Este artigo é parte integrante da série A Visão e a Voz - Liber 418

Liber 418: A Visão e a Voz, é considerado por Aleister Crowley como o segundo livro em importância, perdendo apenas para Liber AL vel Legis Para obtê-lo, Aleister Crowley e seu discípulo, o poeta inglês Victor Benjamin Neuburg, viajaram as terras áridas da Argélia e ali realizaram invocações específicas valendo-se do sistema enoquiano de John Dee e Edward Kelley.


TOR é o 23º Æthyr invocado no Liber 418. Refere-se ao Querubim da Terra e Ar (oficiais Menores na Iniciação ao 8º=3□) A Visão da Relação e Identidade da Terra e do Ar.

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A invocação do 23º Æthyr chamado TOR

O brilho da pedra é formado por três luzes muito fortes girando incessantemente. Surge uma teia de aranha prateada, cobrindo toda a pedra. Atrás está uma estrela de doze raios e atrás desta um touro negro, escavando chão furiosamente. As chamas oriundas de sua boca aumentam e rodopiam e ele diz: veja o mistério da obra, Ó tu que realizaste as obras do mistério. Eu que piso na terra e por conseqüência faço redemoinhos no ar; mesmo sendo negro, no céu da minha boca, está o sinal do Besouro. Curvadas estão as costas dos meus pares, mesmo eles espetando o leão com seus chifres. Não tenho as asas da águia e a face do homem?


Então ele virou-se na direção daquele alado homem-touro Assírio.


E disse: A espada do marido é o cetro do rei. Todos os céus abaixo de mim são meus servos. São os campos de meus jardins e meus pomares e meus pastos.


Glória a ti que pisaste no Norte e cuja fronte foi perfurada pelas pontas dos diamantes de tua coroa e o coração com a lança da tua própria fecundidade.


Tu és um ovo de negrume e um verme de veneno. No entanto, tu expuseste teu pai e tornou fértil tua mãe.


Tu és o basilisco cujo olhar transforma homens em pedra e a basilisca* no seio de uma meretriz que levou a morte para o leite. Tu és a víbora que se oculta no berço. Glória a ti que se entrelaçou no mundo como a videira envolveu o corpo desnudo de um pândego.


Mesmo estando eu plantado firmemente na terra o meu sangue ainda é vinho e meu alento chamas de loucura. Mesmo com essas pequenas asas, ergo-me acima da coroa de yod e sem barbatanas nado na inviolada fonte.


Divirto-me nas ruinas do Éden como Leviatã no falso mar, sendo as cousas iguais a rosa na coroa da cuz. A mim, minha criança e aproveitai. No final da obra resta a sua força. E na minha estabilidade está concentrada a eterna mudança.


Os moinhos do universo não são nada além do curso do sangue em meu coração. E a indizível diversidade das cousas não é nada mais do que os fios dos meus cachos e as plumas e gemas na minha grande coroa. A mudança a qual tu lamentas é a vida de meu júbilo e o pesar do negrume de seus corações é a miríade de mortes pelas quais me renovo.


E a instabilidade que te faz tremer é o pequeno abalo na balança na qual me apoio. E agora o véu prateado fecha-se sobre ele e acima um véu púrpura e acima um véu dourado e assim toda pedra assemelha-se a uma grossa esteira de arames dourados, e avançam uma de cada lado da pedra, duas mulheres, com as mãos dadas e em seguida beijam-se e fundem-se para depois se liquefazerem. Então os véus se abrem novamente, os dourados, os púrpuras e os prateados para surgir uma águia coroada, parecida com águias Assírias. E ele diz: toda a minha força e estabilidade foram alteradas para a luta. Embora as minhas asas sejam de fino ouro, o meu coração é o de um escorpião. Glória a ti que nasceste num estábulo e da imundice, dele fizeste jovialidade, que sorveste a injustiça dos peitos de tua mãe, a meretriz que afogaste na injustiça dos corpos de tuas concubinas. Tu deitaste na imundice das ruas junto aos cães; tu caíste desavergonhosamente num lugar onde quatro estradas se cruzam. Lá tu foste corrompido e assassinado e apodrecido. A estaca chamuscada foi enfiada em teus ossos e foste todo cortado e suas partes empurradas pela goela na razão de menosprezo. Toda a minha integridade se vai; permaneço nas extremidades das penas. Penso que sou um número infinito. Glória a Rosa e a Cruz e a Cruz se estende até os confins do espaço e do tempo e do ser e do conhecimento e do deleite! Glória a Rosa que é o ponto do centro da Cruz. Como dizemos: glória a Rosa que é Nuit a circunferência de tudo e glória a Cruz que é o coração da Rosa!


Assim eu grito e o som é agudo como o urro do touro é grave. Paz no mais alto e paz no mais baixo e paz entre isso tudo! Paz nos oito quartos, paz nos dez pontos do Pentagrama! Paz nos doze raios do selo de Salomão e paz nos quatro e trinta rodopios do martelo de Thor! Veja! Eu queimo sobre ti. (A águia se foi; ela, agora, é apenas uma flamejante Rosa-Cruz de um branco extremamente brilhante). Eu apanho você no êxtase. FALUTLI,FALUTLI!


Ó, ele acaba, acaba...


Bou Saada
29 de novembro de 1909. 09:30 - 10:15

Referências