símbolo de fertilidade, potência sexual e virilidade.
    36. N.T. Lingam é um símbolo encontrado no hinduísmo, representando a genital feminina, assim como Shiva, uma das principais divindades do panteão hindu. Geralmente é retratado como um pilar cilíndrico e é frequentemente associado com o yoni, que simboliza a deusa Shakti. A união do lingam e do yoni representa a dualidade de Shiva e Shakti, masculino e feminino, e o princípio da criação.
    37. N.T. The Unicorn: William Butler Yeats' Search for Reality por Virgínia Moore, '954. (O Unicórnio: A busca pela realidade de William Butler Yeats) Estudo do pensamento e das fontes filosófico-religiosas de Yeats, chave para sua obra e vida; a autora argumenta que o 'ocultismo' de Yeats não era apenas um interesse em fadas e fantasmas, mas uma filosofia influenciada por Heráclito, Platão, Cusanus, Hegel e Gentile. Baseado parcialmente em entrevistas e manuscritos não publicados.
    38. N.T. "Skrying", às vezes tido como "crystallomancia", é uma prática de adivinhação ou meditação que envolve olhar para um meio, geralmente uma superfície refletora ou translúcida, para perceber visões ou obter insights espirituais.
    39. White Rose Society, movimento dos Rosa Brancas da Escócia representa o ideal jacobita, da identidade e sentimento nacionalista Escocês. A Rosa Branca de York é o símbolo do Jacobitismo.
    40. N.T. "Outlook Tower" é uma construção associada ao pensador e urbanista escocês Patrick Geddes. Patrick Geddes foi um pioneiro no campo do planejamento urbano e na compreensão das interações entre sociedade, espaço e meio ambiente. A Outlook Tower, localizada em Edimburgo, Escócia, foi um dos projetos de Geddes.
    41. N.T. "Collège des Écossais" (Colégio dos Escoceses) foi uma instituição educacional, um exemplo de como Geddes via a interseção de educação, urbanismo e cultura como essencial para o desenvolvimento social e comunitário.
    42. N.T. abreviação de King's Counsel, Conselheiro do Rei, é um título honorífico concedido a advogados eminentes no Reino Unido, alguém reconhecido por sua e habilidade em litígio.
    43. N.T. advogado do romance The Rosicrucian Scandal
    44. N.T. A categoria "Magian" de Oswald Spengler é explicada em sua obra "O Declínio do Ocidente", descreve o que ele chama de "cultura Magian" como uma das oito grandes culturas ou civilizações. Ele usa o termo "Magian" para referir-se a uma agregação de povos e culturas do Oriente Médio, incluindo os semitas, árabes, persas e as religiões abraâmicas como o Judaísmo, Cristianismo e Islã, que partilham de um ethos comum. Este conceito abrange um vasto conjunto de sociedades que surgiram na região definida principalmente pelo Islã e por contextos culturais relacionados. Segundo Spengler, cada cultura possui um ciclo de vida próprio, passando por épocas de ascensão e declínio, semelhante às estações do ano, e a "Magian" é caracterizada por sua visão mística do mundo, seu sentimento de espaço como uma caverna ou cúpula celeste, e sua tendência ao monoteísmo.
    45. N.T. "Instruções Práticas de Campanha em Exercício de Infantaria" publicado por City of London Publishing Co. é um manual que aborda técnicas e estratégias relacionadas a exercícios e operações de infantaria militar. Esse tipo de publicação seria destinado a oficiais e soldados de infantaria, proporcionando orientações sobre como conduzir exercícios e manobras de campo de forma eficaz, abrangendo possivelmente tópicos como formação de tropas, movimentação em campo, uso de armas, táticas de combate, entre outros aspectos práticos do treinamento e operações militares de infantaria.
    46. N.T. Refere-se ao Primeiro Batalhão de Voluntários de Infantaria de Hampshire, uma unidade militar do Reino Unido. "Hants" é uma abreviação comum para Hampshire, um condado no sul da Inglaterra. Durante o século 19 e início do século 20, muitos condados no Reino Unido tinham suas próprias unidades de voluntários, que eram compostas por civis que se ofereciam para treinamento militar e poderiam ser chamados para defender o país em tempos de guerra ou emergência.
    47. N.T. "A Guerra de Caros" é um antigo poema épico escrito na coleção Fingal, an Ancient Epic Poem in Six Books, "Fingal, um Poema Épico Antigo em Seis Livros", escritor por Ossian em gaélico escocês e traduzido ao inglês por James Macpherson em 1765. O nome Fingal ou Fionnghall significa "estranho branco". Macpherson publicou essas traduções culminando em uma edição de colecionador, Os trabalhos de Ossian, em 1765. O mais famoso destes poemas foi Fingal, escrito em 1762
    48. N.T. "Barddas" é uma coleção de escritos sobre a espiritualidade e a filosofia dos bardos, ou poetas, da tradição celta. Estes textos foram compilados e editados no século 19 por William F. Skene, baseando-se em manuscritos mais antigos, e publicados pelo antiquário galês e escritor Iolo Morganwg (Edward Williams). Iolo Morganwg alegou ter descoberto e traduzido os textos de antigos manuscritos bárdicos. Porém, mais tarde, foi revelado que muitos desses manuscritos eram, na verdade, invenções de Morganwg. Apesar dessa controvérsia e da comprovada falsificação de parte dos textos, "Barddas" ainda é considerado um trabalho influente, pois fornece uma visão única e idealizada do que Morganwg e outros no movimento revivalista bárdico do século 19 imaginavam ser as crenças e práticas dos antigos druidas e bardos celtas. "Barddas" contém uma mistura de material autêntico celta misturado com invenções e interpretações neodruidas de Morganwg. Ele exerceu uma influência significativa no druidismo moderno e nas concepções contemporâneas sobre a espiritualidade celta.
    49. N.T. Existem dois textos na literatura Zohárica chamados Idra: o primeiro é o Idra Rabba , ou "assembléia maior", e o segundo é o Idra Zuta, ou "assembléia menor", estando estes dois textos intimamente ligados entre si. No Rabba, Shimeon Ben Iochai se reúne com outros nove estudiosos, e eles se reúnem na eira sagrada, onde debulham segredos. Cada estudioso expõe várias configurações do partsufim , e três deles morrem em êxtase ao fazê-lo. No Zuta, conta que os sete estudiosos ainda vivos chegam ao leito de morte de Shimon bar Yohai juntamente com toda a hoste celestial. Somente nele é explicado as configurações do partsufim, então esse trabalho parece ficar mais unificado. Shimon bar Yohai oscila entre este mundo e o próximo. Ele orientou seus alunos a celebrarem sua morte naquele dia como um Yom Hillula (casamento), pois isso uniria messianicamente as "luzes divinas" imanentes e transcendentes da Criação. O Idra Zuta é considerado o ensinamento mais profundo do Zohar.
    50. N.T. "Cartas de Advinhação, O Tarot, seu Significado Oculto e Métodos de Jogo" foi publicado pela primeira vez em 1888. Foi nesse momento que Mathers adicionou o sobrenome "MacGregor" como uma reivindicação à herança escocesa das Terras Altas. Ele era vegetariano praticante ou, segundo alguns veganos, um antivivisseccionista declarado e não fumante. Mathers era poliglota; entre as línguas que estudou estavam inglês, francês, latim, grego, hebraico, gaélico e copta, embora tivesse um domínio maior de algumas línguas do que de outras. Este livro é breve, mas contém uma descrição completa do Tarô, o simbolismo de cada chave, o significado das cartas, os métodos de adivinhação, o jogo do Tarô e o significado oculto das cartas do Tarô
    51. N.T. O "Grimorium Verum" (latim para Grimório da Verdade), é um livro de magia, ou Grimório, supostamente escrito por "Alibeck, o Egípcio", em Mênfis em 1517. Os estudiosos concordam que tal alegação não é verdadeira, pois há muito tempo, Mênfis estava em ruínas na mesma data, em 1517, e que o livro realmente decorre no século 18, com as primeiras edições aparecendo em francês e italiano. Grande parte deste pequeno livro, foram traduzidos por Arthur Waite e publicada no livro, O Livro das Mágicas Cerimôniais, em 1911, onde Waite escreveu: "A data especificada no título do Grimorium Verum, é inegavelmente fraudulenta; a obra pertence nos meados do século XVIII, e Mênfis é Roma."
    52. N.T. O Grimório de (do Papa) Honório, ou Le Grimoire du Pape Honorius, é um grimório dos séculos XVII a XVIII, que afirma ter sido escrito pelo Papa Honório III (1150 - 1227). É único entre os grimórios porque foi projetado especificamente para ser usado por um sacerdote, e algumas das instruções incluem rezar uma missa. Embora seu nome possa ser derivado do grimório do século XIII, O Livro Juramentado de Honório, seu conteúdo está mais próximo de grimórios posteriores, como a Chave de Salomão e o Grimorium Verum. Ele é o primeiro e mais importante dos grimórios franceses de “magia negra” que proliferaram em toda a Europa nos séculos XVII-XIX. Combinando um grimório de conjurações para demônios das quatro direções e sete dias da semana com um Livro de Segredos cheio de encantos simples, o Grimório do Papa Honório ficou atrás apenas da Chave de Salomão na influência que exerceu sobre mágicos, encantadores e pessoas astutas na França rural e urbana. Este grimório também desempenhou um papel importante em eventos sociais que abalaram a França, sendo usado no Caso dos Venenos, que escandalizou a corte real francesa em 1679, e pelo jovem padre que assassinou o arcebispo de Paris em 1857.
    53. N.T. O "Lemegeton Clavicula Salomonis", comumente referido como "A Chave Menor de Salomão" ou simplesmente "Lemegeton", é um grimório anônimo focado em magia. Compilado no século XVII, o texto é uma agregação de materiais muito mais antigos. Divide-se em cinco livros: Ars Goetia, Ars Theurgia-Goetia, Ars Paulina, Ars Almadel e Ars Notoria. Sua base é o Testamento de Salomão e o anel nele mencionado, que Salomão teria usado para controlar demônios.
    54. N.T. Em português, "As Muito Ricas Horas do Duque de Berry", é um excepcional livro de horas ricamente ilustrado. Este livro contém orações designadas para serem recitadas nas horas canônicas ao longo do dia. Foi encomendado por João, Duque de Berry, por volta de 1410. Considerado um dos mais significativos livros de horas do século XV, é frequentemente referido como "o rei dos manuscritos iluminados".
    55. N.T. O "Livro de Leinster", conhecido em irlandês médio como "Lebor Laignech", abreviado como LL, é um manuscrito medieval irlandês compilado por volta de 1160. Atualmente, ele é preservado no Trinity College Dublin, catalogado como MS H 2.18 (cat. 1339). Anteriormente, era conhecido como "Lebor na Nuachongbála", que se refere a "Livro de Nuachongbáil", um local monástico hoje identificado como Oughaval. Partes do livro, incluindo o "Martirológio de Tallaght", estão atualmente sob a guarda da University College Dublin.
    56. N.T. No original está "local Mairie" que refere-se ao escritório municipal ou prefeitura local na França. Em muitos contextos franceses, a "Mairie" é o escritório administrativo da cidade ou vila, responsável por uma variedade de funções civis e locais, incluindo o registro de nascimentos, casamentos e óbitos.
    57. N.T. "Rive Gauche" é uma expressão francesa que literalmente significa "margem esquerda". Historicamente, em Paris, a margem esquerda do rio Sena é frequentemente associada a uma atmosfera mais boêmia, intelectual e artística. A margem esquerda é conhecida por ser o local onde muitos artistas, escritores e pensadores se reuniam ao longo dos anos.
    58. N.T. papel para absorver o excesso de óleo da pele
    59. N.T. Aqui "Boulevards" refere-se às avenidas ou grandes ruas urbanas. Em muitas cidades, especialmente em Paris, França, a palavra "Boulevards" é usada para descrever grandes avenidas arborizadas, muitas vezes com calçadas amplas, lojas elegantes e uma atmosfera animada. Pode ser um lugar movimentado e frequentado, especialmente à noite. Daí fica evidente informação de prostiuição.
    60. N.T. claymore refere-se a uma espada escocesa de lâmina larga, geralmente associada aos guerreiros escoceses.”
    61. N.T. "Cateran" refere-se a um tipo de guerreiro ou bandido das Terras Altas (Highlands) da Escócia, especialmente ativo durante a Idade Média e até o século XVII. Eram conhecidos por viver à margem da lei, frequentemente engajados em roubo de gado, saque e outras formas de banditismo. O termo "cateran" é derivado do gaélico "ceathairne", que significa um bando de guerreiros ou bandidos.
    62. N.T. An Uileach Druidh Braithreachas (ou abreviado por A.D.U.B.) é gaélico para Druidas Ingleses da Irmandade Universal. A partir do século 18 e especialmente no século 19, houve um renascimento do interesse pelo druidismo, levando à formação de várias ordens "neo-druidas". Estas ordens não são reconstruções diretas do druidismo antigo, mas sim inspirações modernas que incorporam elementos do antigo druidismo com práticas espirituais contemporâneas, esoterismo, e outras tradições.
    63. N.T. George William Russel, conhecido pelo pseudônimo Æ ou A.E., foi um influente escritor anglo-irlandês, envolvido ativamente no Movimento Nacionalista Irlandês. Além de ser crítico, poeta e pintor, Russel destacou-se como místico e espiritualista, liderando um grupo de adeptos da teosofia em Dublin por um longo período. Este pseudônimo surgiu quando, enquanto pintava uma cena visionária, ouviu uma voz sussurrada dizendo: "AEON". Pouco depois, na Biblioteca Nacional, alguém havia deixado um livro aberto sobre uma mesa. Russell olhou casualmente para ele e a palavra Aeon saltou para ele. Ao examiná-lo com mais atenção, descobriu que Aeon era o nome gnóstico do primeiro ser criado e pouco depois usou-o para assinar um manuscrito. O compositor teve dificuldade com a escrita e perguntou: "AE--?" “Já chega”, disse Russell e desde então ele assinou tudo com AE.
    64. N.T. A Ordem Real do Ramo Vermelho de Eri é uma organização originária da antiga Irlanda, estabelecida e apoiada pelos Reis Irlandeses. Era conhecida por sua contribuição significativa para a literatura e história irlandesas, comparável às das nações antigas mais desenvolvidas. Os graus na Ordem são: Man-at-arms, Esquire, Knight.
    65. N.T. A Ancient and Archaeological Order of Druids (AAOD) é uma organização fraternal fundada em 1781 em Londres, Inglaterra. Originalmente parte da Ancient Order of Druids (AOD), um cisma em 1833 levou à formação da United Ancient Order of Druids (UAOD), que reuniu mais de cem lojas. Em 1874, o Dr. Wentworth Little, um membro da Ordem Maçônica com interesse em estudos comparativos, fundou a AAOD, visando explorar as semelhanças entre diferentes tradições espirituais, com foco especial no druidismo. Esta ordem se concentrou em estudos druídicos dentro de um contexto maçônico e arqueológico. Em 1966, a AAOD uniu-se à Literary and Archaological Order of Druids (LAOD), formando a Universal Druidic Order (UDO), sob a liderança de Desmond Bourke. A UDO, baseada em Blackheath, Londres, representou uma fusão de diferentes linhagens e interesses druídicos. Mesmo após a fusão, Desmond Bourke manteve a autoridade individual sobre as ordens AAOD e LAOD. Após sua morte, Michael Norman Buckley assumiu o papel de Pendragon da AAOD e da LAOD. Em 1º de novembro de 2011, ele reconstituiu a LAOD. Posteriormente, em 1º de outubro de 2013, Buckley nomeou Alun Thomas-Evans como seu sucessor e Chefe Arquidruida.
    66. ibid. a nota 48
    67. N.T. Gorseddau, plural de Gorsedd, a palavra de origem galesa significa “trono”. Também escrito gorsedh na Cornualha e goursez na Bretanha. Refere-se às cerimônias ou reuniões realizadas por uma Gorsedd, que é uma assembléia de bardos e druidas. Historicamente, essas reuniões são associadas ao movimento druídico revivalista e aos festivais culturais celtas, como os Eisteddfodau no País de Gales. Nas tradições galesa e cornuallesa, um Gorsedd é um evento significativo que celebra a cultura, a língua e a arte celtas, muitas vezes com competições de poesia, música e outras formas de expressão artística.
    68. N.T. "conhecimento antiquário" refere-se ao estudo ou conhecimento especializado em antiguidades, objetos históricos e artefatos antigos. O termo "antiquário" geralmente descreve uma pessoa que coleta, estuda ou negocia com objetos antigos, e que possui um interesse profundo pela história, arte e cultura das épocas passadas.
    69. N.T. Mount Haemus refere-se a uma montanha lendária na mitologia celta. Na tradição druídica, Mount Haemus é frequentemente associado a um local sagrado, considerado como um centro de conhecimento e sabedoria.
    70. N.T. não encontrei qualquer referência ou informação desse livro.!
    71. N.T. título completo: Anacalypsis: uma tentativa de afastar o véu da Ísis Saítica ou uma investigação sobre a origem das línguas, nações e religiões" é um longo tratado de dois volumes escrito pelo historiador religioso Godfrey Higgins e publicado após sua morte. em 1836. O livro foi publicado em dois volumes in-quarto com 1.436 páginas e contém referências meticulosas a centenas de referências. Inicialmente impresso como uma edição limitada de 200 cópias, foi parcialmente reimpresso em 1878 e completamente reimpresso em uma edição limitada de 350 cópias em 1927.
    72. N.T. "Real Ordem dos Bucks" é uma sociedade fraternal que surgiu no condado de Buckinghamshire, Grã-Bretanha, particularmente durante o século XVIII. Essas ordens fraternais eram comuns naquela época e muitas vezes tinham características similares às lojas maçônicas, embora fossem distintas em seus rituais, crenças e estruturas organizacionais.
    73. N.T. uma distinção entre a atual Maçonaria Simbólica ou Especulativa da antiga Maçonaria como Guilda de Pedreiros, que de fato eram "operativos", ou no original Craft Masonry.
    74. O Clube do Inferno, conhecido como "Hellfire Club" em inglês, foi um grupo exclusivo frequentado pela elite britânica e irlandesa no século XVIII. Liderado por Sir Francis Dashwood, o clube era notório por suas festas extravagantes, que incluíam bebedeiras, orgias sexuais e, segundo rumores, práticas de magia negra e cultos satânicos. As reuniões eram realizadas na Abadia de Medmenham, perto do rio Tâmisa.
      O clube original, fundado em 1719 por Philip, duque de Wharton, era composto inicialmente por doze membros, mas cresceu rapidamente, atraindo nobres, burgueses e intelectuais. Figuras como Benjamin Franklin foram associadas ao clube. Conhecido por vários nomes, incluindo Ordem dos Cavaleiros de West Wycombe e Monges de Medmenham, seus membros se referiam a Dashwood como "Abade" e a si mesmos como "Irmãos".
      As atividades e a composição do clube são difíceis de confirmar devido à sua natureza secreta. Após um incêndio em 1749 destruir sua sede original, Dashwood construiu um templo em West Wycombe Park e mais tarde reconstruiu a Abadia de Medmenham. O clube se dissolveu em 1762 devido a tensões internas e rivalidades políticas.
      O lema do clube, "Fais ce que voudras" (Faça o que quiser), é uma frase do escritor francês François Rabelais, sugerindo uma filosofia de indulgência e liberdade.
    75. As Cavernas Hellfire, também conhecidas como Cavernas West Wycombe, são uma série de cavernas artificiais criadas em giz e sílex que se estendem por cerca de 260 metros abaixo da terra. Localizadas acima da vila de West Wycombe, na extremidade sul das Colinas de Chiltern, perto de High Wycombe, Buckinghamshire, no sudeste da Inglaterra, foram escavadas entre 1748 e 1752 por Francis Dashwood, 11º Barão le Despencer (2º Baronete). Dashwood, que era o fundador da Sociedade dos Diletantes e cofundador do Clube do Inferno, usava as cavernas para as reuniões desse clube infame. As cavernas têm sido uma atração turística desde a sua reabertura em 1951.
    76. Ibid. nota 63 sobre An Uileach Druidh Braithreachas
    77. N.T. A autora sugere que "Irmãos Errantes" se trata de um grupo de "dervixes errantes". Um dervixe errante é membro de um ordem Sufis Islâmica que adota um estilo de vida ascético e nômade. Os dervixes são conhecidos por sua prática de pobreza, simplicidade e renúncia a prazeres mundanos, buscando uma conexão mais profunda com o divino. "Errante" neste contexto significa que eles viajam ou peregrinam constantemente, sem se fixar em um lugar permanente, como parte de sua jornada espiritual e devoção religiosa. Eles são frequentemente associados com práticas místicas e cerimônias, incluindo a dança giratória conhecida como Sema, usada como uma forma de meditação e expressão de devoção a Deus.
    78. N.T. "Diggers", "Ranters" e "Covenanters" são considerados grupos protestantes radicais que surgiram na Inglaterra e Escócia durante o século XVII, respectivamente. Eles são notáveis por suas crenças distintas e pelo impacto que tiveram na história religiosa e política do Reino Unido.
    79. N.T. Os Culdees, traduzido como "Companheiros de Deus", eram indivíduos que faziam parte de comunidades monacais e eremíticas com uma abordagem ascética ao Cristianismo. Essas comunidades surgiram inicialmente na Irlanda e se expandiram para a Escócia, País de Gales e Inglaterra durante a Idade Média. Associados a catedrais ou igrejas colegiadas, os Culdees adotavam uma vida monástica, embora não estivessem formalmente vinculados a votos monásticos.
    80. N.T. "In hoc signo vinces" é uma expressão em latim que se traduz como "com este sinal vencerás". Originária do grego "ἐν τούτῳ νίκα" (en touto nika), a frase foi adotada pelo imperador Constantino I como seu lema. De acordo com Eusébio de Cesareia, um historiador da época, antes da batalha da Ponte Mílvia contra Magêncio, em 28 de outubro de 312, Constantino teria visto uma cruz luminosa no céu acima do sol, acompanhada pelas letras gregas Chi e Rho, as iniciais do nome de Cristo. Esse monograma tornou-se um símbolo significativo para os primeiros cristãos, representando um composto das letras gregas mencionadas.)
    81. N.T. grego para onze
    82. idem
    83. N.T. ibid. a nota 67
    84. N.T. Cidade litorânea na costa sudoeste da Inglaterra, situada no condado de Somerset.
    85. N.T. Historicamente, o termo "craft" em inglês estava associado a um ofício ou habilidade especializada, como a encontrada nas guildas de artesãos durante a Idade Média, da qual a Maçonaria Operativa (ligada aos construtores de catedrais e estruturas físicas) evoluiu. Na Maçonaria moderna, usa-se Maçonaria Especulativa ou Simbólica, porque seus membros são estudantes, ao invés de pedreiros.
    86. N.T. o segundo Alpha Omega de 1913 de Brodie-Innes
    87. N.T. o terceiro Alpha Omega de 1919 de Moina após o falecimento de Mathers.
    88. N.T. A Co-Maçonaria, também conhecida como Maçonaria Mista ou Maçonaria para Homens e Mulheres, é uma forma de Maçonaria que admite tanto homens quanto mulheres. Difere da Maçonaria tradicional, que é exclusivamente masculina, e da Maçonaria Feminina, que é exclusivamente para mulheres. Ela surgiu no início do século XX, tendo suas raízes na França com a fundação da Le Droit Humain, a primeira ordem maçônica mista, em 1893. Esta ordem foi co-fundada por Georges Martin, um político francês, e Marie Deraismes, uma proeminente feminista. A Co-Maçonaria se espalhou para outros países, incluindo o Reino Unido, os Estados Unidos e a Índia, entre outros.
    89. N.T. "A Psicologia dos Psicólogos" até o momento dessa tradução, não encontrei qualquer referencia do autor desse livro, exceto uma edição moderna, homônima de David Cohen
    90. N.T. W.C. refere-se a "West Central", uma das áreas postais de Londres, e o número 1 especifica uma subdivisão dentro dessa região.
    91. N.T. O Grande Livro de Lecan, ou simplesmente Livro de Lecan é um manuscrito irlandês do final da Idade Média escrito entre 1397 e 1418 no Castelo Forbes, Lecan (Lackan, Leckan; em irlandês Leacán), no território de Tír Fhíacrach, próximo à moderna Enniscrone, no Condado de Sligo. Está sob a posse da Real Academia Irlandesa. Outra estimativa de datação situa o intervalo de tempo entre cerca de 1397-1432 ou possivelmente um pouco mais tarde.
    92. N.T. refere-se ao continente europeu, excluindo as Ilhas Britânicas.
    93. N.T. Refere-se especificamente ao Reino Unido da Grã-Bretanha, que inclui a Inglaterra, Escócia, País de Gales e, politicamente, a Irlanda do Norte. No trecho citado, sugere-se que, em comparação com o continente europeu, talvez haja menos tendência no Reino Unido de copiar informações sem a devida verificação.
    94. N.T. "Collection Marabout" foi uma popular série de livros de bolso publicada na Bélgica pela editora Marabout. Fundada em 1949 por André Gérard, a coleção ganhou notoriedade por disponibilizar uma ampla gama de títulos a preços acessíveis, tornando a literatura mais acessível ao público em geral. A série incluiu uma variedade de gêneros, como romances, livros de autoajuda, guias práticos e obras de referência. Incluindo "Introduction à Dracula" escrita por Antoine Faivre que foi um renomado acadêmico francês, especializado em estudos sobre o esoterismo e ocultismo acadêmicos.
    95. N.T. "Ditirâmbico" refere-se a um estilo de poesia ou prosa que é entusiástico, selvagem, e frequentemente irregular ou improvisado. O termo tem origem no ditirambo, um antigo hino grego cantado e dançado em honra ao deus Dionísio, que era caracterizado pelo seu entusiasmo exaltado e às vezes frenético. Na literatura moderna, o termo é usado para descrever uma expressão ou estilo que é fervoroso, apaixonado e muitas vezes extravagante ou excessivo.
    96. N.T. "Imprimatur" é uma palavra latina que significa "que seja impresso". Em termos gerais, "imprimatur" é uma aprovação formal ou permissão concedida por uma autoridade, muitas vezes uma autoridade eclesiástica, para imprimir ou publicar uma obra. Isso era particularmente relevante em contextos históricos nos quais as instituições religiosas desempenhavam um papel significativo no controle da informação.
    97. N.T. "Thomas A'Becket: Uma Peça em Quatro Atos" é uma obra teatral que narra a história de Thomas Becket, o Arcebispo de Canterbury, cuja vida e morte são parte significativa da história medieval inglesa. A peça, dividida em quatro atos, explora o conflito entre Becket e o Rei Henrique II da Inglaterra, assim como os eventos que levaram ao assassinato de Becket na Catedral de Canterbury em 1170. Este conflito histórico frequentemente simboliza as tensões entre o poder da Igreja e o poder do Estado. A história de Becket é notável por seus temas de fé, poder, lealdade e martírio, e tem sido fonte de inspiração para várias obras literárias e artísticas ao longo dos séculos.
    98. N.T. "A Corda Dourada" é um romance escrito por Brodie-Innes, publicado em 1919, cuja a narrativa envolvente que mistura elementos de mistério, assassinato e romance, ambientada no pitoresco cenário de Devon. Oferece uma leitura emocionante e cheia de suspense, destacando-se pelo seu retrato vívido de conflitos familiares e dilemas pessoais.
    99. N.T. "Morag, a Foca", publicado em 1908 por J.W. Brodie-Innes, é uma obra que entrelaça mistério, romance e elementos sobrenaturais. Este romance destaca-se pela combinação harmoniosa de uma variedade de temas: desde crenças folclóricas escocesas, espiritualismo, magnetismo, até ciência médica e a sagacidade dos ciganos. Brodie-Innes consegue criar uma narrativa envolvente e acessível, onde cada ingrediente contribui significativamente para a construção do enredo. A leitura é fluida e cativante, apresentando uma trama repleta de intrigas e momentos agradáveis, com cada componente desempenhando um papel essencial no desenvolvimento da história.
    100. N.T. "Luz no Caminho" é um livro místico e espiritual escrito por Mabel Collins, originalmente publicado em 1885. A obra, que ganhou destaque no contexto da teosofia e do ocultismo, foi alegadamente inspirada por ensinamentos espirituais recebidos por Collins em um estado alterado de consciência. Ela acreditava que as mensagens eram ditadas por uma entidade espiritual, que mais tarde foi identificada como o Mestre Hillarion. O livro consiste em uma série de aforismos e instruções espirituais, e foi considerado uma fonte de sabedoria e orientação para aqueles que buscam o desenvolvimento espiritual. Apesar da controvérsia sobre sua autoria e inspiração, "Luz no Caminho" permanece um texto influente no campo do esoterismo.
    101. N.T. As deidades Tuatha Dé Danann são figuras da mitologia irlandesa. Acredita-se que são uma tribo divina que chegou à Irlanda em naves voadoras do norte, trazendo consigo habilidades mágicas e conhecimento.
    102. NT. Fortiter Et Recte é o lema do clã escocês Clã Eliott do século 15
    103. N.T. "A Catedral Submersa". Essa peça faz parte de uma coleção de prelúdios para piano chamada Préludes.
    104. N.T. Maeterlinck" se refere geralmente a Maurice Maeterlinck, um escritor belga famoso, nascido em 1862 e falecido em 1949. Ele é conhecido por suas contribuições para a literatura simbolista e por ser um dos principais dramaturgos do final do século XIX e início do século XX. Algumas de suas obras mais conhecidas incluem "Pelléas et Mélisande" e "A Princesa Malva". Além disso, Maeterlinck recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1911.
    105. N.T. Carmina Gadelica é um compêndio de orações, hinos, encantos, encantamentos, bênçãos, poemas e canções literário-folclóricas, provérbios, itens lexicais, anedotas históricas, observações de história natural e conhecimentos diversos reunidos nas regiões de língua gaélica da Escócia entre 1860 e 1909. O material foi gravado, traduzido e reelaborado pelo fiscal e folclorista Alexander Carmichael (1832–1912).
    106. N.T. A Incorporated Stage Society , comumente conhecida como Stage Society, foi uma sociedade de teatro inglesa que montava apresentações privadas aos domingos de peças novas e experimentais, principalmente no Royal Court Theatre, mas também em outros locais do West End de Londres.
    107. N.T. "Mago Supremo" é o cargo que governa a Societas Rosicruciana em todo o mundo através de seu Conselho Superior e também supervisiona o cerimonial da Terceira Ordem.
    108. N.T. Refere-se à Thoor Ballylee, uma torre localizada no condado de Galway, na Irlanda, que William Butler Yeats restaurou e usou como residência. Essa torre tornou-se um dos principais símbolos pessoais de Yeats e aparece frequentemente em sua obra. Thoor Ballylee era um lugar de inspiração e reflexão para o poeta, e ele frequentemente se referia a ela carinhosamente como "minha torre".
    109. N.T. A "operação de Steinach" refere-se à cirurgia realizada pelo médico austríaco Eugen Steinach. Ele desenvolveu uma técnica conhecida como a "operação de Steinach," que tinha como objetivo rejuvenescer homens, especialmente em relação à vitalidade e à função sexual. A operação, realizada no início do século XX, envolvia a ligadura (ligamento ou amarração) de vasos sanguíneos na área dos testículos. COm o tempo as práticas médicas evoluíram, e muitas técnicas antigas, como a operação de Steinach, foram abandonadas devido a preocupações éticas, falta de eficácia ou surgimento de métodos mais seguros. O contexto histórico da citação sugere que a pessoa mencionada na frase passou por essa operação como parte de um processo de rejuvenescimento bem-sucedido.
    110. N.T. Dáil Éireann, a câmara baixa do Parlamento da Irlanda. Yeats foi nomeado para o Senado do Estado Livre Irlandês em 1922, após a independência da Irlanda do Reino Unido, e continuou a servir nessa função até 1928. Durante seu mandato, ele participou ativamente dos debates políticos e legislativos, contribuindo com sua visão e experiência como escritor e figura pública proeminente. Este período da vida de Yeats demonstra seu envolvimento e influência não apenas no campo das artes, mas também na esfera política e no desenvolvimento cultural da Irlanda moderna.
    111. N.T. Rosae Rubea et Aurea Crucis
    112. N.T. Existem indicativos de que Crowley concordasse especulações com Florence Farr, com quem ambos os homens mantinham relações íntimas variadas durante o seu período na Golden Dawn.
    113. N.T. "Mana" está sendo usado para se referir a um tipo de poder espiritual ou mágico que é transmitido de um iniciador para um iniciado em um contexto ritual ou cerimonial.
    114. N.T. A Ordem da Unidade Teocrática foi uma organização fundada em Londres pelo casal americano Frank e Editha Jackson, também conhecidos como Theo e Laura Horos, usou os rituais, que eles enganaram Mathers para que lhes entregasse em Paris, para estabelecer sua própria ordem em Londres. O casal usou a ordem para cometer fraudes e abusos, levando a um caso judicial que expôs muitos segredos da Golden Dawn na imprensa. Esse escândalo levou muitos membros a se afastarem da Golden Dawn.
    115. N.T. se pronuncia "TriCueTea"
    116. NT supostos corredores de energia que cruzam a Terra
    117. Uma prática espiritual que originou na Indonésia na década de 1920. Subud não é uma religião e não tem doutrina, dogma ou ritual. É mais conhecido pela prática central chamada "latihan kejiwaan", que é um exercício espiritual espontâneo.
    118. A Escola Arcana é uma organização espiritual fundada por Alice A. Bailey no início do século XX. A escola promove os ensinamentos de um ser desencarnado chamado "O Tibetano" (às vezes referido como Djwhal Khul), com quem Bailey afirmou ter colaborado na escrita de muitos livros.
    119. N.T. A Sociedade Fabiana, fundada em 1884 em Londres, é uma organização socialista intelectual e política britânica. O nome deriva do general romano Fábio Máximo, apelidado "Cunctator" (o Protelador), famoso por suas táticas de guerra cautelosas e graduais. Este nome reflete a estratégia dos Fabianos de buscar mudanças sociais e políticas graduais em vez de revoluções abruptas. A sociedade teve um papel significativo no desenvolvimento do socialismo na Grã-Bretanha, promovendo ideias de reforma social através da legislação e educação, ao invés da ação direta. Os membros da Sociedade Fabiana, conhecidos como Fabianos, acreditam na transformação da sociedade para o socialismo através de métodos democráticos e graduais. Os Fabianos tiveram influência na formulação de políticas do Partido Trabalhista Britânico e foram fundamentais na fundação da London School of Economics. Alguns de seus membros mais notáveis incluíram George Bernard Shaw, H.G. Wells, Annie Besant e Sidney e Beatrice Webb. Os escritos e atividades da Sociedade Fabiana ajudaram a moldar o debate político e econômico no Reino Unido e além, tendo um impacto duradouro nas políticas de bem-estar social e na governança democrática.
    120. N.T. "Smaragdum Thalasses" é uma expressão que pode ser traduzida como "Mar de Esmeralda" ou "Mar Esmeralda". Uma alusão à "Tábua de Esmeralda" (Tabula Smaragdina em latim).
    121. N.T. "World Citizens", ou "Cidadãos do Mundo" em português, refere-se a um movimento ou ideologia que enfatiza a identificação com o mundo global como um todo, em vez de com um estado-nação específico. Este conceito é muitas vezes associado a uma visão de unidade global, paz e cooperação internacional.
    122. N.T. St. John's Ambulance é uma organização internacional de caridade dedicada ao ensino e prática de primeiros socorros. Fundada no Reino Unido, a organização tem uma longa história, sendo associada à Ordem de São João, uma ordem de Cavalaria Cristã que remonta à época das Cruzadas.
    123. N.T. "Caliburn" é outro nome dado à famosa espada do Rei Arthur, mais conhecida como Excalibur. Na lenda arturiana, esta espada é famosa por suas propriedades mágicas e seu papel simbólico como a fonte de legitimidade do poder de Arthur.
    124. N.T. Hébridas, um arquipélago ao largo da costa oeste da Escócia. O termo é usado para descrever algo originário de ou relacionado a essas ilhas.
    125. N.T. Ilha das Flores de Maçã é uma referência simbólica a fantasia ou mundo dos mortos
    126. N.T. Seu nome latim era Ordo Sacri Verbi, abreviado para O.S.V.. A Ordem da Palavra Sagrada foi uma sociedade mágica fundada em 1897 pelos ocultistas Charles Kingold e George Stanton. A sociedade é uma ordem iniciática da tradição Ogdoática dos Mistérios Ocidentais. Esta tradição fundiu os ensinamentos de mistério pré-cristãos do Mediterrâneo Oriental com os ensinamentos místicos dos mosteiros orientais do Sinai, Carmelo e São Sabas.
    127. N.T. Refere-se a educação Waldorf, também conhecida como educação Steiner, é baseada na filosofia educacional de Rudolf Steiner, o fundador da Antroposofia. Seu estilo educacional é holístico , destinado a desenvolver as habilidades intelectuais, artísticas e práticas dos alunos, com foco na imaginação e na criatividade. Os professores individuais têm grande autonomia no conteúdo curricular, métodos de ensino e governança. As avaliações qualitativas do trabalho dos alunos são integradas na vida diária da sala de aula, com testes padronizados limitados ao que é necessário para ingressar no ensino pós-secundário.
    128. N.T. A palavra "pontifical" deriva do latim "pontifex" ― literalmente "construtor de ponte" — que era um título de sacerdotes de alto escalão em Roma Antiga. No contexto do Catolicismo, "pontifical" refere-se a rituais ou cerimônias conduzidas por um bispo ou pelo Papa. No contexto dos rituais de Waite e da Ordem Rosacruz, parece indicar um grau ou cerimônia de particular importância ou solenidade.
    129. N.T. Um selo no formato de vescia piscis usado por Adeptos.
    130. N.T. do original flashing colors
    131. N.T. "Ninetyish" refere-se ao estilo e às características da década de 1890, particularmente no contexto britânico. A década de 1890 na literatura e na arte britânicas é muitas vezes associada ao movimento estético, decadente e simbolista.
    132. N.T. "Sunlight" é uma marca histórica de sabonete criada pela empresa britânica Lever Brothers (que mais tarde se tornou a Unilever) no final do século XIX, o Sunlight Soap. Na citação "Sunlight" é metafórico para descrever "penhascos plissados" como esse sabonete popular, sugerindo uma comparação visual, provavelmente enfatizando a textura, a cor, ou talvez a aparência artificial ou fabricada dos penhascos na descrição.
    133. N.T. "Vermicelli" é um tipo de massa italiana muito fina, semelhante ao espaguete, mas mais fina. O termo "vermicelli" é derivado da palavra italiana "verme", que significa "verme", e o sufixo "-celli", que é um diminutivo.
    134. N.T A "Irmandade da Nova Vida", fundada por Thomas Lake Harris, foi um experimento comunitário religioso que teve sua origem nos Estados Unidos e logo na Grã-Bretanha com cerca de 2.000 seguidores, tinha uma natureza cooperativa e engajava-se em atividades agrícolas e industriais. A Irmandade da Nova Vida reflete a singularidade do pensamento religioso e espiritualista de Harris, marcando uma fase significativa no movimento espiritualista da época.
    135. N.T. A "Confraria da Nova Vida" foi uma organização britânica do século 19, mais famosa por ser um grupo dissidente da Sociedade Fabiana. Seu objetivo era “O cultivo de um caráter perfeito em todos e cada um”. Eles queriam transformar a sociedade, estabelecendo um exemplo de vida limpa e simplificada para outros seguirem. Muitos dos membros da Irmandade defenderam o pacifismo , o vegetarianismo e a vida simples , sob a influência das ideias de Leo Tolstoy.
    136. N.T. O termo "Sé" é usado frequentemente para designar a área de jurisdição ou a sede de um bispo.
    137. N.T. "Ishakshar" não tem um significado claro e definido, pois é parte do estilo literário de Machen, que frequentemente incorporava termos misteriosos e arcânicos em suas obras.
    138. N.T. O Despertar dos Magistas, no original em francês, Le Matin des Magiciens, é um livro escrito em 1960 por Louis Pauwels e Jacques Bergier, segundo os autores uma introdução ao realismo fantástico.
    139. N.T. A personagem Psammead, nome do conto de Edith Nesbit, é o nome de uma fada da areia um tanto mal-humorada, feia e ocasionalmente malévola que tem a habilidade para conceder desejos.
    140. N.T. Um Doutor em Divindade é o detentor de um grau acadêmico avançado em divindade.
      No Reino Unido, é considerado como um doutorado avançado. Na Universidade de Oxford , os doutores em divindade são classificados em primeiro lugar em "precedência acadêmica e posição", enquanto na Universidade de Cambridge eles estão à frente de todos os outros médicos na "ordem de antiguidade dos graduados".
    141. Ibid. Nota 16
    142. N.T. "Hwyl" é uma palavra galesa que se refere a uma qualidade emotiva e entusiasmada que pode ser encontrada na oratória, especialmente na pregação religiosa.
    143. N.T. Magdalen é uma das faculdades constituintes da Universidade de Oxford, na Inglaterra.
    144. N.T. "Eldils" são seres celestiais encontrados na trilogia de ficção científica de C.S. Lewis, frequentemente referida como a Trilogia Cósmica, que inclui os livros "Out of the Silent Planet" ("Fora do Planeta Silencioso"), "Perelandra" e "That Hideous Strength" ("Essa Força Hedionda"). Na trilogia, os eldils são seres espirituais semelhantes a anjos que habitam o espaço sideral, servindo como mensageiros entre os planetas e como servos das autoridades planetárias superiores.
    145. N.T. Belles lettres é um termo francês que se refere a obras literárias que são valorizadas por sua elegância, estilo e apelo artístico. Essas obras muitas vezes incluem prosa literária, poesia, ensaios e outras formas de escrita criativa que se concentram na beleza da linguagem e na expressão artística. Em português, pode ser traduzido como "belas-letras" ou "belas letras".
    146. N.T. O termo coinerência foi cunhado por Charles Williams para denotar um princípio espiritual universal que se desenvolveu no reino material de várias maneiras. Se tivéssemos que chegar a uma definição de Coinerência, ela seria algo como: “Coisas que existem em relação essencial com outra, como componentes inatos da outra”.
    147. N.T. Os quatro Sabás que são comuns a todos esses grupos são conhecidos como cross-quarter day, e geralmente são referidos como Grandes Sabás. Sua origem provém dos antigos celtas da Irlanda, e possivelmente de outras regiões da Europa ocidental.
    148. N.T. Affirm the Image refere-se a uma prática, da coinerência que envolvia concentração em uma imagem (ou, em alguns casos, uma pessoa) e ao afirmar essa imagem em meditação ou devoção, um indivíduo pode se aproximar mais de Deus ou da verdade espiritual. A prática é parte de seu sistema teológico mais amplo, que enfatiza a interconexão de todas as coisas e a ideia de "troca" ou "substituição" como meio de graça.
    149. N.T. refere-se a entidades ou fenômenos que estão além ou são diferentes do que é considerado natural ou explicável pelas leis naturais conhecidas.
    150. N.T. A Agricultura Nabateana é um texto do século X sobre agronomia de Ibn Wahshiyya. Contém informações sobre plantas e agricultura, bem como sobre magia e astrologia. Foi frequentemente citado por escritores árabes posteriores sobre esses tópicos.
    151. N.T. Os Tanmatras são conceitos fundamentais da filosofia hindu e do Ayurveda, referindo-se aos elementos sutis e indiferenciados que são a base para a criação dos elementos físicos ou grosseiros. De acordo com esta filosofia, existem cinco Tanmatras, cada um correspondendo a uma das cinco percepções sensoriais humanas ― audição, tato, visão, paladar e olfato. Esses elementos sutis são considerados a forma mais pura e sutil dos elementos físicos e são essenciais na formação do universo percebido pelos sentidos. A teoria dos Tanmatras postula que eles se combinam e reorganizam de várias maneiras para criar os cinco elementos grosseiros (Pancha Mahabhuta) ― éter, ar, fogo, água e terra ― que compõem o mundo físico. Além disso, os Tanmatras estão intimamente relacionados à forma como os sentidos humanos percebem o mundo e como a mente (manas) organiza e interpreta essas percepções.
    152. N.T. Manuscrito armazenado na Biblioteca Nacional da Irlanda, em Dublin sob o número 13.568, contendo notas e outros materiais por Srta. Horniman, W. B. Yeats e outros para o estabelecimento de uma Ordem Celtica mística
    153. Ibid. nota 44
    154. N.T. Líquido vermelho em massa compacta, mas assumindo a cor dourada uma vez que seja espalhado
    155. N.T. acredita-se que Archibald Cockren foi morto em Holborn quando seu laboratório foi destruído em um bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial. Porém, o escritor C.R. Cammell, relata que foi um dos que visitou o laboratório de Cockren e presenciou a “árvore”, conta a história de forma diferente. Ele diz que o laboratório de Cockren foi de fato destruído por uma bomba durante a guerra, mas que Cockren sobreviveu e se mudou para Brighton onde, alguns anos depois, e prestes a ter a Pedra, morreu. Cammell dá a data como 1950.
    156. N.T. O texto "Mezareph ou Aesh Metzareph" é um tratado cabalístico e alquímico originalmente conhecido no Ocidente pela tradução em latim encontrada de forma fragmentada na obra "Kabalala Denudata" de Knorr von Rosenroth, publicada em Sulzbach entre 1677 e 1684. No entanto, o "Aesch Metzareph" ainda existe como um tratado separado em aramaico caldaico. Era um volume complementar ao "Livro Caldeu dos Números", frequentemente mencionado por H. P. Blavatsky. O texto foi reconstruído a partir de seus fragmentos, quase em sua totalidade, por "O Amante de Philalethes", que publicou a versão em inglês de 1714. Depois em 1894, foi publicado no volume 4 da série "Collectanea Hermetica", editado por William Wynn Westcott, que também escreveu o Prefácio, Notas e Explicações sob seu nome/mote mágico "Sapere Aude".
    157. N.T. Purusha é uma palavra sânscrita que significa "ser" ou "alma". No contexto da filosofia hindu, Purusha é muitas vezes usado para se referir ao ser cósmico ou à consciência suprema.
    158. N.T. "Prakriti" é uma palavra sânscrita que se refere à natureza, matéria primordial ou substância primordial no sistema de filosofia indiana, especialmente na tradição hindu e na filosofia Samkhya. Em contraste com "Purusha," que representa o ser ou a alma, Prakriti representa a natureza, o mundo material e suas manifestações.
    159. N.T. Mutus Liber, literalmente "Livro Mudo", é uma obra sem texto. Embora o autor da obra tenha permanecido desconhecido, o Livro Mudo destaca-se como uma das mais importantes e esteticamente belas representações da tradição pictórica do hermetismo medieval. Este livro é composto por uma sequência de ilustrações que detalham o processo da alquimia. Contrariamente ao que se pode pensar, o livro não está totalmente desprovido de texto. Na primeira página, há referências codificadas à Bíblia e, na 14ª gravura, encontra-se uma expressão latina conhecida dos alquimistas: "Ora, lege, lege, lege, relege, labora et invenies", que significa "Reza, lê, lê, lê, relê, trabalha e encontrarás".
    160. N.T. Literalmente "prata viva" e é uma referência histórica ao mercúrio ou mercúrio líquido (Hg), que é um metal que permanece líquido à temperatura ambiente.
    161. N.T. A tradução do texto mantém a complexidade e o simbolismo da linguagem original.
    162. N.T. Cadinho é um recipiente utilizado para aquecer substâncias a altas temperaturas durante processos como fundição e fusão de metais, ou reações químicas que requerem calor.
    163. N.T. Na alquimia, Puffers era um termo pejorativo usado para descrever os alquimistas que dependiam excessivamente do uso de calor e de fornalhas na tentativa de alcançar a transmutação de metais, especialmente na busca pelo ouro. Esses indivíduos eram retratados como sopradores de foles de fornalhas (daí o termo puffers) e muitas vezes eram considerados charlatães ou menos habilidosos, pois se concentravam apenas no aspecto físico da alquimia, em vez de entenderem ou buscarem as dimensões espirituais ou filosóficas que muitos alquimistas acreditavam ser fundamentais para a verdadeira transmutação.
    164. N.T. francês para "A Flor dos Sábios cresce na planta filosófica".
    165. N.T. francês para Arcano XIV, A Frutificação: "...cor da papoula dos campos ou vermelho vivo do sangue"
    166. N.T. é um termo que se refere ao processo de absorção de um líquido por um material sólido, como uma substância porosa ou um tecido. Esse termo é frequentemente usado em contextos científicos para descrever a absorção de líquidos por materiais, como em estudos de botânica ou física de materiais.
    167. Ibid. Nota 44
    168. N.T. "seres praeternaturais" refere-se a entidades que estão além da natureza, ou seja, além do que é considerado natural ou físico.
    169. N.T. Originário da fusão entre a tradição bíblica e as correntes herméticas, o mito de Elias Artista resgata o profeta Elias, conhecido por ter ascendido aos céus sem passar pela morte, agora revestido com a aura do alquimista supremo. Nas obras alquímicas, Elias Artista é retratado como o mestre por vir, aquele que trará consigo os segredos perdidos da Grande Obra, capaz de realizar não só a transmutação dos metais em ouro, mas também a sublime transformação espiritual. Ele é o símbolo máximo da esperança para os praticantes alquímicos, o arquétipo do Sage que atingiu o píncaro da iluminação e que promete compartilhar este conhecimento transcendental com o mundo.
    170. Ibid. Nota 44